terça-feira, 25 de novembro de 2025

Incursão de drones russos provoca mobilização inédita de caças da OTAN na Romênia

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Uma incursão aérea sem precedentes levou a Romênia e a OTAN a mobilizarem caças nesta terça-feira, após drones russos penetrarem profundamente o espaço aéreo romeno, como nunca antes. Bucareste classificou o episódio como uma nova provocação por parte de Moscou, ampliando as tensões na fronteira leste da aliança militar.

Segundo o ministro da Defesa da Romênia, Ionut Mosteanu, caças romenos e Eurofighter alemães chegaram a se preparar para abater um dos drones, que violou repetidamente o espaço aéreo nacional. A ação, porém, foi interrompida devido ao risco de danos colaterais no solo.

Fragmentos de drones sem carga explosiva foram posteriormente encontrados em território romeno.

Mosteanu afirmou que o episódio representa “uma nova provocação russa contra a Romênia”, ressaltando que os pilotos avaliaram o cenário e “optaram por não atacar” diante do potencial risco à população.

A 13ª violação desde 2022 e a mais profunda

Na noite anterior, drones russos atacaram portos ucranianos próximos à fronteira com a Romênia, do outro lado do Danúbio. Desde o início da guerra em 2022, esta foi a 13ª violação do espaço aéreo romeno, e a primeira ocorrida durante o dia. Também foi a mais profunda já registrada, avançando mais de 100 km para o interior do país.

O Ministério da Defesa romeno relatou que:

  • Dois caças Eurofighter alemães foram acionados após a primeira detecção, rastreando o drone no condado de Tulcea.

  • Em seguida, dois F-16 romenos decolaram após o radar identificar uma segunda violação no condado vizinho de Galati.

  • Outros dois Eurofighters foram enviados posteriormente.

O drone seguiu em direção ao condado de Vrancea, que não faz fronteira com a Ucrânia e fica a mais de 100 km da costa. Moradores de três condados receberam alertas para buscar abrigo, posteriormente cancelados.

A Romênia compartilha 650 km de fronteira terrestre com a Ucrânia, tornando a região um dos pontos mais sensíveis da OTAN desde o início do conflito.

EUA anunciarão nova capacidade antimísseis na Romênia

Durante uma visita à base aérea Mihail Kogălniceanu, o general Christopher Donahue, comandante do Exército dos EUA na Europa e na África, confirmou que uma nova capacidade destinada a abater drones será implantada em breve na Romênia.

Segundo Donahue, os testes já foram concluídos e a tecnologia está na fase final de implementação, com militares romenos e aliados já treinados para operá-la.

A Romênia possui legislação que permite o abate de drones em tempos de paz quando vidas ou propriedades estão em risco, uma prerrogativa que, até o momento, ainda não foi usada em sua totalidade.

Escalada regional e negociações delicadas

As violações recentes reforçam a preocupação dos países da OTAN diante do crescente número de incursões de drones atribuídos à Rússia. A escalada ocorre paralelamente a negociações consideradas cruciais entre autoridades americanas e ucranianas para ajustar propostas de encerramento do conflito, após Kiev e aliados europeus rejeitarem a versão inicial apresentada pelos EUA, vista como favorável demais ao Kremlin.

Com a nova provocação aérea, a Romênia se vê novamente na linha de frente das tensões entre OTAN e Rússia, em um momento decisivo para o futuro da guerra e da segurança na Europa Oriental.


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com Reuters

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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Brasil reforça presença da Base Industrial de Defesa no Dubai Airshow 2025

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O Ministério da Defesa, por meio da Secretaria de Produtos de Defesa (Seprod), marcou presença no Dubai Airshow 2025, realizado de 17 a 21 de novembro no Aeroporto Internacional Al Maktoum, nos Emirados Árabes Unidos. Considerado um dos maiores eventos do setor aeroespacial e de defesa, o salão reuniu cerca de 148 mil participantes, 493 delegações oficiais, 1.500 expositores de 98 países e mais de 200 aeronaves em exposição estática e demonstrações aéreas.

O objetivo da participação brasileira foi promover a Base Industrial de Defesa (BID) e apoiar empresas nacionais na ampliação de oportunidades comerciais e parcerias estratégicas. O Brasil esteve representado pelo stand “Cluster Aeroespacial e Defesa”, coordenado pelo Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (SP), que reuniu dez empresas do setor. Além disso, companhias com estandes próprios, como Embraer e Mac Jee, integraram a delegação.

Destaques e oportunidades comerciais

Entre os destaques, a Embraer apresentou as aeronaves KC-390 Millennium e E-195, reforçando o potencial de exportação e cooperação tecnológica com os Emirados Árabes Unidos. O KC-390, em especial, despertou interesse do mercado local, abrindo espaço para tratativas com o Grupo Calidus e outras empresas do setor.

Representantes da Seprod realizaram reuniões com autoridades do Ministério da Defesa dos Emirados Árabes e acompanharam empresas brasileiras na feira, incluindo aquelas que participam de joint ventures com a EDGE Group, como a SIATT e Condor. Essas ações buscaram ampliar a presença da indústria nacional no mercado internacional e fortalecer parcerias estratégicas.

O Secretário de Produtos de Defesa, Heraldo Luiz Rodrigues, destacou a importância da participação brasileira: “Tivemos reuniões com o Ministério da Defesa dos Emirados Árabes e acompanhamos empresas com estandes próprios, como Embraer e Mac Jee, além das dez empresas do Cluster Aeroespacial e Defesa. Também apoiamos companhias brasileiras que fazem parte de joint ventures, como SIATT e Condor. Essa presença permitiu às empresas brasileiras ampliar oportunidades de comércio com os Emirados Árabes”.

Parceiros estratégicos e consolidação de mercados

Os Emirados Árabes Unidos estão entre os cinco maiores importadores de produtos de defesa brasileiros. Nos últimos anos, o Ministério da Defesa intensificou relações com a EDGE Group, maior conglomerado estatal de defesa do país, com iniciativas que incluem abertura de escritório no Brasil, parcerias com empresas nacionais e memorando com a Marinha do Brasil para o desenvolvimento conjunto de mísseis e sistemas de drones.

