sábado, 10 de outubro de 2009

Entrevista de Bengt Janér, Diretor da Saab no Brasil




A declaração conjunta dos governos brasileiro e francês, no último 7 de Setembro, praticamente anunciou de maneira precoce o fim do processo seletivo do Projeto F-X2 e a vitória do Dassault Rafale na disputa para o fornecimento de 36 novas aeronaves de combate para a Força Aérea Brasileira. O “quase anúncio” pegou muita gente de surpresa, inclusive os outros dois concorrentes, Boeing e Saab. Com o esclarecimento, no dia seguinte, de que o processo continuava em aberto e que todos teriam direito a melhorarem suas propostas, a maioria das pessoas considerou que tratava-se apenas de uma mera formalidade e que o jogo já estava definido, sem chances de uma reviravolta.

Entre os que enxergaram uma nova oportunidade ao invés do fim, estava a sueca Saab. Mesmo enfrentando constantes declarações de autoridades brasileiras sobre a preferência do governo pela proposta francesa e sabendo que tudo continua apontando para a vitória do caça ofertado por Sarkozy, a empresa preparou uma grande ofensiva, apresentando uma proposta revisada e bastante ousada.

Disposta a reverter o favoritismo francês, a Saab apresentou em uma coletiva de imprensa, na última sexta-feira (2/10), os principais pontos da sua BAFO (Best And Final Offer), entregue no mesmo dia para a análise da Força Aérea Brasileira. Logo de início, uma sutil, mas simbólica mudança: o caça ofertado agora é chamado de Gripen NG Brasil, uma aposta de marketing que, para a empresa, pode ser justificada com a prometida grande participação da indústria brasileira no desenvolvimento da aeronave.

Para o Diretor-Geral da Saab no Brasil, Bengt Janér, a oferta sueca representa mais do que uma simples oportunidade de transferência de tecnologia. “Cerca de 80% dos componentes estruturais, partes da fuselagem e asas serão produzidos no Brasil. Porém o mais importante, em termos de independência e autonomia, objetivos prioritários da FAB, reside na participação no desenvolvimento dos softwares críticos da aeronave e a linha de montagem no Brasil, cujos equipamentos de testes possibilitarão a manutenção de toda a aeronave de forma integral e autônoma”, afirmou Janér.

Uma das principais críticas apontadas em relação ao Gripen NG Brasil seria a presença de componentes norte-americanos na aeronave, incluindo o motor, equipamentos vitais que estariam além do domínio sueco ou brasileiro e, portanto, vulneráveis às eventuais restrições por parte do Governo dos EUA. Bengt Janér não acredita que isso seja motivo de preocupação para as Forças Armadas brasileiras. “Existe um recorrente mal-entendido com relação aos produtos de origem norte-americana. Geralmente esses rumores partem, ou são sustentados, por terceiros que não as próprias Forças Armadas brasileiras, em especial a Aeronáutica”, disse. O executivo afirma que o Brasil não demonstrou qualquer problema com o assunto durante toda a concorrência. “Em nenhum momento, seja nos requisitos do RFP, seja nas inúmeras reuniões realizadas durante o processo de seleção, qualquer autoridade brasileira, civil ou militar, externou preocupação com componentes de origem norte-americana. Um dos concorrentes possui 100% de conteúdo “made in USA” e foi selecionado como finalista, com o aval da FAB e do Ministério da Defesa”, comenta, referindo-se ao F/A-18 E/F Super Hornet.

Outro ponto negativo atribuído ao projeto seria a aparente falta de disposição do governo sueco em adquirir a aeronave, o que poderia fazer com que o Brasil fosse o único operador do caça no mundo. “O governo da Suécia tem o compromisso oficial de manter sua frota de aeronaves Gripen por, no mínimo, mais 30 anos. Para isso, aquele governo está investindo cerca de 2 bilhões de dólares no Programa Gripen NG. Recentemente o governo sueco decidiu que, caso o Brasil faça a opção pelo Gripen NG Brasil, a Força Aérea sueca receberá aquela aeronave em um cronograma semelhante ao da FAB”, garantiu o Diretor.

Pela primeira vez, foram apresentadas as estimativas de quantas aeronaves poderiam ser adquiridas pela Suécia. Segundo Janér, a intenção do governo daquele país é a de adquirir cerca de 30 aeronaves a médio prazo e mais 70 a longo prazo.

