O governo do Canadá está pressionando a Lockheed Martin por maiores retornos econômicos antes de concluir o contrato de US$ 27,7 bilhões para a aquisição de 88 caças F-35. A Ministra da Indústria, Mélanie Joly, indicou que Ottawa pode reduzir o número de aeronaves do modelo americano e incorporar o Gripen E, da sueca Saab, caso não sejam oferecidos melhores termos de compensação industrial.
A possibilidade reacende o debate sobre a importância de acordos que garantam benefícios econômicos e tecnológicos concretos para o país comprador. Segundo Joly, a Saab se mostrou disposta a montar os Gripens em território canadense, agregando valor à indústria nacional. “Enquanto o primeiro-ministro avalia as opções, meu objetivo é garantir que o dinheiro dos contribuintes seja investido com sabedoria, criando empregos e reduzindo nossa dependência dos Estados Unidos”, afirmou a ministra.
O primeiro-ministro Mark Carney iniciou uma revisão do contrato em março, em meio a tensões comerciais entre os EUA e o Canadá. O governo agora considera duas opções: assegurar mais benefícios econômicos com a Lockheed Martin e manter o pedido integral dos F-35, ou adotar uma frota mista, reduzindo a quantidade de caças americanos e incorporando o Gripen E.
Embora os canadenses mantenham a preferência pelos F-35, enfatizando a necessidade de aeronaves de quinta geração frente a ameaças da China e da Rússia, o Gripen-E desponta como uma alternativa estratégica. Com custos de aquisição e operação mais baixos, manutenção simplificada e alta interoperabilidade, o caça sueco tem conquistado atenção por sua filosofia de constante evolução tecnológica.
Representantes da Saab destacam que o Gripen foi concebido para adaptação contínua: “Na Saab, deixamos de falar em ‘gerações’ há anos. A tecnologia do Gripen E pode ser aprimorada quase diariamente, permitindo ao operador acompanhar a evolução das ameaças”, afirmou Sierra Fullerton, porta-voz da Saab Canadá.
Além do desempenho técnico, a proposta da Saab se destaca pelo potencial industrial. A empresa ofereceu ao Canadá a criação de uma linha de montagem local, modelo semelhante ao que já foi implementado com sucesso no Brasil.
O Brasil, parceiro estratégico da Saab, é hoje um dos principais polos da cadeia global de produção do Gripen. O país conta com uma linha de montagem final em Gavião Peixoto (SP) e uma fábrica de aeroestruturas em São Bernardo do Campo (SP), responsáveis por produzir componentes estruturais essenciais para aeronaves entregues tanto à Força Aérea Brasileira quanto a futuros clientes internacionais.
Essa estrutura industrial brasileira é fruto direto da transferência de tecnologia promovida pelo programa Gripen, que permitiu ao país absorver conhecimento de engenharia avançada, desenvolver fornecedores locais e fortalecer sua Base Industrial de Defesa (BID). A experiência nacional se tornou uma referência de como um programa de defesa pode gerar benefícios de longo prazo, promovendo inovação, empregos qualificados e autossuficiência tecnológica.
Para o Canadá, uma parceria com a Saab nos moldes brasileiros representaria a oportunidade de criar uma base industrial de defesa sólida, reduzindo dependências externas e ampliando sua capacidade tecnológica.
Enquanto as discussões avançam, especialistas lembram que a pressão sobre a Lockheed Martin pode render novos benefícios econômicos, mas também reforçam que o Gripen se mostra uma alternativa inteligente, não apenas pelo desempenho, mas pela capacidade de impulsionar o desenvolvimento industrial e tecnológico dos países parceiros.
por Angelo Nicolaci
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com CBC News
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