domingo, 9 de novembro de 2025

Marinha do Brasil realiza simulação de retomada de transatlântico como preparação para a COP30

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A Marinha do Brasil realizou, no dia 7 de novembro, uma operação de simulação de retomada do transatlântico Costa Diadema, em Belém, como parte dos preparativos de segurança para a COP30. A atividade reforçou a capacidade de resposta da Força diante de possíveis cenários de crise envolvendo embarcações civis, especialmente diante do aumento da circulação de autoridades e turistas durante o evento.

O treinamento recriou a tomada do navio por um grupo hostil, exigindo uma ação rápida e coordenada das tropas de elite. A operação teve início com a aproximação de um helicóptero UH-15 Super Cougar, que manteve voo a aproximadamente sete metros do convés para permitir a infiltração dos militares por meio da técnica de descida rápida, o fast rope. Quatorze operadores desembarcaram sobre o navio e iniciaram a varredura em busca dos supostos invasores e de passageiros mantidos sob controle.

A ação foi conduzida por equipes dos Comandos Anfíbios e dos Mergulhadores de Combate, unidades especializadas em missões de alta complexidade no ambiente marítimo, como ações de comando, contraterrorismo, reconhecimento especial e resgate. Para tornar o cenário mais próximo de uma situação real, o exercício contou com a presença de figurantes como agentes perturbadores e reféns, aumentando o nível de exigência quanto à tomada de decisões, coordenação e neutralização de ameaças.

De acordo com o coordenador tático da atividade, Capitão-Tenente Victor Hugo, o exercício representou uma oportunidade ímpar pelo porte da embarcação e pela relevância do contexto. Ele destacou que o planejamento começou muito antes da execução e que, em um eventual episódio de crise, equipes de operações especiais podem ser o último recurso para restabelecer a segurança e a normalidade a bordo.

O helicóptero empregado, o UH-15 Super Cougar, é uma das aeronaves mais versáteis da Aviação Naval. Com capacidade de decolagem de até 11 toneladas e tripulação de cinco militares, pode atuar em um amplo espectro de missões, que inclui operações especiais, busca e salvamento, evacuação aeromédica, transporte logístico, combate a incêndios, resgate no mar e lançamento de paraquedistas. Sua flexibilidade torna o vetor um elemento fundamental para ações rápidas em ambientes sensíveis, como grandes eventos internacionais.

A simulação integra um conjunto mais amplo de medidas que a Marinha vem adotando para fortalecer a segurança na região amazônica durante a COP30. O exercício permitiu testar, em ambiente real, procedimentos de infiltração, varredura, resgate e neutralização de ameaças, contribuindo para manter a prontidão operacional e assegurar o elevado nível de proteção exigido por um evento de alcance global.


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com Marinha do Brasil


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sábado, 8 de novembro de 2025

Interoperabilidade: o Poder Invisível que Redesenha Doutrinas e Decide Quem Manda no Céu

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O rugido dos motores pode acelerar corações, impondo respeito e sensação de poder. Mas o céu do sul da Ásia, em maio de 2025, não se curvou ao número de caças nem à engenharia sofisticada do Rafale indiano. Ele se dobrou à integração invisível, à capacidade de operar como um sistema coerente, e não como uma simples coleção de ativos isolados.

Um J-10C paquistanês disparou um míssil PL-15, derrubando o Rafale. Mas a derrota não foi do "aço contra o aço"; foi do sistema conectado contra o isolado. Sensores, inteligência, comando e vetores funcionaram como um organismo único. Nada improvisado, nada solto. A guerra moderna decretou seu veredito: vence quem conecta, não quem compra.

Mais que um incidente isolado, essa operação mostrou o que a história das guerras recentes já havia ensinado: não é a plataforma que define o resultado, mas a capacidade de integrar sensores, vetores e inteligência em tempo real, transformando ativos dispersos em um sistema orgânico de combate.

A Sinfonia da Interoperabilidade

Cada etapa da cadeia: detecção, compartilhamento de dados, confirmação de alvo, autorização, engajamento, funcionou em harmonia. Nada improvisado. Nada isolado.

O Rafale, por mais sofisticado que seja, atuava desconectado: sensores próprios, decisões locais, sem a sinergia de um ecossistema de dados compartilhados. O J-10C não “venceu” sozinho; venceu porque seu país operou como um sistema coerente, transformando cada vetor em extensão de inteligência, comando e controle.

Isso é interoperabilidade: o diferencial entre forças que vivem no passado e nações que disputam relevância estratégica no século XXI. O brilho do aço não é mais o único critério de poder. Hoje, poder militar é a capacidade de conectar, integrar, proteger e coordenar múltiplos domínios em tempo real.

Medir poder apenas pelos ativos individuais é pensar pequeno em um mundo que exige integração. Na guerra moderna, vence quem consegue unir vetores, sincronizar sistemas e harmonizar doutrinas, convertendo tecnologia isolada em capacidade operacional real.

A Morte da Mentalidade de Silo: Quando Orgulho se Torna Vulnerabilidade Estratégica

Imagine uma força aérea com caças de última geração, radares de ponta e mísseis capazes de interceptar qualquer ameaça. Agora imagine que cada peça desse arsenal funciona isolada, como ilhas em um arquipélago: cada uma com seus próprios protocolos, sem conversar com as outras, sem compartilhar dados críticos. Impressionante? Sim. E mortal? Ainda mais.

Essa é a essência da mentalidade de silo: cada unidade é um feudo, cada sistema um universo desconectado. Por décadas, essa fragmentação funcionou. Na Guerra Fria, com fronteiras claras e batalhas previsíveis, cada força podia brilhar à parte. No século XXI, porém, silos não apenas atrasam decisões — eles matam.

Quando sistemas não se conectam:

  • Informações se perdem: sensores detectam ameaças, mas não conseguem compartilhar dados com quem poderia reagir.

  • Decisões ficam lentas: o tempo que um operador leva para confirmar, validar e agir é o tempo que o inimigo explora.

  • Recursos caros se tornam ineficazes: dezenas de caças de ponta podem gerar menos impacto que alguns vetores integrados e coordenados.

  • Vulnerabilidades se ampliam: adversários que operam como sistemas podem explorar pontos isolados, neutralizando vantagens tecnológicas com inteligência e velocidade.

O caso envolvendo o Rafale indiano derrubado por um J-10C paquistanês é um exemplo emblemático. O Rafale, por mais sofisticado que seja, não conseguiu aproveitar plenamente a rede de comando e inteligência que poderia protegê-lo ou ampliar sua capacidade. Já o J-10C não “venceu” sozinho; fazia parte de um sistema integrado, onde sensores, inteligência, comando e vetores funcionavam como um organismo único, coordenado em tempo real.

