domingo, 14 de julho de 2019

KC-390: O que representa a venda para Portugal?

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O recente anúncio realizado na última quinta-feira (11), confirmando a opção para compra de cinco aeronaves KC-390 pelo governo de Portugal, negócio que já era esperado há algum tempo, abre novas perspectivas de mercado para a maior e mais moderna aeronave já projetada e construída no Brasil.

O KC-390 tem despertado os olhares de muitos operadores do vetusto C-130 “Hércules”, aeronave de origem norte americana que domina até então absoluto este nicho de mercado. Porém, com a chegada da nova aeronave brasileira ao mercado e o peso da idade sobre o projeto norte americano, o qual apesar de inúmeras variantes e melhorias implementadas ao longo de décadas, tem agora essa hegemonia de décadas ameaçada pela inovação e grande capacidade oferecida pela gigante brasileira, tendo ainda como fator de peso a ser considerado pelos hipotéticos clientes, a parceria que vem se desenvolvendo há certo entre a brasileira Embraer (EDS) e a gigante norte americana Boeing, o que vem a tornar o KC-390 uma grande aposta.

Portugal é um dos parceiros no Programa KC-390, tendo investido no desenvolvimento da nova aeronave e participando na produção de vários componentes da mesma, sendo um dos maiores parceiros da gigante brasileira. Naturalmente que a aquisição do KC-390 pelos portugueses seria questão de tempo, principalmente após o país europeu decidir abrir mão de realizar o programa de modernização e extensão do ciclo operacional da frota de C-130 “Hercules” operados pelo país em abril de 2018, destinando cerca de 10 milhões de Euros ao desenvolvimento do Programa KC-390, conforme noticiamos aqui no GBN Defense News.

A confirmação da opção de compra de cinco aeronaves KC-390 pelo governo lusitano é muito mais significativa que a venda destas aeronaves propriamente dito, e mesmo mais relevante que o fato de ser a primeira exportação desta aeronave, pois trata-se da entrada dessa nova aeronave na OTAN, a mais importante aliança militar no mundo, a qual tende a observar o “case” português e consequentemente avaliar o KC-390 como uma real opção as suas necessidades logísticas, tendo em vista principalmente a avançada idade de suas aeronaves de transporte da categoria em que se insere o KC-390, sendo um potencial substituto para os C-130 em operação no “velho continente” e demais membros e parceiros globais da OTAN.

O negócio com Portugal nos oferece grandes perspectivas no mercado europeu, onde adentramos com pé direito, alicerçados não apenas pelo fato de fornecer cinco aeronaves aos portugueses, mas por ter o país europeu como um dos parceiros de peso no programa, oferecendo um importante suporte á futura frota de KC-390 no continente europeu, um negócio que a longo prazo será muito maior que os 827 milhões de Euros envolvidos diretamente no acordo que prevê além das cinco aeronaves, o fornecimento de um simulador de voo e suporte a frota por 12 anos.

Além de Portugal, espera-se que em breve a República Tcheca anuncie sua opção de compra do KC-390, assim como outros países que já demonstraram interesse na aquisição desse que promete ser o novo sucesso de vendas da Embraer (EDS), a qual vem mantendo conversas com a Boeing para criação de uma nova parceria visando explorar em conjunto o bilionário mercado que se abre com a entrada do KC-390 no mercado.

A Embraer deverá entregar em breve o primeiro KC-390 à Força Aérea Brasileira, marcando o início de uma nova fase na história da aviação de transporte da FAB, com a primeira aeronave do contrato firmado com Portugal sendo entregue em 2023.

Nós temos um grande orgulho de ver o surgimento de um novo marco da indústria aeroespacial brasileira, tendo já tido a oportunidade de conferir de perto essa fantástica aeronave e desejamos a toda equipe da Embraer (EDS) sucesso nesse importante programa que nasceu a partir do requerimento da Força Aérea Brasileira para uma aeronave de transporte que substituirá o C-130. Ao longo da história o relacionamento entre a FAB e a Embraer deram origem a aeronaves de sucesso internacional, como o “Bandeirante”, T-27 “Tucano”, AT-29 “Super Tucano” e agora o KC-390.