A participação no Dubai Airshow reforça não apenas a visibilidade da indústria brasileira, mas também a capacidade do país de consolidar parcerias estratégicas e ampliar exportações de tecnologias de defesa, mantendo o Brasil entre os principais fornecedores globais do setor.


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com Ministério da Defesa

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Exército reforça proteção da Amazônia com a Operação Curaretinga

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O Comando Militar da Amazônia (CMA) intensifica suas ações de proteção do território e do patrimônio ambiental brasileiro por meio da Operação Curaretinga, iniciativa coordenada pelas quatro Brigadas de Infantaria de Selva da Amazônia Ocidental, a 1ª, 2ª, 16ª e 17ª Bda Inf Sl. A operação se concentra em áreas remotas dos estados do Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre, regiões estratégicas para a defesa da soberania e do meio ambiente.

Resultados expressivos contra crimes ambientais e transfronteiriços

Durante a Operação Curaretinga XXVII, a mobilização militar em conjunto com órgãos de segurança pública gerou mais de R$ 4,7 milhões em prejuízos para organizações criminosas. Entre as ações realizadas, destacam-se:

  • Apreensão de 108 m³ de madeira ilegal, motosserras, tratores e caminhões, avaliados em R$ 780 mil;

  • Neutralização de dragas estimadas em R$ 3,2 milhões;

  • Aplicação de multas que somam mais de R$ 750 mil;

  • Desmontagem de 12 acampamentos clandestinos;

  • Detenção de 25 pessoas envolvidas em atividades ilícitas.

A coordenação entre as tropas e órgãos de fiscalização ampliou o alcance das ações, desarticulando a cadeia logística criminosa responsável pela exploração ilegal de recursos naturais na região.

Integração entre repressão e apoio social

Além das operações de combate a ilícitos, a Curaretinga inclui Ações Cívico-Sociais (ACISO), com atendimentos de saúde, palestras educativas e distribuição de medicamentos a comunidades indígenas e ribeirinhas. Essa integração reforça a presença do Exército em áreas isoladas, contribuindo para a qualidade de vida local e consolidando a relação de confiança com as populações da Amazônia.

Presença contínua em uma área estratégica

O CMA atua como guardião da Amazônia, responsável por cerca de 59% das fronteiras terrestres do Brasil, totalizando mais de 9 mil quilômetros em regiões de selva, rios e comunidades de difícil acesso. Até o momento, em 2025, foram realizadas mais de 355 atividades de monitoramento em áreas de fronteira, reforçando a vigilância permanente sobre o território.

Com a Operação Curaretinga, o Exército demonstra que, além de garantir a soberania nacional, mantém presença constante na proteção ambiental e no combate a crimes transfronteiriços, combinando ação repressiva e apoio social em um esforço contínuo de defesa da Amazônia.


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com Exército Brasileiro

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Exército avança no Projeto COBRA com testes do Sistema de Apoio à Decisão

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O Exército Brasileiro deu mais um passo significativo na modernização de suas capacidades de comando e controle com a capacitação, os testes técnicos e a avaliação operacional do Sistema de Apoio à Decisão (SAD). As atividades ocorreram no 1º Batalhão de Infantaria de Selva – Aeromóvel (1º BIS Amv) e reuniram o Comando de Operações Terrestres (COTER), o Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército (CCOMGEx) e a Fábrica de Material de Comunicações e Eletrônica da IMBEL (FMCE/IMBEL).

A iniciativa integra o Projeto Sistema Combatente Brasileiro (Projeto COBRA), programa estruturante que busca aumentar a letalidade, a proteção e a consciência situacional do combatente brasileiro, especialmente em ambientes desafiadores, como a selva amazônica.

Tecnologia nacional para ampliar a consciência situacional

O SAD é uma solução tecnológica avançada que conecta o celular do militar a um rádio portátil seguro, levando à linha de frente capacidades antes restritas a centros de comando. Totalmente compatível com a Família de Aplicativos de Comando e Controle da Força Terrestre (FAC2FTer), o sistema permite a transmissão de dados em tempo real e comunicação criptografada.


Entre suas funcionalidades destacam-se:

  • visualização das posições próprias e de aliados em carta digital;
  • chat tático para coordenação imediata;
  • envio rápido de arquivos, fotos, coordenadas e esquemas de manobra;
  • integração total entre elementos de tropa e comando, mesmo em áreas remotas.

Esses recursos elevam a consciência situacional no campo de batalha, permitindo decisões mais rápidas, precisas e embasadas, um diferencial essencial nos cenários modernos de combate.

Projeto COBRA: modernização com identidade brasileira

A participação integrada de COTER, CCOMGEx e IMBEL reforça o caráter nacional do Projeto COBRA e o compromisso da Força com soluções tecnológicas próprias, seguras e adaptadas à realidade operacional brasileira. Além de reduzir dependências externas, o desenvolvimento local permite que os sistemas sejam moldados às necessidades da tropa e aos ambientes onde atuam.

Com o SAD avançando em testes e avaliações, o Exército aproxima-se de um combatente totalmente digitalizado, capaz de controlar ambientes complexos com precisão e agilidade, consolidando a posição do Brasil entre as forças modernas de referência mundial.


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Índia incorpora o INS Mahe e amplia capacidade antissubmarino

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A Marinha Indiana colocou em serviço o INS Mahe, novo navio antissubmarino para águas rasas projetado para reforçar a vigilância costeira e a proteção do litoral do país. A embarcação, equipada com sensores modernos, armamentos especializados e sistemas de comunicação de última geração, foi concebida para detectar, rastrear e neutralizar ameaças submersas com elevada precisão, um passo estratégico para a segurança marítima indiana em um cenário regional cada vez mais desafiador.

Projetado e construído no Cochin Shipyard, um dos pilares da expansão naval indiana, o navio atinge um marco importante: quatro em cada cinco de seus componentes são fabricados na Índia, refletindo o avanço da nacionalização no setor naval militar. Segundo o Ministério da Defesa, o INS Mahe foi desenhado para operar em ambientes de baixa profundidade e sustentar operações prolongadas, integrando máquinas e sistemas de controle de alta tecnologia concebidos no país.