Por se tratar de uma aeronave em desenvolvimento, muito se especulou sobre quem financiaria os custos do projeto. Houve quem dissesse que grande parte dessa conta acabaria sendo paga na verdade pelo Brasil. Segundo o executivo da Saab, o Programa Gripen NG será custeado pela Suécia. “A proposta da Saab para a FAB foi com preços firmes e fixos. Não existem cláusulas de reajustes em função do desenvolvimento do produto. Os custos de desenvolvimento do Gripen NG estão sendo sustentados por fundos do governo sueco, da própria Saab e por empresas parceiras de risco”, afirmou.

Para Janér, uma das grandes vantagens da escolha da proposta sueca seria a grande quantidade de conteúdo nacional no avião, motivo pelo qual o projeto teria a preferência da Embraer e da indústria brasileira. “O Gripen NG Brasil será uma aeronave brasileira. Desenvolvida, ensaiada, homologada e produzida no Brasil, sob os requisitos operacionais da FAB”, concluiu.

Em entrevista exclusiva ao Defesa Brasil, Bengt Janér falou mais sobre a proposta sueca ao país, transferência de tecnologia, produção local e as razões para suposta preferência da indústria brasileira pelo Gripen NG Brasil.

Leia a íntegra da entrevista:
Defesa Brasil - O Projeto F-X2 tem um foco muito grande na transferência de tecnologia. A Saab já tem acordos de cooperação com empresas nacionais? É possível listar ou indicar os principais projetos e empresas com as quais a Saab já tem algum tipo de entendimento? O que já foi conversado com a Mectron, Embraer, Avibras, Atech, Aeroeletrônica, entre outras?

Bengt Janér - O Pedido de Oferta emitido pela Aeronáutica para o Programa FX-2 foi bastante claro quanto aos requisitos de Compensação (Offset) e de Transferência de Tecnologia.

Em relação ao Offset, foi solicitado que o total das compensações fosse equivalente a 100% do valor do contrato. A oferta da Saab atingiu cerca de 175%, ultrapassando em muito esse valor, com projetos que envolvem dezenas de empresas e instituições públicas.

Com relação à transferência de tecnologia, a Saab apresentou, como principal componente da sua oferta, a proposta de formação de uma parceria estratégica com a Embraer, na qual está prevista a sua atuação como empresa responsável por cerca de 40% do processo de desenvolvimento do Gripen NG Brasil, ficando a Saab com a responsabilidade dos 60% restante. Porém, ambas as empresas participarão de 100% das atividades de desenvolvimento.

A parceria Embraer-Saab irá muito além dos aspectos puramente industriais. O Gripen NG será um produto Saab-Embraer. No aspecto comercial, as duas empresas participarão das vendas do Gripen NG para todos os clientes mundiais. Está previsto, também, que a Embraer será a líder de venda (“prime contractor”) para os países da América Latina, e também para outros, onde a sua penetração, em termos de marketing, seja mais adequada.

A proposta da SAAB prevê que a fabricação e montagem das 36 aeronaves Gripen NG Brasil serão feitas no Brasil. A produção no Brasil está prevista no processo de desenvolvimento da aeronave, com os custos dessa instalação já incluídos no valor da oferta apresentada.

Cerca de 80% dos principais componentes estruturais e da fuselagem do Gripen NG serão produzidos no Brasil, tais como as asas, portas, e segmentos da fuselagem. Estes itens não serão replicados em nenhum outro país, devendo ser aplicados em todos os Gripens NG a serem produzidos, inclusive os da Suécia.

Como o governo da Suécia recentemente decidiu incorporar o Gripen NG na sua Força Aérea no mesmo cronograma do solicitado pela FAB, ou seja, a partir de 2014, isso significa que as exportações de produtos (80% da fuselagem) e serviços deverão ter início dentro de pouco tempo.

DB - No início de junho foi assinado um memorando de entendimento com a brasileira Akaer que prevê participação da empresa no projeto, desenvolvimento e produção de “partes” do Gripen NG. No que consistiria mais especificamente essa participação? Que “partes” ficariam sob responsabilidade da Akaer?

BJ - O Programa Gripen NG obedece a um rígido cronograma, que independe dos resultados das diversas concorrências em que está participando.

Durante o processo de seleção das empresas candidatas à transferência de tecnologia, a Saab tomou conhecimento da capacidade técnica e da experiência da Akaer na área de projetos aeronáuticos, e dos preços de serviços altamente competitivos.

