
O assunto é pouco conhecido mas terá, num futuro próximo, profundas implicações no dispositivo de forças americanas e grande impacto na sua capacidade de intervenção no exterior. Na Quadrennial Defense Review, divulgada no passado mês de Fevereiro, é referido sob o título “Expand future long-range strike capablities” com o simples anúncio de que Pentágono planeia realizar experiências com «conventional global strike prototypes», referência que passa desapercebida.
No entanto, este tema anda a ser estudado e testado há alguns anos, em particular pela Marinha, desde 1993, com o emprego de mísseis Tridente II (6000 milhas de alcance) armados com ogivas convencionais. O objectivo é garantir capacidade de atingir qualquer alvo em qualquer lugar do mundo no espaço de uma hora, usando apenas armamento convencional, isto é, complementar a actual capacidade de atacar com precisão e a longas distâncias com a possibilidade de o fazer num muito curto espaço de tempo. Parece ficção científica mas não é.
As formas de conseguir este objectivo, que têm sido desenvolvidas pela Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA), podem envolver uma nova geração de aviões e veículos aéreos não tripulados e mísseis balísticos de longo alcance até agora concebidos apenas para emprego com ogivas nucleares. No entanto, a proposta mais amadurecida e capaz de ser concretizada a curto prazo é a do Sea Lauched Global Strike Missile (SLGSM) que vem na sequência dos testes com os mísseis Tridente II, conforme acima referido.
As vantagens e inconvenientes dos diferentes projectos encontram-se, tanto quanto se sabe, sob avaliação; num relatório elaborado para o Congresso, tendo em vista a preparação do orçamento de defesa para 2007, a comissão encarregada de estudar o assunto considerou as propostas do Exército e Força Aérea como apresentando mais dificuldades técnicas mas com menos riscos de interpretação como um ataque com mísseis balísticos nucleares. Este é um dos pontos que tem suscitado mais reticências políticas pois, aparentemente, não será possível desfazer completamente a ambiguidade resultante de utilização de um mesmo veículo, quer para ataques convencionais, quer para ataques nucleares.
Sendo um sistema concebido principalmente para ser usado contra alvos de oportunidade, requerendo uma acção urgente, quando não houver nas proximidades forças destacadas, levantam-se também interrogações sobre a possibilidade de reduzir o processo de decisão do seu emprego, incluindo a avaliação dos riscos envolvidos e danos colaterais, a um período compatível com a urgência e coerente com o requisito de atingir o alvo no mais curto espaço de tempo possível. Uma hora é um período muito curto mas é também um intervalo em que as circunstâncias se podem alterar radicalmente.
É uma capacidade que se insere bem nos propósitos da administração Obama de reduzir o papel das armas nucleares e criando, em alternativa, novas formas de utilização de armamento convencional capaz de produzir efeitos idênticos, sem risco de escalada para um conflito nuclear. Pode ter duas finalidades: ataque contra alvo de oportunidade urgente, por exemplo, na eminência de um ataque por um rogue state ou como ataque de preparação para subsequente operação, caso em que oferece as vantagens de menor exposição às defesas do inimigo, maior capacidade de atingir zonas do interior, maior surpresa e menor tempo de preparação.
Fonte: Jornal Defesa e Relações Internacionais
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