terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O Lockheed TF-33A - O primeiro treinador avançado á jato do Brasil

Seguindo na esteira da nossa última matéria, a qual abordou o acidente aéreo que vitimou o Marechal Castello Branco, o GBN News apresenta um pouco sobre a aeronave que protagonizou a colisão nos idos de 1967, ainda apresentando informações que irão complementar o vídeo super interessante que foi feito pelo nosso parceiro, Cmte Robinson Farinazzo, que esteve no Aeroclube de Catanduva em São Paulo e nos brindou com uma matéria sobre o exemplar do Lockheed TF-33A “Shooting Star” que o pessoal de Catanduva realizou um belíssimo trabalho de restauração e você pode conferir o resultado clicando aqui.

O Lockheed TF-33A “Shooting Star” surgiu no momento que o mundo experimentava a transição da era dos motores á pistão e radiais, para os modernos motores à jato. Fase que exibiu importantes e contínuos avanços no domínio dos céus.

Porém, não posso falar do TF-33A, sem falar um pouco da história do P-80, aeronave que foi produzida também pela Lockheed, a qual compartilha muito do seu projeto com o TF-33A, o qual surgiu como uma variante votada ao treinamento para os pilotos que operariam os novos “Jatos” da USAAF.

O programa XP-80 “Shooting Star”, surgiu ainda durante a Segunda Guerra Mundial, quando os americanos cientes dos avanços alemães no domínio da tecnologia de propulsão a jato, decidiram empenhar seus esforços no desenvolvimento da primeira aeronave de caça propelida á jato dos EUA.

No dia 23 junho de 1943 o governo dos EUA através da USAAF celebrava junto com a Lockheed a assinatura do contrato que dava inicio ao programa XP-80 Shooting Star. Apesar do empenho para conceber o caça e colocá-lo nos céus para garantir a supremacia aliada nos céus da Europa e Ásia, o primeiro voo do P-80 em sua versão final só ocorreria em junho de 1944. Mas sua produção ainda sofreu atrasos devido a alteração na escolha do motor a ser adotado pela versão de produção, quando a Lockheed resolveu equipar o P-80 com o turbo jato Allison J-33.

Turbo Jato Allison J-33 do T-33/TF-33
A USAAF tinha fechado um contrato para obter 4.930 unidades  do novo caça á jato. Porém, o fim da Segunda Guerra Mundial, com a capitulação do Japão em agosto de 1945, fez com que a encomenda sofresse uma revisão na quantidade a ser adquirida pelos EUA.

Após o fim da Segunda Guerra, os EUA mudaram a nomenclatura de suas aeronaves, onde o P-80 como demais caças passou a ter designação “P” substituída pelo “F”, e o “Shooting Star” passou a ser designado F-80.

Ao longo da conversão para as novas aeronaves a jato, fora registrado um alto índice de acidentes resultantes da inexperiência dos pilotos no domínio das novas aeronaves á jato, com isso surgiu a necessidade de se projetar uma aeronave específica para prover o adequado treinamento aos futuros pilotos dos F-80 “Shooting Star” e demais aeronaves a jato que entravam em serviço com os EUA e seus aliados ao redor do mundo.

Diante desta necessidade, a Lockheed tendo por base o F-80C incumbiu uma equipe de criar uma solução e desenvolver uma versão biplace voltada ao treinamento e conversão operacional. Para incluir um segundo cockpit, a célula do F-80 recebeu um aumento na fuselagem em 128 cm, com enxertos na fuselagem á frente e atrás das asas. Devido a necessidade de instalar um segundo assento, o tanque de combustível teve que ser reduzido, passando de 207 para apenas 95 galões, como solução para manter a autonomia da aeronave, optaram pela instalação de tanques nas pontas das asas. Devido ao aumento no peso, o armamento foi reduzido de seis para apenas duas metralhadoras .50.

O primeiro voo da nova aeronave aconteceu no dia 22 de março de 1948, e a campanha de ensaios em voo demonstrou que a nova variante manteve as mesmas qualidades de voo da versão monoplace. Com uma bem sucedida campanha de testes, a aeronave recebeu uma encomenda inicial de 20 unidades, sendo designada T-33.

O novo T-33A atingiu os objetivos, se mostrando uma aeronave muito flexível e capaz, o que rendeu a Lockheed novas encomendas, passando a ser adotada como treinador avançado padrão em uso no  Air Training Command  sediado Base da Força Aérea de Randolph, no Texas. A partir de 1949 o modelo passou a ser empregado em missões de treinamento avançado, também na US Navy, onde recebeu a designação de T-33B.

Muitos países operaram os T-33A, AT-33 e F-80C, e os mesmo ainda estão em operação em algumas forças ao redor do mundo, mesmo estando completamente obsoletos diante do moderno cenário de combate aéreo.

O T-33A no Brasil

A Força Aérea Brasileira, na década de 50 estava experimentando a transição para o jato, equipando suas unidades com caças ingleses Gloster Meteor F-8. Neste período, a FAB possuía um grande desafio para formação de seus pilotos de caça, onde a conversão ainda estava á cargo dos vetustos bombardeiros P-47 Thunderbolt, os quais apresentavam muitas limitações técnicas e operacionais. A disponibilidade das mesmas estava cada vez mais comprometida pela falta de peças de reposição, sendo um grande desafio conseguir peças, pois as linhas de produção das mesmas foram encerradas em 1945. Diante desses desafios, chegou o momento em qu não era mais possível manter os P-47 voando e cumprindo a conversão dos pilotos da FAB. Uma solução temporária foi o emprego de alguns T-6G Texan, porém, os mesmos não eram adequados a conversão para aeronaves a jato.

