domingo, 7 de janeiro de 2018

"Fabrica Argentina de Aviones" - De avançada indústria aeronáutica, á beira do precipício.

A indústria aeronáutica da América Latina tem escassa representatividade no mundo, tendo tido momentos marcantes e nem sempre afortunadas, com exceção como a brasileira Embraer e outros casos que escreveram uma significativa participação na história da aviação na América Latina, como o caso da argentina FAdeA.
A indústria brasileira, com a Embraer, é o grande exemplo de uma empresa latino-americana que fabrica aeronaves de alta tecnologia que atraem os mercados mundiais, desde os jatos leves de passageiros até aeronaves de combate como o A-29 Super Tucano. Atualmente, a Embraer negocia um acordo com a norte americana Boeing, o que poderia resultar em uma gigante global da aviação.
Mas há mais de meio século, outra empresa latino-americana tinha importante destaque na região e projetos ambiciosos que poderiam tê-la posto em uma posição de grande destaque entre as grandes da indústria aeronáutica.
A "Fábrica Argentina de Aviones" (FAdeA), fundada em 1927 na cidade de Córdoba e financiada pelo Estado, chegou a desenvolver alguns dos projetos mais sofisticados do mundo, mas nunca conseguiu alçar voo, e hoje a menos de dez anos de completar seu centenário, enfrenta um dos momentos mais críticos de toda sua rica história.
O auge da FAdeA se deu no ano de 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial, a Argentina foi o destino de dezenas de engenheiros e técnicos que haviam trabalhado nos mais avançados projetos e programas de desenvolvimento tecnológicos da indústria aerospacial alemã, servido à máquina de guerra nazista. Diante da realidade encontrada pelos mesmos após o fim da guerra, a Alemanha era uma nação destruída, sem indústria e perspectivas de futuro, além da "caça as bruxas", onde muitos alemães foram levados ao tribunal sob acusação de cumplicidade com Hitler e as atrocidades cometidas pelos nazistas.
Muitos desses engenheiros e técnicos foram cooptados pelas grandes potências, afim de alavancar seus programas de defesa, tendo pela frente a nova ameaça representada pela corrida armamentista e espacial entre EUA e a União Soviética, além de outros poderosos players.
Os Estados Unidos, por exemplo, recrutaram Werner Von Braun, pai dos primeiros mísseis de cruzeiro nazistas e o grande cientista responsável pelo grande avanço nos programa espacial norte americano, com a NASA.

A política de Perón

A Argentina acabou sendo favorecida porque seus líderes haviam demonstrado simpatia pelo Eixo durante a Segunda Guerra, disse à BBC Mundo Santiago Rivas, especialista em história da aeronáutica argentina.
"Um dos primeiros foi Emil Dewoitine, um francês que trabalhou para os alemães durante a ocupação da França e, por isso, foi perseguido. Ele fugiu para cá e foi o primeiro a desenvolver um jato na América Latina, o Pulqui 1" , lembra Rivas.
Pouco tempo depois, chegou à Argentina Kurt Tank, uma das estrelas do projeto aeronáutico mundial, que esteve por trás de várias das principais aeronaves nazistas.
A Argentina o recebeu e encomendou grandes projetos, como era esperado de um país cuja riqueza, naquela época, superava a de muitas nações europeias.
"O então presidente argentino Juan Domingo Perón pediu a Tank que projetasse uma aeronave de combate supersônica", diz Rivas.
Um esforço que os Estados Unidos estavam focados, mas contra o qual a Argentina poderia competir através da FAdeA, contando com projetos de vanguarda vindos da Alemanha.
"Aqui nasceu o modelo conhecido como Pulqui II, que voou em 1951. Nunca atingiu a velocidade do som, mas a 1.100 km/h alcançava o mesmo que um russo Mig-15 ou um F-86 Sabre norte americano, o mais moderno do mundo na época. Na verdade, tanto o Mig 15 quanto o Sabre tiveram algumas ideias desenvolvidas por Tank", explica Rivas.

A política

Mas o passo seguinte, a construção em massa dessas aeronaves desenvolvidas na Argentina nunca saiu do papel. De acordo com alguns relatos da época, os alemães reclamavam que a infraestrutura industrial que tinham na Argentina era precária. E, acima de tudo, a interferência política.
Perón, o grande promotor do projeto foi derrubado do poder em 1955. A partir deste momento os financiamentos começaram a ficar escassos. Vários dos protótipos foram perdidos em acidentes.
 Projeto IA-48
O Pulqui II estava pronto para produção em 1959. "Mas o que era um modelo novo já estava começando a apresentar-se obsoleto em comparação com as alternativas disponíveis no mercado internacional", diz Rivas. "Foi um projeto que durou dez anos de desenvolvimento, em um momento que a tecnologia avançava muito rápido. Quando nasceu, já competia com o F-86 Sabre e o Mig-15, mas em 1959 ele já competia com novas aeronaves supersônicas", ressalta o especialista.
No final dos anos 1950, a Força Aérea argentina decidiu comprar uma aeronave americano em vez do Pulqui. Algum tempo antes, Tank tinha levado seus projetos à Índia, onde conseguiu fabricar uma aeronave em série.

Vaivem

A FAdeA continuou sujeita ao vaivém político da história argentina. Eventualmente, alguns modelos menos ambiciosos foram produzidos, como o Pucará, uma aeronave turboélice que foi usado brevemente na guerra das Malvinas.
Na década de 1990, durante o governo de Carlos Menem, a fábrica foi privatizada para se tornar um centro de serviços da norte americana Lockheed.
Mas na década seguinte, quando Cristina Kirchner chegou ao poder, ela foi renacionalizada em 2009 e virou alvo de ambiciosos projetos, que para Rivas, nunca tiveram base na realidade orçamentária da empresa.
Dizia-se que muitos ativistas políticos haviam sido contratados pela empresa, enquanto os projetos para a produção de 40 aeronaves IA-63 Pampa III, destinados às Forças Armadas argentinas, nunca saíram do papel.
Sob o atual governo de Mauricio Macri, as autoridades dizem que estão focadas em melhorar a situação financeira da empresa, reduzindo o grande déficit que enfrenta.
Mas algumas semanas atrás, algumas mídias argentinas relataram planos para suspender permanentemente a fabricação de aeronaves, dado o fraco desempenho comercial do Pampa.

Ambições

Debatia-se, de acordo com esses relatos, converter a fábrica e sua pista em um terminal para companhias aéreas de baixo custo. A FAdeA nega que esses planos existam.
Sebastián Ugarte, diretor de Relações Institucionais da empresa, diz à BBC Mundo que "a FAdeA não está considerando encerrar sua linha de produção de aeronaves" e insiste que "o Pampa III é uma aeronave com alto potencial de mercado, por conta de suas características técnicas, versatilidade, preço e pela demanda internacional por aeronaves deste tipo".
Ele afirma que, neste momento, a FAdeA está trabalhando para entregar três dessas aeronaves para a Força Aérea Argentina.
Algumas peças também estão sendo produzidas para aeronave brasileira KC-390, produzido pela Embraer.
Ambições bastante reduzidas em comparação às de uma empresa que, em outro momento viu-se na vanguarda da tecnologia aeronáutica, mas sem nunca se transformar em potência industrial ou militar com a qual os líderes argentinos da época sonhavam.

GBN News / BBC Brasil
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