domingo, 22 de junho de 2025

Análise - Os Riscos da Derrubada do Regime Iraniano sem Coesão Interna

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A possibilidade de uma derrubada do regime iraniano tem ganhado relevância nos debates geopolíticos internacionais, impulsionada por interesses estratégicos, conflitos regionais e tensões globais. Contudo, ao analisar a viabilidade e as possíveis consequências de uma mudança forçada de governo no Irã, é imprescindível considerar as lições aprendidas ao longo das últimas duas décadas no Oriente Médio e na Ásia. Intervenções externas e a derrubada abrupta de regimes políticos, na ausência de um processo interno legítimo, têm resultado, na maioria dos casos, em instabilidade prolongada, sofrimento humano e retrocessos políticos e sociais de grande magnitude.

Esta análise busca apresentar os riscos associados a qualquer tentativa de mudança de regime no Irã sem uma coesão interna efetiva, abordando a complexidade do cenário político iraniano, a "neblina" que envolve suas dinâmicas de poder e as possíveis consequências para a estabilidade regional e global. Para isso, serão utilizados como referência os casos do Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, exemplos emblemáticos que ilustram os perigos de uma mudança de regime conduzida sem planejamento, legitimidade ou suporte interno.

Coesão Interna: Um Pilar Essencial para Mudanças Sustentáveis

Coesão interna refere-se à capacidade de um país ou regime político de manter, ao menos minimamente, um consenso social, estabilidade institucional e organização política que assegurem a governabilidade e a ordem social. Esse conceito abrange fatores políticos, sociais, militares e culturais, incluindo a legitimidade das lideranças, o alinhamento entre grupos internos e o funcionamento das instituições estatais.

Mudanças políticas, especialmente aquelas que envolvem substituição de regimes, dependem, de maneira crucial, dessa coesão interna para evitar o caos e o colapso institucional. Na ausência desse elemento, os riscos de fragmentação territorial, surgimento de milícias armadas, guerras civis e colapsos humanitários tornam-se altamente prováveis, como demonstram os exemplos históricos que serão analisados a seguir.

A Neblina do Poder no Irã

Diferentemente de outras nações, o Irã é caracterizado por uma considerável opacidade em relação às suas dinâmicas internas de poder. O sistema político iraniano é multifacetado, com uma teocracia liderada pelo Aiatolá Supremo, coexistindo com estruturas políticas formais como a presidência da República, o parlamento (Majles) e, principalmente, a poderosa Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC).

Essa “neblina” dificulta o entendimento de quem, de fato, detém o controle pleno do país, quais as reais divisões internas existentes e quais seriam as forças emergentes em caso de um eventual colapso do regime atual. A ausência de um movimento de oposição interno, forte e organizado, agrava essa incerteza.

Especialistas destacam que a falta de uma força interna coesa torna a derrubada do regime por vias externas altamente improvável de alcançar sucesso duradouro. Mesmo que o regime fosse derrubado, o futuro político do país permaneceria incerto e poderia, inclusive, resultar em uma escalada de instabilidade.

Afeganistão: A Complexidade da Reconstrução Pós-Intervenção

Após os ataques de 11 de setembro de 2001, a coalizão liderada pelos Estados Unidos derrubou rapidamente o regime do Talibã, então abrigando a Al-Qaeda. Embora os primeiros anos tenham apresentado avanços notáveis em direitos humanos, infraestrutura e educação, o fracasso no médio e longo prazo é emblemático.

Entre os principais fatores que contribuíram para esse desfecho estão:

  • A falta de um planejamento integrado entre os atores internacionais, que desconsideraram as tradições locais e a complexidade das estruturas sociais afegãs;

  • Divergências internas entre os aliados ocidentais quanto às estratégias militares, políticas e de desenvolvimento;

  • A ausência de um consenso político interno sólido, resultando em governos frágeis, dependentes de ajuda externa e com baixa legitimidade social.

Como consequência, o Talibã retornou ao poder em 2021, revertendo muitos dos avanços obtidos e instaurando um regime autoritário, com graves violações de direitos humanos.

Este episódio reforça a lição de que uma mudança de regime sem base interna legítima, por mais bem-intencionada que seja, tende a produzir retrocessos dramáticos.

Iraque: Desintegração Institucional e Ascensão do Extremismo

A invasão do Iraque em 2003, que resultou na queda de Saddam Hussein, foi conduzida sem um planejamento adequado para o período pós-invasão. A dissolução do exército e da burocracia estatal gerou um profundo vácuo institucional.

Esse vazio abriu espaço para o agravamento das tensões sectárias entre xiitas, sunitas e curdos, culminando em uma prolongada guerra civil. No vácuo de poder, surgiu o Estado Islâmico (EI), que implantou um regime de terror e genocídio em vastas áreas do país e da Síria.

Mesmo após anos de esforços militares e reconstrução, o Iraque ainda enfrenta instabilidade política, violência esporádica e enormes desafios institucionais.

Esse caso evidencia que a imposição de um novo regime, sem uma compreensão profunda das divisões sociais, religiosas e políticas locais, pode desmantelar estruturas estatais já frágeis e abrir caminho para o extremismo.

Líbia: Fragmentação e Guerra Civil Prolongada

A derrubada de Muammar Gaddafi em 2011, com forte participação de potências estrangeiras, ilustra mais um exemplo de mudança de regime sem um plano claro de reconstrução.

Sem um governo central legítimo e estável, a Líbia mergulhou em um ciclo de violência entre milícias rivais, com a existência de governos paralelos e a presença de grupos terroristas.

O colapso do Estado líbio resultou em uma grave crise humanitária, com contínuas violações dos direitos humanos, tráfico de pessoas e uma instabilidade política que persiste até os dias atuais.

Síria: Uma Transição Fragilizada por Violência e Crise Humanitária

Desde a saída de Bashar al-Assad em 2024, a Síria tem enfrentado um processo de transição extremamente frágil. O país, devastado por mais de uma década de guerra civil, continua sofrendo com massacres de civis, deslocamentos massivos, destruição de infraestrutura e uma crise humanitária de grandes proporções.

A fragmentação política e a ausência de um consenso interno tornaram a reconstrução um desafio quase intransponível, deixando o país vulnerável à influência de potências externas e a grupos armados diversos.

Os Riscos Específicos para o Irã

No caso iraniano, a ausência de um movimento interno robusto e organizado capaz de liderar uma transição representa um fator crítico de risco.

A Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), com sua vasta influência política, econômica e militar, é um ator que não pode ser ignorado. Caso o atual regime desmorone sem um processo bem estruturado de transição, existe a possibilidade de que a IRGC assuma o controle político de forma ainda mais centralizada e agressiva, com possíveis implicações negativas para a segurança interna e regional.

Além disso, um colapso abrupto pode gerar um vácuo de poder, levando à fragmentação territorial, à proliferação de grupos armados e à intensificação de disputas internas entre diferentes etnias e facções políticas.

Como o Irã desempenha um papel estratégico no Oriente Médio, a instabilidade interna teria efeitos colaterais diretos nos países vizinhos, podendo desencadear novos fluxos migratórios, aumento de tensões sectárias e interferência de potências regionais e globais como Estados Unidos, Rússia, China e Arábia Saudita.

Violação da Soberania e do Direito Internacional

A soberania nacional é um dos princípios mais fundamentais do direito internacional, consagrado em documentos como a Carta das Nações Unidas. Ela garante aos Estados o direito exclusivo de gerir seus assuntos internos, definir seu sistema político e manter sua integridade territorial sem interferências externas.

Qualquer tentativa de promover uma mudança de regime no Irã por meio de intervenção militar ou ações coercitivas externas representaria uma violação direta desse princípio. Além de contrariar as normas jurídicas internacionais, tal ação comprometeria profundamente a legitimidade de qualquer novo governo que viesse a ser instaurado.