A lição é clara e implacável: não basta possuir ativos avançados. O poder militar moderno é a capacidade de conectá-los, multiplicá-los e operar como um sistema unificado. O orgulho de silos institucionais, o desejo de cada unidade brilhar por conta própria, pode se tornar a maior vulnerabilidade de uma força.

No campo de batalha moderno, ilhas tecnológicas isoladas não resistem; sistemas conectados definem quem domina. Interoperabilidade não é luxo, é sobrevivência.

O Dilema da Indonésia: Diversidade Não É Autonomia, Integração É

A política indonésia de diversificação de fornecedores cria uma ilusão de autossuficiência, mas não gera poder real. Operar A-29 "Super Tucano", T-50 "Golden Eagle", Hawk-200, F-16, Su-27, Su-30, Rafale e cogitar o J-10C não constrói resiliência; cria uma força aérea que não fala a mesma língua.

Sem AEW, guerra eletrônica, SIGINT, data-link padronizado, doutrina conjunta e integração logística, não existe uma poderosa força aérea, existe apenas uma frota de aeronaves avançadas compartilhando espaço aéreo.

Como sintetiza Olli Pekka Suorsa: “Caças são nós dentro de um sistema maior. A eficácia está na integração, não no brilho individual da plataforma.”

A pergunta que paira não é técnica, mas identitária: "A Indonésia quer parecer soberana ou ser soberana?"

Case Positivo: Israel e OTAN — Dois Olhares da Integração

Enquanto alguns caem na armadilha da fragmentação, outros constroem poder real. Israel, com sua cadeia “sensor-to-shooter” integrada, combina drones, guerra eletrônica, inteligência e artilharia em segundos. Não são só caças ou mísseis, é um sistema vivo, que aprende, atua e reage em tempo real.

Na esfera multinacional, a OTAN demonstra interoperabilidade exemplar com o "Baltic Air Policing". Países com diferentes vetores e doutrinas operam como uma força única, compartilhando radares, comunicação e controle tático. Diversidade não significa fragilidade quando existe arquitetura comum, protocolos e cultura de cooperação.

Esses exemplos mostram que integração não é um luxo: é condição de sobrevivência e relevância estratégica.

Coreia do Sul e Türkiye: Quebrando a Dependência

A Coreia do Sul e a Türkiye poderiam facilmente ter permanecido clientes eternos de potências ocidentais, comprando sistemas prontos sem jamais desenvolver autonomia. Porém, não aceitaram esse destino. Investiram de forma consistente e visionária em suas bases industriais de defesa, cultivando know-how tecnológico, engenheiros capacitados e infraestrutura própria. Ao mesmo tempo, construíram uma doutrina integrada de defesa, alinhando desenvolvimento industrial, planejamento estratégico e capacidades operacionais, de forma que cada sistema produzido ou adquirido pudesse atuar dentro de um ecossistema interconectado, ampliando eficácia, resiliência e soberania. O resultado é que hoje ambos não apenas operam plataformas avançadas, mas criaram forças que aprendem, evoluem e se fortalecem continuamente, reduzindo dependência externa e aumentando seu protagonismo geopolítico.

O KF-21 e o KAAN não são apenas aeronaves; são projetos-âncora capazes de gerar ecossistemas industriais, propriedade intelectual, autonomia decisória e interoperabilidade nativa. São plataformas que conectam e formam gerações de engenheiros, doutrina e indústria, não apenas aparelham esquadrões.

Eles entenderam o que muitas nações ainda ignoram: O que separa potências de meros compradores é a visão sistêmica, autossuficiência não nasce da aquisição isolada de equipamentos, mas da construção de ecossistemas integrados, onde cada vetor, sensor e plataforma interage, comunica-se e se adapta continuamente, gerando capacidade operacional real.

Ingressar no desenvolvimento de soluções como o KF-21 ou o KAAN, não é adquirir um novo caça. É entrar para um eixo de futuro, onde a nação deixa de ser compradora e se torna autora.

Lições ao Brasil: Entre a Ilusão do Catálogo e a Construção de Poder Real

O Brasil atravessa um momento decisivo, embora ainda pouco compreendido. Assim como a Indonésia, o País se aproxima de um erro conceitual crítico: acreditar que modernizar inventário equivale a construir capacidade estratégica. Não se trata apenas de adquirir caças, navios ou mísseis de última geração, trata-se de criar sistemas que convertem tecnologia em poder real, integrando forças, doutrinas e inteligência em um organismo coeso.

Comprar novos vetores pode gerar manchetes e aplausos políticos, mas não cria poder militar sustentável se não houver interoperabilidade operacional, continuidade de programas estratégicos e soberania tecnológica. Sem isso, cada ativo moderno atua como uma ilha: impressionante isoladamente, mas vulnerável e ineficaz quando confrontado com sistemas conectados e coordenados.

A verdadeira capacidade não se mede pelo número de plataformas, mas pela habilidade de transformar investimento em ação conjunta, visão estratégica e resiliência sistêmica. O risco é claro: o Brasil pode acumular equipamentos sofisticados e ainda assim permanecer refém de lacunas de integração, dependente de fornecedores externos, e incapaz de projetar poder de forma coerente no século XXI.

Modernizar sem integrar é ostentar riqueza tecnológica; integrar é construir soberania e força real.

O Brasil já conta com pilares sólidos de defesa:

  • Gripen: rompe a dependência histórica e coloca a FAB na vanguarda da aviação de combate, alinhada aos padrões internacionais mais avançados.

  • KC-390: consolida o País como desenvolvedor e exportador de aeronaves militares de transporte de alto nível, compatível com normas OTAN.

  • Astros II: projeta o Exército para o século XXI, integrando mísseis e foguetes em uma plataforma versátil e adaptável.

  • SisGAAz: oferece uma visão transformadora para a proteção do nosso espaço territorial marítimo.

  • SGDC: garante autonomia crítica em comunicações seguras via satélite, elemento essencial de soberania tecnológica.

No entanto, há um ponto crucial: esses avanços ainda não “conversam” entre si na velocidade, profundidade e escala exigidas pela guerra moderna. O Brasil construiu pilares sólidos, mas ainda não ergueu o templo da interoperabilidade, capaz de transformar investimentos isolados em poder militar integrado e sustentável.


Caminhos Estratégicos Concretos (5 Ações + 2 Riscos)

Integração Multi-Forças: Marinha, Exército e FAB devem operar sob uma arquitetura de comando unificada, reduzindo latência, ampliando consciência situacional e permitindo decisões rápidas e coordenadas em operações complexas.

Data-link e Sensores Nacionais: Desenvolver sistemas que conectem satélites, radares, AEW e vetores, permitindo troca de dados em tempo real e transformando informação em vantagem operacional concreta.

Guerra Eletrônica e Cibernética Integradas: Capacidades defensivas e ofensivas devem ser parte inseparável da operação conjunta, garantindo proteção de sistemas críticos e a capacidade de neutralizar ameaças antes que atinjam plataformas físicas.

