sexta-feira, 8 de maio de 2015

Clima de poucos amigos entre os antigos aliados

Comemoração dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial deixa patente crise entre nações que se aliaram contra Alemanha nazista. Principais líderes ocidentais decidiram boicotar parada militar na Rússia.


Há pouca união atualmente entre as nações formaram a coalizão militar antinazista setenta anos atrás. Disputas em torno das cerimônias de celebração refletem os conflitos políticos atuais entre o Ocidente e a Rússia, por causa da recente anexação da Crimeia.
Os líderes mundiais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, decidiram boicotar a grande parada militar russa em Moscou em 9 de maio – diferente dos outros países, a Rússia comemora o dia após a capitulação alemã.
O presidente russo, Vladimir Putin, por sua vez, se recusou a comparecer nas comemorações do 70º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, em 27 de janeiro.
Putin ficou irritado com as insinuações polonesas de que Auschwitz foi, na verdade, libertado por unidades ucranianas e que as comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial deveriam ser realizadas em Londres ou Nova York, em vez de Moscou.
Em abril, a Polônia – que associa o fim da guerra não só com a derrota do nazismo, mas com 44 anos de domínio soviético – negou a entrada no país a um grupo de motociclistas aliados de Putin, os Lobos da Noite, que organizou uma rota recriando a marcha do Exército Vermelho rumo a Berlim em 1945.
Há inúmeras questões em jogo no aniversário do fim da guerra. Mas o conflito da Rússia com o Ocidente por causa da Ucrânia, ofusca todas elas.

Lembranças do passado russo
Putin sabia que não haveria chance da participação dos líderes ocidentais críticos à anexação da Crimeia nas festividades do 9 de Maio em Moscou. De alguma forma, esse era seu plano, opina Kathleen Smith, professora visitante especializada em pós-comunismo da Universidade de Georgetown, em entrevista à DW.
"O presidente Putin está usando a recusa dos líderes ocidentais em participar das comemorações do Dia da Vitória para reforçar sentimentos antiocidentais. As memórias da Segunda Guerra Mundial são bastante complexas na Rússia e, embora o próximo feriado marque a vitória e o fim da guerra, os russos também vão se lembrar de seu isolamento do Ocidente na década de 30, e da traição alemã ao pacto de não agressão."
Putin gostaria que seu público interno visse o conflito sobre a comemoração como outro exemplo de uma Rússia que resiste ao fascismo, neste caso, representado pelo alegado ultranacionalismo da Ucrânia de Petro Poroshenko. O Ocidente, por extensão, estaria traindo a causa.
"O fato de que a grande maioria dos líderes ocidentais se recusaram a participar das festividades do 9 de maio definitivamente torna mais tentador para os líderes russos acusar o Ocidente e, especialmente, os Estados do Báltico, de dar guarida ao neonazismo", disse à DW Erkki Bahovski, especialista do Centro Internacional de Estudos de Defesa, sediado na Estônia. "Mas acredito que, após a criação de um universo paralelo na mídia, os líderes russos simplesmente não entendem do que o Ocidente se queixa tanto."

Vítimas e heróis
A questão agora é saber se os russos comuns vão acreditar na história de que o Ocidente está traindo a causa antifascista. Smith diz que as manobras da Rússia antes do 9 de Maio podem ter como objetivo fazer os russos aceitarem as privações ocasionadas pela anexação da Crimeia. Essencialmente, Putin pode estar usando o exemplo da Segunda Guerra Mundial para incentivar os russos a perguntarem não o que Moscou pode fazer por eles, mas o que eles podem fazer por Moscou.
"Os russos têm uma narrativa complicada de vitimização e sacrifício que inclui as memórias dos tempos de guerra e que está sendo invocada em resposta às sanções ocidentais", diz Smith. "É bastante útil para Putin elogiar os russos por sua vontade de reduzir o consumo sem reclamar."
Mas invocar o passado traz para Putin o risco de que as pessoas realmente se lembrem dele. "A hostilidade em relação ao Ocidente pode ser uma espada de dois gumes aqui. Porque mesmo livros didáticos soviéticos mencionam que a União Soviética era aliada dos EUA, Reino Unido e da França. Por conseguinte, a completa inversão de rumo à luz do aniversário da Segunda Guerra Mundial pode ser até mesmo contraproducente. Lembremo-nos de que alguns anos atrás os veteranos de guerra soviéticos e alemães estiveram desfilando juntos em Moscou. A ausência dos líderes ocidentais no desfile não vai passar despercebida."
Poucos convidados
Em qualquer caso, a festa de Putin pode se transformar num fiasco. Apenas alguns dias antes do desfile militar em Moscou ainda não era claro quais líderes internacionais compareceriam. A Grécia ficou reticente, o presidente tcheco, Milos Zeman, disse a uma emissora de rádio que iria, recuando logo depois, dizendo que não compareceria.
Até mesmo o excêntrico ditador norte-coreano Kim Jong-un decidiu que, contrariamente a notícias anteriores, não vai a Moscou – algo que pode ter sido um alívio para o Kremlin.
A Rússia pode contar com alguns poucos convidados. Os membros dos Brics Índia, África do Sul e – mais importante – China enviarão representantes de alto escalão. E Angela Merkel está fazendo um gesto conciliatório. Embora não vá ao desfile militar, ela agendou uma visita à capital russa em 10 de maio, para colocar uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, juntamente com Vladimir Putin.

Fonte: Deutsche Welle


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