O futuro do Future Combat Air System (FCAS), projeto franco-alemão que visa desenvolver o próximo caça europeu de sexta geração, vive um momento decisivo. Às vésperas de uma reunião entre o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Friedrich Merz, integrantes do parlamento da Alemanha alertam que Berlim precisa tomar uma decisão rápida: ou avança para a fase de desenvolvimento do programa ou busca alternativas fora da parceria com Paris.
O custo estimado do FCAS ultrapassa os US$ 117 bilhões, envolvendo a francesa Dassault Aviation, a Airbus e a espanhola Indra. O programa, no entanto, tem enfrentado anos de atrasos e disputas internas, principalmente sobre direitos de propriedade intelectual e a divisão de responsabilidades industriais.
Segundo a Reuters, Berlim culpa a França por bloquear a entrada na chamada “fase 2”, etapa em que seriam construídos os primeiros demonstradores de voo, originalmente prevista para o final de 2024.
Christoph Schmid, membro do comitê de defesa do parlamento alemão e integrante do Partido Social-Democrata do ministro da Defesa Boris Pistorius, foi direto: “Se não obtivermos uma decisão em Toulon para entrar na fase 2, tudo se tornará cada vez mais difícil. Quanto mais uma decisão for adiada, mais irrealista se torna a implementação do FCAS.”
Eurofighter como alternativa
Diante das incertezas, Schmid defendeu que a Alemanha considere alternativas. Ele citou o Eurofighter Typhoon, fruto da cooperação entre Alemanha, Reino Unido e Itália, como exemplo de sucesso conjunto sem a participação francesa.
Na visão do parlamentar, não seria um desastre se Berlim e Paris seguissem caminhos distintos. A Alemanha poderia inclusive encomendar mais 60 caças Eurofighter até 2029 para substituir sua frota de Tornado. Isso abriria espaço para evoluções do Typhoon ou até para a participação no Global Combat Air Programme (GCAP) — iniciativa liderada por Reino Unido, Itália e Japão para desenvolver um caça stealth de próxima geração.
Outros cenários em análise incluem um desenvolvimento nacional alemão ou uma cooperação com parceiros fora do eixo tradicional europeu, como a Suécia, que já possui experiência avançada com o Saab Gripen.
Pressão política em Berlim
O impasse não é apenas técnico. Para Sebastian Schaefer, parlamentar do Partido Verde e membro do comitê de orçamento, o ministro da Defesa alemão precisa atuar de forma mais incisiva junto ao seu homólogo francês: “Não basta culpar apenas a indústria. Pistorius precisa conversar com a indústria, e também com seu amigo, o ministro da Defesa francês Sébastien Lecornu.”
A disputa em torno do FCAS mostra mais do que diferenças bilaterais. Ela reflete a dificuldade europeia em estabelecer projetos de defesa conjuntos robustos, mesmo em um contexto de aumento dos orçamentos militares e da necessidade de independência estratégica diante das tensões globais.
Caso a Alemanha opte por seguir sozinha ou aderir ao GCAP, o continente europeu pode assistir a uma fragmentação de esforços tecnológicos, algo que já ocorreu em décadas anteriores, quando diferentes países desenvolveram plataformas concorrentes em vez de buscar convergência.
Para Berlim, a decisão que se aproxima não é apenas sobre um avião de combate, mas sobre o rumo de sua política de defesa e sua capacidade de projetar poder aéreo no longo prazo.
GBN Defense - A informação começa aqui
com Reuters
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