A recente decisão da Tailândia de adquirir quatro caças Gripen E/F, rompendo um jejum de exportações que durava mais de uma década para a versão mais moderna do caça sueco, reacendeu um debate antigo: afinal, quanto custa realmente um Gripen? E mais importante, como entender esse valor diante de outras aeronaves da mesma categoria, como o F-16 Fighting Falcon e o Rafale?
Segundo dados oficiais divulgados pelo governo tailandês, o contrato fechado em 2024 gira em torno de 5,3 bilhões de coroas suecas, ou aproximadamente US$ 553 milhões, o que significa algo próximo a US$ 138,25 milhões por aeronave. À primeira vista, o valor coloca o Gripen em uma posição competitiva no mercado internacional, sendo consideravelmente mais barato que concorrentes diretos, como o Rafale francês, cujo custo médio por unidade, segundo contratos recentes com a Sérvia, chega a cerca de US$ 240 milhões.
No entanto, comparar preços apenas pela ótica do valor unitário é um equívoco comum e perigoso. O custo real de aquisição de uma aeronave não se resume à fuselagem e aos motores. Ele envolve um pacote muito mais amplo, que inclui infraestrutura de apoio em solo, treinamento de pilotos e equipes de manutenção, sistemas embarcados, simuladores, armamentos, estoques de suprimentos, suporte logístico de longo prazo e consumíveis necessários à operação diária.
A Tailândia já opera há mais de uma década o Gripen C/D
Nesse ponto, cada contrato é único, moldado de acordo com as necessidades do país comprador e, principalmente, com a infraestrutura já existente. A própria Tailândia, que já opera caças Gripen C/D há mais de uma década, não precisará investir novamente em grande parte da infraestrutura de apoio, reduzindo de forma significativa os custos adicionais. Essa diferença explica, em parte, o valor mais baixo do contrato tailandês em comparação a outros países que iniciam do zero sua estrutura de operação.
Um bom exemplo é a Colômbia, que anunciou a intenção de adquirir o Gripen E/F a um custo estimado de US$ 162 milhões por aeronave. O valor mais elevado reflete não apenas a aquisição das aeronaves, mas também serviços e sistemas adicionais, necessários para estabelecer uma nova capacidade operacional. Já o Peru, que estuda adquirir 24 unidades, trabalha com estimativas próximas a US$ 145,8 milhões por unidade, um valor intermediário que demonstra novamente como os pacotes influenciam o preço final.
O caso brasileiro: além da aeronave, tecnologia e indústria
O Brasil é hoje o principal operador estrangeiro do Gripen E/F, com um contrato assinado em 2014 no valor de US$ 7,2 bilhões para 36 aeronaves. Mas o diferencial brasileiro não está apenas na aquisição dos caças: o acordo incluiu um amplo pacote de transferência de tecnologia e a criação de uma linha de produção local, em parceria com a Embraer e outras empresas da Base Industrial de Defesa.
Essa decisão estratégica transformou o país em coprodutor do Gripen, garantindo acesso a conhecimento sensível, autonomia logística e capacidade de manutenção em território nacional. A presença de um centro de desenvolvimento e manutenção no Brasil reduz custos futuros, cria empregos qualificados e fortalece a indústria de defesa, ampliando os ganhos além do campo militar.
Mais do que comprar aeronaves, o Brasil investiu em soberania tecnológica, algo que não aparece no cálculo do “preço por unidade”, mas que traz benefícios de longo prazo incomparáveis em termos de capacitação industrial e independência operacional.
Comparações distorcidas
Muitos observadores internacionais costumam comparar diretamente os preços divulgados para Gripen, Rafale, F-16 ou mesmo Eurofighter Typhoon, sem considerar os aspectos contratuais e logísticos envolvidos. Essa abordagem simplista pode levar a análises equivocadas.
Enquanto um Rafale supera facilmente os US$ 240 milhões por unidade, e um F-16 Block 70, embora mais barato que o francês, ainda se aproxima de valores elevados quando somados suporte e armamentos, o Gripen mantém-se competitivo justamente pelo equilíbrio entre custo de aquisição e custo operacional. Projetado para operar com estruturas menores, menor dependência de pistas extensas e maior eficiência logística, o caça sueco oferece uma solução completa com custos de manutenção mais baixos que seus rivais diretos.
Mais do que comparar números isolados, é fundamental compreender que a aquisição de um caça moderno envolve um ecossistema inteiro de suporte, infraestrutura, treinamento e, no caso brasileiro, até mesmo transferência de tecnologia e desenvolvimento industrial.
O Gripen destaca-se nesse cenário por oferecer um pacote competitivo, que equilibra preço, tecnologia e eficiência logística. O Brasil, ao se consolidar como maior operador do Gripen fora da Suécia e coprodutor da aeronave, mostra que investir em defesa não é apenas adquirir equipamentos, mas sim construir capacidades estratégicas para o futuro.
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