A parceria estratégica entre Brasil e Índia avança para um novo patamar no campo da defesa e tecnologia militar, consolidando o diálogo entre duas potências emergentes que compartilham o objetivo de autonomia estratégica e fortalecimento da base industrial de defesa.
Em missão oficial à Índia, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, reuniram-se nesta quarta-feira (15) em Nova Délhi com o ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, para discutir novos projetos de cooperação em áreas como aeroespacial, naval, interoperabilidade e transferência de tecnologia.
Segundo Alckmin, o encontro representa uma oportunidade de alinhar políticas de defesa baseadas na cooperação Sul-Sul e no desenvolvimento de capacidades industriais e científicas próprias. “É uma grande satisfação reforçar o diálogo entre Brasil e Índia na área de defesa, setor em que compartilhamos uma visão de autonomia estratégica, cooperação tecnológica e equilíbrio global”, afirmou o vice-presidente.
Avanços em programas navais e aeroespaciais
Entre os temas centrais da reunião, destacou-se a cooperação entre as Marinhas do Brasil e da Índia na manutenção e modernização dos submarinos da classe Scorpène, de origem francesa, em operação nas duas esquadras. O compartilhamento de experiências logísticas e de suporte técnico visa otimizar custos e ampliar a autossuficiência operacional dos programas navais.
Outro ponto de convergência é o interesse indiano na aquisição de seis aeronaves Embraer E-145, a serem convertidas em plataformas AEW&C (Alerta Aéreo Antecipado e Controle) EMB-145I “Netra”. O projeto reforça o papel da Embraer como provedora global de soluções de defesa integradas, oferecendo sistemas adaptáveis às necessidades regionais e consolidando a presença brasileira no competitivo mercado indiano.
Em paralelo, a Embraer abriu um escritório regional em Nova Délhi, sinalizando a intenção de expandir sua atuação na Ásia e de fortalecer laços com a Mahindra Systems, parceira indiana com potencial para coprodução do cargueiro tático C-390 Millennium. A aeronave, que já desperta o interesse de diversas forças aéreas ao redor do mundo, é vista como uma opção estratégica para a Índia substituir parte de sua frota de transporte tático e ampliar suas capacidades de resposta rápida.
Construção de autonomia e integração tecnológica
Para o ministro José Múcio Monteiro, o encontro foi um passo decisivo para transformar o diálogo político em resultados práticos. “Já estivemos com todos os comandantes aqui conversando, cada um com as suas áreas específicas. Faltava que eu viesse aqui para que essas coisas fossem implementadas”, destacou.
O ministro também confirmou que as conversas incluem a ampliação de programas de treinamento conjunto, operações combinadas e intercâmbio técnico entre as forças armadas dos dois países, pilares que fortalecem a interoperabilidade e o conhecimento mútuo.
De acordo com o vice-presidente Alckmin, há grande espaço para parcerias industriais, coprodução de equipamentos e transferência de tecnologia em sistemas aéreos, radares, munições e veículos blindados. “Acreditamos que Brasil e Índia compartilham a mesma ambição de desenvolver uma capacidade autônoma de defesa, ancorada na confiança mútua e na busca de soluções tecnológicas próprias”, afirmou.
Dimensão geopolítica e estratégica
A aproximação Brasil–Índia ocorre em um momento de reconfiguração do equilíbrio global, em que ambos os países buscam reduzir dependências tecnológicas e diversificar parcerias. A cooperação em defesa se insere em uma agenda mais ampla de alinhamento político e econômico, consolidada em fóruns como BRICS, G20 e IBAS (Índia, Brasil e África do Sul).
A missão brasileira à Índia também dá continuidade às decisões tomadas durante o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro Narendra Modi, em julho. Na ocasião, ambos os líderes reafirmaram o objetivo de elevar o comércio bilateral para US$ 20 bilhões até 2030 e iniciar negociações para a ampliação do Acordo de Comércio Preferencial Mercosul–Índia ainda este ano.
Além de fortalecer laços industriais e militares, a parceria se estrutura em cinco eixos estratégicos: defesa e segurança; segurança alimentar e nutricional; transição energética e mudança do clima; transformação digital e tecnologias emergentes; e parcerias industriais em setores estratégicos.
Projeção internacional e defesa cooperativa
A cooperação em defesa entre Brasil e Índia não se limita à aquisição de equipamentos, mas busca criar uma plataforma de desenvolvimento tecnológico compartilhado, fortalecendo a indústria nacional de ambos os países. O modelo proposto pode servir de referência para o BRICS, estimulando uma integração produtiva em defesa entre as potências emergentes.
Com trajetórias semelhantes, na busca por autossuficiência militar e protagonismo regional, Brasil e Índia se posicionam como atores-chave na construção de uma nova arquitetura de segurança global, baseada na cooperação, soberania e desenvolvimento conjunto.
por Angelo Nicolaci
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com MRE
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