Historicamente, intervenções dessa natureza tendem a reforçar o sentimento nacionalista entre a população local, gerando resistência interna e dificultando a aceitação de qualquer mudança imposta de fora.

A comunidade internacional, em sua maioria, demonstra forte oposição a tais práticas, o que poderia isolar politicamente qualquer tentativa de intervenção e inviabilizar esforços posteriores de reconstrução e estabilização.

Além disso, a violação da soberania de um país tão estratégico quanto o Irã abriria precedentes perigosos, incentivando outros Estados ou blocos a adotarem políticas semelhantes, aumentando o risco de novos conflitos internacionais.

O Caminho da Mudança Legítima e Sustentável

As lições extraídas das experiências no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria indicam que mudanças de regime conduzidas sem coesão interna, legitimidade e planejamento cuidadoso são, quase sempre, acompanhadas de consequências imprevisíveis e, muitas vezes, desastrosas.

É importante ressaltar que esta análise, embora crítica a uma intervenção externa, não deve ser interpretada como um apoio ou defesa ao atual regime iraniano. As preocupações legítimas com a situação dos direitos humanos, as restrições às liberdades civis e o contexto político repressivo no Irã são reconhecidas e não podem ser ignoradas.

Entretanto, qualquer transformação política que se pretenda duradoura, legítima e benéfica para o povo iraniano deve ser fruto de processos internos, amplamente apoiados pela população, conduzidos de forma pacífica e com o fortalecimento das instituições.

Esse caminho, embora mais lento e repleto de desafios, é o único capaz de assegurar uma mudança real e sustentável, que respeite a soberania nacional, contribua para a estabilidade regional e, acima de tudo, atenda às aspirações legítimas do povo iraniano por democracia, liberdade e desenvolvimento social.


por Angelo Nicolaci


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Índia investe em tecnologias de defesa avançadas para fortalecer sua autonomia estratégica e operacional

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A Índia avança de forma decisiva no desenvolvimento de uma ampla gama de tecnologias militares, com o objetivo de elevar sua autossuficiência e capacidade de dissuasão frente a desafios regionais e globais. O presidente da Organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa (DRDO), Dr. Samir V. Kamat, detalhou em entrevista recente à NDTV os principais programas em andamento, que abrangem desde mísseis hipersônicos até aeronaves furtivas, sistemas de defesa aérea, armamento terrestre e naval, todos alinhados a uma visão estratégica de longo prazo para a segurança nacional.

Um dos projetos centrais é a evolução do míssil supersônico BrahMos, fruto da parceria com a Rússia, que já é empregado com sucesso pelas aeronaves Su-30MKI. Para ampliar sua flexibilidade operacional, o DRDO desenvolve o BrahMos-NG (Next Generation), uma versão menor e mais leve, capaz de ser integrada a uma maior diversidade de plataformas aéreas. Essa adaptação não apenas aumentará o número de aeronaves capazes de empregar esse míssil, mas também permitirá maior agilidade e surpresa tática nas operações aéreas indianas.

Paralelamente, a Índia investe fortemente no programa de armas hipersônicas, que inclui duas frentes: um veículo planador hipersônico e um míssil de cruzeiro com propulsão scramjet. O desenvolvimento do veículo planador está em estágio avançado, com previsão de concluir os testes de desenvolvimento em até três anos, abrindo caminho para a sua incorporação nas forças armadas. Já o míssil de cruzeiro hipersônico, cuja tecnologia scramjet foi testada com sucesso por mil segundos, aguarda aprovação para produção em larga escala, o que pode levar de cinco a sete anos para alcançar a capacidade operacional. Estes sistemas prometem revolucionar a capacidade de ataque indiano, proporcionando velocidades e manobrabilidade que dificultam a interceptação pelos sistemas de defesa adversários.

Além disso, a DRDO está ampliando a família de mísseis Astra, essenciais para o combate ar-ar indiano. O modelo Mk-1 já está em uso, enquanto as versões Mk-2 e Mk-3, com alcance estendido e maior desempenho, estão em desenvolvimento. Na mesma linha, a série de mísseis Rudram para ataque ao solo está sendo atualizada com novos modelos, Rudram-2, Rudram-3 e Rudram-4, que avançam em diferentes etapas de testes, buscando ampliar o espectro e a eficácia dos ataques terrestres.

No campo da defesa aérea, a Índia trabalha no programa Kusha, que visa criar um sistema terra-ar de longo alcance, batizado internamente como “Sudarshan Chakra”, com capacidades similares às do renomado sistema russo S-400. Esse sistema ampliará significativamente a proteção do espaço aéreo indiano contra múltiplas ameaças simultâneas. Além disso, a DRDO desenvolve armas de energia dirigida, como lasers de alta potência e sistemas baseados em micro-ondas, para neutralizar drones e ataques aéreos de pequena escala, uma resposta moderna às crescentes ameaças assimétricas no campo da defesa aérea.

Na área terrestre, o país está modernizando sua artilharia com o Sistema Avançado de Artilharia Rebocada (ATAGS), que está sendo adaptado para uma versão autopropulsada sobre caminhões, aumentando mobilidade e tempo de resposta. O governo já aprovou a compra de 814 unidades, em um investimento de aproximadamente 1,8 bilhões de dólares, envolvendo importantes empresas públicas e privadas como Tata, L&T, Bharat Forge e Mahindra Defence, fomentando o desenvolvimento da indústria de defesa nacional. Outro projeto vital é o tanque leve Zorawar, desenvolvido em parceria com a L&T, pensado para operar em altitudes elevadas, especialmente na fronteira com a China. Com cerca de 25 toneladas, o Zorawar oferecerá ao Exército indiano uma plataforma ágil e robusta, com 354 unidades planejadas para reforçar a presença em regiões montanhosas.

No campo naval, a DRDO está próxima da incorporação de uma nova geração de torpedos, minas e tecnologias para guerra submarina, fortalecendo a capacidade da Marinha Indiana para proteger suas águas territoriais e projetar poder em uma região cada vez mais estratégica.

Frente à provável entrega ao Paquistão de 40 caças stealth J-35 da China, a Índia responde com o ambicioso programa Advanced Medium Combat Aircraft (AMCA), seu caça furtivo de quinta geração. Com aprovação formal em 2024, o AMCA deve estar pronto até 2035, com previsão de formar cerca de seis esquadrões, totalizando aproximadamente 120 aeronaves. Este programa marca uma evolução no processo produtivo indiano, que buscará envolver parcerias público-privadas, além da tradicional Hindustan Aeronautics Limited (HAL), sinalizando uma mudança estratégica para acelerar o desenvolvimento e produção.

Finalmente, o Dr. Kamat ressaltou a importância da autonomia operacional em ambientes de guerra eletrônica, onde bloqueios de GPS e interferências nas comunicações podem comprometer o uso de sistemas convencionais. Lições da Operação Sindoor evidenciam que armas futuras devem ser capazes de operar sem suporte externo, reforçando o foco da DRDO no desenvolvimento de sistemas autônomos e resilientes para assegurar eficácia em conflitos modernos.

Com esses avanços, a Índia reafirma seu compromisso de construir uma defesa moderna, integrada e autossuficiente, capaz de responder rapidamente a ameaças complexas e manter sua posição como uma potência militar emergente em um cenário global cada vez mais desafiador.

Índia, um exemplo para o Brasil

O avanço da Índia no campo da defesa oferece lições importantes para o Brasil, especialmente no que diz respeito à necessidade de uma mudança estrutural na mentalidade nacional sobre o desenvolvimento de tecnologias e capacidades de defesa. Enquanto a Índia investe de forma contínua, planejada e com visão de longo prazo na construção de tecnologias próprias, o Brasil ainda sofre com a falta de constância nos investimentos, com ciclos frequentes de cortes orçamentários, interrupções de projetos e descontinuidade tecnológica.

