O vídeo que circula após o exercício Atlantic Trident 25, realizado na Finlândia, é daqueles que parecem feitos sob medida para uma campanha publicitária: onde em apenas 44 segundos, um Rafale francês detecta um F-35 norte americano e simula um disparo que resultaria em uma vitória em combate aéreo. As imagens são impactantes e inevitavelmente geraram manchetes, mas convém colocar as coisas em perspectiva.
O que se viu não foi um embate real, mas uma simulação em ambiente controlado. E no mundo real, a guerra aérea raramente se resolve em um dogfight cinematográfico. O paradigma atual é o BVR (Beyond Visual Range), no qual a prioridade é abater o inimigo a dezenas ou centenas de quilômetros, sem jamais enxergá-lo além da tela do radar. O clássico combate aéreo aproximado, com manobras em alto G, tornou-se rara e quase impossível de ocorrer. Treina-se para ele, claro, mas a lógica moderna privilegia quem vê primeiro, dispara primeiro e sai ileso.
Nesse ponto, a diferença doutrinária e tecnológica entre as duas aeronaves é evidente. O Rafale, um caça de 4.5ª geração, aposta na agilidade, versatilidade e em um sofisticado pacote de guerra eletrônica, contando com a suíte aviônica SPECTRA. Já o F-35 foi concebido para operar em outro patamar, explorando furtividade e sensores avançados para eliminar o adversário antes que ele sequer saiba que está sendo caçado. Em um cenário de guerra real, dificilmente um Rafale teria a chance de se aproximar tanto de um F-35 para reproduzir o que se viu no exercício.
É claro que o episódio tem utilidade, reforça a imagem do Rafale como produto competitivo no mercado internacional e se encaixa na narrativa de Paris de defender uma autonomia estratégica europeia, apontando o Rafale como uma alternativa ao F-35. Mas transformar um “kill” simbólico em argumento de superioridade sustentada é no mínimo arriscado.
Basta olhar para a realidade de 2025. Em maio, em pleno conflito no subcontinente indiano, um J-10C paquistanês equipado com o míssil PL-15 de origem chinesa derrubou um Rafale indiano. Não houve vídeo promocional, não houve simulação controlada, foi combate real, com consequências irreversíveis. E o resultado serve de lembrete incômodo: por mais que se venda a imagem de uma aeronave como uma joia intocável, a arena aérea contemporânea já mostrou que até mesmo ícones podem ser abatidos.
No fim, talvez a lição seja simples: o marketing pode sugerir invencibilidade, mas os céus continuam provando o contrário.
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