O sistema de navegação e pouso Rezistor-E, de fabricação russa, instalado nos porta-aviões da Marinha Indiana, enfrenta graves problemas de funcionamento, levantando dúvidas sobre a capacidade de combate da frota naval indiana. As falhas técnicas foram relatadas especialmente no novo porta-aviões INS Vikrant, afetando o complexo radiotécnico responsável pelo controle de voo e pelas manobras de aproximação de aeronaves a bordo.
Os dados sobre as deficiências do sistema surgiram a partir de documentos confidenciais russos divulgados pelo grupo de hackers Black Mirror, envolvendo correspondências internas entre a Rosoboronexport, agência estatal russa de exportação de armamentos, e a KRET, conglomerado industrial que inclui a fabricante Rezistor-E, a NIIIT-RK. Especialistas militares ucranianos da Defense Express analisaram os documentos, que datam de 5 de setembro de 2023, mostrando que os problemas persistiam pelo menos dois anos após a entrega do INS Vikrant.
Segundo os documentos, a situação só poderia ser remediada com substituição de peças, mas a entrega foi adiada, atrasando o pleno funcionamento do sistema. Apesar do navio ter sido entregue oficialmente em 28 de julho de 2022 e declarado operacional em 2 de setembro de 2022, fontes internas indicam que, no verão de 2023, o Rezistor-E ainda apresentava falhas críticas. O primeiro pouso de um MiG-29K no INS Vikrant ocorreu em fevereiro de 2023, mas a capacidade operacional plena, anunciada oficialmente em novembro do mesmo ano, é contestada pelos documentos internos russos.
O impacto desse problema é estratégico. O INS Vikrant, além de simbolizar a ambição marítima da Índia, custou cerca de US$ 3 bilhões e é a plataforma de operações de aeronaves como MiG-29K, helicópteros MH60R, Kamov, Sea King, Chetak e ALH. O mesmo sistema Rezistor-E também equipa o INS Vikramaditya, antigo porta-aviões indiano, o que representa uma vulnerabilidade potencial para toda a frota de porta-aviões indianos.
Além do caso do INS Vikrant, os documentos refletem uma tendência mais ampla, a dependência crescente da Rússia de clientes externos, especialmente a Índia. Projetos de alta complexidade tecnológica, como a aeronave de 5ª geração Su-57, enfrentam atrasos significativos, e a Índia surge como possível salvadora do programa, caso aceite participar do desenvolvimento, obtendo acesso a aviônicos, dados de missão e integração de armas. No entanto, isso implica riscos para a Rússia, incluindo a exposição de tecnologias sensíveis em um cenário de ameaças cibernéticas globais.
Análise do GBN Defense
O incidente com o Rezistor-E evidencia que a Índia enfrenta vulnerabilidades críticas em sua capacidade de projeção naval e aérea, mesmo com plataformas modernas. O fato de que sistemas de navegação essenciais podem permanecer parcialmente inoperantes meses após a entrega sugere desafios na aquisição de tecnologia estrangeira, especialmente de fornecedores cuja produção enfrenta problemas estruturais, como a Rússia, que esta sob diversas sanções.
Estratégicamente, o caso destaca duas lições: primeiro, a Índia precisa diversificar suas fontes de tecnologia militar e investir no desenvolvimento de sistemas nacionais, mitigando riscos de dependência. Segundo, a Rússia tem demonstrado dificuldades em entregar aos seus clientes, sistemas com segurança e consistência, levantando dúvidas com relação não apenas ao material de defesa de sua indústria, como também no pós-venda. O terceiro ponto é o dilema que se encontra a Rússia, onde uma das saídas para a situação complexa que se encontra devido as sanções impostas diante da invasão da Ucrânia, é a cooperação com clientes externos como a Índia, o que pode salvar programas complexos como o Su-57, mas também expor segredos industriais críticos.
No contexto regional, qualquer falha operacional no INS Vikrant ou no INS Vikramaditya pode impactar a dissuasão naval da Índia no Oceano Índico, especialmente diante do aumento da presença chinesa e de operações combinadas com aliados. Assim, a correção e atualização do Rezistor-E é não apenas uma questão técnica, mas uma prioridade estratégica para a Marinha Indiana.
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