quinta-feira, 26 de novembro de 2009

EUA podem se isolar por apoio a eleição em Honduras


Os Estados Unidos correm o risco de ficar isolados politicamente se realmente reconhecerem a legitimidade das eleições em Honduras do próximo domingo, disse em entrevista à agência de notícias Reuters o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, enquanto as autoridades do governo hondurenho interino rechaçaram o que consideram uma interferência brasileira nos assuntos internos do país.

Garcia afirmou que um contingente expressivo de nações latino-americanas ficaria contra esse eventual posicionamento de Washington. A declaração segue a lógica do que disse o presidente deposto em 28 de junho, Manuel Zelaya, para quem o apoio dos EUA ao resultado das urnas dividiria as Américas.

"Acho que os Estados Unidos se isolarão e consideramos que isso é muito ruim para os Estados Unidos e sua relação com a América Latina", disse Garcia. "Países muito importantes --a maior parte em termos de população e peso político-- não vão reconhecer [o resultado]."

A arena para a divisão poderia ser a própria OEA (Organização dos Estados Americanos). A entidade inicialmente adotou uma posição unânime contra a deposição de Zelaya, mas as manifestações de apoio dos EUA às eleições pode levar ao reconhecimento da eleição por países como Panamá, Colômbia e Peru.

"Acho que a OEA vai colocar isso [na pauta] e já ouvi de alguns setores, países membros, que Honduras pode ser excluída [do órgão]", disse o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Atualmente, Honduras está suspensa da organização.

Garcia havia afirmado na véspera que a política do presidente Barack Obama para a região, após quase um ano de expectativas elevadas, possuía um "certo sabor de decepção" e "frustração". Segundo ele, suas palavras não tiveram intenção de "fustigar" o país "amigo".

Nesta tarde, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, negou tensão entre as duas nações e considerou "normal" haver diferenças.

A América Latina não esconde seu ressentimento com o papel desempenhado pela Casa Branca durante os anos da Guerra Fria, em que patrocinou por vezes a instalação de regimes militares em detrimento da democracia.

"Essa eleição tem as impressões digitais de um golpe de Estado", disse Garcia. "Se aceitarmos, estamos encorajando outros países a adotar a mesma solução."

Diálogo

Segundo Garcia, apesar dos sinais de animosidade, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não tem uma estratégia de enfrentamento com os Estados Unidos".

Para mostrar que eventuais posições conflitantes passam longe de uma crise bilateral, Marco Aurélio Garcia relatou a "fluida" conversa telefônica que teve nesta quarta com o assessor da Casa Branca para Segurança Nacional, Jim Jones, a quem manifestou "suas preocupações" sobre Honduras.

O general Jones, principal assessor de Obama no assunto, teria "se "comprometido" a reportar o conteúdo da conversa "a seus colegas".

Garcia rebateu com ênfase críticas à política externa de Lula e endereçou sua insatisfação a Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, que acusou o país de "posar de rebelde" e adotar um postura de não alinhamento a Washington.

Enquanto se espera as eleições de 29 novembro, Manuel Zelaya continua hospedado na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Ele pediu abrigo no último setembro, após retornar secretamente a Honduras, e jogou o Brasil no centro da crise institucional de seu país.

"Intervenção"

Em um comunicado divulgado nesta quarta-feira, as autoridades do governo interino de afirmaram que "lamentam profundamente" a proposta brasileira de adiar as eleições presidenciais de domingo, que foi rejeitada pelos EUA.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Honduras, as declarações do assessor de política externa da Presidência do Brasil nesse sentido "refletem uma intervenção sem precedentes deste governo nos assuntos internos de nosso país".

O Brasil e maior parte dos países do continente disseram que não reconhecerão eleições em Honduras que sejam conduzidas antes do retorno de Zelaya à Presidência, mas os Estados Unidos reafirmaram nesta terça-feira seu apoio à votação, com assistência técnica e envio de observadores. O Departamento de Estado argumenta que a eleição foi convocada antes da deposição de Zelaya e afirma que o reconhecimento só pode ser decidido após a votação. Os candidatos também foram decididos antes da crise, e nem Zelaya nem Micheletti estão concorrendo.

A deposição de Zelaya aconteceu após semanas de tensão devido à tentativa do presidente de realizar uma consulta popular sobre mudanças constitucionais, vista como uma tentativa de aprovar a reeleição, proibida por uma cláusula pétrea constitucional. A consulta também não preenchia os requisitos legais para referendos, e era apresentada como um tipo de pesquisa pelo governo. O presidente deposto nega que quisesse permanecer no poder além de seu mandato atual.

A Suprema Corte considerou ilegal a tentativa de mudança constitucional e validou a destituição, mas um virtual consenso da comunidade internacional classificou de golpe a deposição de Zelaya, expulso de pijamas do país pelas Forças Armadas.

O retorno de Zelaya ao país aumentou a pressão sobre o governo interino, e representantes de Micheletti e de Zelaya assinaram um acordo em 30 outubro para resolver a crise, sob mediação americana. Mas o presidente deposto considerou-o rompido por divergências sobre a formação de um governo de unidade nacional previsto no texto.

Zelaya exigiu seu retorno imediato, mas o Parlamento hondurenho adiou a decisão para depois das eleições, e o governo que era para ser de união nacional acabou sendo formado sem representantes do governo deposto e ainda sob o comando de Micheletti, que assumiu a Presidência em junho.

O governo de interino convocou 5.000 reservistas das Forças Armadas para garantir a realização das eleições e proibiu o porte de armas, argumentando a existência de grupos que tentariam desestabilizar a votação.


Fonte: Reuters
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