sábado, 24 de abril de 2010

Região do Lago Sul ensurdecida pelos aviões


O barulho de turbinas irrompe a tranquilidade do Lago Sul antes de 6h. Os aviões que trafegam diariamente pelo Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek (1) insistem em tirar o sossego dos moradores da área nobre. O problema, que ocorre há décadas e já provocou reuniões e debates calorosos entre o comando do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), a Infraero e moradores, voltou a ser debatido por causa do novo procedimento de decolagens.

Segundo recomendação da Organização Internacional da Aviação Civil (cuja sigla em inglês é Icao), as aeronaves que partem de Brasília devem fazer uma subida mais íngreme na mesma direção da cabeceira da pista até atingir 6 mil pés de altitude (aproximadamente 1,8 mil metros) em relação ao nível do mar para se afastar da zona residencial o mais rápido possível. Só após atingir a altura recomendada, o piloto pode manobrar em direção ao destino do voo. O brigadeiro Maurício Gonçalves, comandante do Cindacta I, explica que a medida visa a uma economia maior de combustível das aeronaves e a diminuir o tempo em solo. “Foram feitas simulações por mais de um ano até colocarmos em prática”, diz.

Acordo celebrado entre Cindacta I, Infraero e moradores há três anos determinava que a pista antiga, próxima às casas, seria utilizada apenas para pousos. A nova deverá servir apenas para decolagens, justamente por estar situada mais distante da área residencial. Após atingir determinada altitude, os aviões teriam de manobrar à direita.

Os aeroportos de Brasília e de Recife são os primeiros a passar pela experiência no país. Ainda neste ano, a Aeronáutica prevê que Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte também adiram ao procedimento. De acordo com a avaliação dos moradores da QI 17, porém, a mudança só trouxe dores de cabeça. A nova trajetória das aeronaves teria aumentado a incidência do ruído das turbinas nas proximidades da pista de decolagem.

É o que constatou o aposentado Cesar Palvarini, morador da QI 17. “O barulho sempre existiu, mas estávamos em paz até a quarta-feira da semana passada, quando os aviões voltaram a sobrevoar e fazer barulho barulho sobre nossas cabeças”, reclama, citando o dia em que o Cindacta autorizou a nova operação de partida dos aviões no Aeroporto Internacional JK.

Interferências

A professora Heloísa Doyle, moradora do Setor de Mansões Dom Bosco, também percebeu a diferença. “Se estamos vendo TV, temos que aumentar o volume; se estamos ao telefone, temos de parar de conversar até que o avião passe.” O aposentado Joelson Monte Alto defende que o Cindacta volte a orientar os pilotos a manobrar à direita. “Não é possível que a Icao sugira procedimentos que prejudiquem a qualidade de vida das pessoas que moram próximas aos aeroportos”, salienta.

O coronel da Aeronáutica Almir dos Santos, chefe da Divisão de Operações do Cindacta, defende que o ruído é inerente ao tráfego intenso do aeroporto da capital. “É o caso de quem mora ao lado de uma indústria e paga o preço da poluição e do barulho. Quem mora perto de aeroporto acaba tendo que conviver com o barulho”, simplifica.

O brigadeiro Gonçalves explica, também, que apenas as aeronaves que fazem transporte de carga são as mais ruidosas e que somente dois modelos trafegam na cidade. “Em Brasília só circulam os modelos 737-200 e 707, os mais antigos e mais barulhentos, sempre no horário da madrugada, e decolam na pista nova, distante das casas.”

Os parâmetros de ruído variam de acordo com os aviões. Os modelos recentes emitem som cada vez mais baixo, mas, em contrapartida, o tráfego em Brasília só aumenta. “O movimento no Aeroporto JK está tão agressivo que a cadência do som dá a impressão de que é constante, mas o nível do ruído está dentro do permitido”, assegura, lembrando que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é a responsável pela fiscalização. Ele também dá uma notícia desagradável aos moradores do Lago Sul: “Com o passar do tempo e a intensificação do fluxo, não poderemos mais determinar uma pista somente para decolagens e outra para pouso. Isso deve ocorrer em 2011 ou no ano seguinte”.

1 - Movimento intenso

O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek oscila entre a segunda e a terceira posições no ranking dos mais movimentados do país. Com 700 operações diariamente, tem média de 38 pousos e/ou decolagens por hora. Está atrás apenas do Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, em Guarulhos (SP), e do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Se excluído o tráfego de aviões de carga, o terminal de Brasília supera o carioca.


Fonte: Correio Braziliense
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