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Texto e Fotos: Angelo Nicolaci

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Incêndio em submarinos, adestramento e prevenção deste sinistro na Marinha do Brasil.

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No último dia 1 de julho, o incêndio á bordo do submarino de pesquisas russo, AS-12 conhecido como "Losharik", ganhou as mídias trazendo a tona a discussão sobre sinistros aos quais estes navios estão sujeitos, principalmente os incêndios, como este que vitimou 14 membros de sua tripulação.

Em face deste sinistro, resolvemos abordar um pouco sobre a doutrina de emprego de submarinos na Marinha do Brasil, focando os procedimentos e adestramentos voltados para lidar com este que é um dos mais mortais e perigosos sinistros que podem ocorrer dentro de um ambiente complexo como o submarino.

Como todos sabem, o submarino é um meio que se caracteriza pela ocultação, explorando o fator surpresa para obter a iniciativa das ações em combate. Dessa forma, um dos principais desafios na operação de um submarino convencional é a capacidade de operar de forma isolada, sem ser detectado e afastado de sua base, por um longo período de tempo.

Com isso surge a necessidade de concentração de grandes volumes de combustível, armamentos e gêneros, juntamente com equipamentos que requerem alimentação elétrica, tudo isso em espaço confinado e diminuto, exigindo também um elevado grau de prontidão e adestramento de sua tripulação para que, em casos de incidentes ou acidentes, o tempo de reação seja o menor possível, o que apresenta um grande desafio.

A análise e o gerenciamento de risco na atividade de submarinos se caracterizam pela busca constante pela compreensão dos cenários que compõem os potenciais incidentes e a identificação de vulnerabilidades, visando sempre reforçar e treinar as ações de prevenção.

Para reduzir os riscos intrínsecos à sua operação, o submarino é permanentemente guarnecido por pessoal de serviço, mesmo quando atracado em sua base. São realizadas inspeções rotineiras em intervalos curtos de tempo em todos os compartimentos, a fim de garantir a manutenção da segurança a bordo.

Quando identificados algum princípio de sinistro ou algo fora da normalidade, é o pessoal de serviço responsável pelo primeiro alarme e tomada das primeiras providências. Cabe também ressaltar que é parte importante da cultura profissional do submarinista, reforçada desde as fases mais básicas da formação e treinamento, o “duplo-cheque”. Isso quer dizer que os procedimentos e manobras são frequentemente realizadas por um submarinista e revistas por outro, o que reduz consideravelmente os riscos de falha humana.

Como é o treinamento recebido pelas tripulações de nossos submarinos?

Os tripulantes são individualmente treinados em combate a incêndio, por meio de curso ministrado em um dos Centros de Adestramento da Marinha, como o Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão (CAAML), localizado no bairro de Parada de Lucas no Rio de Janeiro, onde tivemos a oportunidade de conhecer e acompanhar um pouco dos adestramentos de CAv e CBINC ministrados aos tripulantes de diversos meios da Esquadra. Adicionalmente, durante os cursos de formação de submarinistas, oficiais e praças tem os diversos procedimentos de CAv e CBINC previstos treinados em simuladores.

Ao embarcar em um submarino, cada militar passa por adestramentos especificos, nos quais são ministradas as particularidades daquele meio, além de exercícios simulados de sinistros para que sejam qualificados a concorrer à escala de serviço daquele submarino. Adicionalmente, cada meio possui uma programação de adestramentos de combate a avarias, a fim de manter o nível de qualificação e prontidão da tripulação.

Como é composta a equipagem destinada ao combate a incêndios em submarinos?