Desta forma, sem qualquer vinculação ao resultado do Programa F-X2, a Saab decidiu firmar um Memorando de Entendimento com a Akaer com a finalidade de estabelecer as suas atividades no projeto, desenvolvimento e produção de partes do Gripen NG.

Aquela empresa irá participar no projeto básico e de detalhamento, nas análises estruturais e carga e tensões, e no projeto do ferramental. Dentre as principais partes do Gripen NG Brasil a serem projetadas estão a fuselagem central, a fuselagem traseira e as asas, estas últimas feitas totalmente em material composto.

Uma equipe de funcionários da Akaer já está atualmente trabalhando nas instalações da Saab.

DB - Chegou a ser bastante comentado nos bastidores e até publicado na imprensa a possibilidade de uma compra de parte da Saab pela Embraer. Há algum fundamento nessas informações? O que chegou a ser conversado nesse sentido?

BJ - Não existe nada de concreto a respeito desse assunto. O que está sendo proposto pela Saab é uma parceria para o desenvolvimento, produção e comercialização da aeronave Gripen NG para todo o mundo, inclusive para a própria Suécia.

A parceria SAAB e Embraer é o que se poderia chamar de “parceria perfeita”. Isso porque as duas empresas possuem tecnologias próprias absolutamente complementares, e não são competidoras em nenhuma área de negócios, seja no mercado de aeronaves comerciais, militares e de aviação executiva.

As empresas também possuem experiências de parceria de sucesso, como nos programas AEW (Erieye) para os governos do Brasil, México e Grécia.

DB - No início de julho, Bob Kemp (Diretor de Vendas & Marketing da Gripen International) afirmou em entrevista para um jornal brasileiro que a Saab estaria disposta a trazer para o país 50% da produção da aeronave Gripen e que “talvez o Brasil se torne o principal exportador do Gripen NG no futuro”. Como isso seria viabilizado? Que componentes seriam produzidos no Brasil? Apenas a célula ou parte dela ou também motores, radares, aviônicos?

BJ - As informações do Sr. Bob Kemp a respeito da possibilidade de exportações estão relacionadas à parceria Saab-Embraer que permitirá que a Embraer possa atuar como Principal Contratada para a América Latina e para os países onde possui maior força de penetração mercadológica. Sendo também um produto da Embraer, o Gripen NG desfrutará do prestígio que a Embraer conquistou em todo o mundo ao longo de toda a sua história.

Cerca de 80% dos componentes estruturais, partes da fuselagem e asas serão produzidos no Brasil. Porém o mais importante, em termos de independência e autonomia, objetivos prioritários da FAB, reside na participação no desenvolvimento dos softwares críticos da aeronave e a linha de montagem no Brasil, cujos equipamentos de testes possibilitarão a manutenção de toda a aeronave de forma integral e autônoma.

A fabricação dos motores não se viabiliza economicamente em vista do número de unidades a ser produzido. Vai ser implantada uma linha de manutenção para todos os níveis, inclusive o overhaul.

A questão do radar se enquadra exatamente da mesma forma.

Os principais aviônicos da aeronave tais como os displays, computadores de missão e rádios data-link, etc., deverão ser produzidos no Brasil. A manutenção de mais de 90% dos itens aviônicos deverá ser feita no Brasil.

DB - Uma das principais desconfianças apontadas em relação ao Gripen NG é a grande presença de componentes de origem norte-americana, que poderiam sofrer restrições por parte do Governo dos EUA, especialmente em relação à transferência de tecnologia. Como a Saab conseguirá contornar essas dificuldades e garantir toda essa transferência de tecnologia e produção local prometida?

BJ - A transferência de tecnologia se processa basicamente em termos de processos industriais e desenvolvimento conjunto. E são justamente esses aspectos que estão presentes na oferta da Saab – o desenvolvimento conjunto de uma aeronave de caça multimissão, sem qualquer restrição ao acesso e conhecimento de todas as tecnologias sensíveis.

O Gripen NG Brasil está sendo desenvolvido com o máximo de conteúdo brasileiro e sueco. Posso afirmar, sem qualquer dúvida, que aquela aeronave terá a maior quantidade de conteúdo nacional, em termos de harware e de software, de qualquer outra aeronave competidora.

Os dois principais itens de origem norte-americana são o motor e o APU. Tratam-se de produtos COTS (Commercial off-the-shelf), cujas tecnologias não foram de interesse de nenhuma empresa brasileira. Porém, as tecnologias de integração, ensaios e certificação do motor em uma aeronave supersônica, são de grande interesse da Embraer e serão transferidas.

