terça-feira, 20 de setembro de 2016

Um exército para chamar de meu

A União Europeia voltou a manifestar a ideia de criar seu próprio exército. Esta questão foi levantada pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em seu discurso anual diante do Parlamento Europeu no último dia 14 de setembro.
Segundo ele, uma das opções para resolver o problema da segurança europeia após o Brexit (saída do Reino Unido da UE) será a profunda integração das forças armadas dos países-membros do bloco europeu.
A proposta de estabelecer um Exército europeu também recebeu apoio da chanceler alemã Angela Merkel, do presidente francês François Hollande, e de várias outras figuras políticas do chamado Velho Mundo.
UE X EUA?
Referências à “imprevisibilidade e agressividade” da Rússia ou ameaças terroristas reais não se aplicam aqui. Para o chamado “plano de contenção da Rússia”, já existe a Otan – que se mostra, porém, impotente em face aos ataques terroristas na Europa.
Mas o novo exército também não poderá se tornar uma panaceia para os “males do terrorismo”. A luta contra esses militantes não requer mais tropas, mas agências de aplicação da lei profissionais e uma ampla rede de agentes e estruturas antiterroristas.
Não se trata aqui de um exército com foguetes, tanques, bombardeiros e caças – não se luta contra terroristas com equipamento militar pesado.
Mas será que a Otan não é realmente suficiente para a Europa, mesmo que a aliança inclua a maioria dos países europeus e siga a regra do artigo 5 do Tratado de Washington, que pode ser expressa no lema “Um por todos e todos por um”?
Talvez, a interferência de Washington nos assuntos dos europeus, e seu “messianismo” e impacto intrusivo sobre a política da UE – que muitas vezes resulta em perdas na economia (sanções contra a Rússia) e empurra o bloco para guerras desnecessárias e inúteis (Líbia, Iraque, Síria ou Afeganistão) – possam estar por trás dessa ideia de estabelecer as “forças armadas europeias independentes”.
Peças da nova estrutura
A Europa não pode sustentar dois exércitos paralelos por várias razões.
Em primeiro lugar, diversos Estados europeus não têm pressa nem de alocar 2% de seu PIB para o orçamento geral de defesa da Otan, cuja maior fatia de investimento (75%) provém de Washington.
Paralelamente, os EUA entendem o significado oculto e duradouro das ideias políticas expressas por Juncker – isto é, reduzir a dependência da Europa em relação às decisões militares tomadas pela Casa Branca.
Em segundo lugar, também não há recursos humanos suficientes para o novo exército – os refugiados islâmicos do Oriente Médio e do Norte da África dificilmente poderiam ser incluídos nessas forças. Não é à toa que François Hollande chegou a sugerir que o Exército europeu seja criado no âmbito e com base na Otan.
Segundo ele, as forças armadas europeias devem ter certa autonomia. Mas, em um exército, que se baseia na unidade de comando e obediência incondicional ao comandante ou chefe, não pode haver, por princípio, quaisquer estruturas independentes. Caso contrário, não se trata de um exército, mas de uma fazenda coletiva mal administrada.
Além disso, é improvável que a Aliança do Atlântico Norte esteja interessada em um exército paralelo e autônomo – mesmo porque sua estrutura não é assim. Na Otan, existem comandos para diferentes cenários e regiões de guerra.
Para missões de combate específicas, são criadas formações especiais, com alocação de unidades de forças armadas nacionais dos países-membros. Alguns fornecem tripulações para tanques, outros, operadores de mísseis, sinaleiros, enfermeiros e assim por diante. Não se sabe sobre quais pilares o novo exército seria criado.
Ao que tudo indica, a discussão sobre um Exército europeu e sua sede conjunta é mais uma tentativa de criar uma nova estrutura burocrática para que os delegados europeus possam continuar vivendo em conforto, produzindo papeladas e declarações públicas, como já fazem na UE e na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE).
Mas, se mesmo assim um Exército europeu for criado, como  a Rússia irá reagir? Os russos trabalharão com ele nos moldes da relação com a Otan. Vamos apenas esperar que o relacionamento comece sem ressentimentos e de forma amigável.

Fonte: Gazeta Russa
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