Especialista em Defesa e Geopolítica fala sobre sua trajetória, os desafios do Brasil e os riscos da segurança internacional
Angelo Nicolaci é jornalista especializado em Defesa e Geopolítica, fundador do portal GBN Defense, que há 16 anos se consolidou como uma das principais referências em língua portuguesa sobre segurança, tecnologia militar e assuntos estratégicos. Reconhecido por suas análises isentas e coberturas de operações reais, Nicolaci é uma das vozes mais respeitadas no debate sobre Defesa no Brasil, completa neste domingo 21 de setembro, seus 43 anos de vida.
Desde cedo interessado em geopolítica e assuntos militares, Nicolaci tem se dedicado a aproximar o público civil do universo militar, com análises que unem rigor técnico e visão estratégica. Nesta entrevista, ele fala sobre sua trajetória, avalia o cenário internacional e defende mudanças estruturais para o Brasil se consolidar como potência.
Como nasceu seu interesse pela área de defesa?
Desde os 12 anos eu sempre me interessei pela geopolítica e pela defesa. Lembro da Operação Tempestade no Deserto, quando a mídia acompanhou em tempo real as surtidas americanas contra o Iraque. Para mim, aquilo despertou não apenas a curiosidade pelos equipamentos, mas também pelos meandros por trás do conflito: o porquê de tudo e como funciona uma operação militar.
Quais foram os marcos da sua trajetória?
O ponto de virada foi em 2009. Eu sentia falta de um site voltado para discutir geopolítica com profundidade, estava cansado do “super-trunfo”, aquele olhar superficial, e decidi fazer algo diferente. Assim nasceu o projeto que hoje, após 16 anos, se consolidou como uma das melhores referências em conteúdo de defesa em língua portuguesa.
Qual o papel da mídia especializada em defesa no Brasil?
É fundamental. A mídia especializada é a ponte entre o público civil e as Forças Armadas. Quebra preconceitos e mostra a realidade. No Brasil, muita gente acha que militar só capina e pinta meio-fio. Mas, quando acompanham minhas coberturas de exercícios, manobras e operações reais, se surpreendem. O grande público raramente vê esse lado porque a mídia generalista não mostra. Nosso trabalho valoriza os militares e apoia o desenvolvimento da indústria de defesa, da tecnologia, da economia e até da posição internacional do Brasil.
Quais são hoje os pontos mais críticos para a segurança internacional?
O principal foco de tensão é a Ucrânia. Os últimos episódios de drones e aeronaves russas invadindo o espaço aéreo de membros da OTAN acionaram o Artigo 4, e isso pode escalar para um confronto direto entre a Rússia e a Aliança Atlântica. Outro ponto crucial é a questão de Taiwan, que envolve a China e suas ambições regionais.
E quais as principais lições da guerra na Ucrânia?
O emprego em larga escala de drones. Eles se tornaram divisores de águas, forçando mudanças de doutrina e desencadeando uma corrida tecnológica. São baratos em comparação a outros meios, mas alteram o equilíbrio no campo de batalha. É o velho conceito de “veneno e antídoto”.
Como avalia a resposta da OTAN diante da Rússia?
A OTAN tem sido cautelosa, e isso, em certo sentido, encoraja a ousadia russa. A invasão recorrente de espaços aéreos vizinhos é uma forma clara de testar tempo e forma de resposta da Aliança. Bem diferente do que vimos em 2015, quando um Su-24 russo invadiu o espaço aéreo turco e foi imediatamente abatido.
E o Brasil, qual deve ser sua prioridade estratégica?
O Brasil precisa mudar a percepção sobre defesa. Investir não é gastar, traz ganhos sociais, fortalece a economia e garante soberania. É preciso blindar o orçamento de defesa, dar previsibilidade e garantir fundos para programas de modernização.
O país tem potencial na indústria de defesa?
Com certeza. Basta ver a Embraer, a SIATT, a AKAER, a Mac Jee e outras empresas que já despertam interesse internacional. A AKAER, por exemplo, participa de programas de outros países, e a SIATT atraiu o grupo árabe EDGE como sócio. Isso mostra que o potencial existe, mesmo diante das incertezas orçamentárias.
E sobre a liderança do Brasil na América do Sul?
Temos uma posição natural de liderança. Mas precisamos parar de nos ver como “pincher” e nos enxergar como o doberman que realmente somos. Isso exige postura de potência, com respeito interno às instituições e menos permissividade a absurdos ideológicos e partidários. Só assim projetaremos força e confiança também para fora.
Que mudanças defende como políticas de Estado?
Precisamos criar mecanismos que blindem projetos estratégicos contra interferência político-partidária. Não é aceitável que programas de defesa sofram cortes ou interrupções por disputas ideológicas. Defesa precisa ser política de Estado, e não de governo.
Que conselho daria a jovens jornalistas ou analistas interessados na área?
É preciso se despir de ideologias, ser crítico e imparcial. Não é fácil, mas faz toda a diferença. Estudar muito, criar canais com a indústria de defesa e com as Forças Armadas, analisar fatos de todos os ângulos. Esse é o caminho para ganhar credibilidade e reconhecimento.
E, por fim, o que te motiva a continuar nesse trabalho?
Minha área não dá retorno financeiro e não tem glamour. Mas cumprir meu papel, levar informação de qualidade e ver o reconhecimento de leitores e autoridades de diferentes países não tem preço. Acredito que esse trabalho é fundamental para o futuro do Brasil e para a construção de um debate sério e estratégico sobre defesa e soberania.
Sobre o nosso editor
Para Nicolaci, a defesa deve ser encarada como política de Estado e prioridade nacional, e não como tema secundário sujeito a disputas partidárias. Ele defende que investimentos nessa área representam não apenas segurança militar, mas também ganhos sociais, tecnológicos e econômicos, capazes de gerar empregos qualificados, fortalecer a indústria nacional e projetar o Brasil no cenário global.
Seu trabalho busca justamente abrir esse debate com seriedade, estimulando uma reflexão madura sobre o papel do país no século XXI. Ao oferecer análises isentas e baseadas em fatos, Nicolaci conecta o público brasileiro às principais discussões internacionais, aproximando civis e militares e mostrando que a defesa é um dos pilares para garantir soberania, estabilidade e desenvolvimento.
Mais do que informar, sua atuação pretende formar consciência estratégica, contribuindo para que o Brasil se veja e seja visto como potência regional com capacidade de influência global. Nesse sentido, Nicolaci se coloca como voz ativa para construir pontes entre sociedade, Forças Armadas, indústria de defesa e tomadores de decisão, em busca de um país mais preparado para os desafios do presente e do futuro.
Por Sophya
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