O caso indiano mostra que, para alcançar autonomia estratégica, é preciso mais do que vontade pontual ou iniciativas isoladas: é necessário um compromisso nacional que envolva o governo, a indústria, a comunidade científica e as Forças Armadas. A Índia conseguiu criar uma estrutura institucional robusta, como a DRDO, com orçamento contínuo, apoio político e metas claras de desenvolvimento. Isso permitiu o avanço em áreas sensíveis e tecnologicamente complexas, como mísseis hipersônicos, aeronaves de quinta geração e sistemas de defesa aérea de longo alcance.

No Brasil, por outro lado, muitos projetos de defesa ainda dependem de importações, de parcerias estrangeiras condicionadas e de orçamentos instáveis. Mesmo programas estratégicos, como o desenvolvimento do míssil AV-TM 300, o PROSUB ou o Gripen, frequentemente enfrentam atrasos, contingenciamentos e falta de continuidade política.

A experiência indiana evidencia que soberania e capacidade de dissuasão não se constroem apenas com compras no exterior, mas sim com investimento sério, apoio governamental consistente e uma mentalidade nacional que entenda a defesa como elemento central do desenvolvimento tecnológico e industrial.

Para o Brasil, adotar uma postura semelhante exigiria uma reavaliação profunda de prioridades, garantindo que projetos estratégicos não sejam tratados como gastos supérfluos, mas como investimentos em segurança, desenvolvimento econômico e posicionamento internacional. O exemplo da Índia mostra que essa transformação é possível quando há visão de Estado, planejamento de longo prazo e compromisso com a continuidade.


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Paris Air Show 2025 destaca drones wingmen e marca nova era na guerra aérea

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O Paris Air Show 2025, o maior evento aeroespacial e de defesa do mundo, tornou-se palco de uma verdadeira revolução tecnológica na guerra aérea. Neste ano, um número recorde de drones de combate avançados, conhecidos como “wingmen”, dominou a atenção de especialistas, militares e executivos da indústria de defesa. Esses sistemas não tripulados, projetados para operar ao lado de caças tripulados, estão redefinindo os conceitos de superioridade aérea, táticas de combate e projeção de força global.

O conceito de “wingmen”: multiplicadores de poder aéreo

Os “wingmen” são aeronaves não tripuladas de combate que voam em formação com caças como o F-35 ou o futuro F-47 da Força Aérea dos Estados Unidos. Seu papel é diversificado: podem executar missões de vigilância, guerra eletrônica, ataques de precisão, distração de defesas inimigas ou até operações cibernéticas. Mais do que simples alvos ou drones de reconhecimento, essas plataformas atuam como parceiros inteligentes e autônomos, capazes de receber comandos de pilotos humanos ou operar de forma independente com base em inteligência artificial embarcada.

O interesse global por essa tecnologia cresceu exponencialmente após os conflitos recentes, especialmente a guerra na Ucrânia, onde drones de todos os tipos provaram seu valor tático e estratégico. Além disso, as tensões no Indo-Pacífico, envolvendo Estados Unidos e China, estão acelerando o desenvolvimento de capacidades de combate que possam oferecer vantagem decisiva em cenários de negação de acesso (A2/AD).

Indústria americana na dianteira: Anduril, General Atomics e Boeing

Entre os destaques do pavilhão norte-americano, a Anduril Industries, sediada na Califórnia, atraiu atenção especial com seu drone Fury, um veículo de 17 pés de comprimento, desenvolvido para o programa CCA (Collaborative Combat Aircraft) da Força Aérea dos EUA. Segundo Jason Levin, vice-presidente sênior de engenharia da empresa, o Fury é uma aeronave com “capacidade de missão comparável à de um caça”, embora detalhes operacionais permaneçam confidenciais.

A Anduril já investiu US$ 2,5 bilhões na construção de uma planta industrial de última geração com 465 mil metros quadrados em Ohio, cuja construção começará em 2026, visando a produção em massa até 2027.

Além do Fury, a Anduril também apresentou o Altius, um drone menor e mais compacto que pode ser lançado de solo ou ar, com capacidade para missões de ataque, iscagem e guerra cibernética. O Altius já foi exportado para a Ucrânia por meio de um contrato de 30 milhões de libras com o Reino Unido, assinado em março.

A General Atomics, tradicional fornecedora de drones como o MQ-9 Reaper, apresentou seu novo modelo YFQ-42A, uma aeronave que rivaliza com o Fury em termos de performance e integração ao conceito de guerra centrada em rede. Ambos os projetos visam garantir superioridade aérea em um eventual cenário de guerra contra a China no Pacífico, incluindo uma possível defesa de Taiwan, considerada por Pequim uma província rebelde.

Outro marco importante foi a demonstração da Boeing, que revelou os resultados de um exercício com a Força Aérea Real Australiana (RAAF). No teste, dois drones Ghost Bat voaram ao lado de uma aeronave de vigilância E-7A Wedgetail, sendo operados remotamente para simular um ataque coordenado a um alvo aéreo. O governo australiano destacou que o Ghost Bat pode transformar um único caça em uma equipe aérea multi-plataforma, ampliando significativamente o alcance sensorial e a capacidade de engajamento.

Europa e Ásia: resposta acelerada ao avanço americano

As empresas europeias não ficaram atrás. A sueca Saab, junto com o consórcio franco-espanhol formado por Dassault Aviation, Airbus e Indra Sistemas, promoveram os avanços do programa Future Combat Air System (FCAS), que visa a integração de drones autônomos com caças tripulados de sexta geração.

Enquanto isso, a Baykar, da Turquia, apresentou pela primeira vez no salão dois de seus principais sistemas: o Akinci, um drone de grande altitude e elevada capacidade de carga, e o TB3, com asas dobráveis, desenvolvido especialmente para operar a partir de porta-aviões com pista curta, como o recém-comissionado TCG Anadolu.

Além disso, a Baykar e a italiana Leonardo formalizaram durante o evento uma joint venture focada no desenvolvimento de sistemas não tripulados para o mercado europeu e mediterrâneo, sinalizando um novo eixo de cooperação na indústria de defesa.

A Rheinmetall, da Alemanha, também aproveitou a feira para anunciar uma parceria estratégica com a Anduril, visando a produção de variantes europeias do Fury e do Barracuda, um drone que adota o conceito de míssil de cruzeiro com capacidade de reuso.

Uma transformação estrutural na guerra aérea

O crescente investimento global em drones wingmen sinaliza uma transformação profunda na doutrina de combate aéreo. Em vez de missões realizadas apenas por aeronaves tripuladas, as futuras operações deverão envolver enxames coordenados de plataformas autônomas, capazes de confundir defesas inimigas, realizar ataques simultâneos e assumir tarefas de alto risco, preservando a vida dos pilotos.

O conceito de "massificação inteligente", onde cada caça poderá comandar múltiplos drones subordinados, promete mudar o equilíbrio de poder nos céus. Segundo analistas do setor, países que não investirem rapidamente nessa tecnologia correm o risco de perder sua capacidade de dissuasão aérea já na próxima década.

O Paris Air Show 2025 deixou claro que a corrida global por superioridade aérea de próxima geração está apenas começando, e que os drones wingmen serão protagonistas dessa nova era.


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com Reuters
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Ucrânia avança em território russo e intensifica pressão militar e econômica sobre Moscou

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A guerra entre Rússia e Ucrânia, que já se arrasta há mais de três anos, entrou em uma nova e arriscada fase com o avanço de tropas ucranianas dentro do território russo. Segundo declarações do comandante das Forças Armadas da Ucrânia, General Oleksandr Syrskyi, as forças ucranianas controlam atualmente cerca de 90 quilômetros quadrados na região russa de Kursk, mais especificamente no distrito de Hlushkov, a aproximadamente 90 quilômetros da fronteira ucraniana.