Existe um recorrente mal-entendido com relação aos produtos de origem norte-americana. Geralmente esses rumores partem, ou são sustentados, por terceiros que não as próprias Forças Armadas brasileiras, em especial a Aeronáutica. Em nenhum momento, seja nos requisitos do RFP, seja nas inúmeras reuniões realizadas durante o processo de seleção, qualquer autoridade brasileira, civil ou militar, externou preocupação com componentes de origem norte-americana. Um dos concorrentes possui 100% de conteúdo “made in USA” e foi selecionado como finalista, com o aval da FAB e do Ministério da Defesa.

Quando o governo brasileiro incluiu na “short list” uma aeronave com 100% de conteúdo norte-americano, afirmou, de forma bastante explícita, que não existe qualquer restrição, de ordem política ou estratégica, para a utilização de componentes daquela origem.

Também não é necessário lembrar que a grande maioria das aeronaves da FAB voam, atualmente, com motores procedentes de empresas norte-americanas.

DB - Um dos maiores trunfos apontados pela Saab em favor do Gripen NG é o fato da aeronave ser totalmente aberta para utilizar os sistemas e armamentos desejados pelo cliente, independente da procedência. Essa integração é tão simples quanto se diz? Dependendo do que for, os custos não seriam proibitivos?

BJ - Realmente essa é uma excelente característica da concepção do sistema Gripen, que foi concebido para poder utilizar armamentos de qualquer procedência.

No caso do Brasil, todos os armamentos que foram solicitados para fornecimento e integração foram oferecidos, com os custos já incluídos na oferta. Os armamentos nacionais, e a requalificação dos de origem estrangeira, serão integrados no Brasil, com a participação da Embraer e Mectron.

Com relação aos mísseis ar-ar, podemos citar que a plataforma Gripen já está homologada para os mísseis AIM-120 e IRIS T, e o Gripen é a plataforma de testes de desenvolvimento dos mísseis Meteor e A-Darter, fato que abreviará suas eventuais integrações, com significativa economia de recursos.

DB – O Gripen NG está sendo oferecido ao Brasil equipado com o motor GE F414G, de origem norte-americana. Este é basicamente o mesmo motor ofertado pela Boeing para o F/A-18 Super Hornet. Esse fato não pode atrapalhar a proposta da Saab? Está incluída na proposta alguma possibilidade de produção dos motores F414 na subsidiária da GE no Brasil, a GE Celma, ou ao menos sua capacitação para o overhaul desses motores?

BJ - A Saab escolheu o motor GE F414 para o Gripen NG por ser uma evolução do que utiliza nos Gripen A/B e C/D, com cerca de 20% a mais de potência e melhor consumo específico. Além disso, trata-se de um motor testado, com mais de 800 unidades em operação, com milhões de horas de vôo, com a melhor razão peso-potência e, não menos importante, com o mais baixo custo de manutenção.

Existem estudos de um programa de upgrade desse motor, com incremento de mais 20% de potência, economia de consumo em torno de 3%, e de aumento da revisão-geral das atuais 2.000 F/H para 6.000 F/H.

Não existe escala econômica para a produção do motor no Brasil. Porém, todas as revisões, incluindo a revisão-geral (overhaul), serão feitas no Brasil por uma empresa nacional.

DB – Outra crítica ao Gripen NG é o fato de que não houve um anúncio por parte do Governo sueco com o sólido interesse de dar continuidade ao projeto, equipando sua Força Aérea. É necessário um ou mais clientes externos para viabilizar o desenvolvimento do Gripen NG ou isso está garantido mesmo com eventuais derrotas no Brasil e na Índia?

BJ - O governo da Suécia tem o compromisso oficial de manter sua frota de aeronaves Gripen por, no mínimo, mais 30 anos. Para isso, aquele governo está investindo cerca de 2 bilhões de dólares no Programa Gripen NG.

Recentemente o governo sueco decidiu que, caso o Brasil faça a opção pelo Gripen NG Brasil, a Força Aérea Sueca receberá aquela aeronave em um cronograma semelhante ao da FAB. A intenção é a de adquirir cerca de 30 aeronaves a médio prazo e mais 70 a longo prazo. As empresas brasileiras do Programa Gripen NG Brasil, em especial a Embraer, participarão desse fornecimento.

