quinta-feira, 26 de julho de 2018

F-35A chegará ao custo de 80 milhões por aeronave?

Há muito que se falar com relação ao programa norte americano de quinta geração F-35 Lightning II JSF, sem sombra de dúvidas o mais problemático e caro programa que o governo dos EUA teve até hoje. Como todos sabemos, o Lockheed Martin F-35 em suas três variantes desenvolvidas visando atender uma ampla gama de missões e operadores, superou e muito todas as estimativas de custos, sofrendo severas críticas, as quais ganharam ainda mais vulto tendo em vista sucessivos problemas técnicos e atrasos no desenvolvimento da aeronave. Onde mesmo tendo entregue dezenas de exemplares, as mesmas ainda estão muito longe do esperado em termos de capacidades e custos.

Há poucos dias fora publicado na Aviation Week, renomada mídia norte americana, uma reportagem tratando das perspectivas de custo relativos ao F-35A para os próximos lotes, e as informações divulgadas não são uma grande surpresa para que possui algum embasamento técnico e econômico com relação ao cumprimento das metas estimadas para que a aeronave chegasse ao custo unitário de 80 milhões de dólares até 2020. Meta essa que pelo que foi apurado, esta muito longe de ser alcançado, jogando por terra diversos argumentos levantados em defesa desta aeronave no mercado internacional, onde a mesma disputa várias licitações na Europa. 

Segundo dois relatórios emitidos por grupos de estudo distintos do próprio Pentágono, ambos apresentam valores ainda distantes do que se esperava obter, ainda sendo de grande relevância citar a discrepância enorme que foi registrada entre ambos relatórios, com relatório emitido pelo Joint Program Office (JPO) dando conta de uma redução nos custos do programa de cerca de 1,2 bilhões de dólares, enquanto o relatório emitido pelo "Cost Assessment and Program Evaluation" (CAPE) office, apresenta uma redução de apenas 595 milhões de dólares, uma diferença muito díspar, que levanta enormes dúvidas sobre o real custo e previsões acerca do programa JSF.

Os relatórios, acompanhados da posição do congresso norte americano, que impôs como condição para que sejam realizadas novas encomendas da aeronave após a conclusão do lote 10, as quais exigem que sejam concluídos os testes operacionais e que se cumpram os requisitos propostos pelo programa, para só então proceder em novas aquisições. O que pode significar uma redução na produção da aeronave, o que significa um revés na esperada redução nos custos de produção.

Devemos observar que o próprio congresso dos EUA esta acompanhando com certo ceticismo, principalmente após os relatórios apresentares dados tão discrepantes. Se nos atermos aos dados mais modestos, emitido pelo CAPE, a redução prevista no custo unitário do F-35 esta muito distante dos propalados 6%, tendo registrado apenas 1,5% de redução nos custos,o que significa 1,3 milhões por aeronave.

A Lockheed Martin e seus parceiros investiram aproximadamente 165 milhões de dólares na otimização de processos de fabricação, o que inclui ferramental e processo de montagem,mas ao que apontam os relatórios essas medidas apesar de terem obtido uma economia que pode chegar aos 4 bilhões no montante total do programa, ainda esta distante da meta prevista para o período compreendido entre 2018-2020, onde esta prevista a aquisição de 442 aeronaves, com custo unitário estimado de 90,5 milhões de dólares se confirmadas as estimativas iniciais apresentadas.

O F-35 ainda pode sofrer algum revés, tendo em vista algumas alterações em suas encomendas, principalmente levando em consideração o anuncio recente do governo italiano de abandonar o programa, cancelando suas intenções de futuras compras e inclusive estudando um possível cancelamento da aquisição em andamento. Outro ponto relevante que pode impactar negativamente o volume de produção, é o atrito entre Ancara e Washington, onde o congresso dos EUA já apresentou a negativa de proceder na entrega das aeronaves á Turquia, caso essa insista na aquisição do sistema de defesa aérea russo S-400. O Reino Unido ao que tudo indica, também aponta para uma menor participação no programa, não devendo ampliar sua encomenda, ou mesmo ocasionalmente reduzir sua intenção de compra, principalmente após o anúncio durante a última edição do  Farnborough International Airshow, onde apresentou seu programa "Tempest", o qual deve ganhar mais espaço se realmente alcançar o proposto com relação á custos e capacidade operacional.

Mas há também outros pontos que podem atuar em favor do F-35, com a aeronave sendo objeto de avaliação em vários países europeus, como Bélgica, Alemanha, Finlândia e recentemente a Suíça, que manifestaram interesse na aeronave norte americana, apesar que, o volume previsto não cobriria o déficit deixado pela saída da Itália e Turquia do programa.


Estamos claramente diante de uma série de possibilidades, porém, temos que ser realistas quando falamos em custos de produção e operação, pois não é nada fácil alcançar as metas de custos dentro de um programa como o JSF, tendo em vista a complexidade que se impôs a esta aeronave, o que podemos comparar com o contra-ponto russo, onde o Su-57 recentemente teve anunciado a postergação de sua produção em série, sendo inicialmente limitado á 12 exemplares de pré-série, o que se justifica pela visão estratégica de conter os altos custos envolvidos no desenvolvimento da nova aeronave, a qual na experiência russa, ainda apresenta uma série de acertos necessários aos seus sistemas, em especial quanto a motorização, o que ainda levará alguns anos para ser sanado. Assim, diferente dos EUA e seus parceiros, os russos preferiram adiar a sua produção em série, ao invés de iniciar a produção em série de uma aeronave com uma série de "problemas" a serem solucionados, diferente do que foi optado pelo F-35, resultando em algumas centenas de aeronaves que logo deverão passar por uma série de refits e modernizações afim de atender aos requisitos esperados e principalmente sanar algumas deficiências crônicas no seu projeto inicial, o que pode representar um custo adicional ao programa que ainda não entrou na conta, neste ponto os russos foram bastante conservadores e limitaram em 12 unidades para concluir o desenvolvimento e sanar as deficiências identificadas antes de iniciar a produção em série, mas cabe ressaltar que são duas economias e orçamentos diferentes, onde os EUA possuem um orçamento de centenas de bilhões, muito acima do que os russos destinam.

Quando tratamos de programas militares, é preciso ter a consciência do seguinte fato, no papel tudo é possível, os custos são "X", porém, quando passamos a execução do mesmo, podemos nos deparar com ingratas surpresas que podem elevar demasiadamente os custos previstos e atrasar a entrada em operação do meio objetivado, muitas das vezes resultando em meios que estão aquém do esperado inicialmente.



Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança

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Com informações da Aviation Week





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