O Future Combat Air System (FCAS), ambicioso projeto que busca desenvolver o caça europeu de sexta geração, voltou ao centro de uma disputa entre Paris e Berlim. Um documento do Ministério da Defesa da Alemanha, obtido pela Reuters, acusa a indústria francesa de bloquear a entrada na segunda fase do programa, ao exigir liderança exclusiva no desenvolvimento.
Segundo o documento, enviado ao comitê de orçamento do parlamento alemão na última sexta-feira, ceder às demandas francesas teria consequências severas tanto para as capacidades futuras do caça quanto para a participação da indústria alemã no projeto.
O FCAS, estimado em mais de US$ 117 bilhões, é desenvolvido em parceria por França, Alemanha e Espanha, com a participação da Dassault Aviation, Airbus e Indra. O objetivo é substituir gradualmente os caças Rafale e Eurofighter Typhoon a partir de 2040.
Entretanto, as discussões sobre propriedade intelectual e divisão do trabalho têm causado sucessivos atrasos. De acordo com fontes da indústria, a França teria informado à Alemanha sua intenção de garantir 80% de participação no programa, reduzindo o protagonismo de Berlim e de Madrid.
Até agora, as tarefas foram distribuídas em pilares específicos, como a aeronave tripulada, o motor, os drones acompanhantes (“remote carriers”) e a nuvem de combate aéreo, sistema digital que integrará todas as plataformas. A Dassault, encarregada da parte principal, o caça tripulado, insiste em maior autonomia decisória.
O CEO da empresa, Eric Trappier, declarou em julho que “o FCAS precisa de liderança e organização mais claras”, criticando a complexidade de ter todas as decisões negociadas entre três parceiros.
Originalmente, a fase 2, que prevê o desenvolvimento dos primeiros demonstradores em voo, deveria ser lançada ainda em 2024, marcando o início da aplicação de maiores recursos financeiros no programa. Mas a falta de consenso ameaça adiar novamente o cronograma.
O Ministério da Defesa alemão defende que sejam mantidos os acordos anteriores sobre a configuração do consórcio e afirmou que até o final do ano apresentará opções para avançar ou redefinir o programa.
O impasse ocorre justamente às vésperas de encontros diplomáticos de alto nível. O presidente francês Emmanuel Macron deve receber o chanceler alemão Friedrich Merz nesta quinta-feira em Bregancon, no Mediterrâneo, seguido de reuniões em Toulon na sexta-feira, com a presença de ministros de ambos os países.
Um funcionário da presidência francesa minimizou as divergências, classificando-as como “pequenas diferenças” e reforçou que há forte determinação de ambos os lados para fazer o FCAS avançar.
Mais do que um caça de sexta geração, o FCAS é visto como um pilar da autonomia estratégica europeia em defesa. Contudo, as divergências entre Paris e Berlim reacendem o temor de que a Europa repita erros do passado, com projetos fragmentados e concorrentes, cenário que pode enfraquecer sua capacidade de enfrentar desafios militares em um ambiente geopolítico cada vez mais instável.
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com Reuters
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