De acordo com Syrskyi, o objetivo das operações em Kursk é “preventivo”, uma resposta antecipada a um possível ataque russo em território ucraniano. Sem dar muitos detalhes sobre a estratégia ou o número de soldados envolvidos, o general reforçou que a iniciativa visa neutralizar ameaças antes que avancem para dentro da Ucrânia.

Estima-se que cerca de 10.000 soldados russos estejam empenhados nas tentativas de recuperar o território perdido na região, segundo fontes militares de Kiev. Esse movimento obriga Moscou a manter uma quantidade considerável de tropas em solo russo, afastando-as de outras frentes de combate.

Impacto no leste da Ucrânia: alívio temporário para Donetsk

Enquanto os combates se intensificam em Kursk, a Ucrânia tem conseguido reduzir a pressão russa em Donetsk, uma das regiões ucranianas mais castigadas pelos combates desde o início da invasão em 2022. Segundo o comando ucraniano, a necessidade de reforçar a defesa em Kursk obrigou a Rússia a realocar tropas e recursos que antes estavam concentrados no leste ucraniano.

Embora os avanços russos tenham se acelerado nos meses de maio e junho, a Ucrânia afirma que tais progressos têm sido obtidos ao custo de pesadas baixas russas, com destaque para as chamadas “táticas de pequenos grupos de assalto”, um método de combate que envolve o envio de pequenas unidades de infantaria para tentar abrir brechas nas linhas ucranianas.

A linha de frente e os desafios múltiplos

Atualmente, a linha de contato entre as forças ucranianas e russas se estende por cerca de 1.200 quilômetros, abrangendo não apenas o leste, mas também o norte da Ucrânia. As Forças Armadas de Kiev relatam que a situação permanece “extremamente difícil”, com constantes investidas russas em vários pontos da linha de frente.

Na região de Dnipropetrovsk, por exemplo, ataques russos recentes foram repelidos, mas os combates continuam, sobretudo nas áreas próximas das fronteiras administrativas das regiões de Donetsk, Luhansk e Kharkiv.

Além disso, a Rússia continua a executar ataques de longo alcance com drones e mísseis contra cidades ucranianas distantes da linha de frente, visando infraestruturas críticas e tentando minar a capacidade de resistência ucraniana.

Guerra aérea: inovação ucraniana diante de ataques com drones

Diante do aumento do uso de drones russos, principalmente os modelos Shahed, de fabricação iraniana, a Ucrânia tem investido em novas estratégias de defesa aérea. De acordo com os militares ucranianos, cerca de 82% desses drones têm sido interceptados com sucesso, mas a situação segue desafiadora.

Para enfrentar o crescente número de ataques, a Ucrânia tem buscado reforços em seus sistemas de mísseis terra-ar e desenvolvido o uso de aeronaves leves e drones interceptadores. Essa nova abordagem visa aumentar a taxa de neutralização de ameaças aéreas e reduzir o impacto em áreas urbanas e na infraestrutura civil.

O problema, no entanto, é que a Ucrânia carece de sistemas suficientes para cobrir todas as regiões vulneráveis, razão pela qual Kiev continua solicitando ajuda militar aos seus aliados ocidentais.

Guerra de longo alcance: ataques ucranianos dentro da Rússia

Além de sua defesa territorial, a Ucrânia também tem adotado uma estratégia ofensiva de longo alcance, direcionando ataques contra infraestruturas econômicas e militares dentro do território russo. As forças armadas de Kiev relatam que, entre janeiro e maio deste ano, os danos diretos causados à indústria de petróleo e gás da Rússia ultrapassaram US$ 1,3 bilhão.

Os danos indiretos, que incluem a desestabilização da produção de combustível, interrupções logísticas, e fechamento temporário de refinarias, foram estimados em US$ 9,5 bilhões, de acordo com o Ministério da Defesa ucraniano.

Entre as operações mais notórias está a chamada “Operação Teia de Aranha”, uma ação de sabotagem que teria danificado aeronaves de combate russas em solo, representando bilhões em prejuízos adicionais a Moscou.

Pressão estratégica: aumentando o custo da guerra para Moscou

A combinação de avanços territoriais limitados, ataques de longo alcance e operações assimétricas visa, segundo analistas militares, elevar ao máximo os custos financeiros, logísticos e políticos para o governo russo.

Ao forçar Moscou a dispersar tropas, reforçar suas defesas internas e absorver o impacto econômico de perdas nas suas infraestruturas, a Ucrânia tenta criar uma janela de oportunidade para consolidar suas posições defensivas e retomar a iniciativa nas áreas mais críticas do conflito.

Reflexões sobre os próximos passos

Ainda é cedo para avaliar se a ofensiva ucraniana em Kursk representa o início de uma nova doutrina militar mais agressiva por parte de Kiev, ou se se trata apenas de uma operação tática limitada, destinada a ganhar tempo e espaço para reorganizar suas forças.

O certo é que a guerra entrou em uma fase de maior imprevisibilidade, com o conflito extrapolando as fronteiras tradicionais e levando a combates em solo russo, algo que até recentemente parecia pouco provável.

O Kremlin ainda não apresentou uma resposta militar de grande escala ao avanço ucraniano em Kursk, mas o risco de retaliações em larga escala, seja por via aérea, terrestre ou cibernética, permanece alto.

Enquanto isso, os combates seguem intensos em Donetsk, Luhansk, Kharkiv e nas demais regiões ucranianas sob ataque, mostrando que, apesar dos avanços recentes, a Ucrânia continua enfrentando enormes desafios para garantir sua soberania e integridade territorial.


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Análise - Ataques dos EUA ao Irã: precisão devastadora com risco de escalada

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Na madrugada do último sábado, 22 de junho, por volta de 2h30, horário do Irã, os Estados Unidos lançaram uma ofensiva combinada contra três das principais instalações nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan. A operação, batizada de “Operation Midnight Hammer”, envolveu sete bombardeiros stealth B‑2, vindos da base em Whiteman (Missouri), que largaram 14 bombas bunker-buster GBU‑57 MOP, cada uma com peso de 30 000 lb, e mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro Tomahawk disparados por submarinos.

O presidente Trump anunciou a ação nas redes sociais afirmando que “Fordow está destruída”, descrevendo a missão como um “sucesso militar espetacular”. As aeronaves dos EUA teriam ultrapassado espaço aéreo iraniano e retornado sem confrontos, com os sistemas iranianos de defesa aérea aparentemente sem reação.

Impacto e evidências por satélite

Imagens de satélite fornecidas pela Maxar Technologies mostram, no complexo de Fordow, seis crateras recentes, nuvens de poeira cinzenta e fragmentos de concreto, sinais claros da detonação de bombas de penetração profunda. O design da MOP visa explodir após penetrar profundamente, o que explica a ausência de grandes destroços superficiais, e sugere que os iranianos selaram os túneis antes do ataque para conter os danos internos.


Estima-se que alvos como Fordow, enterrado sob cerca de 80 m de rocha, foram diretamente visados pelas MOPs, cujo uso em combate foi confirmado oficialmente pela primeira vez. Enquanto isso, Natanz e Isfahan receberam ataques semelhantes, com Tomahawks complementando os impactos diretos.

Agências iranianas afirmam que não houve vazamento de radiação e que o estoque de urânio enriquecido já havia sido removido previamente para evitar danos ambientais . Representantes do país confirmaram que áreas afetadas em Qom, próximas a Fordow, não apresentam risco para a população.

Dissuadir, não derrubar

No Pentágono, o secretário de Defesa Pete Hegseth declarou que a operação foi um sucesso esmagador, afirmando que o programa nuclear iraniano foi “devastado”. Enfatizou ainda que a missão não visava troca de regime e que civis e tropas iranianas não eram alvos, mas as “ambições nucleares” do Irã .

O vice-presidente JD Vance reforçou esse discurso ao afirmar: “Estamos em guerra com as ambições nucleares do Irã, mas não com seu povo”, e garantiu que Washington e seus aliados trabalharão para desmantelar permanentemente o programa nuclear iraniano através de ações além do ataque.