Um símbolo da indústria de defesa indiana em ascensão

Durante a cerimônia de comissionamento, realizada em Mumbai, o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Upendra Dwivedi, destacou que o INS Mahe representa “o crescente domínio da Índia na capacidade de projetar, construir e colocar em serviço embarcações de combate complexas com tecnologia nacional”.

O navio é o primeiro de uma série de oito embarcações antissubmarino de águas rasas encomendadas pela Marinha Indiana ao Cochin Shipyard, reforçando uma estratégia que busca modernizar a frota nacional e reduzir dependências externas, especialmente da Rússia, tradicional fornecedora de armamentos desde os anos 1960.

O Ministério da Defesa ressaltou que o Mahe é “especialmente projetado” para atuar em águas costeiras e rasas, áreas onde submarinos convencionais ou minisubmarinos podem operar com vantagem tática. A capacidade do navio de manter vigilância constante e resposta rápida a ameaças submersas fortalece significativamente o escudo marítimo indiano.

Expansão naval e parcerias estratégicas

A Índia planeja ampliar sua frota para mais de 200 navios e submarinos até 2035, com possibilidade de alcançar 230 unidades até 2037, em uma das maiores expansões navais da atualidade. Essa ambição está diretamente alinhada à iniciativa “Make in India”, lançada pelo primeiro-ministro Narendra Modi, que busca transformar o país em um polo global de produção militar.

Nesse contexto, Nova Déli tem incentivado empresas de países parceiros a cooperarem com fabricantes locais, reforçando transferências de tecnologia e ampliando a autonomia industrial. O recente caso da fragata Tamal, entregue pela Rússia em julho, ilustra essa tendência: embora construída no estaleiro Yantar, em Kaliningrado, 26% de seus componentes são indianos, e a supervisão técnica foi conduzida por especialistas de Nova Déli.

Um passo estratégico em um ambiente marítimo sensível

O comissionamento do INS Mahe ocorre em um momento de crescente disputa geopolítica no Oceano Índico, onde a expansão naval chinesa, a competição por rotas marítimas vitais e a presença de submarinos de potências regionais e extrarregionais elevam a importância de capacidades antissubmarino avançadas.

Para a Índia, aumentar a segurança de seu litoral, especialmente em zonas de águas rasas onde a detecção subaquática se torna mais complexa, é essencial para proteger infraestruturas críticas, rotas comerciais e bases militares.

O INS Mahe não é apenas mais um navio incorporado à frota: ele representa o esforço contínuo de Nova Déli para consolidar uma marinha moderna, autossuficiente e tecnologicamente preparada para enfrentar desafios atuais e futuros. Com ele, a Índia dá mais um passo rumo ao fortalecimento de sua dissuasão marítima e à consolidação de uma indústria de defesa de classe mundial.


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Japão acelera instalação de mísseis em Yonaguni e amplia tensão estratégica com a China devido à proximidade de Taiwan

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O Japão segue avançando no plano de instalar sistemas de mísseis na Ilha de Yonaguni, situada a cerca de 110 quilômetros a leste de Taiwan, em uma movimentação que reforça a postura defensiva de Tóquio diante do crescente ambiente de tensão no Indo-Pacífico. O Ministro da Defesa, Shinjiro Koizumi, afirmou que o projeto avança conforme previsto e destacou que a medida visa fortalecer a capacidade de dissuasão japonesa, e não ampliar instabilidades regionais.

A declaração foi dada durante visita oficial à guarnição da Força Terrestre de Autodefesa na ilha, conforme reportado pelo The Japan Times. Para Koizumi, o reforço militar reduz o risco de um ataque armado ao território japonês, especialmente diante do robusto incremento militar chinês e das incertezas em torno da questão de Taiwan.

Yonaguni: ponto sensível em meio à rivalidade sino-americana

A ilha de Yonaguni, a porção mais ocidental povoada do Japão, assumiu papel estratégico central na nova postura de defesa japonesa. Sua localização a pouca distância de Taiwan a torna um bastião de observação e resposta antecipada em caso de conflito envolvendo Taipei e Pequim.

O plano inclui a instalação de mísseis terra-ar de médio alcance, parte de um redesenho maior da arquitetura defensiva japonesa no arquipélago meridional. Bases estão sendo ampliadas, novos sensores estão sendo integrados e unidades adicionais de Autodefesa são paulatinamente deslocadas para a região.

A primeira visita de Koizumi a Yonaguni, desde que assumiu o Ministério da Defesa, foi interpretada como um gesto de comprometimento político: uma mensagem explícita de que Tóquio não pretende abrir espaço para vulnerabilidades em uma fronteira considerada crítica.

A percepção chinesa

Para Pequim, os movimentos japoneses representam mais uma expansão da presença militar aliada dos Estados Unidos ao redor da China. Embora Tóquio sustente que suas ações têm natureza puramente defensiva, o reposicionamento de ativos militares a poucos minutos de voo de Taiwan inevitavelmente amplifica a leitura de contenção por parte do governo chinês.

A instalação dos mísseis em Yonaguni ocorre justamente quando a China intensifica suas incursões aéreas e navais ao redor da ilha de Taiwan, reforçando a percepção de que a região evolui rapidamente para um dos principais epicentros estratégicos do século XXI.

Nossa Análise

O avanço japonês em Yonaguni não pode ser interpretado apenas como um ajuste técnico de defesa, mas como uma peça importante no tabuleiro geopolítico do Indo-Pacífico. A medida sinaliza que Tóquio abandonou definitivamente a postura minimalista que caracterizou sua política de segurança no pós-guerra e assume um papel mais assertivo, moldado pela competição entre grandes potências e pela incerteza sobre o futuro de Taiwan.

Para o Japão, fortalecer a capacidade de resposta em sua fronteira sudoeste é essencial para evitar o cenário mais temido: uma mudança abrupta no status quo no Estreito de Taiwan, que poderia arrastá-lo para uma crise de grandes proporções. Ao expandir sua arquitetura de defesa em Yonaguni, Tóquio busca estabelecer um escudo de dissuasão que transmita clareza estratégica tanto aos aliados quanto aos adversários.

