sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O papel silencioso e essencial das Forças Armadas em tempos de paz, a missão que muitos não veem

Enquanto muitos associam as Forças Armadas a cenários de guerra, confrontos e combate, o verdadeiro valor dessas instituições muitas vezes reside em suas ações discretas, mas fundamentais, nos períodos de paz. No Brasil, um país de tradição pacífica e avesso a conflitos internacionais, é comum encontrar percepções equivocadas sobre o papel dos militares. Há quem veja os quartéis como estruturas ociosas, sendo comum "memes" de militares pintando meio-fio ou capinando. No entanto, essa visão míope ignora a vasta gama de missões estratégicas que as Forças Armadas brasileiras desempenham diariamente, desde proteção de fronteiras à ajuda humanitária, da defesa cibernética ao suporte à ciência.

A ideia de que as Forças Armadas só têm utilidade em tempos de guerra desconsidera o que verdadeiramente sustenta a soberania nacional e garante a estabilidade interna. A paz, por si só, é uma conquista que exige preparo constante, planejamento estratégico e sobretudo, presença. E essa presença, ainda que muitas vezes silenciosa, é essencial para a construção e manutenção do Estado brasileiro. Neste texto proponho uma imersão crítica e reflexiva sobre o papel das Forças Armadas nos tempos de paz, ressaltando a importância do investimento e do reconhecimento dessas instituições por parte da sociedade civil.

Defesa da Soberania Nacional e Segurança das Fronteiras

As Forças Armadas brasileiras são responsáveis pela vigilância e defesa de um território continental, com mais de 16 mil quilômetros de fronteiras terrestres e 7,4 mil quilômetros de litoral. Em tempos de paz, essa defesa não se dá por confrontos armados, mas por uma vigilância permanente contra crimes transnacionais, como o tráfico de drogas, armas, contrabando, garimpo ilegal e imigração irregular. Operações como a "Ágata" e a "Verde Brasil" ilustram o esforço militar em colaborar com órgãos civis no combate a esses delitos que fragilizam a segurança nacional.

A presença das tropas em áreas remotas, muitas vezes inóspitas, é também uma forma de afirmar a soberania nacional. Pelotões de fronteira, navios-patrulha fluviais, bases aéreas avançadas e unidades logísticas garantem não apenas a segurança física do território, mas também a integração nacional, levando assistência médica, transporte de mantimentos e apoio logístico às populações isoladas da Amazônia, do Pantanal e do cerrado. Esse trabalho silencioso é parte fundamental do pacto federativo e da coesão territorial brasileira.

Além disso, o trabalho de inteligência e de vigilância tecnológica também desempenha um papel central. Satélites geoestacionários, radares de longo alcance, sensores de solo e monitoramento aéreo auxiliam na proteção das fronteiras sem necessidade de confronto. O investimento em ciência e tecnologia de defesa é, portanto, uma extensão da soberania nacional. A paz que vivemos no Brasil é resultado de um esforço permanente e caro de dissuasão, presença e prevenção.

Ações Humanitárias e Apoio à Defesa Civil

A atuação das Forças Armadas em catástrofes naturais e emergências sanitárias é uma das faces mais visíveis e ainda assim pouco reconhecidas de sua importância. Durante as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, por exemplo, o apoio dos militares foi decisivo no resgate de milhares de pessoas, transporte de donativos, reconstrução de pontes e restabelecimento de comunicações. Em outras ocasiões, como nos incêndios no Pantanal e na crise da COVID-19, Exército, Marinha e Força Aérea também foram protagonistas logísticos e operacionais.

O conceito de “pronto emprego” é central para entender essa capacidade de resposta rápida. As Forças Armadas dispõem de uma estrutura de mobilização, comando e logística capaz de operar em situações extremas em qualquer ponto do território nacional. Seja por ar, terra ou mar, os militares podem transportar insumos, erguer hospitais de campanha, purificar água, distribuir alimentos e garantir o mínimo funcionamento social em locais colapsados por desastres.

Essas operações exigem preparo, doutrina e constante adestramento. A cada ano, dezenas de exercícios de simulação e resposta a emergências são realizados. Os recursos materiais e humanos mobilizados, porém, raramente recebem o mesmo destaque da atuação em combate. A ideia de que os militares só têm utilidade em tempos de guerra perde força diante da realidade das crises climáticas, sanitárias e humanitárias do século XXI.

Formação de Cidadania e Projetos Sociais

Além das missões operacionais, as Forças Armadas desenvolvem importantes programas de formação cidadã e apoio à juventude. Projetos como o Programa Forças no Esporte (PROFESP), o Programa Segundo Tempo Paradesporto Militar e ações do Serviço Militar voluntário representam iniciativas que oferecem formação ética, educacional e esportiva a milhares de jovens em situação de vulnerabilidade. Ao mesmo tempo, essas iniciativas ajudam a reduzir a evasão escolar e a marginalização.