Programa Nacional de Desenvolvimento da BID: Investir em transferência de conhecimento e na indústria nacional, garantindo soberania tecnológica e criando ecossistemas capazes de projetar, produzir e evoluir sistemas estratégicos de forma autônoma.

Doutrina e Treinamento Unificado: Exercícios combinados regulares devem consolidar interoperabilidade como cultura, não como projeto pontual, formando gerações de militares capazes de operar em ambientes integrados e complexos.

Riscos de Não Agir:

  • Modernizar “ilhas de excelência” sem integração: gera vitrines tecnológicas vulneráveis, que impressionam no papel, mas falham no campo de batalha.

  • Fragmentação e dependência externa: podem reduzir o Brasil a espectador em crises estratégicas, incapaz de projetar poder ou proteger seus interesses.


Soberania Se Decide Antes do Conflito

No século XXI, ameaças não esperam declarações de guerra. Ciberataques, inteligência artificial militar, disrupção tecnológica, espionagem e competição por recursos estratégicos não conhecem fronteiras; agem de forma contínua, invisível e muitas vezes assimétrica.

O Brasil possui ativos estratégicos incomparáveis: a Amazônia Azul, rica em rotas marítimas, biodiversidade e o pré-sal, fonte crítica de energia e influência geopolítica. Esses territórios são tabuleiros estratégicos do século XXI, onde interesses globais e regionais se encontram, e onde qualquer falha em vigilância, defesa ou integração pode significar perda de soberania antes mesmo de um conflito convencional.

Sem autonomia em sensores, inteligência, coleta e análise de dados, comunicações seguras via satélite, guerra cibernética e integração sistêmica, o Brasil se expõe a riscos crescentes: será espectador de decisões alheias, incapaz de projetar poder, proteger seus recursos e defender seus interesses estratégicos.

A soberania, portanto, não se conquista no calor do conflito; é decidida muito antes, no planejamento, no investimento, na integração de forças, na transferência tecnológica e na construção de um sistema de defesa que conecte capacidades, doutrinas e tecnologias em tempo real.

Quem adia essa decisão, adia também sua relevância geopolítica. No século XXI, ser protagonista exige agir antes que o conflito se anuncie.

A Regra de Ouro da Guerra Moderna

A primeira década dos anos 2000 ensinou que superioridade aérea era ter o melhor caça. A década seguinte mostrou que não bastava o caça, era preciso o melhor sensor, capaz de enxergar o inimigo antes mesmo que ele percebesse você. Hoje, no alvorecer desta década, o veredicto é definitivo e implacável: no campo de batalha moderno, vence quem tem a melhor integração de sistemas e vetores, não quem compra os melhores meios.

O poder real não se mede pelo número de vetores ou pelo prestígio de plataformas isoladas, mas pela capacidade de transformar cada ativo em parte de um sistema orgânico, onde AEW, guerra eletrônica, inteligência, dados e plataformas físicas convergem em integração operacional. Poucos vetores, altamente integrados, apoiados por arquitetura de comando e controle coerente e sistemas de dados eficientes, geram eficácia, resiliência e superioridade estratégica.

Em contraste, muitos vetores desconectados, por mais avançados que sejam individualmente, produzem apenas estatística, consumo de recursos e vulnerabilidade. Eles podem impressionar no desfile ou nos simuladores, mas no teatro real, são alvos isolados em um tabuleiro que exige coordenação, velocidade e integração.

A lição é clara: a guerra moderna não premia o luxo tecnológico isolado, mas a capacidade de conectar, coordenar e multiplicar cada elemento do sistema, transformando investimento em poder e soberania em vantagem concreta.

Soberania em Jogo: Construir Poder ou Ser Espectador

O Brasil pode continuar comprando plataformas para desfilar no 7 de Setembro, acreditando que isso representa poderio militar. Mas isso é apenas performance, é apenas pura propaganda e visibilidade, não capacidade real.

Existe um caminho mais raro, mais transformador e verdadeiramente estratégico: construir sistemas interoperáveis, soberanos, com densidade tecnológica nacional e integração plena entre Forças, indústria, governo, academia e diplomacia. Sistemas que aprendem, evoluem e se protegem mutuamente, sistemas que não dependem da boa vontade de fornecedores externos nem da sorte em conflitos futuros.

A soberania não é um ato isolado, nem um inventário de ativos. É um ecossistema vivo, que só se fortalece com planejamento consistente, continuidade de programas e integração de capacidades em todos os níveis. Sistemas complexos, ao contrário de caças ou navios isolados, não se compram, se constroem.

No século XXI, a escolha é clara:

  • Comprar ativos desconectados gera visibilidade e manchetes, mas não produz poder estratégico.

  • Construir sistemas integrados cria capacidade operacional, resiliência e protagonismo geopolítico, permitindo ao Brasil decidir seu próprio destino, e não apenas reagir aos movimentos de outros.

O verdadeiro poder não se desfila, se opera. Quem compreende isso transforma soberania em ação concreta, antes mesmo do conflito se anunciar, garantindo que o Brasil seja protagonista de sua própria história, e não mero espectador do tabuleiro global.


por Angelo Nicolaci


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EXCLUSIVO: Movimentações indicam possível retomada de projetos da antiga Mectron

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Informações obtidas com exclusividade pelo GBN Defense junto a fontes do setor de defesa apontam que um movimento discreto poderá resultar na retomada de parte dos projetos desenvolvidos pela antiga Mectron, empresa que por décadas foi referência nacional no desenvolvimento de mísseis guiados e sistemas de alta tecnologia. As conversas ainda ocorrem de forma reservada, mas indicam um interesse real em dar continuidade a programas considerados estratégicos para a soberania militar brasileira.

Segundo apurado, uma empresa brasileira do segmento de defesa estaria avançando em tratativas para assumir o desenvolvimento de tecnologias anteriormente conduzidas pela Mectron. Embora os detalhes permaneçam sob confidencialidade, as informações convergem para a possibilidade de reativação de conhecimentos e capacidades que estavam paralisados desde o encerramento das atividades da companhia.

A importância do legado da Mectron

A Mectron se destacou como uma das poucas empresas da América Latina capazes de desenvolver mísseis de forma independente, acumulando expertise que levou o Brasil a um patamar diferenciado no setor. Entre seus projetos mais relevantes estão o Míssil Ar-Ar de curto alcance MAA-1B (Míssil Aéreo Ar 1-B) e o Míssil Antirradiação MAR-1, ambos considerados pilares para a consolidação de uma base tecnológica autônoma em armamentos inteligentes.

O MAA-1B representou um salto na capacidade de combate aproximado (dogfight) para a aviação de caça brasileira, integrando sensores e sistemas de guiagem infravermelha que aproximaram o país do padrão tecnológico de nações desenvolvidas. Já o MAR-1 elevou o Brasil ao seleto grupo de países com domínio no desenvolvimento de mísseis antirradiação, capazes de neutralizar radares e sistemas de defesa inimigos, um ativo estratégico no cenário moderno de combate.

