Nas últimas semanas, o jornalista Luís Nassif publicou dois artigos no Jornal GGN — “MANSUP: Quando o orgulho nacional muda de bandeira” e “A desnacionalização silenciosa da tecnologia de defesa brasileira” — nos quais sugere que o Brasil teria perdido o controle sobre o Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP), insinuando uma suposta desnacionalização da tecnologia e comprometimento da soberania. Contudo, ao analisar os fatos e os dados técnicos disponíveis, fica evidente que tais afirmações não se sustentam, tratando-se de opiniões sem lastro na realidade, distantes do que efetivamente ocorre no setor de defesa brasileiro.
O MANSUP foi concebido como um míssil antinavio 100% nacional, fruto da cooperação entre a SIATT, a Avibras, a Omnisys e a Marinha do Brasil. Desde sua gênese, a propriedade intelectual do MANSUP pertence à Marinha do Brasil e foi licenciada para a SIATT produzir e comercializar tanto no mercado nacional quanto internacional. A Omnisys é responsável pelo desenvolvimento do autodiretor do míssil, garantindo tecnologia de ponta em guiagem e precisão. Isso significa que o Brasil não perdeu controle algum sobre a tecnologia desenvolvida. Ao contrário, a consolidação do MANSUP representa um marco de soberania, colocando o país no seleto grupo de nações capazes de desenvolver armamento antinavio de forma independente. O contrato que regula essa licença foi assinado em 2024, garantindo formalmente os direitos da Marinha e a operação da SIATT como produtora e distribuidora do sistema.
Em setembro de 2023, a EDGE Group, conglomerado de defesa dos Emirados Árabes Unidos, adquiriu 49,9% do capital da SIATT, enquanto os acionistas fundadores brasileiros mantêm os outros 50,1%. A EDGE Group conta com 40% do capital votante, enquanto os outros 60% do capital votante, permanecem nas mãos dos acionistas fundadores brasileiros da SIATT. Essa estrutura acionária garante que, apesar da parceria estratégica com o EDGE Group, a SIATT continue sendo uma empresa nacional, sob controle majoritário brasileiro. Além disso, o projeto MANSUP-ER, que utiliza tecnologia derivada do MANSUP, está sendo financiado pelo EDGE. Assim, a propriedade intelectual do MANSUP-ER será compartilhada entre a SIATT, a Marinha do Brasil e o EDGE, respeitando a proporção de investimento de cada parte no desenvolvimento do sistema. Essa parceria visa fortalecer a capacidade de exportação da empresa e ampliar a cooperação internacional, sem comprometer a soberania tecnológica nacional.
A evolução natural do projeto deu origem ao MANSUP-ER (Extended Range), com alcance ampliado para cerca de 200 km. Nessa fase, houve ampliação de cooperação com parceiros internacionais, mas sem qualquer perda de soberania. A SIATT detém participação direta na concepção e no desenvolvimento, compartilhando propriedade intelectual e industrial da versão estendida. Trata-se de uma prática comum em programas de defesa de alta complexidade, que garante acesso a tecnologias críticas ao mesmo tempo em que preserva a participação brasileira como parceiro estratégico. Portanto, ao contrário da narrativa de Nassif, o que existe não é desnacionalização, mas sim cooperação tecnológica estruturada, que fortalece a capacidade nacional e garante evolução contínua do programa.
Além disso, a SIATT desenvolveu a variante do MANSUP lançável a partir da plataforma ASTROS, já integrada às capacidades de defesa costeira do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Essa adaptação permite a utilização do míssil em operações terrestres, ampliando sua versatilidade e reforçando a defesa nacional, sem comprometer a soberania tecnológica.
Outro equívoco nos textos do jornalista é insinuar que a SIATT teria perdido caráter nacional. A realidade é que a SIATT segue sendo empresa brasileira, estratégica e sob controle nacional, responsável por diversos programas cruciais de defesa, como o próprio MANSUP, o ATGM MAX 1.2AC, sistemas de guiagem e integração tecnológica avançada, como é o caso da integração do MANSUP a plataforma Astros. O investimento estrangeiro em empresas estratégicas de defesa é regulado e supervisionado pelo Estado brasileiro, sem abrir mão do controle sobre tecnologias sensíveis. Esse modelo permite a entrada de recursos e conhecimentos, mas sempre preservando a soberania.
O desenvolvimento do MANSUP colocou a Marinha do Brasil em um novo patamar, reduzindo dependências externas e garantindo ao país autonomia em um dos setores mais sensíveis da defesa. Com a versão original já consolidada, a variante ASTROS em operação pelo Corpo de Fuzileiros Navais, e a versão estendida em desenvolvimento, o Brasil assegura que sua frota naval e suas plataformas terrestres tenham meios modernos, eficazes e produzidos em território nacional, com participação ativa da indústria local.
As reportagens de Luís Nassif refletem opiniões pessoais, permeadas por filtros ideológicos, mas não correspondem à realidade factual do setor de defesa. O Brasil não apenas mantém pleno controle sobre o MANSUP como também participa da evolução do MANSUP-ER em posição estratégica. A SIATT continua sendo uma empresa nacional, atuando como guardiã e desenvolvedora de tecnologias críticas. O que se observa, portanto, é exatamente o oposto do que Nassif tenta sustentar: longe de uma desnacionalização, o programa MANSUP é símbolo de soberania, de fortalecimento tecnológico e da capacidade do Brasil em competir no cenário global de defesa.
por Angelo Nicolaci
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