sexta-feira, 5 de junho de 2015

Todos os conflitos levam a Kalashnikov

No início do século 19, a Rússia Imperial enfrentava sérios problemas na fabricação de armas de fogo.  Havia apenas duas fábricas de armamento no país: uma em Tula e outra em Sestroretsk. Além disso, a maioria dessas armas era fabricada artesanalmente e isso se repercutia na qualidade.

O Exército russo pouco tinha para contrapor ao rifle francês do modelo de 1777 – o melhor da época. A Rússia tinha ao seu serviço armas com 28 calibres diferentes, o que dificultava o seu conserto e o fornecimento de munições às tropas. Não havia tempo nem capacidade para solucionar rapidamente tal situação.

Com crescentes ameaças de fora, o governo ordenou, então, que se desse início à construção de mais fábricas de armamento. Uma delas foi implantada nas florestas dos Urais, às margens do rio Ij. No local já existia uma metalúrgica, em torno da qual se formara um pequeno povoado. A nova direção deu fôlego ao espaço, que já estava entrado em decadência. A fábrica de armas se transformou, assim, no núcleo da futura cidade de Ijevsk.

Fato é que essa região não podia ser mais apropriada para a produção de armas. Ali ao lado havia abundância de matéria-prima – o ferro dos Urais – e combustível – as florestas circundantes para a produção de carvão vegetal. Como o rio Ij deságua no Kama, que, por sua vez, deságua no Volga, a via fluvial era um modo prático de transporte para entrega do produto final pelo país.

A estruturação da fábrica foi supervisionada pelo engenheiro A.F. Deriabin, que tinha pela frente a tarefa ambiciosa de desenvolver – praticamente do zero e em um curto espaço de tempo – um ciclo completo de fabricação de armas com produtividade inédita na Rússia de então. Integrado ao complexo da fábrica foi criada toda uma série de oficinas especializadas, onde eram fabricados componentes variados. Muitos estrangeiros que compartilhavam a sua experiência com os armeiros locais acabaram sendo atraídos para trabalhar ali.

Fábrica de cidade

Em 1812, a fábrica, que mal tinha acabado de completar cinco anos de existência, já produzia armas em massa. Até o início da guerra contra Napoleão foram produzidas 2.000 espingardas de calibre 17,7 mm do modelo de 1808. Em termos de qualidade, esses modelos não ficavam atrás dos modelos franceses. Durante os anos de guerra que se seguiram, a fábrica forneceu outras 6.000 armas.

Além disso, ali também eram produzidas carabinas para a cavalaria, pistolas e armas brancas – espadas, sabres, baionetas e facões. A fábrica aumentou rapidamente os volumes de produção, conseguindo, 25 anos após a sua abertura, fornecer 25.000 rifles anualmente. Em 1836, bateu o recorde absoluto entre todas as empresas armeiras russas, com mais de 30.000 unidades de armas de fogo produzidas. Paralelamente, a cidade ia crescendo pouco a pouco ao redor da fábrica.

Entre 1853 e 1856, a Rússia travou a exaustiva Guerra da Crimeia, na qual o seu Exército esteve direta ou indiretamente a quase todas as grandes potências militares da Europa. Foi justamente nessa época que surgiram surgem as novas armas de Ijevsk – até o início da guerra cerca de 40.000 unidades foram fabricadas. Nos três anos de confronto, Ijevsk forneceu ao Exército mais de 130 mil armas de fogo.

Enfim, Kalashnikov

Em 1867 se deu uma das primeiras experiências de privatização da propriedade estatal na Rússia – a fábrica de Ijevsk passou a ser alugada por clientes privados. Poucos anos depois, o capital privado transformara seriamente a forma de produção. O resultado foi um impressionante crescimento da indústria: cerca de 160.000 rifles foram produzidos em 1878.

Mas, por decreto imperial, a fábrica foi devolvida ao Tesouro em 1884 para que ali fosse desenvolvida a produção em larga escala do novo fuzil automático russo. O modelo era fabricado segundo o projeto do engenheiro Mosin, o famoso Fuzil de Terceira Linha, que veio a se tornar o principal artigo da fábrica na década seguinte.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Ijevsk produzia diariamente 2.000 fuzis – e entre 1914 e 1918 fabricou quase meio milhão de unidades. A fábrica sobreviveu também à Guerra Civil, depois da qual adotou uma nova linha: a produção de armas de caça, ainda hoje consideradas as melhores da Rússia.

O modelo de Mosin se tornou uma das principais armas dos soldados soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial, mas o boom da fábrica ocorreu nos anos do pós-guerra, quando o armeiro Mikhail Kalashnikov estabeleceu ali a produção do seu lendário fuzil.

Com produção em série iniciada em 1949, o fuzil Kalashnikov se tornou, em pouco tempo,  a marca registrada da fábrica. Em homenagem a tamanho sucesso da arma, o grupo recebeu o nome pelo qual é atualmente conhecido: Consórcio Kalashnikov, a maior empresa russa de produção de armas de fogo, com exportação para mais de 30 países.

Fonte: Gazeta Russa
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