Apesar da ofensiva militar, o governo americano sinalizou abertura à diplomacia. Hegseth declarou que o Irã ainda é bem-vindo à mesa das negociações. Já Trump advertiu: “Qualquer retaliação será respondida com força muito maior”.

Críticas e apoio: um país dividido

Dentro dos EUA, a reação foi polarizada, com muitos republicanos, inclusive o senador Lindsey Graham, elogiando a ação e classificando como necessária para conter o programa nuclear iraniano.

Já conservadores “MAGA”, como Steve Bannon e Marjorie Taylor Greene, criticaram, acusando Trump de envolvimento em outro conflito externo desnecessário.

Democratas, liderados por figuras como Hakeem Jeffries, questionaram a legalidade da operação sem autorização do Congresso e alertaram para um possível engajamento dos EUA em um conflito prolongado.

No âmbito internacional, a ONU, França, Reino Unido e União Europeia manifestaram preocupação com o risco de escalada, pedindo retorno à diplomacia. Israel, por sua vez, celebrou o ataque. O premiê Netanyahu classificou o poder militar americano como “justo e impressionante” e afirmou que isso complementou as ações israelenses na última semana .

Riscos de retaliação e nova escalada regional

De imediato, o Irã reagiu ativando defesas aéreas em regiões como Bushehr e Yazd, e lançou mísseis contra Israel, atingindo Tel Aviv e Haifa e provocando dezenas de feridos. Embora não tenha atacado bases americanas diretamente, o Irã advertiu que fechar o estreito de Ormuz está sob consideração, aumentando o risco para o tráfego global de petróleo .

Analistas do Council on Foreign Relations e da Carnegie alertam para uma possível fase prolongada de hostilidades: o Irã pode preferir uma retaliação assimétrica por meio de milícias no Oriente Médio. O Pentágono declarou que suas forças na região estão em alerta máximo e prontas para responder qualquer ação iraniana.

Diante da magnitude dos ataques, o Irã agora se vê pressionado a responder de forma que reafirme sua capacidade de dissuasão sem provocar uma escalada irreversível que leve a um confronto direto com os Estados Unidos. O histórico recente do regime iraniano aponta para um padrão de respostas assimétricas, cuidadosamente calibradas para causar impacto político e militar, mas com margem para negar responsabilidade direta.

Entre as respostas mais prováveis, analistas militares e especialistas em segurança apontam para o aumento das atividades das milícias pró-iranianas no Oriente Médio. Grupos como o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e as facções xiitas no Iraque podem ser acionados para lançar ataques contra alvos dos EUA e de seus aliados, especialmente Israel e as bases militares americanas na região. Esses ataques podem variar desde disparos de foguetes e drones kamikaze até atentados contra instalações diplomáticas ou logísticas.

Outro cenário que preocupa Washington e seus aliados é a possibilidade do Irã optar por ações no ciberespaço. Nos últimos anos, Teerã expandiu consideravelmente suas capacidades de guerra cibernética. Instituições financeiras, infraestruturas críticas de energia e até sistemas de transporte nos Estados Unidos ou em países aliados, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, podem se tornar alvos de ataques coordenados. Esses movimentos permitiriam ao Irã retaliar de forma silenciosa, porém com grande impacto econômico e psicológico.

A possibilidade de um bloqueio parcial ou total do Estreito de Ormuz também permanece sobre a mesa. Cerca de um quinto do petróleo comercializado no mundo passa por esse estreito, e qualquer ameaça de interrupção no tráfego marítimo ali pode provocar pânico nos mercados internacionais e pressionar os Estados Unidos por uma resposta militar imediata. O Irã já demonstrou, em ocasiões anteriores, sua capacidade de minar o estreito ou lançar ataques contra petroleiros, como ocorrido durante as tensões de 2019.

Além dessas ações, há o temor de um ataque direto a Israel. A recente ofensiva de mísseis que atingiu Tel Aviv e Haifa pode ser apenas o início de uma escalada mais ampla. O Irã pode utilizar o Hezbollah para ampliar a pressão, com o lançamento de foguetes ou ataques coordenados contra o território israelense, o que arrastaria Tel Aviv ainda mais para dentro do conflito.

No plano diplomático, Teerã deverá recorrer a fóruns internacionais como o Conselho de Segurança da ONU para denunciar a ofensiva americana como uma violação da soberania iraniana e do direito internacional. Espera-se uma aproximação maior com Rússia e China, com o objetivo de ganhar respaldo político e diplomático no cenário global.

Por fim, uma das respostas que mais preocupa analistas de segurança internacional é a possibilidade de o Irã anunciar formalmente sua saída do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e acelerar o enriquecimento de urânio para níveis próximos aos necessários para a construção de uma bomba nuclear. Esse movimento seria encarado como um desafio direto não apenas aos Estados Unidos, mas a toda a comunidade internacional, e abriria um novo ciclo de tensões, com risco real de novos bombardeios preventivos.

Até o momento, o Pentágono mantém suas forças na região em estado de alerta máximo, com reforços a caminho de bases no Golfo Pérsico. A administração Trump, por sua vez, tem reiterado que qualquer retaliação iraniana será recebida com uma resposta "rápida, esmagadora e definitiva". O futuro imediato permanece incerto, e os próximos dias serão decisivos para determinar se o conflito caminha para uma contenção estratégica ou para uma nova guerra no Oriente Médio.

Equilíbrio entre poder e diplomacia

Esta operação representa uma nova página na história: o uso ofensivo pela primeira vez das bombas bunker-buster MOP em combate real. A missão expôs a capacidade operacional avançada dos EUA, conseguindo penetrar defesas subterrâneas altamente protegidas e infligir danos significativos ao programa nuclear iraniano.

Entretanto, o desafio a partir de agora é manter esse sucesso técnico sem desencadear um conflito de grandes proporções. O espaço diplomático ainda está aberto, mas estreito. A legitimidade política nos EUA, dividida e contestada, e as respostas iranianas, diretas ou por intermediários, vão determinar se este será o fim de um conto ou o prólogo de uma guerra regional prolongada.



Por Angelo Nicolaci


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com agências de notícias

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sábado, 21 de junho de 2025

Royal Navy socorre submarinistas suecos em pleno exercício da OTAN

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Em meio a um dos maiores e mais complexos exercícios navais da OTAN, o Baltops 2025, a Marinha Real Britânica protagonizou um episódio curioso e simbólico de cooperação aliada: o HMS Dasher foi acionado para realizar um reabastecimento de emergência inusitado para um submarino sueco no Mar Báltico. A carga? Café moído e biscoitos italianos.

O episódio ocorreu durante uma pausa nas operações de guerra de superfície simulada, quando a tripulação do submarino, após dias de missão, relatou a falta de suprimentos essenciais para acompanhar os doces matinais. O pedido de ajuda foi prontamente atendido pelo HMS Dasher, marcando o que se acredita ser a primeira vez em quase 40 anos de carreira operacional que um barco de patrulha da classe P2000 realiza um reabastecimento direto para um submarino.

Cooperação aliada em meio a uma crise de café

Devido ao tamanho reduzido e ao perfil operacional limitado dos patrulheiros P2000, a operação exigiu cuidados especiais. Com o submarino liberando gás pressurizado na superfície, o Dasher precisou manter uma distância mínima de cinco metros durante a aproximação. A comunicação entre as duas embarcações foi viabilizada por meio de um kit especial de comunicações da OTAN, instalado a bordo para o exercício.

O marinheiro Cody Prince foi o responsável por lançar a linha de amarração ao submarino, permitindo a transferência segura da carga embalada em uma bolsa à prova d'água. Segundo o Tenente Jack Mason, comandante do HMS Dasher, o episódio ilustra a capacidade de resposta rápida, comunicação eficiente e espírito de cooperação entre as forças da OTAN.

