O novo primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu, e seu gabinete renunciaram poucas horas após a formação do governo, em um episódio que se tornou o governo de menor duração da história moderna da França. Lecornu, quinto primeiro-ministro do presidente Emmanuel Macron em dois anos, permaneceu no cargo por apenas 27 dias, com o governo durando efetivamente 14 horas, refletindo profundas divisões políticas no parlamento francês.
A renúncia ocorreu após aliados e adversários ameaçarem derrubar o novo governo, levando Lecornu a afirmar que não conseguiria exercer suas funções em tais circunstâncias. A decisão impactou os mercados financeiros: o índice CAC 40 caiu quase 2% e o euro recuou 0,7%, negociado a US$ 1,1665.
Pressão da oposição e pedidos de eleições antecipadas
Lecornu culpou os egos e posições rígidas de partidos rivais por sua incapacidade de formar compromissos, enquanto integrantes de sua coalizão minoritária se concentravam em ambições presidenciais futuras, aumentando a fragmentação política.
A nova formação ministerial, anunciada após semanas de consultas políticas, provocou insatisfação tanto de aliados quanto de opositores, que consideraram o governo ou muito direitista ou insuficiente. Essa instabilidade levou à renúncia imediata e deixou a França em um momento de incerteza sem precedentes.
Contexto econômico e parlamentar
A instabilidade ocorre em meio a um cenário econômico delicado: a dívida francesa chegou a 113,9% do PIB e o déficit público quase dobrou o limite de 3% definido pela União Europeia. O mercado reagiu negativamente, refletindo preocupações sobre a governança e a capacidade do país em controlar suas finanças.
O sistema presidencial da Quinta República, criado em 1958 para garantir estabilidade com um executivo forte e maioria parlamentar consolidada, mostra-se hoje fragilizado. Macron enfrenta desde 2022 um parlamento fragmentado, sem maioria clara, tornando a construção de consensos um desafio constante.
O presidente Macron ainda não se pronunciou publicamente sobre a renúncia de Lecornu. Entre as opções estão: nomear outro primeiro-ministro, político ou tecnocrata, convocar novas eleições parlamentares ou permanecer no cargo até o final do mandato, em maio de 2027.
Análise do GBN Defense
A crise política francesa evidencia a tensão entre o modelo centralizado da Quinta República e a realidade de um parlamento fragmentado. Dados oficiais mostram que desde 2022, nenhum partido detém maioria absoluta, dificultando a aprovação de políticas fiscais e reformas necessárias. A dívida pública acima de 110% do PIB e o déficit elevado reforçam a urgência de estabilidade política para garantir confiança de investidores e a manutenção do papel da França como segunda maior economia da zona do euro.
Historicamente, governos franceses duradouros dependem de coalizões sólidas ou de maiorias parlamentares claras, o que não ocorre atualmente. A repetida troca de primeiros-ministros e a incapacidade de Lecornu de formar um gabinete funcional evidenciam que a instabilidade não é apenas conjuntural, mas estrutural, relacionada à fragmentação do legislativo e à dificuldade de construir consensos duradouros.
Fontes oficiais, como o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos da França (INSEE), e dados do FMI confirmam que a economia do país permanece relativamente estável, mas vulnerável a choques políticos, que afetam diretamente o euro e os mercados europeus. A crise atual reforça que qualquer avanço nas reformas fiscais e sociais dependerá da capacidade de Macron ou de futuros governos em negociar com múltiplos atores parlamentares, num ambiente político cada vez mais polarizado e instável.
por Angelo Nicolaci
GBN Defense - A informação começa aqui
com Reuters
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