sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O vilarejo alemão que quase mudou o curso da 2ª Guerra e influenciou futuro das armas de destruição em massa



Com praias, um famoso sanduíche à base de peixe e um histórico de visitas da realeza prussiana, a ilha alemã de Usedom tem apelo turístico. Mas o remoto balneário teve outra função durante 1936 e 1945, quando foi ocupado pelos nazistas.
Em 1935, o engenheiro Wernher von Braun, em visita à ilha, a escolheu como o local perfeito para abrigar um programa de desenvolvimento e testagem de mísseis.
Isolada e oferecendo o Báltico como campo de provas, Usedom tornou-se então uma imensa fábrica de armas.
No auge de seu funcionamento, 12 mil pessoas trabalharam na construção de foguetes em uma fábrica que ocupou 25 quilômetros quadrados de área. Mas as pesquisas levadas a cabo nas cercanias do vilarejo de Peenemunde não apenas foram cruciais durante a Segunda Guerra Mundial - seu impacto também se deu na criação de armas de destruição em massa e mesmo na conquista espacial.

'Arma da Vingança'

Tudo o que resta do complexo é o prédio de tijolos vermelhos que servia de usina de força e hoje abriga o Museu Histórico Tecnológico de Peenemunde. Seus jardins são decorados com modelos de foguetes e a coleção do museu inclui documentos e fragmentos de protótipos.
Em um manuscrito datado de 1942, o líder militar do programa balístico, Walter Dornberger, resumiu bem a importância de Peenemunde para o esforço de guerra.
Naquele ano, os nazistas testaram com sucesso o Agreggat 4 (A-4), o primeiro míssil de longo alcance e que ficaria conhecido como V2 ou "Arma da Vingança".
"Desenvolvemos algo que é uma das mais revolucionárias invenções da história recente e que nos dará superioridade militar, econômica e política", escreveu ele em um manuscrito encontrado no complexo.
Mas se os líderes do programa bélico acreditavam que os mísseis seriam vitais para ganhar a guerra, uma pessoa se matinha cética: Adolf Hitler.
O complexo não estava totalmente construído quando o líder nazista iniciou sua campanha militar, em 1939, o que forçou uma corrida contra o tempo e uma busca por materiais, estafe e verbas.
Foi apenas depois de ver um filme com o teste bem-sucedido do A4, que Hitler enfim deu sinal verde.

Trabalho escravo

Ainda assim, a situação era crítica e, em junho de 1943, os nazistas trouxeram 2,5 mil prisioneiros de campos de concentração para trabalhar em regime forçado na produção de mísseis. Registros mostram que a maioria vinha de França, Bélgica e Holanda.
Os prisioneiros trabalhavam sob condições terríveis na construção de armas que iriam causar terror e devastação em seus próprios países.
No verão europeu de 1943, os serviços de inteligência britânicos perceberam a importância de Peenemunde. Voos de reconhecimento revelaram a linha de produção de mísseis, que teria de ser interrompida - até porque nada menos que 1,5 mil mísseis V2 caíram no Reino Unido, a maioria deles em Londres, causando a morte de pelo menos 7 mil pessoas.
Na noite de 17 de agosto, a Força Aérea Britânica bombardeou Peenemunde, na maior operação aérea do país contra um único alvo durante a Segunda Guerra.
A operação não foi um sucesso no que diz respeito à destruição, mas atrasou a produção de mísseis e obrigou o programa a se transferir para a região central da Alemanha.

Mea culpa

Em 1944, Hitler admitiu para Dornberger que cometeu um erro ao não ter aprovado o projeto mais cedo.
"Em toda minha vida, só pedi desculpas para dois homens. O primeiro foi o marechal Von Brauchitsch. Não lhe dei ouvidos quando ele me falou diversas vezes sobre a importância das pesquisas (sobre mísseis). O segundo homem é você."
Mas o fim da guerra não representou o final do trabalho em Peenemunde. Os aliados estavam interessados na tecnologia balística do projeto V2, o primeiro foguete a lançar uma ogiva em uma trajetória pré-determinada. Cientistas e engenheiros que trabalharam no projeto receberam ofertas de asilo, cidadania e empregos em países como EUA, URSS, e Reino Unido.
Wernher Von Braun, por exemplo, mudou-se para os EUA e esteve à frente do desenvolvimento dos foguetes que levaram o homem à Lua. O trabalho lá feito influenciou os desenvolvimentos posteriores no que diz respeito aos mísseis.
O mais importante legado de Peenemunde, porém, é a reflexão sobre o impacto tecnológico e o papel de cientistas e engenheiros.
Como diz o curador do Museu Histórico Tecnológico, Phillip Aumann: "Progresso e inovação são um aspecto-chave das sociedades modernas. Nós temos influência sobre o que é pesquisado e desenvolvido".

Fonte: BBC Brasil
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