quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dilma reage a espionagem e não irá aos EUA em outubro


Como os EUA não apresentaram "tempestiva apuração" da espionagem à Presidência do Brasil e à Petrobras e não se comprometeram a "cessar as atividades", Dilma Rousseff cancelou a viagem que faria a Washington em 23 de outubro. Formalmente, a ida está adiada, sem nova data.

As notas sobre o tema emitidas por Brasil e EUA são muito semelhantes e foram combinadas, mas divergem num detalhe crucial, a perspectiva de cooperação em Defesa --uma bilionária venda de caças ao Brasil era uma das prioridades americanas.

Seria uma viagem de Estado, a mais alta regalia concedida a estrangeiros. A mais recente de um brasileiro ocorreu em 1995, com Fernando Henrique Cardoso.

O cancelamento, antecipado pelo site da Folha no sábado, é uma resposta à revelação de que a NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) espionava alvos no governo, entre eles a própria Dilma. É a primeira retaliação concreta sofrida pelos EUA desde a revelação do esquema de espionagem pelo ex-agente de segurança Edward Snowden, em junho.

"As práticas ilegais de interceptação das comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros do governo brasileiro constituem fato grave, atentatório à soberania nacional e aos direitos individuais, e incompatível com a convivência democrática entre países amigos", diz a nota do Planalto.

E o texto continua para justificar o cancelamento alegando que "na ausência de tempestiva apuração do ocorrido, com as correspondentes explicações e o compromisso de cessar as atividades de interceptação, não estão dadas as condições para a realização da visita na data anteriormente acordada".

Ainda que o cancelamento tenha sido tomado por Dilma, o texto diz que o adiamento foi tomado de comum acordo com Obama.

Já a nota da Casa Branca ressalta a relação bilateral e reconhece as preocupações do Brasil.

O documento diz que Obama ordenou uma revisão nas práticas da inteligência americana, "mas o processo pode levar meses para ser concluído". "Por isso, os presidentes concordaram em adiar a visita de Estado", afirma.

BOEING
Na leitura comparada dos textos está o recado do Planalto: a versão brasileira cita cooperações entre os países, mas não fala na área de Defesa, como o americano.

Até a eclosão do escândalo, em junho, a Boeing tinha tomado o lugar da francesa Dassault como favorita na bilionária licitação para o fornecimento de 36 caças ao Brasil, com o F-18. Negócio de no mínimo R$ 10 bilhões.

Grande parte do favoritismo decorria do trabalho da empresa e de Washington para melhorar os termos da transferência de tecnologias associadas ao caça, ponto central da venda.

Segundo a Folha apurou, o recado é indicativo de que o negócio "subiu no telhado" --seja para um cancelamento definitivo, mais provável devido à dificuldade política de comprar um caça americano em meio a uma crise, seja para um adiamento na espera de ainda melhores condições de venda. Procurada, a Boeing não se manifestou.

Diferenças à parte, o teor diplomático calculado das notas foi combinado. Funcionários do Planalto e da Casa Branca trocaram suas versões dos textos e ensaiaram acordo em três pontos.

O primeiro deles foi o uso do verbo adiar. Segundo, a possibilidade de remarcação. Por fim, ambos falam na disposição de manter "relações estratégicas".
 
Fonte:Folha
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