segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ajuda Brasileira no Haiti


Quando a haitiana Magalie Boyer, que nasceu e cresceu em Porto Príncipe, descreve o que se vê na capital haitiana hoje, exatos seis meses depois do terremoto que a devastou em janeiro, a resposta imediata surpreende: “Bandeiras do Brasil, muitas bandeiras do Brasil”. A enxurrada verde-amarela, explica a diretora de comunicação da organização não governamental World Vision, foi motivada, é claro, pela admiração dos haitianos pela seleção pentacampeã. Mas não só por isso. A simpatia vai além do futebol. Ela foi conquistada dia a dia, nos últimos seis anos, pelos militares brasileiros que estão à frente da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), e se intensificou nos meses que se seguiram à pior catástrofe da América Latina.

Hoje, um quarto dos cerca de 1,6 milhão de haitianos que vivem em acampamentos improvisados está em áreas de responsabilidade das forças brasileiras. Os soldados, que somam 2.187 desde a chegada, em fevereiro, do reforço com 900 homens, ainda se dividem entre as missões de segurança – que já eram realizadas antes de janeiro – e as demandas surgidas depois do desastre, como a distribuição de alimentos e roupas. “As tropas brasileiras chegaram a distribuir, por dia, mais de 80 toneladas de alimentos, vindos do Brasil e de outros países, por meio do Programa Mundial de Alimentos da ONU”, lembra o comandante do 1º Batalhão Brasileiro (Brabatt 1), coronel Rêgo Barros.

O modo de operar seguiu as necessidades imediatas do país: primeiro, a busca por sobreviventes, o atendimento às vítimas e a remoção de escombros. Depois, os grandes mutirões de distribuição da ajuda que vinha de fora. A partir de abril, o foco se voltou para a reconstrução das vias públicas e dos prédios, como o de uma escola que os militares brasileiros ajudaram a reerguer em Cité Soleil, um dos bairros mais carentes da capital. “Mas nunca perdemos de vista a segurança, que, a despeito de tudo, sempre esteve em nossas mãos”, assegura Barros.

Segundo o comandante, nesse quesito, inclusive, o país tem hoje índices melhores do que no período antes do terremoto. “Os dados levantados pela Minustah, dois meses atrás, mostram que houve menos crimes que em maio de 2009. Isso significa que não houve crescimento da violência, mesmo com a fuga de vários presos por conta do terremoto”, observa. Para Magalie, é fato que os casos de violência depois do terremoto foram menos numerosos do que se esperava. “As forças policiais do Haiti, com a Minustah, se empenharam bastante em recapturar os criminosos e manter a segurança na capital”, afirma, observando, contudo, que um tipo de crime não diminuiu: a violência contra a mulher. “Nos acampamentos, as mulheres estão muito vulneráveis. E já há levantamentos que mostram um aumento no número de estupros”, destaca.

Tensões

Agora, seis meses depois do terremoto, o Brasil voltou a ser o país com o maior efetivo em solo haitiano. No entanto, logo após o sismo que deixou mais de 300 mil mortos, os Estados Unidos chegaram a enviar mais de 22 mil militares para atuar no país. Na época, a chegada em massa de soldados americanos provocou um aparente desconforto nas tropas brasileiras e uma disputa por espaço de atuação no centro de Porto Príncipe. Hoje, os brasileiros negam qualquer atrito. “Os americanos trabalharam várias vezes em conjunto com as nossas tropas, o general Keen (Ken Keen, então chefe do Comando Sul do Exército americano) esteve várias vezes aqui no batalhão. As coisas fluíram com tranquilidade”, afirma Barros. “Foi um relacionamento muito profissional, muito adequado e muito importante para o Haiti.” Desde maio, o governo americano mantém apenas 200 militares no Haiti, que trabalham exclusivamente em um projeto de assistência civil.

As forças brasileiras não devem deixar o país tão cedo. O mandato da Minustah expira em outubro, mas deverá ser renovado, como ocorre todos os anos. Em novembro, os haitianos vão às urnas para escolher um novo presidente, que certamente precisará também do apoio da missão da ONU – em especial, dos militares brasileiros. “Não identifico uma mudança rápida no formato da missão. Por mais dois anos, pelo menos, o Brasil manterá esses dois batalhões”, opina o comandante do Brabatt 1.

Fonte: Correio Braziliense
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