No momento a Saab está em competição em diversos países, sendo o Brasil o que deverá decidir mais cedo. Uma vitória no Brasil certamente terá repercussão muito favorável em outros países.

DB – O fato de a aeronave estar em desenvolvimento não implica na dificuldade de se estabelecer um preço final para o produto? São muito freqüentes os estouros nos orçamentos de programas de aeronaves militares. Ainda não há um protótipo, mas apenas um demonstrador de tecnologia voando. No que a Saab se baseou para estabelecer o preço da proposta ao Brasil? Não há o risco de no fim das contas o Brasil acabar pagando menos do que deveria ou mais do que o correto pela aeronave?

BJ - A proposta da Saab para a FAB foi com preços firmes e fixos. Não existem cláusulas de reajustes em função do desenvolvimento do produto. Os custos de desenvolvimento do Gripen NG estão sendo sustentados por fundos do governo Sueco, da própria Saab e por empresas parceiras de risco.

O valor a ser dispendido pelo governo brasileiro será somente o relativo aos 36 caças, logística, treinamento e demais itens que constam do Pedido de Oferta (RFP).

As modernas técnicas de projeto utilizadas permitem estimar com extrema precisão todos os custos de desenvolvimento e de produção. Não é uma exclusividade da Saab, todas as grandes empresas aeronáuticas do mundo tem essa capacidade.

A Saab tem uma tradição de cumprir cronogramas físicos e financeiros com extremo rigor. Foi assim com todos os seus programas anteriores.

A utilização de uma aeronave demonstradora de conceito torna desnecessária a construção de aeronaves-protótipo. As primeiras três aeronaves Gripen NG fabricadas servirão para os ensaios em vôo e, depois de retrofitadas para a configuração final, serão as primeiras aeronaves Gripen NG da Força Aérea Sueca.

Respondendo objetivamente à sua pergunta, não existe qualquer risco econômico para o Brasil relativo ao Programa Gripen NG Brasil.

DB - Por se tratar de uma nova aeronave, os riscos associados ao projeto são relativamente mais altos do que os dos demais concorrentes que já estão em produção. Não há o risco de, no futuro, o Brasil se ver como único operador da aeronave? O Sr. considera um problema a falta de mais clientes externos para a operação futura da frota de Gripen NG?

BJ - Como informado, os riscos associados ao Programa são relativamente baixos pela não existência de melhoria baseada em tecnologias ainda em desenvolvimento.

E também como anteriormente informado, o Governo Sueco decidiu adquirir aeronaves Gripen NG com entregas casadas com as da Força Aérea Brasileira.

Estes riscos são amplamente compensados pela oportunidade de participação do processo de desenvolvimento da mais moderna aeronave de combate de 4.5 ++ geração em todo o mundo.

No desenvolvimento do Gripen NG Brasil não está prevista a utilização de qualquer tecnologia que não esteja dominada, e que não seja de propriedade da Saab ou de seus parceiros de risco.

A aeronave demonstradora de conceito já aprovou todas as principais alterações aerodinâmicas e a integração do motor, tendo atingido velocidade supersônica na configuração de defesa aérea, sem a utilização de pós-combustão.

A integração dos aviônicos, sistemas de autoproteção, e o desenvolvimento dos softwares associados a sistemas aviônicos estão sendo trabalhados, em paralelo, em um laboratório dedicado, que deverá ser replicado no Brasil. As tecnologias envolvidas são totalmente dominadas pela Saab e Embraer.

De uma forma simples de explicar, o Gripen NG Brasil está para o modelo C/D assim como o Super-Tucano está para o Tucano.

A Força Aérea Sueca irá adquirir Gripens NG em médio e longo prazo. Uma prova disso é o investimento que está sendo feito no programa pelo Governo Sueco, em um montante acima de dois bilhões de dólares.

Estudos de mercado demonstram existir um grande número de países, com perfil semelhante ao do Brasil, que desejam adquirir uma aeronave multimissão moderna e com um baixíssimo custo do ciclo de vida. Além disso, a renovação das frotas dos atuais países utilizadores do Gripen, devido ao grau de satisfação demonstrado, certamente deverá ser feita com o modelo NG.

DB – Entre os três concorrentes, o Gripen é o único monomotor. Como é competir com aeronaves que seriam teoricamente de uma classe diferente? O Gripen já não entra em desvantagem?