Por outro lado, o movimento amplia inevitavelmente a fricção com a China, que vê na modernização militar japonesa, somada à presença norte-americana, um cerco crescente ao seu entorno estratégico. Nesse contexto, Yonaguni torna-se mais do que uma ilha remota: é um indicador da velocidade com que o Indo-Pacífico avança rumo a uma configuração cada vez mais militarizada e marcada pela disputa entre visões de poder e influência.

O impasse em torno de Taiwan permanece o ponto central dessa equação, e cada passo dado por Tóquio ou Pequim reverbera diretamente na estabilidade da região. O Japão sabe disso, e age antes que a próxima crise o alcance despreparado.


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A Integração de Sistemas Tripulados e Não Tripulados na Doutrina Militar Brasileira e o Novo Eixo de Parcerias Estratégicas

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A história da guerra aérea é pontuada por momentos de descontinuidade tecnológica radical, instantes em que doutrinas estabelecidas e investimentos de décadas se tornam obsoletos diante de novas realidades táticas. Estamos vivenciando um desses momentos; a transição não é meramente a substituição de uma fuselagem por outra mais aerodinâmica ou a introdução de um motor com maior empuxo; trata-se de uma redefinição fundamental da arquitetura de combate.

O paradigma centrado na plataforma, onde o desempenho individual do caça tripulado, sua velocidade, teto de serviço e taxa de curva definiam o vencedor, está cedendo lugar ao paradigma centrado na rede e na simbiose homem-máquina (Manned-Unmanned Teaming - MUM-T). Para o Brasil, uma potência média com ambições de liderança regional e responsabilidades imensas sobre o Atlântico Sul, compreender e adotar essa revolução é uma questão de sobrevivência estratégica.

A guerra aérea moderna evoluiu para um ecossistema complexo onde a letalidade é derivada da fusão de sensores, da resiliência das redes de dados e da capacidade de projetar “massa” de combate, de forma economicamente sustentável, a longas distâncias.

As operações recentes em teatros de conflito como o Cáucaso (Nagorno-Karabakh), o Leste Europeu (Ucrânia) e o Oriente Médio demonstraram inequivocamente que a superioridade aérea não é mais o domínio exclusivo de forças aéreas que operam plataformas de quinta geração proibitivamente caras, como o F-35 Lightning II. A emergência de sistemas não tripulados de combate ("drones", UCAV), operando em conjunto com caças tripulados ou em enxames autônomos, democratizou o acesso ao poder aéreo de precisão e criou novos desafios para as defesas antiaéreas tradicionais.

O Brasil se encontra em uma encruzilhada. A Força Aérea Brasileira (FAB) está recebendo os caças F-39 Gripen E/F, vetores muito modernos e de altíssima capacidade no campo da guerra eletrônica. Simultaneamente, a Marinha do Brasil (MB) busca redefinir sua identidade operacional após a baixa do NAe (navio-aeródromo, “porta-aviões”) São Paulo, centrando sua projeção de poder no Navio Aeródromo Multipropósito (NAM) Atlântico.

O desafio central para a doutrina militar brasileira nas próximas duas décadas será integrar esses ativos tripulados de alto valor com uma nova classe de sistemas não tripulados, os chamados “Loyal Wingmen” (Alas Leais), para garantir a defesa da soberania nacional sobre a Amazônia Azul e o espaço aéreo continental.

Neste artigo, vamos analisar cuidadosamente esse cenário. Não nos limitaremos a descrever as especificações técnicas das aeronaves; investigaremos as implicações doutrinárias, industriais e geopolíticas da adoção dessas tecnologias.

Um foco particular será dado aos parceiros fora do eixo tradicional OTAN/EUA/Europa Ocidental. Enquanto Washington e Bruxelas impõem restrições severas à transferência de tecnologias sensíveis (via ITAR e outros regimes de controle), nações como Türkiye, Israel, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Coreia do Sul emergem como fornecedores pragmáticos e parceiros de co-desenvolvimento dispostos a compartilhar propriedade intelectual crítica. Analisaremos como o Brasil pode alavancar essas parcerias para saltar etapas no desenvolvimento de seus próprios sistemas autônomos, examinando casos de estudo como o drone turco Bayraktar Kızılelma, a integração do sistema Link-BR2 e a estratégia de mísseis do EDGE Group.

O Conceito de Superioridade Aérea na Era da Autonomia

A superioridade aérea, historicamente definida como a capacidade de impedir o inimigo de interferir nas operações de nossas forças terrestre e navais, está sendo redefinida pela “massa acessível”.

Caças tripulados modernos tornaram-se ativos preciosos demais para serem arriscados em ambientes de alta contestação (Anti-Access/Area Denial - A2/AD) sem apoio. O custo de um caça de 4.5 ou 5ª geração, somado ao custo impagável de treinar um piloto de combate ao longo de anos, cria uma aversão ao risco que pode paralisar comandantes.

A solução doutrinária emergente é o “Loyal Wingman”: UCAV de alto desempenho, geralmente com características stealth (furtivas) e IA (inteligência artificial) embarcada, que voam sob o comando tático do piloto humano, atuando como sensores avançados, iscas, ou plataformas de armas, absorvendo o risco cinético, ou seja, se expondo mais às defesas inimigas, poupando as aeronaves tripuladas.

A Vanguarda Turca: Bayraktar Kızılelma e a Autonomia Estratégica

Kızılelma

Se o século XX foi definido pela supremacia aeroespacial americana e soviética, o início do século XXI testemunha a ascensão da Türkiye como uma superpotência de drones. A trajetória da indústria de defesa turca, liderada por empresas como a Baykar Technologies, oferece o estudo de caso mais relevante para o Brasil. Enfrentando embargos de armas de aliados nominais e ameaças existenciais em suas fronteiras, a Türkiye optou por uma estratégia de autossuficiência agressiva que culminou no desenvolvimento do Bayraktar Kızılelma, o primeiro caça não tripulado da nação.