Por que isso importa agora

Se essa movimentação se confirmar, ela poderá marcar uma inflexão no esforço de reconstrução da autonomia brasileira no setor de mísseis. Retomar projetos interrompidos significa não apenas recuperar conhecimento crítico, mas também evitar a perda de competências acumuladas ao longo de décadas de investimento público e privado.

A possível reativação desses programas também teria implicações diretas para a Força Aérea Brasileira (FAB), especialmente considerando a introdução do caça F-39E Gripen, que abre novas oportunidades de integração de armamentos nacionais. Manter a capacidade de produzir mísseis próprios reduz dependência externa e fortalece a soberania do país em um campo altamente sensível.

O que dizem especialistas

Profissionais ligados ao setor, ouvidos pelo GBN Defense sob condição de anonimato, avaliam que este movimento pode ser decisivo para impedir a dispersão total do know-how construído pela Mectron. Uma fonte com experiência em programas estratégicos descreveu a iniciativa como “uma oportunidade de reconstrução de capacidades críticas que o Brasil não pode perder novamente”.

Por ora, o cenário ainda exige prudência. Nenhum anúncio oficial foi feito, e o GBN Defense não divulgará o nome da empresa envolvida até que haja confirmação pública e transparente sobre o processo. A discrição tem como objetivo preservar fontes, evitar especulações prematuras e manter responsabilidade com a informação sensível.

Caso o movimento se consolide, será possível afirmar que o Brasil ensaia um retorno a um caminho de autonomia tecnológica em mísseis, um setor no qual já demonstrou competência, mas que exige continuidade, apoio institucional e visão estratégica de longo prazo.


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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Artilharia versus drones: a lição francesa inspirada na guerra da Ucrânia

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A guerra na Ucrânia vem reescrevendo os conceitos clássicos de combate nos últimos quatro anos, mostrando que, apesar da ascensão tecnológica dos drones, os equipamentos pesados continuam essenciais no campo de batalha moderno. Essa lição foi recentemente reafirmada pelo Exército Francês durante uma demonstração de força no Campo de Canjuers, no sudeste da França, marcada por chuva torrencial e desafios logísticos que expuseram os limites da guerra contemporânea.

O exercício, realizado na semana passada, tinha como objetivo demonstrar a integração entre sistemas de artilharia pesada e tecnologia aérea não tripulada. No entanto, as condições climáticas adversas impossibilitaram a decolagem de drones e helicópteros, enquanto a artilharia manteve sua eficácia. Segundo observadores, a experiência ilustra a realidade enfrentada na Ucrânia, onde ataques mecanizados russos aproveitam neblina e chuvas para neutralizar capacidades aéreas, conforme estudo do Instituto para o Estudo da Guerra.

“O futuro passa pelos drones, mas eles precisam ser integrados de forma inteligente à tecnologia clássica”, afirmou o tenente-coronel Renaud Durbecq, comandante do 35º Regimento de Artilharia Paraquedista (35e RAP). “Em condições de chuva intensa, os drones ficam no solo, enquanto nossos canhões continuam a disparar.”

A demonstração militar e os limites do drone

A apresentação contou com a presença do fabricante KNDS e de diversas delegações militares estrangeiras. Os paraquedistas não puderam ser lançados, o tráfego civil no aeroporto de Nice causou restrições logísticas e até alguns disparos de artilharia precisaram ser adiados. Apesar disso, a demonstração evidenciou o avanço do regimento francês em integrar drones à artilharia moderna.

O 35e RAP utiliza obuses Caesar de 155 mm, equipados com canhões de 20 mm montados em caminhões, redes de camuflagem, iscas e sistemas de interferência portáteis para proteção contra ataques aéreos. O regimento passou por um rápido processo de “droneização”: agora possui cinco vezes mais drones do que no ano passado, triplicou o número de pilotos e dobrou as horas de voo.

Entre os equipamentos estão o drone Delair DT46, com alcance de 80 km, drones de reconhecimento e drones FPV para ataques de precisão. Uma inovação significativa é a conexão direta dos DT46 aos sistemas de controle de tiro, permitindo que os obuses Caeser abram fogo imediatamente após a detecção do alvo. Além disso, seis novos sistemas antidrone Proteus foram integrados, capazes de neutralizar ameaças aéreas com fogo direto ou interferência eletrônica.

Lições da Ucrânia e adaptação tática

A experiência ucraniana inspirou diretamente as novas táticas francesas. O pré-posicionamento de munição em pontos de tiro, por exemplo, visa reduzir o risco de destruição em caso de ataques por drones kamikazes, como o Lancet russo, que tem sido responsável por 75% das perdas de peças de artilharia no conflito. Comparativamente, os obuseiros Caesar franceses apresentam uma taxa de perda de apenas 15%, enquanto sistemas sobre lagartas chegam a mais de 50%.

O ex-coronel Olivier Fort, representante do KNDS e especialista em artilharia, destaca que a proteção das peças é fundamental, mas que a mobilidade continua crucial para o reabastecimento rápido e a sobrevivência no campo de batalha. “Cada sistema tem vantagens e desvantagens. Apostar exclusivamente em drones não é a estratégia vencedora”, afirmou.

Segundo Durbecq, “a maior qualidade de uma arma é a confiabilidade. E os sistemas de artilharia Caesar provaram isso, mesmo em condições extremas.”

Integração e equilíbrio

A lição do exercício francês é clara: drones e artilharia não são rivais, mas complementares. A guerra moderna exige uma abordagem híbrida, na qual tecnologia emergente e poder de fogo tradicional se combinam para garantir eficácia e resiliência. A experiência mostra que mesmo com drones cada vez mais avançados, a artilharia e os sistemas pesados permanecem insubstituíveis em cenários complexos, onde o clima e a imprevisibilidade do campo de batalha continuam a definir a vitória.

A França, assim, não apenas investe em inovação tecnológica, mas reforça a máxima da guerra moderna: capacidade de fogo confiável, integração inteligente e adaptação constante são tão decisivas quanto a sofisticação dos sistemas não tripulados.


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Aprendizado na Ucrânia: como Skyranger 30 e DefendAir transformam a defesa aérea alemã

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A guerra na Ucrânia, que já dura quase quatro anos, está redefinindo a doutrina militar global, e a Alemanha parece determinada a aplicar rapidamente as lições aprendidas na linha de frente. Em 5 de novembro, o Bundestag aprovou o financiamento de um novo míssil de baixo custo, projetado especificamente para interceptar pequenos drones, sinalizando um reconhecimento pragmático de uma ameaça que já não pode mais ser ignorada.