"Embora nesta ocasião tenha sido apenas café moído, demonstramos a cooperação aliada, a capacidade de comunicação entre um P2000 e um submarino sueco via OTAN e a capacidade de um P2000 entregar suprimentos críticos em curto prazo para ajudar os submarinos a manter sua prontidão operacional", destacou Mason.

Baltops 2025: um cenário realista de guerra naval moderna

O exercício Baltops, que acontece anualmente desde a década de 1970, chega em 2025 à sua 54ª edição. São cerca de 50 navios, submarinos e embarcações de apoio, mais de duas dúzias de aeronaves e aproximadamente 9 mil militares de 17 nações operando numa área de cerca de 40 mil milhas quadradas, cobrindo desde a Jutlândia até a Baía de Gdansk.

Seis patrulheiros P2000 da Royal Navy participam desta edição, com missões que vão desde o apoio a operações de guerra de minas, utilizando veículos subaquáticos não tripulados (UUVs), até ataques simulados com embarcações rápidas contra grandes navios de guerra aliados, para testar a capacidade de resposta.

Além da contribuição operacional, os navios britânicos também devem participar da Kiel Week, maior festival de vela do mundo, que acontece na Alemanha.

Tecnologia e novas táticas

Durante o Baltops 2025, os P2000 vêm servindo também como plataformas de lançamento para experimentos com drones aéreos e de superfície. As táticas desenvolvidas pelos quatro barcos envolvidos em ações de superfície mostraram que operar em grupos de dois ou mais aumenta significativamente a eficácia, tanto em ataques simulados quanto na construção de uma imagem tática mais completa do campo de batalha marítimo.

O episódio da "crise do café" reforça que, em operações multinacionais como o Baltops, a prontidão operacional vai muito além de mísseis e torpedos, envolve também a manutenção do moral e da capacidade de atuação das tripulações, mesmo nas situações mais inusitadas.


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Míssil MICA NG é lançado com sucesso por um Rafale pela primeira vez

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A Direção Geral de Armamento da França (DGA) realizou com sucesso o primeiro disparo do novo míssil ar-ar MICA NG (Nova Geração) a partir de uma aeronave Rafale. O teste aconteceu na última quinta-feira, 19 de junho, sobre as águas do Mediterrâneo, envolvendo equipes da DGA, da fabricante MBDA e da Dassault Aviation.

O lançamento, conduzido a partir de uma aeronave de testes do Centro de Teste e Especialização de Mísseis da DGA, representa um marco importante no desenvolvimento do programa MICA NG. Segundo os envolvidos, o sucesso da missão demonstra não apenas o avanço tecnológico do novo armamento, mas também a eficiência da cooperação entre os diferentes parceiros industriais e governamentais franceses.

Modernização das capacidades de combate

Desenvolvido pela MBDA, o MICA NG é a nova geração do consagrado míssil MICA, que equipa atualmente os caças Rafale da Força Aérea e Espacial da França, além da Aviação Naval Francesa. A nova versão visa renovar as capacidades de combate, autoproteção e interceptação de médio alcance das aeronaves, adaptando-se aos desafios atuais e às ameaças aéreas emergentes.

O MICA NG incorpora tecnologias avançadas para garantir maior alcance, precisão e capacidade de engajamento contra uma ampla gama de alvos aéreos, incluindo caças inimigos e mísseis de cruzeiro. O sistema também conta com melhorias significativas em seus sensores e sistemas de guiagem.

Aplicações navais e terrestres

Além da versão aérea, o míssil MICA NG também será disponibilizado na configuração VL (Vertical Launch), oferecendo capacidades de autodefesa antiaérea para navios de guerra e para a proteção de áreas terrestres estratégicas.

O programa é considerado essencial para garantir a superioridade aérea francesa nas próximas décadas, reforçando a autonomia estratégica do país e assegurando a proteção de suas forças em diferentes cenários operacionais.

Com o sucesso do primeiro disparo, o programa avança para as próximas fases de testes e integração, com a expectativa de que o MICA NG entre em operação nas Forças Armadas Francesas nos próximos anos.


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Europa em alerta: Novo relatório da Bundeswehr aponta risco de guerra com a Rússia

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A Bundeswehr da Alemanha, passou a considerar oficialmente a Rússia como um "risco existencial" para o país e para o continente europeu. A informação foi revelada em uma reportagem da revista alemã Der Spiegel, que teve acesso a um novo documento estratégico elaborado pelos comandos militares alemães.

De acordo com o relatório confidencial, o Kremlin está ajustando suas estruturas de comando e sua base industrial de defesa para um possível conflito de larga escala com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) até o final desta década. O documento aponta que a Rússia está reforçando suas forças militares principalmente na região oeste de seu território, próxima às fronteiras com países membros da OTAN.

Os militares alemães também preveem que, já a partir do próximo ano, a Rússia poderá ter cerca de 1,5 milhão de soldados em serviço ativo, o que representa um aumento considerável da capacidade de mobilização russa.

O documento estratégico, que vem sendo elaborado ao longo dos últimos 18 meses por especialistas e oficiais das Forças Armadas alemãs, tem como objetivo nortear o desenvolvimento futuro da Bundeswehr diante do novo cenário de segurança internacional.

Entre as recomendações, destaca-se a necessidade de um fortalecimento consistente das capacidades militares e sociais da Alemanha como forma de resposta à ameaça russa. A estratégia prevê investimentos em equipamentos, treinamento, infraestrutura e mobilização social para enfrentar possíveis cenários de conflito.


Apoio político a maior investimento em defesa

O relatório surge em um momento de mudança na política de defesa alemã. Recentemente, o chanceler Friedrich Merz declarou apoio à proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que exige que os países-membros da OTAN elevem seus gastos com defesa para 5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Essa meta representa uma transformação histórica na postura fiscal da Alemanha, que há décadas mantém limites constitucionais rígidos para os gastos públicos, incluindo os investimentos em defesa. O relaxamento dessas restrições sinaliza um novo ciclo de fortalecimento militar por parte de Berlim.

Reações internacionais

Até o momento, o Ministério da Defesa alemão não comentou oficialmente o conteúdo do documento revelado pelo Der Spiegel. No entanto, analistas apontam que a publicação pode ter repercussões importantes nas relações diplomáticas entre a Alemanha, seus aliados da OTAN e a própria Rússia.

O novo posicionamento alemão confirma uma tendência já perceptível nos últimos anos: o retorno da ameaça de conflitos convencionais em larga escala no continente europeu, algo que muitos julgavam superado desde o fim da Guerra Fria.


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sexta-feira, 20 de junho de 2025

Fuzileiros Navais reforçam preparação para a Cúpula do BRICS com simulação de defesa NBQR no Rio de Janeiro

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Exercício conjunto testou capacidade de resposta a incidentes com agentes nucleares, biológicos, químicos e radiológicos

Como parte do processo de preparação para a Cúpula do BRICS 2025, que será realizada nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, os Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil desempenharam papel central em uma simulação de defesa contra ameaças nucleares, biológicas, químicas e radiológicas (NBQR). O exercício ocorreu no Forte de Copacabana, reunindo também militares do Exército Brasileiro, da Força Aérea Brasileira e agentes do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro.

A atividade teve como objetivo testar protocolos de resposta rápida a incidentes com agentes contaminantes, visando garantir a segurança dos chefes de Estado, delegações internacionais e da população durante o evento.

A Marinha, por meio do 2º Batalhão de Proteção e Defesa NBQR, unidade subordinada ao Comando da Divisão Litorânea do Corpo de Fuzileiros Navais, foi responsável pela execução de ações críticas como detecção, identificação, contenção e descontaminação de áreas e vítimas. A unidade é reconhecida por sua elevada prontidão operativa e por sua capacidade de atuar em ambientes de alta complexidade.

Durante o exercício, os Fuzileiros Navais empregaram equipamentos especializados e contaram com o apoio do laboratório móvel do Centro de Defesa NBQR da Marinha, destinado à análise de agentes suspeitos em campo.