BJ - A questão da quantidade de motores de uma aeronave não está relacionada à sua classe nem à sua operação. É uma decisão relacionada à filosofia de projeto. O Gripen NG Brasil foi desenhado para ser uma aeronave com baixíssima assinatura visual e eletrônica, com baixo custo de operação e de manutenção, com capacidade supercruise na configuração de defesa aérea e com grande raio de ação.

A mais moderna aeronave norte-americana, ainda em desenvolvimento, o F-35 JSF, é um monomotor. Acredito que, caso existissem motores suficientemente potentes nas épocas em que foram concebidos, o F-18, nos anos 70, e o Rafale, nos anos 80, provavelmente seriam monomotores. Uma aeronave monomotor possui enormes vantagens em termos de economicidade, haja vista ser o motor o item mais dispendioso para a manutenção.

Uma informação interessante é que uma aeronave dotada de dois motores semelhantes ao do Gripen NG Brasil possui o dobro da sua potência. Porém, sua carga paga máxima é de 8.000 kg, contra 6.000 Kg do Gripen NG Brasil. Isso significa que o segundo motor incrementou apenas 25% na capacidade de carga paga.

Quando consideramos que são poucas as missões onde se utiliza o máximo da carga paga, em especial as do perfil Ar-Ar, esse fato se torna irrelevante. Em termos de velocidade, ambas as aeronaves têm a mesma velocidade máxima, tendo, porém, o Gripen NG Brasil a capacidade “supercruise”, ou seja, é capaz de voar supersônico em configuração de defesa aérea sem utilizar a pós-combustão. Se o Gripen NG Brasil transporta praticamente a mesma carga-paga na configuração ar-ar, acelera mais rápido e possui capacidade “supercruise”, seria de uma classe diferente?

É também importante ressaltar que o Gripen NG Brasil possui uma capacidade expandida de cerca de 40% combustível interno comparado ao Gripen C/D, propiciando um alcance similar ou ligeiramente superior aos dos outros concorrentes.

DB - Um dos pontos-chave das exigências do Brasil é o acesso à partes do código-fonte da aeronave que permitiriam a integração no Brasil de armamentos nacionais. A Saab incluiu essa possibilidade na proposta e já tem todas as autorizações necessárias para isso?

BJ - A proposta da SAAB oferece mais do que simplesmente “acesso” aos códigos-fonte. Os softwares críticos de missão, que incluem todos os softwares de interesse da FAB, e os respectivos códigos-fonte, serão desenvolvidos em parceria com a Embraer, que terá domínio de todo o conhecimento.

Também será instalado no Brasil um centro de desenvolvimento de softwares (laboratório e “rig” aviônico), que ao lado do pessoal habilitado, são as ferramentas indispensáveis ao completo domínio dos sistemas computacionais da aeronave.

É importante ressaltar que “acesso aos códigos-fonte” não tem qualquer significado prático caso o ente receptor não disponha da infraestrutura adequada (laboratórios e rigs aviônicos) e, principalmente, de pessoal treinado e habilitado, que somente será disponível caso tenha participado do processo de desenvolvimento.

DB - O radar Vixen 1000ES está sendo desenvolvido pela Selex em conjunto com a Saab para o Gripen NG. Já há alguma previsão de quando ficam prontas as primeiras unidades? Esse prazo é suficiente para a entrega ao Brasil em 2014, considerando o tempo de testes, homologação e produção? Como garantir que as capacidades do novo radar não fiquem abaixo do planejado?

BJ - A Selex Galileo é uma das maiores empresas do setor no que se refere ao desenvolvimento e produção de radares. A tecnologia da antena AESA está totalmente dominada e aquela empresa possui produtos com antenas AESA totalmente desenvolvidos (Picosar, Seaspray 5000E e 7000E, Vixen 500). A Selex Galileo também participa do desenvolvimento do radar Captor para o Typhoon.

A antena do Vixen 1000ES será do tipo “swashplate”, que permite detectar alvos em um campo de varredura de 105 graus em todas as direções, com um total de 210 graus em torno do eixo da aeronave.

Em um cenário de um engajamento ar-ar BVR, esse tipo de antena permitirá o acompanhamento dos alvos sem que seja necessária uma aproximação indesejada, que seria inevitável com as atuais antenas AESA.

Haja vista a experiência da Selex Galileo no setor, a Saab considera de baixíssimo risco o desenvolvimento da antena AESA para o radar do Gripen NG Brasil.