Para a Bundeswehr, os drones de pequeno e micro porte representam "uma ameaça significativa para a população, os soldados, os sistemas de armas e a infraestrutura". A experiência ucraniana mostrou que esses dispositivos baratos e ágeis podem causar danos consideráveis, interromper operações e obrigar as forças armadas a reinventar sua defesa aérea.

O SADM (Small Anti-Drone Missile), desenvolvido pela MBDA e comercializado como DefendAir, surge como a peça-chave para transformar o Skyranger 30, sistema antiaéreo da Rheinmetall, em um caçador eficiente de drones. Até agora, o Skyranger dependia de seu canhão de 30 mm com munição programável AHEAD, capaz de disparar 1.200 tiros por minuto, mas limitado a um alcance de aproximadamente 3 km. Drones operando nos limites desse alcance frequentemente escapavam, tornando a defesa cara e ineficiente.

O SADM, derivado da família Enforcer da MBDA, amplia o alcance para cerca de 6 km e é projetado para neutralizar drones de Classe 1, com peso de até 150 kg. Segundo a Bundeswehr, a combinação entre canhão e míssil permitirá que um único veículo Skyranger derrube até trinta drones em uma única ação, proporcionando uma camada de defesa inédita e robusta. O projeto de desenvolvimento e aquisição está estimado em 490 milhões de euros, com produção em série prevista para 2029, alinhada à introdução gradual dos Skyranger.

Essa modernização integra-se a um contexto estratégico maior: o Programa Arminius, que visa fornecer diversas variantes do veículo de combate Boxer, com investimento total de cerca de 40 bilhões de euros. O objetivo é reconstruir a capacidade de defesa aérea de curto alcance (SHORAD), seriamente prejudicada após a Guerra Fria.

O CEO da Rheinmetall, Armin Papperger, afirma que a empresa espera vender mais de 1.000 sistemas Skyranger globalmente, enquanto a Bundeswehr poderá adquirir entre 600 e 650 unidades. O interesse é grande em toda a Europa, com Dinamarca, Áustria e Hungria já realizando encomendas de diferentes variantes. Todos esses esforços estão centralizados na Iniciativa Escudo Aéreo Europeu (ESSI), lançada para coordenar aquisições e fortalecer a defesa aérea coletiva do continente, uma lacuna estratégica brutalmente exposta pela invasão russa da Ucrânia.

A confiança na nova solução é reforçada pelo desempenho do Skynex, outro sistema da Rheinmetall já testado com sucesso na Ucrânia. Segundo Papperger, o Skynex provou ser eficaz não apenas contra drones, mas também na interceptação de mísseis. A aprovação do SADM não é apenas um avanço tecnológico; é uma validação de uma lição estratégica clara: na guerra moderna, enxames de drones baratos podem ser tão decisivos quanto mísseis de alto custo, e a defesa deve se adaptar rapidamente a esse novo cenário.

A Alemanha, com essa decisão, demonstra que a defesa aérea não é apenas sobre equipamentos caros ou arsenais tradicionais. Trata-se de adaptação e pragmatismo frente a ameaças modernas, reconhecendo que tecnologias relativamente simples, se bem integradas, podem redefinir o equilíbrio do poder militar.

O SADM e o Skyranger 30 são o retrato de uma nova era: mobilidade, precisão e custo-benefício se tornaram pilares centrais da defesa contra ameaças emergentes. Enquanto o mundo observa a evolução das batalhas na Ucrânia, a Alemanha mostra que, mesmo em tempos de paz relativa, a modernização da defesa aérea não é opcional, é uma necessidade estratégica e inevitável.


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Argentina Reativa Estratégia Naval: Submarinos Scorpène e OPVs Redefinem Presença no Atlântico Sul

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Javier Milei trouxe a questão naval de volta ao centro das atenções. Em entrevista televisionada no dia 6 de novembro, o presidente argentino confirmou que os planos de modernização da Armada de la República Argentina estão em andamento, com encomendas firmes de submarinos da classe Scorpène e navios de patrulha oceânica (OPVs) à França. Segundo fontes próximas ao governo de Buenos Aires, o objetivo é restabelecer o controle marítimo nacional e reforçar a fiscalização contra a pesca ilegal, um problema que vem crescendo na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) argentina.

O anúncio marca a retomada de negociações iniciadas no final de 2024, e abre um debate sobre configuração, cronograma de entrega e capacitação da Marinha argentina. No núcleo do programa estão os submarinos Scorpène Evolved, fornecidos pela Naval Group. Para a Argentina, trata-se do retorno a uma capacidade submarina que havia sido praticamente abandonada após a aposentadoria dos TR-1700 e a prolongada indisponibilidade das unidades restantes.

Projetado para exportação, o Scorpène combina modularidade, propulsão independente de ar (AIIP), autonomia superior a 50 dias e tripulação reduzida, de cerca de trinta marinheiros. Seu sistema de combate SUBTICS, equipado com sonares de proa e laterais, além de armamentos como mísseis F21 e Exocet SM39, permite atuação tanto em guerra antissuperfície quanto antissubmarino. Analistas destacam que, mesmo com um número limitado de unidades, a presença de um submarino furtivo no Atlântico Sul cria uma dissuasão estratégica real, elevando o custo de qualquer ação oportunista na região.

No plano de superfície, os OPVs da classe OPV-90, com 87 metros de comprimento e pequenas necessidades logísticas, complementam a presença naval argentina. Equipados com RHIBs, drones e capacidade para operar helicópteros leves, esses navios permitem fiscalização, busca e salvamento, coleta de informações e monitoramento da ZEE, liberando unidades maiores para missões de maior envergadura. A integração com os Scorpène garante uma dupla operacional de grande efeito: presença constante na superfície e ameaça submersa permanente, criando um ambiente de incerteza para atores hostis.

Além do aspecto técnico, a Argentina enfrenta desafios de financiamento, treinamento e sustentação logística. Estima-se que o investimento total supere US$ 2 bilhões, conforme carta de intenções assinada no final de 2024. Analistas defendem que a execução rigorosa das fases de implantação, aliada à formação antecipada de tripulações e suporte em serviço, será determinante para que a Marinha argentina transforme sua capacidade intermitente em presença permanente e crível.

A iniciativa argentina também reforça a importância da cooperação regional. Com interoperabilidade com Brasil e Chile, países que já operam o Scorpène, Buenos Aires poderá contribuir para um controle mais robusto da guerra antissubmarino (ASW) no Atlântico Sul. A troca de informações marítimas e a integração operacional ampliam a segurança coletiva da região, fortalecendo a governança e a proteção de ativos estratégicos, como campos de energia offshore e cabos de comunicação submarinos.

