sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Imprensa livre é imprensa privada?


A ideologia liberal – dominante nestes tempos – costuma caracterizar se um país é democrático, pelo seu regime político, fazendo suas perguntas clássicas: se há pluralismo partidário, separação de poderes no Estado, eleições periódicas e imprensa livre. Não contempla a natureza social do país, se há universalização de direitos básicos, se se trata de uma democracia social ou apenas do sistema político.

Um dos problemas dessa visão redutiva que marca o liberalismo, seccionando a esfera político-institucional do resto da formação social, é que vai buscar a resposta no lugar errado. Saber se um país é democrático é saber se sua sociedade é democrática. O sistema político é uma parte dela e deveria estar em função não de si mesmo, mas de criar uma sociedade democrática.

Mas o pior desses critérios é tentar fazer passar que imprensa privada é critério de democracia. Imprensa privada (isto é, fundada na propriedade privada, na empresa privada) como sinônimo de imprensa livre é uma contradição nos termos. Imprensa centrada na empresa privada significa a subordinação do jornalismo a critérios de empresa – lucro, custo-benefício, etc. . etc., a ser financiado por um dos agentes sociais mais importantes – as grandes empresas. O que faz com que a chamada imprensa “livre” seja, ao contrário, uma imprensa caudatária dos setores mais ricos da sociedade, presa a seus interesses, de rabo preso com as elites dominantes.

A chamada imprensa “livre” representa os interesses do mercado, dos setores que anunciam nos veículos produzidos por essas empresas, que são mercadorias, que transformam as noticias e as colunas que publicam em mercadorias, que são compradas e vendidas, como toda mercadoria.

Antes de serem vendidos aos leitores, os jornais – assim como os outros veículos – são primeiro vendidos às agencias de publicidade, que são os instrumentos fundamentais de financiamento da imprensa “livre”. “Um anúncio de uma página em Les Echos (publicação econômica francesa), com tarifa normal, rende mais do que a totalidade de suas vendas nas bancas” – diz Serge Halimi, em artigo no Le Monde Diplomatique de outubro.

São então “livres” de quê? Do controle social, da transparência do seu financiamento, da construção democrática da opinião pública. Prisioneiros do mercado, dos anúncios, das agências de publicidade, das grandes empresas privadas, do dinheiro.

Uma imprensa livre, democrática, transparente, não pode ser uma imprensa privada, isto é, mercantil. Tem que ser uma imprensa pública, de propriedade social e não privada (e familiar, como é o caso das empresas jornalísticas brasileiras).

A Conferência Nacional de Comunicacáo, a ser realizada em novembro, é um momento único para redefinir as leis brasileiras, promovendo a construção e o fortalecimento de uma imprensa realmente livre, democrática, transparente, pública.

Fonte: Agência Carta Maior

Nota do Blog: O mesmo se aplica aos Blogs que saem de sua origem pública e passam a ter caráter privado, cobrando de seus participantes para ter acesso ao que deveria ser livre. Nós do GeoPolítica Brasil defendemos a imparcialidade e o acesso livre a informação, tornando público e acessível o debate sobre as questões geopolíticas e estratégicas, onde cada um pode dar sua palavra independente de sua posição, pois aqui é um espaço para você leitor expressar sua liberdade.
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1 comentários:

  1. Angelo,

    concordo com vc.

    O diferencial da Interenet são duas coisas: a liberdade de interação e a gratuidade da informação.

    Ao se romper com isso, acaba o interesse público.

    Estamos vivendo uma mudança de rumos muito grande no tocante a circulação de informações. Não podemos mais pensar com a mesma cabeça da época do jornal impresso (que se cobra, para comprá-lo na banca, do leitor). Quem pensar assim, vai quebrar a cara.

    Existem alternativas muito mais viáveis para se manter jornais e blogs hoje em dia. Não precisamos retroceder ao velho hábito do tempo da imprensa escrita em papel, pois este tempo não volta mais. Já morreu.

    Por isso que discussões sobre a viabilidade econômica de blogs estão sendo feitas em Brasília e em todo lugar hoje em dia. Sabemos que vivemos uma outra era, que não é mais a era do papel impresso vendido nas bancas de jornais.

    abração

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