Diante da deficiência encontrada na formação dos aviadores de caça da FAB, o Ministério da Aeronáutica, através do programa de assistência militar entre o Brasil e os EUA, solicitou ao governo norte americano a disponibilização á Força Aérea Brasileira de aeronaves de combate á jato, com intuito de sanar a lacuna aberta pela retirada de serviço dos P-47 Thunderbolt. Em resposta ao pedido brasileiro os EUA liberaram 33 aeronaves F-80C “Shooting Star” e 4 aeronaves de treinamento T-33A “Thunderbird”, com as primeiras aeronaves T-33A chegando ao Brasil em 10 de dezembro de 1956, iniciando a preparação dos pilotos para chegada dos novos F-80C.

Os T-33A tiveram papel importante na FAB, onde desempenharam ao longo de anos a missão de formar os futuros pilotos de caça brasileiros.

A Força Aérea Brasileira ainda comprou mais quatro unidades do T-33A, depois com a necessidade de suprir a lacuna aberta pela indisponibilidade crescente dos Gloster Meteor, que apresentaram graves problemas estruturais que forçaram a sua retirada de operação, aliada a falta de recursos para aquisição de um moderno vetor, além da frota de F-80C já apresentar fadiga, a FAB se viu forçada a buscar uma solução criativa e de baixo custo. Em 1964 a FAB adquiriu 13 aeronaves AT-33, uma variante do T-33A que após passar por um processo de modernização, poderia desempenhar não apenas o papel de treinador avançado, como também realizar missões de ataque, contando com dois cabides subalares MA4 para o lançamento de bombas de até 227 kg e quatro cabides MA2A para o emprego de foguetes não guiados. Também foram atualizados os painéis de controle e sistemas de comunicação.

Os dois primeiros AT-33A, designados na FAB como TF-33, foram finalizados em agosto de 1965, após passar por uma inspeção técnica foram enviadas para a Base Aérea de Fortaleza. A última aeronave foi entregue em novembro de 1966, onde todas foram transladadas em vôo até o Brasil por pilotos da USAF.

Ainda em 1966, a FAB chegou a conclusão que não havia mais como manter os Gloster Meteor em operação. Ainda com recursos escassos, o Ministério da Aeronáutica optou pela compra de mais aeronaves AT-33 afim de suprir as necessidades da força. Todos os trâmites foram cumpridos e um acordo fora assinado para aquisição de 35 aeronaves T-33ª convertidas na variante “TF-33”. As 12 primeiras aeronaves desta nova compra foram enviadas ao Brasil em fevereiro de 1967. Ano em que um dos exemplares do TF-33 operados na Base Aérea de Fortaleza se envolveria no acidente que resutaria na morte do Marechal Castelo Branco, assunto abordado em nossa matériaA colisão entre o TF-33A e o Piper Aztec: O que se sabe sobre a morte de Catello Branco?”. As 23 aeronaves restantes foram modernizadas, porém, não atenderam aos requisitos esperados pela FAB e tiveram de passar por um processo de reparos no Parque Aeronáutico de Recife.


O TF-33 era considerado um caça tampão, pois a Força Aérea Brasileira buscava adquirir uma nova aeronave que se encaixasse em suas necessidades e estivesse dentro do seu orçamento. Dentre as opções foram avaliados o A-4E Skyhawk, Sapecat Jaguar, o Fiat G-91 e o italiano Aermacchi MB-326G, sendo escolhida a aeronave italiana, a qual teve alguns exemplares fabricados sob licença pela Embraer.

A história do TF-33 na Força Aérea Brasileira não foi muito longa, tendo sido gradativamente substituídos pelos EMB-326 “Xavante” que em um curto prazo substituiria todos os TF-33 nas unidades de primeira linha até 1973. As últimas aeronaves permaneceram em operação com 1º/4º GAv até 1975, encerrando sua história de 19 anos em serviço no Brasil.

Hoje ainda podemos encontrar alguns exemplares do TF-33 perdidos pelo Brasil, encontrado não apenas no acervo do MUSAL, na Base Aérea do Campo dos Afonsos, mas por exemplo o exemplar objeto do vídeo produzido pelo Cmte Robinson Farinazzo, localizado em perfeito estado de conservação no Aeroclube de Catanduva, o qual você pode conferir clicando aqui.



Especificações Técnicas 
Fabricante:
Lockheed Aircraft Corporation
Motor:
turbojato Allison J-33A-35 de 4.600 lb de empuxo
Desiginação Militar:
TF-33A
Comprimento:
11,49 m
Envergadura:
11,85 m
Altura:
3,45 m
Peso Vazio:
3.670 kg
Velocidade Máxima:
960 km/h
Alcance:
1.610 km
Armamento:
2 metralhadoras Browning .50” (nariz), 2 bombas de até 454 kg ou 2 bombas de até 454 kg e oito foguetes (asas)

Curiosidades: 

Os TF-33 da FAB mantiveram a fuselagem em alumínio polido, porém, afim de não prejudicar a visibilidade do piloto devido ao reflexo do sol na fuselagem, foi adotado no esquema da FAB pintura preto-fosco na seção do nariz da aeronave e na parte interna dos tanques nas pontas das asas.  Algo que foi mantido na restauração realizada pela equipe de Catanduva e pode-se notar no vídeo feito pelo Cmte Farinazzo.


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.



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2 comentários:

  1. Tem um T 33 na praça ao lado do prédio do comando da base aérea de Canoas no RS. Em 85 servi lá, e alguns anos atrás estive de visita e o mesmo ainda se encontra no local.

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  2. Tem forças aéreas dos países vizinhos que ainda usaram o T 33 até pelo menos 2015!! Basta ver Uruguai e Bolívia. Parece que Equador e peru ainda usaram o T 33 até o início dos anos 2000.

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