Oportunidade Perdida pelo Brasil

Enquanto a Argentina avança, o Brasil mantém um papel de espectador estratégico. Os submarinos construídos no Complexo Naval de Itaguaí pelo ICN, fruto do PROSUB, representam uma oportunidade que poderia ter sido explorada comercialmente. Exportar submarinos ou oferecer suporte técnico a países vizinhos não apenas geraria receita e empregos, mas também consolidaria o Brasil como referência em tecnologia naval estratégica e presença regional, projetando influência sem a necessidade de militarização explícita. Ao optar por não explorar essas possibilidades, o país deixa de transformar sua capacidade latente em protagonismo geopolítico, permitindo que concorrentes regionais preencham o vazio estratégico deixado pelo gigante sul-americano.


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Editorial: O Brasil não é refém da soberania nuclear; antes, molda-a estrategicamente

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Nós trouxemos à tona um artigo provocador sobre o papel do Brasil no cenário nuclear global (“Brasil: Gigante Nuclear Refém da Própria Covardia"). Agora, somando ideias e capitais intelectuais, acadêmicos e construtivos de opinião, o especialista Leonan Guimarães apresenta um editorial que complementa e enriquece nossa visão, defendendo a soberania estratégica do país dentro do contexto institucional, tecnológico e diplomático. Essa convergência de perspectivas reforça o compromisso do GBN Defense em oferecer ao público um debate plural, informativo e saudável, aliando nossa análise à de especialistas de diferentes setores. O objetivo é não apenas discutir tecnologia e estratégia, mas também explorar as escolhas políticas e éticas que moldam o futuro nuclear do Brasil, tornando a reflexão crítica mais rica e fundamentada.

Confira o Editorial:

O artigo “Brasil gigante nuclear refém da própria covardia” publicado aqui, apresenta uma visão que, embora provocadora, peca por uma análise superficial dos vetores institucionais, tecnológicos e jurídicos que moldam a política nuclear brasileira. É necessário retomar o debate com rigor: o Brasil não está acorrentado por compromissos internacionais ou cleptocracias tecnológicas, mas avança com soberania consciente, e a narrativa contrária empobrece a compreensão da realidade.

A estrutura normativa é um ativo, não uma limitação

O texto do artigo argumenta que o cumprimento pelo Brasil de regimes de salvaguarda e de não proliferação configura “refém” de outros países. Essa premissa ignora que o Brasil aderiu voluntariamente ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), ao Tratado de Tlatelolco e ao arranjo bilateral Agência Brasileiro‑Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC) + Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) precisamente como estratégia de inserção no sistema internacional, construção de credibilidade e acesso a tecnologia, financiamento e parcerias — em vez de bloqueio. Conforme apontado por fontes acadêmicas, um regime de não proliferação robusto pode atuar como “plataforma de confiança” para cooperação nuclear civil. Assim, longe de “refém”, o Brasil possui uma base normativa que o habilita, e não o paralisa.

O “ciclo completo de urânio” será realidade — mas não o é ainda

O artigo sustenta que o Brasil hoje teria o ciclo completo do combustível nuclear, mineração, conversão, enriquecimento e fabricação, e que, por isso, estaria pronto para um salto rápido na militarização. Esse raciocínio falha por ignorar avanços tecnológicos chave que ainda estão em implementação e que dificultam qualquer mudança abrupta de paradigma.

Por exemplo, a etapa de conversão de urânio em hexafluoreto de urânio (UF₆), crítica para o enriquecimento, ainda depende de infraestrutura em desenvolvimento no país. Sem essa fase completamente industrializada e testada, falar em “capacidade militar em 4–6 anos” é mera especulação.

Ademais, a institucionalidade brasileira prevê salvaguardas específicas para qualquer material ou instalação que possa ser dual-use, o que impõe controles automáticos que o artigo não considera.

Comparações com Irã, Coreia do Norte e Israel carecem de pertinência

O artigo original compara o Brasil a países que têm trajetórias nucleares muito distintas, e que não participam ou participaram de regimes de verificação tão robustos como o nosso. Esses paralelos promovem alarmismo e subestimam a singularidade brasileira: participação simultânea em TNP, Tratado de Tlatelolco, ABACC e AIEA. Tal configuração é rara no mundo e confere ao Brasil uma margem de manobra diplomática, tecnológica e financeira que o artigo não reconhece.

Soberania estratégica é mais do que independência tecnológica imediata

O autor do artigo caracteriza como “submissão” o fato de o Brasil adotar obrigações multilaterais de controle nuclear. No entanto, soberania estratégica não se esgota em “fazer tudo sozinho”, ela se realiza também em “fazer certo, com credibilidade internacional, assegurando acesso a tecnologia, financiamento e parcerias”. A história recente mostra que países que optaram por rupturas abruptas foram penalizados por sanções, isolamento tecnológico e encarecimento de capitais. No caso brasileiro, a adesão responsiva aos regimes de não proliferação permitiu avanços como o programa de reator multipropósito (RMB) ou o projeto de submarino nuclear — elementos que incentivam autonomia progressiva, não dependência.

Onde há gargalos tecnológicos e financeiros, e não “capacidade de militarização iminente”

Há, claro, desafios reais: o atraso prolongado de obras como a da usina Angra 3, questões de financiamento e governança, a escala de investimentos necessários para construir novas usinas ou edificar uma cadeia industrial madura. Mas esses são desafios de execução, e não de doutrina ou de “dependência estrangeira” irreversível. O artigo confunde restrições orçamentárias e institucionais com “refém de outrem”.

Conclusão

O Brasil não é um gigante nuclear refém, mas um gigante em construção que escolheu uma rota de soberania responsável: aderindo a regimes internacionais, desenvolvendo tecnologia, estruturando governança. A narrativa simplista de que “obedecer é fraqueza” desconsidera que nossos compromissos, constitucionais, bilaterais, multilaterais, são parte da própria arquitetura de poder nacional. É chegado o momento de deixarmos de ver a regulação como obstáculo e reconhecermos que, bem utilizada, ela se converte em trampolim para autonomia, não como adiada indefinidamente, mas como construída passo a passo, com técnica, estratégia e credibilidade.


por Leonam dos Santos Guimarães -  Diretor Técnico da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares


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Brasil: soberania estratégica ou potência adormecida? Uma resposta ao editorial sobre política nuclear

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O editorial recente que refutou a ideia de que o Brasil seria um “gigante nuclear refém” apresenta argumentos técnicos sólidos e destaca corretamente o avanço institucional, normativo e tecnológico de nosso país. Não há como negar: aderir voluntariamente ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), ao Tratado de Tlatelolco e ao arranjo ABACC+AIEA é uma demonstração de credibilidade internacional e compromisso estratégico. Esses instrumentos funcionam como plataformas de confiança, permitindo acesso a tecnologia, parcerias e financiamento.

No entanto, reconhecer essa realidade técnica e institucional não invalida a análise de que o Brasil vive um paradoxo estratégico: possui tecnologia de ponta e capacidade latente, mas escolhe limitar sua autonomia plena por opção política e diplomática. A distinção é sutil, mas essencial: não se trata de “refém” no sentido de impotência absoluta, mas de um gigante consciente de seu poder, que opta por não explorar imediatamente todo o potencial de dissuasão que detém.

