O avanço da indústria de defesa brasileira é, acima de tudo, fruto direto das necessidades estratégicas das Forças Armadas. Projetos emblemáticos como o Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP), o kit de guiamento Dagger e o sistema ASTROS são exemplos claros de como a busca por autonomia operacional impulsiona o desenvolvimento tecnológico do país.
Outro exemplo de avanço tecnológico é o Dagger, desenvolvido pela Mac Jee, que representa um salto na capacidade de emprego de armamentos guiados de precisão. O sistema transforma bombas convencionais da série MK-80 em munições inteligentes, capazes de atingir alvos terrestres ou marítimos com grande precisão, ampliando a flexibilidade operacional e reduzindo danos colaterais.
Esses programas demonstram que o desenvolvimento de tecnologias estratégicas nasce de dentro das Forças Armadas, orientado por suas demandas e objetivos operacionais. Nenhuma transferência de tecnologia ou comercialização de produtos ocorre sem o aval do Ministério da Defesa, garantindo que o conhecimento e as capacidades sensíveis permaneçam sob controle nacional.
Um exemplo emblemático da importância dessa preservação é o caso da antiga Mectron. Mesmo após o encerramento de suas atividades, seus projetos e materiais permanecem sob custódia das Forças Armadas, evidenciando que o conhecimento e a expertise acumulados não se perdem nem podem ser simplesmente vendidos. Eles continuam sendo patrimônio estratégico do Estado brasileiro, prontos para subsidiar futuras iniciativas e contribuir para novos desenvolvimentos.
O verdadeiro valor da soberania tecnológica não está apenas nas máquinas, mas nas pessoas capacitadas que as concebem, aprimoram e aplicam. Engenheiros, técnicos e pesquisadores são o coração dessa capacidade tecnológica nacional, e sua manutenção no país é o que garante o avanço contínuo e independente de nossa Base Industrial de Defesa (BID).
Entretanto, o Brasil enfrenta um desafio crescente: manter seus profissionais altamente qualificados diante de ofertas e propostas de grandes empresas estrangeiras, como Boeing e outras gigantes do setor aeroespacial e de defesa, que buscam atrair engenheiros e especialistas brasileiros. Essa fuga de cérebros, motivada muitas vezes por melhores salários e infraestrutura, representa uma ameaça direta à BID e, por consequência, à soberania tecnológica nacional. Proteger e valorizar esses talentos é tão estratégico quanto desenvolver novas tecnologias, pois sem eles, nenhum programa de defesa se sustenta.
Para que essa engrenagem continue girando, é fundamental que exista previsibilidade orçamentária, continuidade nos programas estratégicos e um compromisso real do governo com a BID. Investimentos consistentes em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D), assim como apoio às universidades e centros de excelência, são essenciais para formar novos quadros técnicos e científicos, garantindo que o Brasil siga produzindo conhecimento e dominando tecnologias sensíveis.
A soberania não se sustenta sem tecnologia, e tecnologia não floresce sem investimento. Por isso, mais do que um discurso, o fortalecimento da defesa deve ser tratado como política de Estado, blindada de interesses partidários e ideológicos, e voltada à construção de um futuro no qual o Brasil dependa cada vez mais de sua própria capacidade tecnológica, e menos da vontade ou restrições impostas por terceiros.
por Angelo Nicolaci
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