A guerra do século XXI não se parece com nada que o Brasil ou o mundo já viveram. Não se decide apenas em campos abertos, mares ou céus, mas em redes de dados, algoritmos e microchips. Drones patrulham fronteiras, observam cidades, monitoram o mar e podem atacar de forma quase invisível. Algoritmos de inteligência artificial analisam imagens de satélite, rastreiam padrões, preveem movimentos inimigos e, em alguns casos, decidem o momento exato de agir sem qualquer intervenção humana. A Pergunta então é: "O Brasil está preparado para esse novo tipo de guerra?".
A resposta é dura e direta: não estamos, e a realidade é mais grave do que a maioria imagina. O país possui talento e infraestrutura em alguns setores estratégicos, mas ainda de forma fragmentada. Temos universidades de excelência produzindo pesquisa avançada em IA, empresas como a Embraer trabalhando com aeronaves não tripuladas, e programas da Marinha e do Exército em sistemas de defesa integrados. No entanto, grande parte dos componentes essenciais, como chips, sensores, softwares de comando e controle, continua importada. Essa dependência não é apenas uma vulnerabilidade econômica, é uma fragilidade estratégica que pode comprometer a capacidade de defesa em um conflito futuro.
O exemplo internacional é claro. A guerra na Ucrânia evidenciou que enxames de drones baratos podem neutralizar blindados e artilharia pesada em minutos, alterando completamente a dinâmica de batalha. No Oriente Médio, grupos não estatais já utilizam drones e inteligência artificial com eficiência estratégica, desafiando países com recursos militares superiores. A lição é cristalina, no século XXI, a força não está apenas no tamanho ou custo do equipamento, mas na capacidade de dominar tecnologias e informação.
A inteligência artificial é o diferencial que torna essa guerra invisível ainda mais decisiva. Algoritmos podem processar enormes volumes de dados em segundos, identificar padrões que o olho humano não percebe, e coordenar ataques com precisão cirúrgica. Conceitos como o “manned-unmanned teaming”, nos quais aeronaves tripuladas controlam enxames de drones, exemplificam como a integração entre humanos e máquinas redefine o campo de batalha. Quem ficar para trás nesse desenvolvimento não apenas perde vantagem em defesa, mas perde autonomia estratégica, tornando-se refém das decisões de outros países que controlam essas tecnologias.
Historicamente, o Brasil já enfrentou o preço da falta de antecipação tecnológica. Durante a revolução industrial e nas décadas seguintes, a dependência de importações limitou nosso crescimento econômico e a capacidade de influenciar eventos internacionais. Hoje, o risco é mais urgente e potencialmente mais grave, a soberania brasileira está em jogo. Países que não controlam suas próprias tecnologias críticas, como drones, IA e semicondutores, correm o risco de ver sua capacidade de decisão limitada, seja por sanções, bloqueios ou pela simples falta de infraestrutura. A guerra do futuro não espera que ninguém se atualize, ela avança na velocidade da inovação.
O Brasil possui oportunidades claras de mudança. A integração entre governo, indústria e academia poderia criar um ecossistema nacional de defesa tecnológica, capaz de produzir drones, softwares autônomos e sistemas de comando e controle próprios. Programas estratégicos, como o PESE da Força Aérea e a Marinha do Brasil, e iniciativas da Embraer em aeronaves remotamente pilotadas, são exemplos de que o país pode avançar. No entanto, sem uma política de Estado que defina prioridades, financie projetos de longo prazo e coordene esforços, esses avanços continuam fragmentados e insuficientes para enfrentar os desafios de soberania do século XXI.
O alerta é urgente, não se trata apenas de modernização militar, mas de sobrevivência estratégica. Um país que não controla seus algoritmos e sistemas autônomos não tem soberania real. Depender de tecnologias estrangeiras em um mundo em que decisões de guerra podem ser tomadas por máquinas é um risco inaceitável. Cada mês perdido aumenta a distância para países que já estão moldando as regras dessa nova era, enquanto o Brasil permanece como espectador.
O futuro da defesa nacional não será definido em bases militares tradicionais. Será decidido em laboratórios, linhas de produção de semicondutores, centros de pesquisa em inteligência artificial e softwares de comando. O Brasil tem o talento, os recursos humanos e o potencial industrial para ser protagonista, mas precisa agir agora. Investir em IA, drones e autonomia tecnológica não é uma questão de luxo ou modernidade, é uma questão de soberania, segurança e capacidade de decisão independente.
Quando perguntamos se o Brasil está preparado para a guerra dos drones e da inteligência artificial, a resposta é inequívoca: não, ainda não estamos. Mas podemos mudar esse destino, desde que haja visão estratégica, investimentos consistentes e, principalmente, decisão política. A guerra do futuro já começou, e o tempo para reagir é agora. Cada atraso é uma vulnerabilidade; cada escolha acertada é uma oportunidade de garantir que o Brasil continue sendo um país que decide seu próprio destino e não apenas reage às decisões dos outros.
por Angelo Nicolaci
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