O editorial enfatiza corretamente que o ciclo completo de urânio ainda não está totalmente operacional, especialmente na conversão de urânio em UF₆. Essa observação é válida e demonstra que qualquer transição para capacidade militar direta exigiria tempo, recursos e planejamento. Porém, isso não elimina a questão central: o Brasil possui infraestrutura, conhecimento e projetos estratégicos, como o PROSUB e o desenvolvimento de submarinos nucleares, que conferem ao país uma capacidade latente de dissuasão que nenhuma outra nação sul-americana possui. O ciclo industrial completo é uma questão de continuidade e investimento, não de impossibilidade.

Quanto às comparações internacionais, é verdade que Irã, Coreia do Norte e Israel têm trajetórias distintas, com graus variados de ambiguidade e violação de regimes internacionais. Mas o ponto do artigo original não era equiparar trajetórias, e sim destacar escolhas estratégicas. O Brasil, por opção consciente, escolheu a obediência como ferramenta de credibilidade, mas isso também significa abrir mão de manobras de poder que outros atores nucleares exploram com eficácia. Em outras palavras, a soberania estratégica brasileira é construída dentro de um tabuleiro cuidadosamente regulado, mas ainda assim limitada no potencial de ação imediata.

A soberania estratégica, como bem lembra o editorial, não se reduz a “fazer tudo sozinho”. Concordamos plenamente: poder sem credibilidade pode ser perigoso, e rupturas abruptas podem trazer sanções, isolamento e custos elevados. No entanto, não há como ignorar que, no contexto global atual, a capacidade de decisão autônoma e de projeção de poder é uma dimensão que o Brasil deliberadamente mantém adormecida. A escolha de priorizar diplomacia e regras internacionais é estratégica, mas também é uma forma de auto-limitação.

Portanto, a discussão não é sobre a inexistência de capacidade, mas sobre a opção política de não militarizar. O Brasil não é refém de tratados, mas sim um país que decidiu colocar limites à própria soberania plena em nome de estabilidade e prestígio internacional. Essa é uma escolha consciente, ética e estratégica, mas que gera um paradoxo evidente: somos admirados por nossa disciplina e responsabilidade, mas não exercemos o poder que já temos.

O desafio do Brasil é, então, equilibrar credibilidade, ética e autonomia. Podemos continuar investindo em tecnologia nuclear, fortalecer o PROSUB e ampliar o conhecimento científico, mantendo a postura pacifista e responsável, mas ao mesmo tempo, refletir sobre como transformar capacidade latente em poder estratégico efetivo, mesmo dentro dos marcos legais e normativos.

A grande provocação que se mantém é clara: até quando o Brasil continuará a obedecer normas externas e limitar sua própria autonomia, mesmo possuindo todos os instrumentos para projetar soberania regional e global? O país construiu um arsenal de conhecimento, tecnologia e infraestrutura que o torna único no Hemisfério Sul. Reconhecer isso não é alarmismo; é analisar honestamente a diferença entre capacidade técnica e decisão política.

Em resumo, nosso país não é refém, mas tampouco é pleno protagonista. O Brasil escolheu uma rota de soberania consciente, com ganhos claros de credibilidade e parcerias estratégicas. Mas a pergunta que permanece, provocadora e necessária, é: até quando continuaremos a ser gigantes adormecidos, admirados pelo que temos, mas limitados pelo que escolhemos não usar?

O futuro estratégico do Brasil depende, acima de tudo, de uma reflexão sobre ética, poder e protagonismo. Cumprir tratados e fortalecer governança é essencial, mas saber quando e como jogar com todas as peças do tabuleiro global é o verdadeiro teste de soberania. O gigante brasileiro está acordando lentamente, resta decidir se terá coragem de realmente jogar.


por Angelo Nicolaci


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Artigo - “Brasil: Gigante Nuclear Refém da Própria Covardia”

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O Brasil, ao longo do século XX, construiu um programa nuclear de ponta, com capacidade tecnológica que, em muitos aspectos, rivaliza com países que possuem armas nucleares. No entanto, o país optou por um caminho de obediência internacional, priorizando tratados e diplomacia em detrimento da soberania estratégica. Esse paradoxo, entre potencial técnico e limitação política, define a narrativa nuclear brasileira, revelando a tensão entre capacidade e escolha, entre poder e prudência.

O interesse do Brasil pela energia nuclear começou na década de 1940, com estudos científicos e o envio de pesquisadores ao exterior. Durante o governo de Juscelino Kubitschek, o país assinou acordos com os Estados Unidos e a Alemanha Ocidental para desenvolver reatores nucleares civis e tecnologia de urânio, estabelecendo a base para a autonomia tecnológica que se consolidaria nas décadas seguintes. Esses passos iniciais foram fundamentais para criar uma infraestrutura científica e industrial que mais tarde permitiria ao país trilhar caminhos estratégicos mais ousados.

Nos anos 1970, sob o regime militar, o programa nuclear ganhou impulso estratégico e técnico. Entre 1975 e 1988, o Brasil:

  • Desenvolveu tecnologias próprias de enriquecimento de urânio por via ultracentrifugação;

  • Criou as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e investiu em mineração de urânio em Poços de Caldas e Lagoa Real;

  • Estabeleceu parcerias internacionais, incluindo com a Alemanha, visando à construção de usinas civis (Angra 1 e 2) e à capacitação industrial.

Embora nunca tenha declarado intenções militares, o programa brasileiro era tecnicamente e estrategicamente capaz de avançar em qualquer direção, criando o que especialistas chamam de capacidade latente de dissuasão. Como observa o físico e especialista em política nuclear José Goldemberg: “O Brasil tinha, nos anos 1980, tecnologia para produzir armas nucleares se decidisse. A opção foi política, não técnica.”

Atualmente, o Brasil possui:

  • Ciclo completo de urânio: mineração, conversão, enriquecimento e fabricação de combustível nuclear;

  • Reatores civis avançados, incluindo Angra 1 e 2, e pesquisa em reatores compactos de propulsão naval;

  • PROSUB, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos Nucleares, que integra engenharia nuclear e tecnologia de propulsão embarcada, uma capacidade rara no hemisfério sul;

  • Capacidade latente de armamento nuclear, estimada em 4 a 6 anos, caso haja decisão política de militarização.

Essa infraestrutura coloca o Brasil em posição singular: tecnicamente apto, mas politicamente limitado. Ao aderir a tratados como o Tratado de Não Proliferação Nuclear e cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica, o país optou por priorizar aceitação internacional sobre soberania plena, garantindo prestígio, mas limitando sua liberdade de ação estratégica.