O Capitão de Fragata (Fuzileiro Naval) Leonardo Garcia, comandante do 2º Batalhão NBQR, destacou a importância da participação da Marinha nas operações de segurança da Cúpula. “A atuação da nossa tropa reforça a capacidade da Marinha em responder de forma eficiente a ameaças não convencionais, além de contribuir para o fortalecimento da interoperabilidade entre as Forças Armadas e os órgãos civis envolvidos na segurança do evento”, afirmou.

Integração interagências e continuidade dos treinamentos

O exercício contou com cerca de 140 militares e agentes civis, além do emprego de viaturas e equipamentos específicos para operações NBQR. A integração entre as Forças Armadas e o Corpo de Bombeiros foi um dos pontos de destaque da simulação, evidenciando a coordenação e a capacidade de resposta conjunta.

O Tenente-Coronel André Luiz Bifano da Silva, comandante do 1º Batalhão de Defesa NBQR do Exército, ressaltou que o treinamento é parte de uma série de ações planejadas para garantir a segurança da Cúpula. “A atuação integrada fortalece a capacidade de resposta em situações de emergência, assegurando um ambiente controlado e protegido para a realização do evento”, explicou.

Nos próximos dias, novas fases de adestramento envolvendo os Fuzileiros Navais estão programadas, incluindo ações de Mergulhadores de Combate e Comandos Anfíbios, em áreas estratégicas da cidade, como o Museu de Arte Moderna e a Marina da Glória.

Com a participação prevista de líderes de 11 países, o Brasil reforça, por meio dessas ações, seu compromisso com a segurança e a organização de eventos internacionais de grande porte.


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com Marinha do Brasil

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Lituânia escolhe o Embraer C-390 Millennium

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O Ministério da Defesa Nacional da Lituânia anunciou a seleção do Embraer C-390 Millennium como a futura aeronave de transporte militar do país, marcando um importante avanço na modernização de suas capacidades aéreas e reforçando sua interoperabilidade com os aliados da OTAN.

Após um processo de avaliação detalhado, que analisou diversas opções disponíveis no mercado, o governo lituano concluiu que o C-390 Millennium atende de forma superior aos requisitos operacionais das Forças Armadas do país. Segundo a vice-ministra da Defesa Nacional da Lituânia, Loreta Maskaliovienė, a decisão foi tomada com base em critérios de desempenho, versatilidade e capacidade de resposta às demandas militares. “Nossa avaliação mostrou claramente que o C-390 Millennium é a plataforma ideal para atender aos nossos requisitos operacionais militares. Agora, avançaremos nas negociações com a Embraer, com a expectativa de finalizarmos o contrato nos próximos meses”, declarou.

O anúncio reforça a presença crescente da Embraer no mercado europeu de defesa. “Estamos honrados por termos sido selecionados pelas autoridades lituanas. Esta decisão reflete o compromisso da Embraer em fortalecer as capacidades de defesa dos países parceiros na Europa”, afirmou Bosco da Costa Junior, presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança. O executivo também destacou a prontidão operacional, a versatilidade e a compatibilidade do C-390 com os padrões da OTAN como diferenciais decisivos para a escolha.

Crescente presença europeia

Com essa decisão, a Lituânia se junta a um seleto grupo de países europeus que já optaram pelo C-390 Millennium, incluindo Portugal, Hungria, Holanda, Áustria, República Tcheca, Suécia e Eslováquia. Essa crescente adoção fortalece o ecossistema de suporte, manutenção e treinamento na Europa, facilitando a integração logística entre os aliados da OTAN que operam a mesma plataforma.

Um jato de transporte militar de nova geração

Projetado para operar em ambientes desafiadores, o C-390 Millennium combina alta capacidade de carga com desempenho superior de velocidade e alcance. A aeronave pode transportar até 26 toneladas de carga útil, voar a velocidades de até 470 nós e operar em pistas curtas e não preparadas, como solo batido e cascalho.

Além de sua capacidade para transporte de tropas e cargas, o C-390 se destaca pela sua versatilidade em missões como evacuação médica, busca e salvamento (SAR), combate a incêndios e missões humanitárias. Na versão equipada para reabastecimento aéreo (AAR), a aeronave também pode atuar como reabastecedora ou receptora de combustível em voo, inclusive em missões de C-390 para C-390.

Desde que entrou em serviço com a Força Aérea Brasileira em 2019, o C-390 vem acumulando um histórico sólido de desempenho. As forças aéreas de Portugal e Hungria também já incorporaram o modelo em suas frotas. A taxa de disponibilidade da aeronave é um dos destaques operacionais, com índice de capacidade de missão de 93% e taxas de conclusão de missão superiores a 99%.

Próximos passos

Com a escolha formalizada, o processo seguirá agora para as etapas finais de negociação e assinatura do contrato, seguindo todos os trâmites legais estabelecidos pela legislação lituana. A expectativa é que, em breve, a Lituânia passe a integrar o grupo de operadores do C-390 Millennium, elevando seu nível de prontidão militar e ampliando sua capacidade de resposta em missões nacionais e internacionais.


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quinta-feira, 19 de junho de 2025

Thales lança radar de vigilância secundária RSM NG/IFF com capacidade civil e militar simultânea

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A Thales apresentou ao mercado o RSM NG/IFF, um radar de vigilância secundária de última geração que integra, de forma inédita, capacidades civis e militares simultâneas. O equipamento promete revolucionar a gestão do espaço aéreo compartilhado, oferecendo aos controladores civis e militares uma solução de alta performance com segurança cibernética reforçada e segregação de dados por design.

O grande diferencial do RSM NG/IFF é sua arquitetura única, que permite a identificação de aeronaves em três padrões distintos: o NATO Mode 5 (Identificação Amigo ou Inimigo - IFF), o Mode S da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) e o ADS-B (Automatic Dependent Surveillance-Broadcast). Essa combinação torna o sistema o único radar 3-em-1 de sua categoria no mundo, capaz de atender simultaneamente às exigências de defesa e controle civil de tráfego aéreo.

Resposta ao crescimento do tráfego aéreo

Com a expectativa de aumento significativo no volume de tráfego aéreo nas próximas décadas, o RSM NG/IFF surge como resposta direta aos desafios de segurança, identificação e gerenciamento eficiente de um espaço aéreo cada vez mais congestionado. A solução permite uma inicialização de pista mais rápida, uma imagem aérea de maior qualidade e uma gestão mais ágil das operações conjuntas entre aeronaves civis e militares.

"Este novo radar de vigilância secundária, único no seu gênero, trará o melhor das tecnologias civis e militares, oferecendo ao mesmo tempo NATO Mode 5, ICAO Mode S e ADS-B. O RSM NG / IFF da Thales permite estabelecer uma imagem precisa do espaço aéreo nacional, otimizar rotas de voo para aeronaves que atuam em espaço aéreo cada vez mais congestionado e melhorar a coordenação entre controladores civis e militares", afirmou Lionel de Castellane, Vice-Presidente do segmento de Radares Civis da Thales.

Segurança e confidencialidade como prioridade

Além da capacidade de fornecer dados simultâneos para operações civis e militares, o radar incorpora medidas de cibersegurança de última geração e utiliza inteligência artificial para garantir resiliência e proteção de dados. A segregação física e lógica das informações civis e militares assegura que apenas autoridades devidamente autorizadas tenham acesso a dados classificados.

A Thales, com mais de 50 anos de experiência em sistemas de vigilância e mais de 25 mil radares vendidos globalmente, reforça sua posição como líder em soluções de controle de tráfego aéreo e defesa aérea. A introdução do RSM NG/IFF representa um salto tecnológico para a gestão de espaços aéreos compartilhados, respondendo às demandas de um cenário global cada vez mais dinâmico e desafiador.