É importante informar que apenas a antena AESA está em desenvolvimento. A antena do Vixem 500 possui 500 módulos T/R, e a do Vixem 1000 terá 1000 módulos. Não se trata de desenvolver uma nova tecnologia.

Todos os demais componentes do radar, tais como processador, transmissor, etc., são produtos desenvolvidos pela Saab Microwave Systems (antiga Ericsson Microwave) e já em operação.

A Saab Microwave é a fabricante dos radares Erieye, com tecnologia AESA, que equipam as aeronaves Embraer AEW&C – E-99.

DB - Há alguma proposta de transferência de tecnologia referente ao Vixen 1000ES? Qual seria a autonomia do Brasil na manutenção e adequação do radar?

BJ - A transferência de tecnologia está disponível e limitada apenas pela atual capacidade das empresas nacionais em absorvê-la, já que como anteriormente citado, a Saab Microwave e a Selex Galileo dominam toda as tecnologias envolvidas.

A manutenção do radar, em todos os seus níveis, será feita por uma empresa nacional.

Porém, o mais importante em termos de transferência de tecnologia será a participação da Embraer no processo de integração do radar na aeronave, desde os estudos teóricos até os ensaios em vôo e homologação do sistema. Isso, somente o programa Gripen NG Brasil pode realizar.

DB – Quais foram os armamentos ar-ar oferecidos? O Meteor consta no pacote? Qual armamento está sendo oferecido para combater objetivos terrestres?

BJ - Estamos impedidos de fornecer informações detalhadas a esse respeito. Posso assegurar que todas as exigências da FAB foram atendidas.

Quanto ao Meteor, como anteriormente informado, esse míssil já está atualmente qualificado na plataforma Gripen.

DB - Existe algum tipo de proposta que envolva o Erieye, já operado pela FAB nos E-99, e que notoriamente já possui uma grande integração com os Gripen em operação na Suécia?

BJ - A modernização dos E-99 já consta dos planejamentos da FAB. Com a aquisição do Gripen NG Brasil, toda a capacidade Network Centric Warfare será repassada para a FAB, incluindo a tecnologia data-link no estado-da-arte, e o desenvolvimento de um novo sistema de enlace de dados de alta velocidade.

Essa parceria proporcionará à FAB o mais moderno e eficiente sistema data-link do mundo, sob seu total domínio.

DB - Nos bastidores da indústria de defesa comenta-se que a França teria dificultado a integração dos seus armamentos no Gripen e também impedido o desenvolvimento da antena do radar do Gripen NG pela francesa Thales, como constava no plano original. Que tipo de obstáculos o projeto do Gripen NG está tendo que superar para se manter vivo?

BJ - A integração de armamentos franceses, ou de qualquer outra procedência, não constitui nenhum obstáculo técnico.

Quanto ao radar, a informação está correta. Preocupada com a concorrência de uma aeronave da classe do Gripen NG Brasil, a Thales, após ser adquirida pela Dassault, rompeu o acordo que tinha com a Saab.

A escolha da antena da Selex Galileo, por suas características operacionais, com 210 graus de varredura, e pela tecnologia utilizada, agregou mais valor ao sistema de armas Gripen NG Brasil.

O cronograma de desenvolvimento do Gripen NG permanece rigorosamente em dia.

Como todo programa, o do Gripen NG Brasil necessita de parceiros e de clientes. Porém, a janela de oportunidade que se abriu no Brasil, com três elementos importantes – programa em desenvolvimento; existência no país da terceira maior empresa aeronáutica do mundo e entregas somente a partir do ano de 2014 – possibilitou a formulação de um programa perfeito.

Caso o governo escolha o Gripen NG Brasil, o Brasil participará do programa de desenvolvimento da aeronave de caça supersônica de melhor custo/eficácia em todo o mundo.

DB - Não raro o Gripen NG é apontado como o concorrente que conta com maior “simpatia” de determinados setores da Força Aérea Brasileira. A que podemos atribuir esse eventual favoritismo técnico-operacional e como trazê-lo para o campo político, arena final da decisão e que hoje aponta para o francês Rafale como o preferido do Ministro da Defesa Nelson Jobim e até do Presidente Lula?

BJ - Acredito que a “simpatia” manifestada por setores da FAB seja porque reconhecem no Gripen NG Brasil a aeronave ideal para satisfazer os requisitos operacionais, técnicos e logísticos da Força, bem como seja o programa que mais benefícios trará para o setor industrial aeroespacial brasileiro. Esta mesma “simpatia” também foi recentemente manifestada pela Embraer e por outras empresas do setor aeroespacial e pela FIESP.