Nos rincões do país, onde o Estado é muitas vezes ausente, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica tornam-se os únicos rostos visíveis da institucionalidade. Os colégios militares, a assistência médica prestada por navios-hospitais e os projetos de incentivo à leitura e capacitação profissional geram impactos positivos de longo prazo, muitas vezes sem qualquer publicidade ou reconhecimento público.

Formar cidadãos conscientes, resilientes e preparados para o futuro é também uma forma de defesa nacional. A cultura da disciplina, do respeito, da solidariedade e da responsabilidade cultivada em ambientes militares, contribui para a coesão social e para a promoção da paz duradoura. Enquanto muitos enxergam nos militares apenas a farda, há uma sociedade inteira que se forma a partir do seu exemplo silencioso.

Pesquisa, Ciência e Tecnologia: Defesa como Inovação

O desenvolvimento científico e tecnológico promovido pelas Forças Armadas brasileiras representa uma das principais alavancas de inovação no país. Instituições como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Instituto Militar de Engenharia (IME), o Centro Tecnológico da Marinha (CTM) e o Comando de Defesa Cibernética promovem avanços em áreas como inteligência artificial, robótica, propulsão, comunicações criptografadas e engenharia espacial.

Programas como o desenvolvimento conjunto do caça F-39E Gripen, do submarino nuclear brasileiro e do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), dentre varios outros, mostram como a defesa nacional impulsiona cadeias produtivas, forma engenheiros e técnicos de excelência, e promove transferência de tecnologia. Sem essas iniciativas, o Brasil estaria ainda mais dependente do exterior em setores estratégicos.

A paz também se constrói com conhecimento e soberania tecnológica. O domínio de tecnologias sensíveis, a capacidade de desenvolver sistemas de armas próprios e a manutenção da base industrial de defesa são ferramentas de dissuasão e garantias de autonomia estratégica. Negligenciar isso é comprometer o futuro.

A Miopia da Sociedade e o Custo da Ignorância

A visão limitada que parcela da sociedade tem sobre as Forças Armadas reflete uma desconexão perigosa com a realidade nacional. O Brasil, apesar de pacífico, está inserido em um contexto regional e global instável, sujeito a crises ambientais, migrações em massa, guerras cibernéticas e pressões geopolíticas. Ignorar o papel das instituições militares ou tratá-las como despesa supérflua é desvalorizar um dos pilares da soberania e da segurança.

Além disso, a caricatura do militar que apenas "pinta meio-fio" ou "capina mato" revela o desconhecimento sobre o escopo das atividades militares. O que está em jogo é mais do que um contingente de homens fardados, é a continuidade de um projeto nacional que depende da força, da presença e da preparação constante.

Investir nas Forças Armadas é investir na paz, na ciência, na juventude, na soberania e na capacidade de resposta diante de crises. Reconhecer esse papel não deve ser visto como ideologia, mas como responsabilidade cidadã. O Brasil precisa urgentemente rever sua relação com seus protetores silenciosos.

A paz não é gratuita. Ela é mantida diariamente por aqueles que juraram defender a pátria, mesmo quando ela não os reconhece. E é justamente por isso que merecem mais do que silêncio: merecem respeito, investimento e gratidão.

Nosso Reconhecimento às Forças Armadas Brasileiras

Como jornalista e cidadão, acompanho há quase duas décadas a atuação das instituições militares brasileiras em todas as suas dimensões. Estive presente em operações, cobri exercícios de grande envergadura, participei de missões em áreas de risco, participei de cursos e treinamentos como aluno, fazendo parte da tropa, e vi de perto o sacrifício diário de homens e mulheres que dedicam suas vidas ao Brasil.

Esse acompanhamento próximo não me deixou dúvidas: as Forças Armadas são das instituições brasileiras, as mais preparadas, resilientes e comprometidas com o futuro do país. Mesmo diante de orçamentos limitados, de incompreensões sociais e de desafios estruturais, seus integrantes seguem firmes, silenciosos e determinados.

Aos militares das três Forças, a Marinha, o Exército e a Aeronáutica, deixo meu mais sincero agradecimento e reconhecimento. Sei das renúncias que fazem, do tempo longe da família, das jornadas em condições extremas e do amor à pátria que os move. São brasileiros que honram o uniforme que vestem e a bandeira que juraram defender.

Essa reportagem é também, um tributo pessoal. Um gesto de quem viu com os próprios olhos a importância do que vocês fazem e que se compromete a não permitir que esse trabalho seja esquecido ou desvalorizado. Sigam firmes, pois o Brasil precisa, e muito, de vocês.


Por Angelo Nicolaci


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