O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, determinou a suspensão imediata do compartilhamento de informações de inteligência entre as forças de segurança colombianas e as agências norte-americanas, em protesto contra os recentes ataques dos Estados Unidos a navios suspeitos de tráfico de drogas no Caribe. A decisão foi anunciada na terça-feira, 11 de novembro, e permanecerá em vigor até que Washington cesse as operações ofensivas na região.
Segundo Petro, tais ações violam o direito internacional e comprometem os direitos humanos. “A luta contra o narcotráfico deve ser subordinada aos direitos humanos dos povos da região do Caribe”, declarou o presidente colombiano.
A medida marca um ponto de inflexão nas históricas relações de segurança entre Bogotá e Washington, que, desde os anos 1990, têm cooperado intensamente no combate ao tráfico de drogas, especialmente por meio do Plano Colômbia, um dos maiores programas de assistência militar dos EUA na América Latina.
De acordo com a CNN, o Reino Unido também teria suspendido sua colaboração com os Estados Unidos nas operações de vigilância marítima, citando preocupações semelhantes. O governo britânico alega que os ataques norte-americanos a embarcações suspeitas de contrabando representam uma violação do direito internacional e podem configurar execuções extrajudiciais.
Fontes da Associated Press (AP) afirmam que, desde o início de setembro, pelo menos 15 ataques semelhantes foram realizados por forças americanas no Mar do Caribe e no leste do Oceano Pacífico, resultando em mais de 60 mortes. O episódio mais recente envolveu o lançamento de mísseis contra um navio supostamente utilizado no transporte de drogas, que deixou três mortos. Até o momento, a Casa Branca não apresentou relatórios oficiais sobre as vítimas nem esclareceu os critérios utilizados para autorizar os ataques.
A tensão aumentou após declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, que, em outubro, suspendeu pagamentos de cooperação à Colômbia e chegou a chamar Petro de “traficante de drogas”. Em seguida, Washington impôs sanções pessoais contra o líder colombiano, aprofundando a crise diplomática entre os dois países.
Uma ruptura simbólica e o risco da política externa colombiana
A decisão do presidente Gustavo Petro de suspender a cooperação de inteligência com os Estados Unidos marca uma inflexão significativa na política externa colombiana, historicamente alinhada a Washington e considerada um dos pilares do combate ao narcotráfico na América Latina. Pela primeira vez em décadas, Bogotá assume um tom de confronto aberto em um tema que moldou sua segurança nacional e sua relação estratégica com o Ocidente.
A postura de Petro é, sem dúvida, simbólica, mas carrega um potencial de risco elevado. Ao condenar o que chama de “militarização desumana” da guerra às drogas, o presidente tenta afirmar uma agenda ideológica voltada à soberania regional e aos direitos humanos. Contudo, o gesto, mais retórico do que pragmático, pode ter o efeito inverso: enfraquecer as capacidades operacionais da Colômbia em um momento de recrudescimento das atividades de narcotraficantes e grupos armados.
Apesar da retórica progressista, o país ainda enfrenta a presença consolidada de organizações criminosas híbridas, o narcoterrorismo, que mesclam tráfico, insurgência e corrupção institucional. Romper canais de cooperação com os EUA sem apresentar uma alternativa concreta de inteligência e tecnologia é, no mínimo, imprudente. A Colômbia, que continua a ser um dos maiores produtores de cocaína do mundo, depende de dados, monitoramento e apoio técnico norte-americano para conter cartéis que operam em redes transnacionais.
Além disso, a medida surge em um contexto de fragilidade interna. O processo de paz com o ELN e as dissidências das FARC está longe de consolidar resultados, e a economia vive sob tensão, com alta informalidade, endividamento e queda na confiança de investidores. Nesse cenário, o afastamento de Washington pode reduzir a influência colombiana em organismos multilaterais e enfraquecer seu papel como parceiro estratégico no combate regional ao crime organizado.
O gesto de Petro reflete um sentimento legítimo de frustração regional com a ineficácia do modelo antidrogas tradicional, que há décadas não conseguiu enfraquecer as redes criminosas nem oferecer alternativas sustentáveis às populações envolvidas. Contudo, a crítica sem uma proposta viável de substituição é estéril. A América Latina precisa de um combate coordenado e imparcial ao narcoterrorismo, baseado em inteligência integrada, desenvolvimento social e fortalecimento institucional, não em discursos políticos que isolam países e favorecem criminosos.
Se Petro usar o episódio apenas como instrumento ideológico, corre o risco de transformar uma reivindicação justa em uma crise diplomática autoinfligida. Se, porém, buscar uma nova agenda de cooperação internacional equilibrada, que una soberania, segurança e responsabilidade compartilhada, poderá contribuir para uma necessária reconfiguração do enfrentamento ao crime transnacional no continente.
No entanto, enquanto a Colômbia se distancia de seus aliados e a América Latina segue fragmentada, o narcoterrorismo se adapta e avança. A falta de integração regional tem permitido que cartéis controlem territórios, rotas e economias inteiras, um problema que não se resolve com slogans políticos, mas com ação coordenada, vontade política e investimento real em segurança e desenvolvimento.
Assim como na Colômbia, o contraste também é visível no Brasil: enquanto o governo do Rio de Janeiro tenta, com recursos limitados, enfrentar o poder do narcotráfico e das milícias, o governo federal segue omisso, preferindo ignorar uma guerra silenciosa que ameaça a soberania nacional e o futuro de milhões de brasileiros.
por Angelo Nicolaci
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