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com FSB Comunicação

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Atlântico Sul: O Alerta Ignorado e a Urgência de um Protagonismo Naval Brasileiro

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Por muito tempo, o Atlântico Sul foi tratado pelo Brasil como um espaço de paz permanente, distante de conflitos e fora do radar das grandes disputas geopolíticas mundiais. Essa percepção, confortável e politicamente conveniente, hoje já não se sustenta diante da realidade. Uma análise recente e incisiva de Michael D. Purzycki, analista militar norte-americano com passagens pela Marinha, pelo USMC e pelo Exército dos EUA, escancara o que muitos estrategistas brasileiros ainda relutam em admitir: o Atlântico Sul tornou-se um espaço de disputa estratégica real, com múltiplos atores internacionais operando, investindo e se preparando para eventuais cenários de crise.

O alerta de Purzycki, embora escrito com um olhar centrado nos interesses dos Estados Unidos e seus aliados, funciona como um diagnóstico quase cirúrgico de uma realidade da qual o Brasil não pode mais fugir. O analista destaca, de forma objetiva e sem rodeios, que Washington já enxerga o Atlântico Sul como um eixo geopolítico que exige atenção, presença militar e políticas de dissuasão. E, ao expor as fragilidades britânicas, os movimentos chineses e russos e a instabilidade política na região, Purzycki implicitamente lança uma pergunta ao Brasil: onde vocês estão nesse tabuleiro?

Essa é a pergunta que nós, como nação, não podemos mais adiar.

O Atlântico Sul hoje, já não é uma zona de silêncio estratégico. A presença crescente de potências extrarregionais é um reflexo direto da sua importância para o fluxo global de comércio, energia e dados. Mais de 95% do comércio exterior brasileiro passa por essas águas. É também por ali que correm cabos submarinos que conectam o Brasil ao restante do mundo. E, não menos relevante, é onde se concentram reservas energéticas fundamentais para a segurança econômica nacional, incluindo o pré-sal.

A análise de Purzycki usa como exemplo emblemático a Guerra das Malvinas de 1982. Embora o conflito já tenha mais de quatro décadas, suas lições permanecem atuais. A capacidade britânica de projetar força a mais de 12 mil quilômetros de casa, a rapidez da resposta, a importância da logística naval e o custo político de decisões de defesa mal planejadas são pontos que continuam ecoando no cenário contemporâneo. Purzycki lembra, com razão, que o atual estado da Royal Navy é muito menos robusto do que era naquela época, o que reforça a imprevisibilidade de um eventual novo conflito na região.

O que torna o alerta de Purzycki ainda mais pertinente ao Brasil é justamente o contraste entre a atenção que os Estados Unidos começam a dar ao Atlântico Sul e a paralisia estratégica brasileira. Enquanto Washington avalia reforçar sua presença naval nas Malvinas como uma forma de garantir liberdade de ação em cenários de crise, o Brasil parece se contentar com declarações diplomáticas esparsas e um poder naval insuficiente para cobrir minimamente sua própria Zona Econômica Exclusiva.

A situação da Marinha do Brasil é, para dizer o mínimo, preocupante. O Programa das Fragatas Classe Tamandaré avança, mas a passos lentos. As primeiras unidades só estarão plenamente operacionais dentro de quatro, ou cinco anos, e inicialmente o insuficiente número de quatro navios. As fragatas e corvetas atuais, majoritariamente da década de 1980, enfrentam desgaste e obsolescência. O NAM Atlântico, adquirido em 2018, é uma conquista importante, mas sua capacidade real está limitada pela falta de escoltas modernas, por deficiências na aviação naval embarcada e pela ausência de uma força anfíbia compatível.

No campo submarino, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) é um divisor de águas para a indústria de defesa nacional, mas os atrasos na entrega do submarino de propulsão nuclear, são motivo de preocupação. Sem uma força submarina numericamente relevante e tecnologicamente atualizada, a capacidade de dissuasão brasileira no Atlântico Sul permanece abaixo do aceitável para um país com as nossas dimensões e responsabilidades.

O problema, entretanto, não é apenas material. O Brasil carece de uma cultura estratégica madura quando o assunto é defesa marítima. Há um descompasso entre a importância econômica da nossa Amazônia Azul e o nível de prioridade que o tema recebe nas esferas políticas e orçamentárias. O país mantém, há décadas, um gasto com defesa na casa de 1,2% do PIB, muito abaixo do que investem países com aspirações semelhantes de liderança regional, isso sem contar os sucessivos cortes, contingenciamentos e a imprevisibilidade orçamentária.

Enquanto isso, a China avança. Pequim entende o valor estratégico do Atlântico Sul. Investe em portos, financia infraestrutura, estreita laços políticos e econômicos com Argentina, Brasil e diversos países da costa ocidental africana. A recusa argentina em permitir a atracação de um navio da Guarda Costeira americana em 2021 é apenas a face visível de uma política externa chinesa que se move de forma gradual, mas extremamente calculada.

A Rússia, por sua vez, tem buscado estreitar relações com a África do Sul. Os exercícios navais conjuntos entre Rússia, China e África do Sul, são um recado claro: Moscou deseja manter um pé na região, mesmo que de forma simbólica por enquanto. Essa triangulação geopolítica reforça a tese de Purzycki de que o Atlântico Sul não é mais um flanco secundário.

Do ponto de vista norte-americano, manter aliados como Brasil e Argentina próximos, por meio de vendas de equipamentos militares e acordos de cooperação, é uma maneira de garantir influência e capacidade de intervenção. Purzycki sugere, inclusive, uma política de “balanceamento de influência”, com os EUA fornecendo aeronaves de vigilância tanto para Buenos Aires quanto para Brasília. A recente venda de aeronaves P-3 da Noruega para a Argentina e o interesse brasileiro no P-8 Poseidon vão nessa direção.

Mas o alerta vai além. O analista norte-americano propõe até mesmo que os Estados Unidos considerem estabelecer uma presença naval permanente nas Malvinas, com destroyers de mísseis guiados. Isso não apenas serviria como um dissuasor a possíveis aventuras argentinas, mas também reforçaria a capacidade de resposta americana a crises em outros pontos do planeta. Para o Brasil, essa possibilidade deveria soar como um alarme.

Estamos diante de um movimento claro de aumento de presença militar extrarregional no Atlântico Sul. E o Brasil, ao não ampliar rapidamente sua capacidade de defesa, se coloca numa posição delicada: ou se tornará um espectador irrelevante das decisões que moldarão a segurança marítima da região, ou corre o risco de ser arrastado, como mero peão, por interesses de potências externas.

Minha opinião é que o Brasil precisa reagir. E essa reação não pode se limitar a discursos em foros internacionais ou a participações diplomáticas protocolares. É necessário um plano de ação concreto e de longo prazo, que inclua aumento consistente do orçamento de defesa, aceleração de programas estratégicos da Marinha, fortalecimento da indústria nacional de defesa, revitalização da aviação de patrulha marítima, incremento da força de submarinos e, principalmente, uma mudança cultural na forma como o país enxerga sua segurança marítima e a importância do investimento em defesa.

Não se trata de adotar uma política belicista ou expansionista. Trata-se de garantir que o Brasil tenha os meios para proteger suas riquezas, seus interesses e sua soberania. Trata-se de assegurar que, em qualquer futuro arranjo de segurança no Atlântico Sul, o Brasil seja ouvido, e respeitado, não apenas por sua diplomacia, mas pela credibilidade do seu poder naval.

Os próximos anos serão decisivos. A janela de oportunidade para o Brasil reforçar sua capacidade de projeção de poder está se fechando rapidamente. As escolhas feitas agora determinarão se o país será um ator relevante nas decisões de segurança marítima ou apenas mais uma peça periférica no jogo das grandes potências.

O alerta de Michael D. Purzycki é claro. Resta saber se teremos a sabedoria e a coragem de ouvi-lo, e mais importante, de agir.


Por Angelo Nicolaci


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