Kızılelma: A Ruptura Tecnológica e Operacional

O Bayraktar Kızılelma não é apenas uma evolução linear dos drones de média altitude e longa duração (MALE) como o TB2 ou o Anka; ele representa uma mudança de categoria. Projetado como uma plataforma de combate aéreo, o Kızılelma possui uma fuselagem furtiva, capacidade de manobra agressiva e, crucialmente, motores a jato que lhe permitem operar em regimes transônicos e, futuramente, supersônicos.

Em novembro de 2025, um marco histórico foi alcançado no noroeste da Türkiye. Durante um teste de voo, o Kızılelma realizou um “abate” eletrônico simulado de um caça F-16. Este evento, amplamente divulgado pela mídia especializada e confirmando a maturidade do sistema, demonstrou a capacidade do drone de detectar, rastrear e engajar um caça de alto desempenho tripulado. O teste utilizou o radar AESA (Active Electronically Scanned Array) MURAD, desenvolvido nacionalmente pela ASELSAN, para travar o alvo e simular o disparo de um míssil ar-ar além do alcance visual (BVR) Gökdoğan.

Gökdoğan

A importância deste teste para a doutrina militar global não pode ser subestimada. Ele valida a tese de que um sistema não tripulado, operando de forma autônoma ou semi-autônoma, pode neutralizar a vantagem tática de plataformas tripuladas tradicionais. O radar MURAD, sendo um sistema AESA nacional, permite à Türkiye uma independência completa de códigos-fonte estrangeiros, algo que o Brasil persegue incansavelmente. A capacidade de “cueing” (designação de alvo) autônomo do radar para o míssil Gökdoğan fecha o ciclo da “kill chain” (cadeia de engajamento) sem depender de sistemas americanos ou europeus, contornando restrições como o ITAR.

Análise Técnica Comparativa: Kızılelma vs. Caças Tripulados

Para compreender a proposta de valor do Kızılelma para uma força aérea como a FAB, é necessário comparar métricas de desempenho e custo. Enquanto um caça de geração 4.5 como o Gripen E ou o F-16 Block 70 possui custos de aquisição e operação elevados, o Kızılelma oferece uma capacidade de combate “attritable” (que pode ser arriscada ou perdida sem colapso estratégico).

Característica Operacional

Bayraktar Kızılelma (Estimativas)

F-16 Block 70 / Gripen E

Análise de Impacto para o Brasil

Custo Unitário de Aquisição

US$ 30 - 40 Milhões

US$ 80 - 100 Milhões

Permite a aquisição de “massa” (quantidade) para complementar a qualidade dos caças tripulados.

Custo por Hora de Voo (CPFH)

US$ 3.000 - 4.000

US$ 20.000 - 25.000

Viabiliza patrulhas aéreas de combate (CAP) contínuas na vasta fronteira amazônica.

Propulsão (Motores)

AI-25TLT (Subsônico) / AI-322F (Supersônico)

GE F110 / GE F414

Ponto de vulnerabilidade: dependência de cadeias externas (ver seção 2.3).

Sensores Primários

Radar AESA MURAD + EOTS Toygun

APG-83 / Raven ES-05

Paridade tecnológica em detecção, mas menor consciência situacional humana direta.

Armamento

Mísseis Gökdoğan/Bozdoğan, Bombas Mk.82/Teber

Meteor, IRIS-T, A-Darter, SPICE

Capacidade de ataque BVR e WVR (dentro do alcance visual) validada.

A tabela acima ilustra a assimetria econômica: uma força aérea pode operar aproximadamente 5 a 6 Kızılelmas pelo custo de aquisição e operação de um único caça tripulado moderno. Em um cenário de defesa aérea saturada, essa vantagem numérica permite táticas de enxame onde os drones absorvem os primeiros disparos das defesas inimigas, preservando os vetores tripulados para o ataque decisivo.

O Dilema da Propulsão: A Conexão Ucraniana e a Soberania de Motores

Apesar do sucesso em aviônica e aerodinâmica, o “Calcanhar de Aquiles” do projeto Kızılelma, e uma lição crítica para o Brasil, é a propulsão. A Turquia, apesar de sua base industrial avançada, ainda não domina completamente a produção de turbofans de alto desempenho. O Kızılelma depende de motores importados da Ucrânia: o AI-25TLT para as versões subsônicas iniciais e o AI-322F (com pós-combustor) para as variantes supersônicas.

A Motor Sich, fabricante ucraniana, é uma parceira estratégica, e a Baykar chegou a iniciar a construção de uma fábrica na Ucrânia para garantir o fornecimento. No entanto, a guerra contínua com a Rússia expõe essa cadeia de suprimentos a riscos extremos. O quarto protótipo do Kızılelma já voa com o AI-322F, aproximando-se da barreira do som, mas a dependência externa permanece uma vulnerabilidade.

AI-322F

Para mitigar isso, a Turquia está desenvolvendo o motor nacional TF6000, mas o ciclo de desenvolvimento de motores a jato é longo e complexo. Para o Brasil, que possui a Embraer mas carece de uma fabricante nacional de motores a jato (a despeito de projetos passados como o TR 5000), a estratégia turca de diversificar fornecedores (buscando a Ucrânia para fugir do ITAR americano) é instrutiva, mas também serve de alerta sobre os limites da autonomia sem soberania em propulsão.

Integração Naval: O Kızılelma no TCG Anadolu

Um aspecto do Kızılelma que ressoa diretamente com as ambições da Marinha do Brasil é a sua capacidade de operar a partir de navios de convés curto (STOBAR) ou navios de assalto anfíbio (LHD), como o TCG Anadolu turco. O Kızılelma foi projetado com capacidade de decolagem e pouso curtos, permitindo que a Turquia converta seu LHD em um verdadeiro “porta-drones” de fato, projetando poder aéreo de asa fixa sem a necessidade de aeronaves V/STOL caras e complexas como o F-35B.

TCG Anadolu (L400)

Esta capacidade oferece um roteiro direto para o NAM Atlântico da Marinha do Brasil. Atualmente operando apenas helicópteros, o Atlântico poderia, teoricamente, operar uma versão navalizada de um drone de combate similar ao Kızılelma, restaurando a capacidade de defesa aérea de frota e ataque anti superfície de longo alcance perdida com a aposentadoria do NAe São Paulo.