O contraste com outros países é evidente. Israel mantém arsenal não declarado e aposta na ambiguidade estratégica e na dissuasão. A Coreia do Norte desenvolve armas nucleares como instrumento de barganha e sobrevivência. O Irã mantém um programa civil com capacidade latente de militarização, utilizando a ambiguidade como ferramenta política. Enquanto esses países usam o nuclear como instrumento direto de poder e influência, o Brasil limita sua autonomia estratégica em nome da diplomacia e da boa vontade externa. Surge, assim, um paradoxo inquietante: tecnologia de ponta e submissão política coexistindo no mesmo território. A pergunta que se impõe é inevitável: o Brasil será eternamente um espectador obediente no cenário nuclear global, ou está pronto para converter sua capacidade latente em soberania real?

Nos últimos vinte anos, a proliferação nuclear global consolidou-se como fator central de poder e dissuasão. Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Paquistão, França, Reino Unido e Coreia do Norte fortaleceram seus arsenais, enquanto o Irã avançou sob supervisão internacional rigorosa. O Brasil, apesar de possuir tecnologia, recursos estratégicos e know-how industrial, permaneceu relativamente estático, refém de escolhas políticas que priorizam conforto diplomático sobre autonomia estratégica.

Especialistas brasileiros em defesa e geopolítica destacam que o atraso nuclear do país não é apenas técnico, mas sobretudo político e institucional. Um professor de Relações Internacionais aponta que o Brasil poderia ter se tornado uma potência nuclear regional, mas decisões históricas, limitações externas e temor interno o mantiveram na posição de observador. O país detém tecnologia avançada, incluindo ciclo completo de urânio e domínio sobre o PROSUB e submarinos nucleares, mas permanece limitado por barreiras políticas e pela percepção de risco internacional, um verdadeiro tubarão sem dentes, admirado, mas sem impacto estratégico concreto.

O dilema central é provocativo: o Brasil abriu mão de sua autonomia estratégica para evitar conflitos diplomáticos ou sanções econômicas? E mais: o que ganhamos, em um mundo onde países que desafiaram potências consolidadas conseguiram afirmar influência regional e global?

Comparativo internacional: poder, dissuasão e escolha

Coreia do Norte: Pyongyang ilustra como o nuclear pode ser usado como ferramenta de sobrevivência e barganha. Desde os anos 1990, desenvolve armas nucleares e mísseis balísticos intercontinentais, cada teste calculado para enviar sinais à comunidade internacional e, principalmente, aos Estados Unidos. O SIPRI observa: “A Coreia do Norte desenvolveu sistematicamente armas nucleares para dissuadir ameaças percebidas.” Cada demonstração é política, estratégica e psicológica, mesmo sendo pequena e isolada, a Coreia do Norte projeta poder real de negociação.


Irã: Mantém programa civil com capacidade latente de militarização. A ambiguidade estratégica permite negociar sanções, consolidar influência regional e manter atenção global. A Agência Internacional de Energia Atômica confirma: “O Irã desenvolveu tecnologia nuclear que, embora civil, poderia ser adaptada para fins militares, se desejado.” Comparado ao Brasil, o Irã explora o silêncio estratégico como arma, enquanto o país opta pela visibilidade normativa.

Israel: Não assina o Tratado de Não Proliferação Nuclear e mantém arsenal não declarado. A lógica é clara: a incerteza estratégica é sua maior arma. O Instituto Nacional de Segurança de Israel afirma: “O país construiu poder regional confiável por meio da ambiguidade estratégica e da superioridade tecnológica.” Segredo e tecnologia garantem dissuasão, influência regional e liberdade de ação, uma lição sobre como não falar pode ser mais estratégico do que obedecer.

Brasil: o gigante que escolheu não jogar. Possuímos tecnologia de ponta, ciclo completo de urânio, capacidade de produção de combustível e o PROSUB, mas seguimos optando pela obediência normativa. Como disse Celso Amorim: “O Brasil defende um mundo sem armas nucleares, e seu papel internacional é promover a paz.” Nossa escolha nos posiciona como gigante técnico, politicamente subordinado, capaz de se afirmar, mas preferindo obedecer.

O dilema brasileiro: ética, poder e soberania

O Brasil possui todas as peças para atuar estrategicamente no cenário nuclear global, mas escolhe não jogar. A limitação não é tecnológica: é política. Entre os fatores que restringem nossa ação estão: o Tratado de Não Proliferação Nuclear e outros tratados internacionais, a fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica, pressão de potências globais, custos financeiros e sociais da militarização e debates internos sobre ética, imagem internacional e responsabilidade estratégica. Cada escolha de obediência fortalece nossa reputação pacifista, mas reduz poder de influência real. O país poderia ser protagonista regional, mas prefere seguir regras alheias. O dilema é claro: dissuasão regional versus aceitação internacional. Militarizar implicaria assumir autonomia e barganha estratégica, mas com riscos políticos e econômicos elevados. Permanecer obediente mantém prestígio, mas limita nossa capacidade de decisão.

O Brasil caminha, assim, entre ética, poder e soberania. Cada decisão sobre o programa nuclear define se continuaremos espectadores do jogo global ou se acordaremos e assumiremos protagonismo estratégico, projetando todo o poder que já possuímos.

Cenários futuros: protagonismo ou obediência

O futuro do Brasil no tabuleiro nuclear é uma história de escolhas. Submarinos nucleares, ciclo completo de urânio, centros de pesquisa e indústria estratégica — tudo pronto. Mas seguimos obedientes, pacifistas e normativos.

O caminho atual garante prestígio, credibilidade internacional, investimentos e parcerias, mas limita influência e dissuasão. Dissuasão latente e ambiguidade estratégica aumentariam autonomia regional e capacidade de influência silenciosa, exigindo habilidade diplomática para equilibrar poder e percepção externa. A militarização total transformaria o Brasil em protagonista global, capaz de influenciar decisões estratégicas internacionais, mas com custo político e econômico elevado, incluindo risco de sanções e isolamento. Em todos os cenários, o dilema é ético e estratégico. O Brasil tem as peças do xadrez nuclear, mas escolhe não jogá-las. Cada decisão molda não apenas a dissuasão, mas também papel e legado internacional.

O Brasil vive um paradoxo que poucas nações conhecem: tecnologia, conhecimento e capacidade industrial para se afirmar como potência nuclear, mas escolha deliberada de pacifismo e obediência. É um gigante admirado, mas adormecido, refém da própria ética normativa, enquanto outros atores usam o nuclear como moeda de poder e barganha. A grande provocação permanece: até quando continuaremos a obedecer ao jogo global, limitando nosso próprio potencial? Até quando aceitaremos ser espectadores da geopolítica? O gigante brasileiro poderia acordar, exercer todo o poder que já possui e se tornar referência em autonomia estratégica, ou permanecer admirado por sua disciplina, mas impotente para afirmar soberania plena quando o cenário exigir. O mundo observa, e o tempo não espera.


por Angelo Nicolaci


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