A França deu início a uma nova era em sua estratégia de defesa com o início da construção do seu futuro porta-aviões de propulsão nuclear de nova geração (PA-NG), no estaleiro do Naval Group em Cherbourg. A soldagem da primeira chapa de aço, realizada recentemente, marca o ponto de partida físico de um dos projetos militares mais ambiciosos da Europa contemporânea, um navio de guerra que, quando concluído, será o maior já construído no continente.
O início da construção foi confirmado pela Direção Geral de Armamentos (DGA) e pela TechnicAtome, empresa responsável pelo sistema de propulsão nuclear. O marco ocorre em um momento em que a França busca reafirmar seu papel como potência marítima e nuclear, mesmo em meio a restrições fiscais e desafios econômicos internos. O agora primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, à época ministro da Defesa, já havia anunciado que 2025 seria o ano de notificação do pedido formal do PA-NG aos industriais, consolidando o compromisso político e financeiro com o programa.
Com orçamento de 50,54 bilhões de euros destinado à Defesa em 2025, um dos poucos poupados das medidas de austeridade, o governo francês aposta na Lei de Programação Militar 2024-2030 para garantir recursos contínuos ao desenvolvimento do novo porta-aviões. O PA-NG vai muito além da substituição do atual Charles de Gaulle, previsto para deixar o serviço ativo em 2038. Trata-se de um projeto de aproximadamente 80.000 toneladas e 310 metros de comprimento, que representará um salto qualitativo na capacidade naval e na autonomia estratégica da França.
O futuro navio será equipado com dois reatores nucleares K22 de nova geração, desenvolvidos pela TechnicAtome, cada um com potência térmica estimada em 225 megawatts, 50% superior à dos reatores K15 utilizados no Charles de Gaulle. Essa potência adicional é necessária para alimentar o sistema de lançamento eletromagnético EMALS (Electro Magnetic Aircraft Launch System) e o sistema de recuperação AAG (Advanced Arresting Gear), ambos derivados da tecnologia empregada nos porta-aviões norte-americanos da classe Gerald R. Ford. Os reatores K22 proporcionarão velocidades de até 27 nós e uma autonomia de reabastecimento de cerca de dez anos, reforçando a excelência francesa em engenharia nuclear naval.
Do ponto de vista operacional, o PA-NG abrigará uma ala aérea composta por até 32 aeronaves de caça de nova geração, três aeronaves de alerta aéreo antecipado E-2D Hawkeye e diversos drones de apoio e vigilância. O lançamento do navio está previsto para 2036, com entrada em serviço em 2038, mas as etapas de produção seguem aceleradas. Em 2024, foi firmado um contrato de 600 milhões de euros destinado à aquisição antecipada de componentes críticos para o sistema de propulsão nuclear.
Atualmente, os trabalhos concentram-se na fabricação das câmaras dos reatores, consideradas o núcleo técnico do projeto e o elemento mais sensível do cronograma de produção. Paralelamente, o Ministério das Forças Armadas prepara uma ampla reestruturação logística na base naval de Toulon, que precisará recuperar entre 10 e 15 hectares do porto para acomodar o novo gigante. Essa adaptação inclui a construção de um cais e de uma bacia dedicados exclusivamente ao PA-NG, garantindo condições adequadas para os testes finais previstos para meados da década de 2030.
Com custo estimado em torno de 12 bilhões de euros, o programa PA-NG representa não apenas um investimento de longo prazo, mas também uma afirmação de soberania e continuidade estratégica. O projeto se insere em uma conjuntura na qual a França busca recompor suas capacidades após décadas de cortes estruturais nas Forças Armadas, marcadas pela redução de efetivos e fechamento de bases.
Mais do que um navio, o PA-NG simboliza o renascimento da capacidade industrial e tecnológica francesa no campo da defesa. Previsto para operar até meados da década de 2060, o novo porta-aviões será a peça central da marinha francesa e consolidará o país como uma das poucas nações do mundo capazes de projetar poder global sustentado por uma força aeronaval de propulsão nuclear.
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