NAM Atlântico
3. 

O Núcleo do Poder Aéreo Brasileiro: F-39 Gripen, Link-BR2 Revolução em Rede

Enquanto a Türkiye avança na fronteira dos sistemas não tripulados, o Brasil consolida sua modernização tripulada com a introdução do F-39 Gripen E/F. No entanto, a visão da Força Aérea Brasileira (FAB) transcende a aquisição de aeronaves; o objetivo é a construção de uma “força aérea em rede” (Network Centric Warfare - NCW), onde o Gripen atua como o nó central de um sistema de sistemas.

Gripen E: Mais que um Caça, um Gerente de Batalha

O F-39 Gripen não foi adquirido apenas por suas características cinéticas, mas por sua arquitetura aviônica aberta e capacidade de guerra eletrônica (EW). A suíte de EW do Gripen oferece cobertura esférica de 360 graus, permitindo não apenas a autodefesa, mas a atuação como uma plataforma de ataque eletrônico e coleta de inteligência (ELINT).

Gripen

Em um cenário de combate moderno, o Gripen E deve ser visto como um “zagueiro” tático. Sua capacidade de fusão de sensores permite correlacionar dados de seu radar Raven ES-05 AESA, do sistema de busca e rastreamento infravermelho (IRST) Skyward-G e dos sensores de guerra eletrônica, criando uma imagem tática única e precisa. No entanto, a verdadeira revolução reside na capacidade de compartilhar essa imagem com outras plataformas através de enlaces de dados (datalinks) soberanos.

Link-BR2: A Espinha Dorsal da Soberania de Dados

A maior conquista tecnológica do programa de modernização da FAB talvez não seja uma aeronave, mas o desenvolvimento do Link-BR2. Diferente do Link 16, padrão da OTAN, que utiliza criptografia controlada pelos Estados Unidos e impõe restrições de soberania (tecnicamente, os EUA podem negar acesso às chaves criptográficas ou monitorar o tráfego em situações extremas), o Link-BR2 é um sistema nacional com criptografia brasileira, desenvolvido em parceria com a AEL Sistemas (subsidiária da Elbit Systems) e a Mectron.

Aspectos Técnicos e Operacionais do Link-BR2

O Link-BR2 opera através de Rádios Definidos por Software (SDR) da família E-LynX, instalados nas aeronaves. Testes recentes a bordo de caças F-5M modernizados validaram funcionalidades críticas:

  • Redes Ad-Hoc Móveis (MANET): O sistema permite que as aeronaves entrem e saiam da rede dinamicamente, atuando como retransmissores. Se um Gripen estiver fora do alcance da estação de solo, ele pode transmitir seus dados para um F-5M ou E-99M intermediário, que retransmite a mensagem, estendendo o alcance operacional para além do horizonte.

  • Multidomínio: O sistema conecta não apenas aeronaves (Ar-Ar), mas também estações de solo e, futuramente, navios da Marinha (Ar-Solo/Superfície), permitindo o fechamento rápido do ciclo “sensor-to-shooter” (do sensor para o atirador).

  • Waveforms (Formas de Onda): A arquitetura SDR permite que o rádio E-LynX opere com formas de onda nacionais para comunicação sigilosa e, simultaneamente, carregue formas de onda compatíveis com a OTAN para exercícios conjuntos ou operações de paz, garantindo interoperabilidade sem sacrificar a segurança.

A integração do Link-BR2 no Gripen E, no E-99M (aeronave de alerta aéreo antecipado) e nas estações de solo cria a infraestrutura necessária para a futura operação de drones “Loyal Wingman”. Sem um datalink seguro, de baixa latência e resistente a interferência (jamming), o controle de um drone de combate a partir de um caça seria impossível.

O E-99M e a Gestão do Espaço Aéreo

A modernização da frota de E-99 para o padrão E-99M pela Embraer é uma peça fundamental no quebra-cabeça. Equipado com o radar Erieye atualizado e novos sistemas de missão, o E-99M atua como o “olho de Deus” no teatro de operações. A capacidade de integrar o Link-BR2 permite que o E-99M coordene não apenas os caças, mas potencialmente enxames de drones no futuro, aliviando a carga cognitiva dos pilotos de Gripen. O contrato de modernização incluiu explicitamente a integração de sistemas de comando e controle avançados, preparando a plataforma para a guerra centrada em redes da década de 2030.

E-99M

A Lacuna do “Loyal Wingman” Brasileiro

Apesar da excelência do Gripen e do Link-BR2, existe uma lacuna gritante na doutrina brasileira: a ausência de um programa público e robusto de “Loyal Wingman”. Enquanto a Turquia voa o Kızılelma, a Índia testa o Ghatak e a Coreia do Sul planeja drones para operar com o KF-21, o Brasil ainda está na fase de estudos conceituais.

A Embraer e a FAB assinaram memorandos de entendimento para o estudo de sistemas não tripulados avançados, e existem rumores persistentes sobre projetos de “drones furtivos” na prancheta da Embraer, incluindo um design de asa voadora não tripulada. No entanto, a falta de um protótipo voando coloca o Brasil atrás na curva de aprendizado de integração MUM-T. A doutrina “Força Aérea 100”, que delineia o futuro da FAB, menciona a importância de sistemas não tripulados, mas a materialização desses meios em vetores de combate de alto desempenho ainda não ocorreu.

O Domínio Naval: O NAM Atlântico e a Defesa da Amazônia Azul

A Marinha do Brasil enfrenta o desafio monumental de monitorar e defender a “Amazônia Azul”, uma área marítima de aproximadamente 4,5 milhões de km², rica em petróleo (Pré-Sal) e biodiversidade. A estratégia naval brasileira está evoluindo de uma postura defensiva costeira para uma estratégia de negação de área (A2/AD) no Atlântico Sul, onde sistemas não tripulados desempenham um papel central.

