
"Órgãos públicos que antes eram verdadeiras escolas de engenharia hoje são meras estruturas burocráticas sem consistência técnica"
Os novos e positivos patamares do crescimento nacional encontram o poder público planejador, contratante e fiscalizador abalado por fenômenos estruturais recentes que muito o fragilizaram tecnológica e gerencialmente para o cumprimento dessas essenciais atribuições.
O processo de privatização de empresas públicas nas áreas de energia, telecomunicações, transporte e infraestrutura em geral, sobretudo nos anos 1990, trouxe a dissolução de equipes técnicas de altíssima capacitação e experiência constituídas nessas empresas ao longo de décadas.
Esse processo levou também a uma temerária fragilização tecnológica de toda uma cadeia empresarial privada mobilizada por contratação das estatais e implicada na produção de estudos e projetos, na implantação dos empreendimentos e no fornecimento de insumos gerais, equipamentos e componentes.
Não se está aqui colocando o processo de privatizações em questão, mas focando uma decorrência que, provavelmente, não foi devidamente considerada.
Essas equipes técnicas, formadas no âmbito da implantação de empreendimentos da mais alta complexidade tecnológica nas décadas de 1950, 1960 e 1970, contando com o entusiasmado e estratégico apoio de instituições públicas de pesquisa tecnológica do país, foram responsáveis pelo desenvolvimento de uma engenharia nacional aplicada às características econômicas, sociais e fisiográficas próprias de nosso país, guindando-a ao nível da melhor engenharia do Primeiro Mundo.
De outra parte, as várias empresas privadas brasileiras de consultoria, projetos e serviços em engenharia que se formaram a partir das demandas das empresas públicas constituíram suas próprias equipes técnicas, respondendo induzidamente ao mesmo patamar de qualidade.
Do ponto de vista da capacitação tecnológica da administração pública contratante, cumpre lembrar que, nos órgãos da administração direta, o processo de enfraquecimento tecnológico -no caso, dentro de uma outra, mas também perversa lógica- começou ainda nos anos 1950.
De sua decorrência, órgãos públicos que, no passado, constituíram-se em verdadeiras escolas da engenharia nacional, hoje não são mais que meras estruturas burocráticas contratantes sem nenhuma consistência técnica.
Ao analisar o processo de esvaziamento tecnológico da administração pública direta e indireta, é fundamental considerar o especial e estratégico papel do poder público contratante e fiscalizador como indutor da qualidade das empresas contratadas e mobilizador da empresa nacional fornecedora de projetos, serviços e insumos.
Sem a devida competência sequer para as indispensáveis interlocuções tecnológicas entre contratante e contratados e para a posterior fiscalização técnica dos serviços, a administração pública perde progressiva e rapidamente competência em planejar, priorizar e decidir sobre a implantação de empreendimentos e serviços públicos essenciais ao seu desenvolvimento técnico e econômico.
Bom lembrar que cabe ao Estado contratante a missão de fixar, já nos termos licitatórios, as linhas e concepções tecnológicas básicas que mais interessarão ao país no que se refere ao aproveitamento máximo de suas vantagens comparativas e de sua estrutura empresarial.
Perde-se a autonomia dessa decisão quando se perde a competência técnica para defini-la. Essas responsabilidades estratégicas e próprias do Estado não são, como ingênua e irresponsavelmente podem pensar alguns, transferíveis para o setor privado contratado.
A área privada é compreensivelmente administrada sob outra lógica, em que soam estranhas as funções públicas de verificação, exigência e defesa permanente dos interesses maiores da sociedade.
As consequências negativas desse fenômeno são graves e podem ser facilmente imaginadas nos âmbitos social e econômico -ou até no âmbito estratégico da segurança nacional (perda de "intelligentsia").
Que ao menos os recentes acidentes em obras de engenharia possam servir para que governo e empresa, assim como a engenharia nacional, por meio de suas entidades, discutam e reflitam sobre essas questões. Sem partidarismos, com a disposição que a defesa desse estratégico patrimônio tecnológico tão nobremente construído exige.
artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos
Fonte: Jornal da Ciência

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Angelo
ResponderExcluirbonjour! Tudo bem?! I am French and discover your blog.Sorry je ne parle pas le portugais but English is fine for me (and there is Google to translate, the technical way to break language barriers fast)
Coming back to your message, yes State intervention on country strategic areas is vital.In my country, there is a very old tradition of State intervention coming back from before the French revolution, already in the XVIII th century (people like Vauban and Louis XVI )
I believe in long term rewarding system of free enterprise but with a strong social net for unlucky poor and uneducated population + strong influence of State on strategic and political social issues (like education, key knowledge areas, etc.)
Abraçao
Thierry
Thierry,
ResponderExcluirC'est un honneur de savoir que j'ai des lecteurs dans d'autres parties du monde et comment vous participez à notre blog.
Avec respect, je crois que dans le cas de mon pays, nous avons besoin de réformer les structures de l'état, car nous perdons beaucoup dans les deux dernières décennies. Lors de la technique ou économique. Parce que la privatisation des services publics et externalisation affaire, parce que les employeurs veulent une plus grande marge bénéficiaire, puis embaucher professionnels peu ou mal préparé et même ceux qui ne travaillent pas bien préparé car la satisfaction et surchargés avec des salaires très bas, qu'il était intrépide et causes n'ont pas le revenu dont ils devraient être.
Désolé mon français.
Em português
É uma honra saber que tenho leitores em outras partes do mundo e que como você participam de nosso blog.
Com relação a matéria, eu acredito que no caso do meu país, precisamos reformular as estruturas do Estado, pois perdemos muito nas últimas duas décadas. Seja pelo ponto de vista técnico ou econômico. Pois as privatizações e terceirização dos serviços públicos deixou muito a desejar, pois os empresários querem maior margem de lucro, então contratam profissionais pouco ou mal preparado, e mesmo os bem preparados não trabalham a contento pois estão sempre sobrecarregados e com salários muito baixo, o que desanima e faz com que não tenham o rendimento que deveriam.