Em fevereiro de 1945, a Conferência de Yalta reuniu Franklin D. Roosevelt, Winston Churchill e Josef Stalin para definir o futuro da Europa após a iminente derrota da Alemanha nazista. Naquele momento, os líderes buscavam organizar uma paz duradoura, estabelecendo zonas de influência e lançando as bases da ordem mundial do pós-guerra, incluindo a criação das Nações Unidas. Yalta consolidou uma bipolaridade que moldaria décadas, com o bloco ocidental e a União Soviética assumindo posições estratégicas e ideológicas contrastantes, mostrando que acordos temporários podem gerar consequências duradouras quando interesses divergentes emergem em meio a consensos iniciais.
Oito décadas depois, em 2025, Anchorage, no Alasca, tornou-se palco de um novo encontro de grandes potências. O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, se reuniram em um território historicamente neutro, comprado da Rússia em 1867 e estrategicamente próximo do Ártico e das rotas asiáticas. Diferentemente de Yalta, não havia um inimigo comum forçando a cooperação: havia rivalidade aberta, marcada por demonstrações de força militar e negociações diretas de alto nível, interrompidas desde o início da guerra na Ucrânia em 2022.
A chegada de Putin foi saudada com um espetáculo militar: bombardeiros B‑2 Spirit e caças F‑35 sobrevoaram a base, enquanto exemplares do F‑22 foram posicionados para sinalizar capacidade tecnológica e superioridade militar dos EUA. Mais que um show de poder, era um recado claro: Washington se afirmava como centro de autoridade global. No plano diplomático, Trump atuou de forma assertiva, buscando acordos que reforçassem a centralidade dos EUA e colocassem Europa e Rússia em posição estratégica desfavorável, enquanto a narrativa transmitida sugeria que a guerra na Ucrânia não seria vantajosa para nenhum dos lados, mas que os EUA controlavam a agenda e o ritmo das negociações.
Putin, porém, não aceitou termos impostos unilateralmente. Apresentou propostas de reconhecimento da Crimeia e da soberania russa sobre Donetsk e Luhansk, exigiu neutralidade da Ucrânia em relação à OTAN e garantias para a língua russa, além de propor um novo encontro em território russo, reforçando que a negociação é contínua e que a Rússia mantém agência estratégica no processo.
O encontro gerou alertas globais. Representantes da sociedade civil internacional, refugiados políticos e defensores da paz compararam o Alasca 2025 a Munique 1938 e Yalta 1945, alertando para o risco de acordos táticos de curto prazo que poderiam legitimar ocupações ilegais, flexibilizar sanções e impor decisões injustas à Ucrânia sem sua participação direta ou da Europa. A mensagem foi clara: qualquer concessão apressada poderia reproduzir erros históricos, fragilizando a ordem internacional e legitimando regimes autoritários.
O tabuleiro geopolítico desenhado pela cúpula evidencia dilemas complexos: a Europa precisa equilibrar apoio à Ucrânia e pressões de Washington para evitar escalada; a Rússia busca consolidar ganhos territoriais sem abrir mão de autonomia; a Ucrânia enfrenta a difícil tarefa de preservar sua integridade territorial sob intensa pressão; e os EUA reafirmam seu papel central, mantendo influência sobre aliados e limitando movimentos estratégicos de Moscou.
Em síntese, a Cúpula do Alasca 2025 marcou a retomada da diplomacia de alto nível após anos de impasse, com Trump consolidando a posição central dos EUA, Putin mantendo firmeza estratégica, e Europa e Ucrânia recalibrando suas estratégias diante de uma nova configuração de poder. Se Yalta definiu o mundo pós-Segunda Guerra, o Alasca sinaliza que, 80 anos depois, o século XXI continua sendo moldado por jogos de poder entre grandes potências, com impacto direto na segurança regional, na economia global e na ordem internacional. O alerta da sociedade civil global reforça que, mesmo em 2025, decisões de grandes potências têm consequências concretas para vidas humanas e para a estabilidade mundial.
Por Angelo Nicolaci
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