NAM Atlântico: De Porta-Helicópteros a Porta-Drones

A aquisição do HMS Ocean, renomeado NAM Atlântico (A140), proporcionou à MB uma plataforma de comando e controle inigualável na América Latina. Contudo, sem aeronaves de asa fixa (após a baixa dos A-4 Skyhawk operando do NAe São Paulo), o navio carece de defesa aérea de longo alcance e capacidade de ataque em profundidade.

A solução emergente é a transformação do NAM Atlântico em um vetor de sistemas não tripulados. A MB já realizou testes pioneiros com o sistema ScanEagle (Boeing/Insitu) a partir do navio, validando a utilidade de drones para vigilância e reconhecimento (ISR) persistente. O ScanEagle, com sua autonomia de mais de 20 horas, estende o horizonte de sensores da esquadra muito além do alcance dos radares de mastro, permitindo a detecção de ameaças de superfície ou atividades ilegais a distâncias seguras.

RQ-1 ScanEagle

Mais significativo é o desenvolvimento e teste do drone nacional Albatroz, da Stella Tecnologia. Projetado para operar a partir do convés do NAM Atlântico, o Albatroz é um sistema MALE tático com autonomia de 24 horas, desenhado especificamente para o ambiente marítimo do Atlântico Sul. Embora o Albatroz seja primariamente uma plataforma ISR (inteligência, vigilância, reconhecimento), sua operação regular a partir do porta-helicópteros criará a doutrina e a experiência operacional necessárias para a eventual adoção de UCAV de combate navalizados, similares ao TB3 ou Kızılelma turcos.

Stella Albatroz

Cenários de Ameaça e a Estratégia A2/AD

A aplicação de drones no Atlântico Sul responde a duas categorias de ameaças:

  1. Ameaças Estatais e A2/AD: Em um conflito hipotético, a MB, em inferioridade numérica frente a grandes potências, adotaria uma estratégia de Negação de Acesso / Negação de Área (A2/AD). Drones de vigilância integrados a submarinos (classe Riachuelo e no futuro o nuclear Álvaro Alberto) e mísseis de superfície (MANSUP) formariam uma “kill web” (rede mortal). O drone detecta o alvo, transmite as coordenadas via Link-BR2/Satélite para um submarino ou fragata operando no regime EMCON (controle de emissões, ou seja, emitindo nada ou quase nada), que com base nas informações recebidas dispara seus mísseis sem ligar seus próprios radares, preservando sua furtividade.

  2. Pesca Ilegal (IUU) e Crimes Transnacionais: A pesca ilegal, não reportada e não regulamentada (IUU), perpetrada por frotas de águas distantes (frequentemente chinesas), é uma ameaça à soberania econômica. O uso de navios-patrulha ou helicópteros tripulados para monitorar vastas áreas oceânicas é economicamente ineficiente. Drones embarcados no NAM Atlântico podem patrulhar milhares de km² por uma fração do custo, identificando infratores e direcionando os meios de interceptação apenas quando necessário. A visita recente do USCGC James ao Brasil, operando drones em parceria com a MB, destacou a eficácia dessa abordagem.

SisGAAz e o Monitoramento Costeiro

O Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz) é o projeto guarda-chuva para a vigilância marítima. A recente seleção da SIATT, em parceria com o EDGE Group, para fornecer tecnologias de comunicação segura para o SisGAAz, indica a integração profunda de sensores costeiros, satélites e drones em uma única arquitetura de C4ISR (Comando, Controle, Comunicações, Computação, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento). Isso permitirá que a MB tenha uma consciência situacional em tempo real de todo o tráfego marítimo no Atlântico Sul, fundamental para a defesa do Pré-Sal.

Parcerias Estratégicas: O Novo Eixo Fora da OTAN

A busca do Brasil por autonomia tecnológica tem impulsionado uma diversificação pragmática de parceiros. Reconhecendo que a dependência exclusiva dos EUA ou da Europa Ocidental carrega riscos de restrições de exportação e vetos políticos, o Brasil está forjando laços profundos com potências emergentes de defesa.

A Parceria Brasil-Türkiye: Um Casamento de Conveniência e Necessidade

A aprovação, em setembro de 2025, de um acordo de cooperação de defesa de cinco anos entre Brasil e Türkiye pelo Congresso Brasileiro é um divisor de águas geopolítico. Este acordo não é meramente protocolar; ele estabelece as bases legais para o co-desenvolvimento e a transferência de tecnologia em áreas críticas.

  • Sinergia Industrial: A Türkiye possui excelência em drones e mísseis, mas carece de tecnologia de aeronaves de transporte e aviônica civil, áreas onde a Embraer é líder global. A Embraer e a TUSAŞ (Turkish Aerospace Industries) assinaram memorandos que podem levar à produção de jatos comerciais E2 na Turquia e, crucialmente, abrem portas para a venda do cargueiro KC-390 para Ancara. Em troca, o Brasil ganha acesso ao ecossistema de defesa turco.

  • Mísseis e Motores: O Brasil já começou a importar tecnologia turca crítica. A empresa brasileira SIATT está integrando o motor turbojato KTJ-3200 (da Kale Arge turca) no míssil antinavio MANSUP-ER. O acesso a motores de mísseis, uma tecnologia sensível frequentemente bloqueada pelo regime MTCR (Missile Technology Control Regime), demonstra a disposição da Turquia em compartilhar tecnologias que os parceiros ocidentais tradicionais negam.

  • Potencial para Drones: Com o acordo em vigor, o caminho está aberto para que o Brasil adquira ou co-produza variantes de drones turcos, potencialmente adaptando o conceito do Kızılelma ou do Anka-3 para as necessidades da FAB, pulando décadas de desenvolvimento autônomo.

O EDGE Group (EAU) e o Investimento Estratégico

A parceria com o conglomerado estatal de defesa dos Emirados Árabes Unidos, o EDGE Group, injetou capital e vitalidade na base industrial de defesa brasileira.

  • Projeto MANSUP-ER: O EDGE Group adquiriu 50% da SIATT e está financiando o desenvolvimento do MANSUP-ER (versão de alcance estendido do Míssil Antinavio Nacional). Este projeto visa não apenas equipar a Marinha do Brasil, mas também exportar para os EAU e outros clientes, criando uma escala de produção que torna a indústria sustentável.

