
Depois de ter visto o que aconteceu no Rio após o meu pouso, me considero um sujeito de muita sorte. Penei no caos aéreo de segunda-feira – depois teve o de terça... bem pior – em uma longa e desconfortável espera no “piso interiorrrr”, como falam as funcionárias das companhias que chamam a gente no alto-falante de Congonhas. A chuva e o nevoeiro haviam reduzido a operação no aeroporto aos mínimos de visibilidade. Quase à cobertura dos prédios em torno.
A questão é que a condição meteorológica, descobri nesse dia, afeta as companhias de forma diferente. Assim que fiz o checkin na Ocean Air, a gerente de operações Regina informou aos operadores que tanto CGH quanto SDU estavam fechando por falta de teto. Resignado, me preparei para esperar sentado, lendo um livro, pelo embarque.
Porém, entre o recebimento do cartão de embarque e a caminhada até o portão 21, a situação mudou. O aeroporto foi reaberto e logo passageiros da TAM e da GOL começaram a ser chamados.
À minha frente, a atendente Ariane repetia: “Sem previsão no momento”.
Confrontada com a realidade, assim que a primeira decolagem aconteceu, a funcionária deu a segunda explicação: os Fokker 100 da Ocean Air não estão homologados para operarem em Congonhas e no Santos Dumont com os mínimos de teto.
Perguntei quantos voos da companhia tinham sido prejudicados pelo problema , desde a hora em que acordei ouvia jatos decolando do aeroporto, e ela respondeu: “Todos”. A gerente Regina, cujo sangue-frio diante das circunstâncias me impressionou, completou: “tenho aqui 500 passageiros retidos”. Os jatos que deveriam atendê-los, estava em em Guarulhos e um terceiro no Santos Dumont, aguardando autorização para proceder o voo.
É uma situação com a qual passageiro algum estava preparado, até porque em nenhum local do site está escrito que a Ocean Air tem aviões menos qualificados que as concorrentes, embora eu, particularmente, prefira voar neles pelo conforto.
Como os bilhetes costumam ser mais em conta e a pontualidade é maior, sempre que pude optei pelos Fokker. A questão do equipamento me fez pensar se a economia vale a pena. Perder a manhã de trabalho vendo os outros seguirem para seus compromissos foi tão irritante quanto a negativa diante do endosso para as outras companhias. A justificativa da meteorologia, nesse caso, não valia: o problema não era o tempo, mas uma deficiência técnica não informada previamente a quem embarcaria.
Quem pedia reembolso, conforme as regras da Anac e do governo, era orientado a telefonar para o call center. Receber na hora, nem pensar. Lanche ou água? Nada. Permaneci de pé no portão enquanto Ariane refazia, à mão, a lista de espera e transferia quem resistiu para os lugares vagos.
A um dado momento, outra supervisora, a quem não identifiquei, a chamou e ordenou que não desse mais informação aos passageiros. Foi tão sutil que umas dez pessoas a ouviram. Gerência de crise é para quem tem, principalmente, boa cabeça.
Pousei no SDU às 14h20, quase quatro horas depois do previsto. Para os meus colegas de espera, aqui vai a informação que não nos passaram: o sistema de auxilio a pouso (ILS) de CGH está sendo modernizado, o que é bom. Enquanto o equipamento não é 100% operacional, a aproximação é feita em BARO / VNAV, procedimento que cruza os dados do GPS com a pressão atmosférica para a rampa final de pouso. E esse, parece, o Fokker 100 da Ocean Air não tem.
Marcelo Ambrósio
Fonte: JB On Line
Nota do Blog: A Oceanair é uma excelente empresa aérea, mas peca por sua frota defasada de Fokker 100, a qual chamam de MK-28. O que leva a diversas vezes ao cancelamento ou atraso dos voos em condições climáticas adversas, as quais não impediriam o voo se houvessem aeronaves mais modernas e capazes.
Mas todo mundo tem seu calcanhar de aquiles, não adianta ser a mais pontual e ter o melhor serviço de bordo se quando o tempo fecha o passageiro passa por transtornos desnecessários. O relato narra o atendimento em CGH (congonhas), mas no SDU (Rj) o caso é um pouco diferente, pois a informação demora a chegar ao passageiro o que cria muito descontentamento. Digo por ser conhecedor profundo disso.
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