Na Marinha do Brasil, a equipagem de combate a incêndio dos submarinos é composta por roupas especiais para este fim, extintores de incêndio classes A, B, C, pó químico e a possibilidade da utilização de mangueiras com água do mar, além de redes de ar para respiração de emergência através de máscaras individuais. Para localização de focos de incêndio em ambiente já contaminado por fumaça, em que a visibilidade esteja comprometida, são empregadas, ainda, câmeras especiais capazes de realizar um “imageamento térmico” do local.

Qual procedimento padrão neste tipo de sinistro?

Devido às peculiaridades de um submarino convencional, o principal foco é manter um nível de adestramento alto, com elevado grau de prontidão, para que se possa responder à ocorrência de um incêndio logo em seu início.

A regra, de ouro para qualquer navio, é ainda mais importante para os submarinos, tendo em vista os efeitos graves e imediatos da propagação de fumaça e redução crítica de concentração de oxigênio em ambiente reduzido e confinado, sendo extremamente mortífero, como foi no caso recente envolvendo o submarino russo, no qual foram perdidas 14 vidas durante o sinistro.   

Em uma primeira resposta, são utilizados extintores de incêndio, de acordo com sua classe, guarnecidos pelo pessoal de serviço trajado com macacão padrão, acrescido de capuz e luvas de proteção. O submarino também dispõe de uma rede de ar de respiração de emergência, que permite à tripulação combater o incêndio mesmo na presença de fumaça. Caso seja necessário, uma segunda equipe continuará o combate ao incêndio, melhor equipada, trajada de roupa específica e máscara de respiração individual.

Existe, ainda, a possibilidade de emprego de mangueiras de água do mar. Esse procedimento é realizado apenas em último caso, tendo em vista os riscos decorrentes pela presença de equipamentos elétricos e dos efeitos do embarque de água para a estabilidade e controle hidrostático do submarino.

Diante de um incêndio a bordo, a primeira medida é o acionamento do alarme geral, seguido da disseminação do sinistro através do circuito de som interno. Quando atracado, o apoio de pessoal de terra é solicitado. Em seguida são cumpridas as listas de verificação para o sinistro, as quais basicamente implicam no isolamento elétrico e mecânico do compartimento onde ocorre o incêndio.

O primeiro combate é realizado pela equipe de ataque, enquanto uma outra equipe se prepara. As ações são coordenadas por um oficial do submarino, o Chefe de Máquinas, sob a constante supervisão e responsabilidade do Comandante. Caberá a ele avaliar as consequências imediatas e tomar decisões compatíveis com o cenário tático corrente, em face das restrições impostas ao submarino e sua operação, pelo sinistro em andamento.

De maneira geral, as ocorrências mais graves a que submarinos estão expostos são os incêndios na praça de baterias, praça de máquinas e quadro de força auxiliar, pois produzem as restrições mais incapacitantes para o meio, que provavelmente ficará sem propulsão e recursos de manobra e sensoriamento, impossibilitando o seu retorno à superfície e mesmo de comunicação.


O primordial, em casos de sinistros dessa natureza, é que o incêndio seja controlado desde o seu início, o que é possível com o contínuo treinamento de sua tripulação, a fim de que o tempo decorrente entre alarme e resposta seja o menor possível.

A Marinha do Brasil possui uma longa tradição na operação de submarinos, mantendo um alto indice de segurança no que tange a ocorrência de sinistros a bordo e o controle dos mesmos, possuindo um alto grau de eficiência e presteza no emprego deste importante meio, sem o registro de grandes incidentes ou acidentes ao longo de mais de um século de história.

Em breve o GBN Defense News irá lançar uma série especial sobre esta importante arma naval, e no desenvolver da mesma abordaremos um pouco mais sobre as particularidades deste meio, o qual é apontado como a mais temível ameaça no cenário de guerra naval.

Aproveito para mais uma vez agradecer ao apoio dado pelo CCSM, sem o qual não seriamos capazes de produzir um conteúdo de tamanha qualidade e profissionalismo, o qual esta alicerçado em nossa missão de trazer ao público um conteúdo que retrate a realidade no que tange a defesa e o emprego dos diversos meios e sistemas que o compõe.

Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.


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