No campo político, a Suécia é tradicionalmente um país não-alinhado, que sempre manteve uma grande relação de amizade e respeito com o governo e o povo brasileiro, sendo que as principais empresas suecas estão no Brasil há mais de um século, sempre com uma imagem de correção e honestidade.

Acredito firmemente na isenção, correção e liderança do Ministro Nelson Jobim no processo de seleção do fornecedor dos caças F-X, e na capacidade do Presidente da República de saber escolher a melhor alternativa política e estratégica para o Brasil.

Estou confiante de que o Gripen NG Brasil é o produto que mais atende aos requisitos da Estratégia Nacional de Defesa, documento que será o mais importante legado da passagem do Ministro pelo Ministério da Defesa.

DB - Qual é o diferencial da proposta da Saab? Por que o Brasil deveria escolher o Gripen NG?

BJ - Porque o Programa Gripen NG Brasil possibilitará às indústrias aeroespaciais brasileiras, em especial a Embraer, mais transferência de tecnologia e carga de trabalho do que o Programa AM-X. No Programa AM-X, o Brasil foi responsável por 30% do desenvolvimento e por 30% da produção da estrutura da aeronave.

No Programa Gripen NG Brasil, o Brasil será responsável por 40% do desenvolvimento e por 80% da produção da estrutura da aeronave. Sem falar nos componentes aviônicos, que também serão produzidos no Brasil, pela Aeroeletrônica.

A grande diferença, porém, é que não haverá qualquer investimento do governo brasileiro na capacitação industrial ou no preparo da infraestrutura.

Não haverá, também, nenhum risco financeiro para o governo brasileiro, pois o compromisso de fornecer o pacote (36 aeronaves, logística, etc.) permanece totalmente da responsabilidade da Saab, sem qualquer cláusula de reajuste em função do risco de desenvolvimento.

Também porque, quando for entregue em 2014, o Gripen NG Brasil será a mais moderna aeronave de caça multimissão do mundo, com cerca de 10 anos de diferença em termos de tecnologia para os seus competidores mais próximos. Quem acompanha a evolução dos equipamentos eletrônicos sabe reconhecer este enorme diferencial. Por acaso você se lembra do seu telefone celular de 1999?

Porque é a aeronave que possui o mais baixo custo de operação e de manutenção, perfeitamente adequada aos níveis orçamentários históricos da FAB, permitindo alta disponibilidade e grau de adestramento.

Porque a sua baixa assinatura visual e eletrônica, seus modernos sensores (radar AESA e IRST), equipamentos de autodefesa e o inigualável sistema data-link, aliado ao grande alcance e raio de ação, assegurarão que a FAB estará de posse da aeronave com o maior poder de dissuasão no continente.

Porque a sua perfeita integração com as aeronaves E-99 “Erieye”, faz do Gripen NG uma verdadeira plataforma de armas “network centric warfare”, dotada do mais avançado sistema data-link do mundo.

Porque é capaz de integrar armamentos e sensores de qualquer procedência.

Porque, ao participar do Programa Gripen NG Brasil, a indústria nacional terá a oportunidade de aumentar seu nível tecnológico e ter acesso ao mercado internacional no segmento de aeronaves de caça, podendo exportá-la do Brasil para toda a América Latina e outros mercados em todo o mundo.

Porque, com a participação no Programa Gripen NG Brasil, a FAB e a indústria nacional estarão preparadas para especificar, desenvolver e produzir futuras aeronaves de combate para atender as necessidades nacionais.

Porque é o único programa que realmente poderá transferir tecnologia sob o sistema “on the job training”, única forma eficiente e eficaz de se realizar.

Porque é o programa que irá gerar mais postos de trabalho de alta tecnologia.

Porque é o único programa com a garantia de exportação de serviços e componentes, com grande potencial de exportação de aeronaves completas.

Caso a FAB escolha o Gripen NG Brasil como a sua aeronave de superioridade aérea, assistiremos, em 2014, nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto, o “roll out” da primeira aeronave de caça supersônica desenvolvida e produzida no hemisfério Sul.

Finalmente, porque o Gripen NG Brasil será uma aeronave brasileira. Desenvolvida, ensaiada, homologada e produzida no Brasil, sob os requisitos operacionais da FAB.

Fonte: DefesaBrasil
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