sábado, 23 de agosto de 2025

O poder aéreo chinês: modernização, desafios e a busca por supremacia nos céus

O ano de 2025 consolidou a China como um dos protagonistas do debate internacional sobre poder aéreo. A sucessão de protótipos e aeronaves militares reveladas, muitas vezes em imagens borradas que circulam nas redes sociais, reforça tanto a curiosidade quanto a preocupação no Ocidente. A cada nova aeronave ou drone experimental visto, cresce a sensação de que Pequim está acelerando sua transformação em uma potência aeroespacial capaz de rivalizar com os Estados Unidos e seus aliados ocidentais.

Desde que substituiu a antiga União Soviética como a “ameaça emergente” percebida pelo Ocidente, a China vem adotando uma estratégia clara: combinar modernização tecnológica acelerada, expansão industrial e adaptação doutrinária. Assim como Moscou fez no auge da Guerra Fria, Pequim apresenta ao mundo uma mistura de sistemas de defesa avançados, derivados de projetos ocidentais ou russos, e inovações que surpreendem pela ousadia.

A evolução da aviação de combate chinesa

Entre os desenvolvimentos mais relevantes de 2025 estão três plataformas que simbolizam bem essa transformação. O J-20, caça pesado de quinta geração, passou a voar em versão de dois assentos (biposto), reforçando sua função estratégica de gestão de UCAVs (veículos aéreos não tripulados de combate) e de operações ofensivas coordenadas. Essa modificação sugere que Pequim aposta em um modelo de “caça-mãe” capaz de controlar enxames de drones letais, ampliando o alcance de sua aviação de combate.

Na esfera naval, o J-35, muitas vezes comparado ao F-35 americano, avança para a fase de pré-produção, preparando-se para operar a bordo dos novos porta-aviões chineses. Sua presença confirma a prioridade de Pequim em consolidar uma aviação embarcada moderna, capaz de projetar poder além do litoral e sustentar operações no Indo-Pacífico.

Outra novidade é o J-15DT, versão modernizada do veterano Su-27/33, que apresenta modificações voltadas para guerra eletrônica, como a remoção do canhão interno e reforços estruturais. Essa plataforma pode desempenhar papel similar ao do americano EA-18G Growler, ampliando a capacidade de supressão de defesas aéreas adversárias, um elemento essencial em qualquer cenário de combate moderno.

Paralelamente, a China vem revelando protótipos de aeronaves sem cauda e UCAVs de grande porte, projetados com baixo índice de detecção por radar (RCS). Essas aeronaves parecem priorizar eficiência aerodinâmica, compartimentos internos de armas e integração com sensores avançados, indicando ambições de desenvolver sistemas que rivalizem com os programas de sexta geração em andamento no Ocidente, como o NGAD americano ou o FCAS europeu.

A dimensão naval e a projeção estratégica

Se no campo dos caças a China já demonstra ambições de longo prazo, é na aviação naval que seu salto chama ainda mais atenção. O desenvolvimento de porta-aviões equipados com catapultas eletromagnéticas (EMALS) coloca o país em um seleto grupo capaz de operar aeronaves de maior porte e alcance a partir do mar.

Nesse contexto, a introdução do KJ-600, aeronave de alerta aéreo antecipado embarcada, marca um avanço estratégico. Combinado a caças de quinta geração e drones de longo alcance, esse sistema amplia a capacidade chinesa de detecção e comando sobre áreas disputadas, como o Mar da China Meridional e o Estreito de Taiwan.

Enquanto nos Estados Unidos ainda há debates sobre prioridades entre aeronaves AEW da Força Aérea e da Marinha, a China opta por desenvolver simultaneamente as plataformas KJ-2000 (força aérea) e KJ-600 (marinha). Essa duplicidade pode refletir tanto a busca por complementaridade quanto disputas internas entre ramos das Forças Armadas, mas, de qualquer forma, demonstra a disposição de Pequim em investir pesadamente em redundância e expansão de capacidades.


Imitadores ou inovadores?

Um dos grandes debates entre analistas é se os chineses estão apenas reproduzindo conceitos ocidentais ou realmente inovando. O J-35, por exemplo, guarda semelhanças com o F-35, mas a versão biposto do J-20 não tem equivalente direto no Ocidente. Da mesma forma, os projetos sem cauda e de fuselagem plana sugerem experimentações ousadas em aerodinâmica e furtividade.

O risco, entretanto, é cair no erro histórico de superestimar ou subestimar. O caso do MiG-25 soviético, que gerou pânico no Ocidente na década de 1970 até ser devidamente avaliado em combates, é um lembrete de que imagens granuladas não equivalem a desempenho comprovado. Ainda há dúvidas sobre a real maturidade tecnológica da indústria chinesa, especialmente no que se refere a motores a jato avançados, integração de sistemas e treinamento de pilotos.

Mas, diferente da era soviética, os chineses já começam a demonstrar resultados em combates reais, ainda que indiretos. O Paquistão, parceiro estratégico de Pequim, registrou sucesso ao empregar caças J-10C equipados com mísseis PL-15 de longo alcance contra aeronaves Rafale da Força Aérea Indiana. O episódio reforça a credibilidade das armas chinesas e evidencia como sua tecnologia exportada já altera o equilíbrio estratégico em regiões sensíveis como o Sul da Ásia.

A lógica estratégica de Pequim

Mais do que os aspectos técnicos, a questão central é: por que a China investe tanto em poder aéreo? Parte da resposta é externa, conter e desafiar a presença dos EUA no Indo-Pacífico, sustentar reivindicações territoriais e preparar-se para um eventual confronto em torno de Taiwan. Outra parte, porém, é interna: o poder aéreo funciona como vitrine tecnológica e instrumento de prestígio nacional, reforçando a legitimidade do Partido Comunista perante sua população.

Ao liberar vultosos recursos para programas paralelos, Pequim mostra que o objetivo não é apenas ter aeronaves modernas, mas também manter ativa sua poderosa indústria de defesa. Trata-se de uma combinação de estratégia de defesa com política industrial e propaganda geopolítica.

O fortalecimento do poderio aéreo chinês é um fato inegável. Com novos caças de quinta geração, drones de combate avançados, investimentos em guerra eletrônica e uma crescente aviação naval, Pequim projeta-se como o principal rival dos Estados Unidos no campo aeroespacial.

No entanto, a análise deve ser feita com cautela. A tecnologia chinesa ainda precisa ser testada em combate real, e há incertezas sobre sua confiabilidade e integração operacional. Superestimar ou subestimar esse avanço pode ser igualmente perigoso.

O certo é que em 2025, a China demonstra ter ambições de longo prazo e recursos para persegui-las. Cabe ao Ocidente compreender não apenas o que os chineses estão fazendo, mas principalmente por que acreditam que isso é importante. A resposta a essa pergunta será decisiva para o equilíbrio estratégico dos céus no século XXI.


por Angelo Nicolaci


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