  • Sistemas Anti-Drone e SisGAAz: A colaboração se estende a sistemas de guerra eletrônica anti-drone e à infraestrutura do SisGAAz, áreas onde a experiência dos Emirados (adquirida em conflitos no Iêmen e Líbia) é valiosa para o Brasil.

  • Fuzileiros Navais: O EDGE Group também assinou acordos para fornecer sistemas antimísseis e tecnologias avançadas para o CFN (Corpo de Fuzileiros Navais), reforçando a capacidade de defesa de ilhas e plataformas de petróleo.

Israel e a Conexão Elbit

A relação com Israel, especificamente através da Elbit Systems e sua subsidiária brasileira AEL Sistemas, permanece a rocha sobre a qual a aviônica brasileira é construída. A disposição de Israel em transferir códigos-fonte e permitir que engenheiros brasileiros desenvolvam soluções nacionais (como o WAD do Gripen e o Link-BR2) criou um modelo de “autonomia assistida”. O rádio E-LynX é o padrão de fato para a comunicação segura da FAB, garantindo que, mesmo em um cenário de ruptura geopolítica, o Brasil mantenha controle sobre suas comunicações táticas.

Lições da Índia e Coreia do Sul

  • Coreia do Sul: O programa KF-21 Boramae, que prevê desde o início a operação com drones "Loyal Wingman" (MUM-T), é o modelo doutrinário mais próximo do que a FAB deve almejar. A Coreia, assim como o Brasil, busca independência tecnológica enquanto mantém alianças ocidentais.

  • Índia: O programa de drones furtivos Ghatak da DRDO serve como um alerta. Apesar de grandes investimentos, o projeto enfrenta atrasos significativos devido à incapacidade de desenvolver um motor nacional confiável (o motor Kaveri), forçando a Índia a buscar testes na Rússia. Isso reforça a tese de que o Brasil não deve tentar reinventar a roda em propulsão sozinho, mas sim buscar parcerias robustas para mitigar esse risco.

Desafios Tecnológicos e o Futuro da Doutrina FAB 2040

A transição para uma força aérea centrada em sistemas não tripulados e redes de dados enfrenta barreiras significativas que vão além da aquisição de hardware.

O Gargalo da Propulsão e a Base Industrial

O Brasil possui uma das indústrias aeronáuticas mais competentes do mundo (Embraer), mas ela é um “integrador” de sistemas, não um produtor de motores. UCAV de alto desempenho como o Kızılelma exigem turbofans compactos e potentes. A dependência de motores estrangeiros (sejam americanos, europeus ou ucranianos) é uma vulnerabilidade estratégica em tempos de guerra. A parceria com a Turquia para motores de mísseis é um começo, mas uma estratégia nacional de longo prazo para turbinas a gás é necessária para garantir a verdadeira soberania de um futuro “Loyal Wingman” brasileiro.

Inteligência Artificial e Autonomia Confiável

A operação de enxames de drones ou MUM-T exige níveis de autonomia que a IA atual apenas começa a arranhar. O controle de um drone em combate aéreo, decidindo engajamentos em frações de segundo, não pode depender de um piloto remoto via satélite devido à latência e à vulnerabilidade a interferência eletrônica. A IA deve residir “na borda” (on the edge), dentro do drone. A pesquisa acadêmica no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) é de classe mundial, mas a tradução dessa pesquisa para algoritmos de combate certificados e robustos requer testes de voo intensivos e acesso a dados reais de combate, algo que parceiros como Israel podem fornecer.

A Doutrina “Força Aérea 100”

O plano estratégico “Força Aérea 100” da FAB reconhece a necessidade de modernização e integração de sistemas não tripulados. No entanto, a doutrina precisa evoluir de conceitos abstratos para táticas, técnicas e procedimentos (TTP) concretos. Como um piloto de Gripen comanda um drone? Quais são as regras de engajamento para um disparo autônomo? Como integrar o controle de tráfego aéreo de drones no espaço aéreo densamente povoado do sudeste brasileiro? Estas são questões que a FAB está começando a abordar, inclusive participando de fóruns da ONU sobre diretrizes de drones, mas que exigirão experimentação operacional real.

Conclusão e Recomendações

A análise do cenário global e das capacidades brasileiras indica que a integração de sistemas tripulados e não tripulados não é uma opção futurista, mas uma necessidade que já se faz urgente para a manutenção da relevância militar. O modelo de “alta qualidade e baixa quantidade” (apenas Gripen) é insuficiente para cobrir a vastidão do território brasileiro e defender seus recursos estratégicos de maneira eficiente por longos períodos de tempo.

O sucesso da Türkiye com o Kızılelma demonstra que potências médias podem quebrar o monopólio das superpotências em tecnologia aeroespacial avançada através de foco, pragmatismo e parcerias inteligentes. Para o Brasil, o caminho à frente deve envolver:

  1. Priorização do Loyal Wingman: A FAB e a indústria de defesa devem lançar um programa concreto para o desenvolvimento ou aquisição de um UCAV de combate a jato, alavancando as parcerias com países como a Türkiye (Kızılelma/Anka-3) ou EAU, utilizando a Embraer como integradora principal.

  2. Consolidação da Rede: O Link-BR2 deve ser expandido para todas as plataformas, incluindo navais e terrestres, criando uma verdadeira “internet de combate” nacional.

  3. Doutrina Naval de Drones: O NAM Atlântico deve ser formalmente equipado e doutrinariamente adaptado para operar como um vetor de sistemas não tripulados, preenchendo a lacuna de defesa aérea e ataque da esquadra.

  4. Soberania Inteligente: Manter o foco na nacionalização de componentes críticos (algoritmos, guerra eletrônica, comunicação), enquanto se aceita a interdependência em componentes de hardware complexos (motores), diversificando fornecedores para mitigar riscos de embargo.

A “Amazônia Azul” e o céu brasileiro só estarão seguros se vigiados por olhos incansáveis e defendidos por uma rede resiliente e letal. A era dos sistemas não tripulados oferece ao Brasil a ferramenta para alcançar essa segurança, desde que haja a vontade política e a visão estratégica para adotá-la.


Por Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel)


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