quinta-feira, 14 de julho de 2016

Fortalecimento do Exército russo: sinal de paz ou guerra?

O serviço secreto canadense divulgou, no final de junho, um relatório sobre as ameaças à segurança mundial até 2018. No documento, que tem mais de 100 páginas, um espaço considerável é dedicado às ameaças provenientes da Rússia.
Por exemplo, segundo os autores, o aumento do potencial militar da Rússia é uma prova de que o país está se preparando para uma guerra real, e não para uma guerra híbrida. Os analistas dos serviços secretos não especificam, porém, contra quem o Kremlin pretende iniciar uma guerra e quais serão as consequências.
Diversos especialistas interpretam o confronto atual entre a Rússia e os países ocidentais segundo a concepção de Liddell Hart, famoso teórico militar britânico. Para Hart, as duas guerras mundiais fazem parte de um único conflito composto por vários níveis e ocorreram devido a uma mudança radical na ordem mundial.
Assim, segundo o cientista inglês, todas as fases desse conflito global ocorreram entre 1890 e 1945, e as consequências da Segunda Guerra Mundial levaram à Guerra Fria e à derrota da Rússia, que hoje está concluindo sua recuperação.
Esses tipos de analogias históricas e teorias militares indicam que uma nova guerra é inevitável, e a Rússia, que após a queda da URSS perdeu sua zona de influência e parte do seu território, vai desempenhar o papel do principal agressor.
Nesse contexto, Moscou estaria modernizando suas Forças Armadas para recuperar o território perdido, restaurar seu controle sobre a Europa Oriental e se livrar das ameaças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Logo, um conflito global seria inevitável, e qualquer concessão à Rússia só reforçaria a confiança do Kremlin em sua superioridade, como aconteceu com a política de apaziguamento durante a Segunda Guerra.
Não é à toa também que, após o início do conflito no leste da Ucrânia e a reintegração da Crimeia, diversos políticos ocidentais começaram a falar ativamente sobre a "ameaça russa". A modernização do Exército e da frota militar do país permitiram que os políticos europeus e norte-americanos desviassem a atenção de outros problemas globais: a crise de imigração, a expansão da zona de conflito no Oriente Médio e o aumento da ameaça do extremismo islâmico.
Caption:DONETSK, UKRAINE - JULY 21: Separatists in the east of Ukraine withdraw their 100mm small calibre heavy armaments from the front lines in Donetsk, Ukraine on July 21, 2015. Eduard Basurin, who has unilaterally been appointed spokesman for the 'Defence Ministry of the Donetsk People's Republic' by Russian-aligned separatists in the east of the country, stated that 150 100-mm heavy armaments, tanks and armoured vehicles have been withdrawn from the front within the scope of the Minsk agreement. (Photo by Alexander Ermochenko /Anadolu Agency/Getty Images)Rebeldes no leste da Ucrânia em retirada de armamento pesado das linhas de frente em Donetsk Foto: Aleskandr Ermotchenko/Anadolu Agency/Getty Images)
História não se repete
Mas a guerra não está tão próxima quanto algumas pessoas acreditam. Em primeiro lugar, porque qualquer conflito global entre a Rússia e a Otan provocaria rapidamente uma troca de ataques nucleares.
Recentemente, o Kremlin demonstrou diversas vezes que está aumentando o seu potencial nuclear e modernizando seus sistemas de lançamento de mísseis com ogivas nucleares, mas é improvável que especialistas russos e da Otan acreditem na possibilidade de criar um sistema de defesa antiaérea impenetrável que permita destruir totalmente o inimigo.
Além disso, a eclosão de uma guerra nuclear causaria enorme descontentamento da população russa e inúmeros prejuízos ecológicos e econômicos. Assim, é totalmente incorreto considerar a guerra nuclear como um instrumento realista da política militar do país.
Blitzkrieg ucraniano

Apesar das tentativas da Rússia de acabar com o conflito no Donbass e cumprir os acordos de Minsk, a União Europeia prolongou as sanções contra Moscou. Ao mesmo tempo, a Otan está aumentando sua presença perto das fronteiras russas nos países bálticos.

Uma intervenção militar rápida na Ucrânia, que abriria acesso terrestre a Crimeia e levaria à desanexação do Donbass, permitiria aumentar drasticamente a popularidade do presidente russo, Vladímir Pútin, entre a população. Porém, essa pequena vitória é pouco realista devido a suas consequências econômicas.

O governo russo já gastou muito dinheiro na integração da Crimeia e no apoio às autoproclamadas repúblicas do Donbass. Se o sudeste da Ucrânia entrar na zona de influência da Rússia, o país terá que realizar enormes investimentos, e hoje Moscou não dispõe de tais recursos.

Exportação de segurança

A interferência russa na guerra civil da Síria em 2015 ajudou as tropas do governo sírio a iniciarem o ataque contra as posições dos radicais islâmicos. Indiretamente, essas ações contribuíram para o ataque bem sucedido contra as posições do Estado Islâmico no Iraque, onde as forças do governo local, com o apoio de uma coalizão ocidental, foram capazes de liberar diversas cidades.

PALMYRA, SYRIA. APRIL 7, 2016. A combat engineer of the Russian Armed Forces' International Mine Action Center with a service dog clearing mines from the ancient town of Palmyra. Islamic State militants have not only destroyed many of Palmyra's heritage sites but they have also laid mines in historic and residential parts of the town.  Foto: Konstantin Leyfer/TASSOficial russo participa de operação de desminagem em Palmira, na Síria Foto: Konstantin Leifer/TASS
No mundo contemporâneo há diversas fontes de instabilidade capazes de ameaçar a paz global, e Moscou demostrou seu desejo e capacidade de lutar eficazmente contra esses desafios, apoiar regimes aliados e enfrentar o terrorismo.
Embora esse fortalecimento da Rússia no cenário mundial não agrade Bruxelas e Washington, as ações de Moscou ajudam a defender a segurança internacional. O principal resultado das reformas militares do Kremlin é a capacidade de garantir a segurança de seus aliados, eliminar a fonte de tensão na Eurásia e impedir guerras híbridos em seu território.

O fortalecimento dos departamentos militares através da criação da Guarda Nacional impedirá o nascimento de uma "revolução colorida" na Rússia. Além disso, o extremamente móvel Exército russo poderia se tornar um valioso aliado dos países ocidentais no esforço de garantir a segurança e estabilidade no mundo. Nas condições atuais da crise de imigração e da instabilidade no norte de África e no Oriente Médio, a cooperação militar entre Moscou, Bruxelas e Washington se tornará cada vez mais importante.


Fonte: Gazeta Russa
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