domingo, 22 de agosto de 2010

Brasil acompanha mais de perto o PIB global


Depois de anos "descolado" do mundo, o Brasil parece ter entrado numa fase em que acompanhará mais de perto o desempenho da economia global. De 2008 para cá, a chamada correlação entre o crescimento do PIB brasileiro e do planeta aumentou significativamente.

Ainda que o movimento tenha diferentes intensidades, a direção é a mesma - no ano passado, por exemplo, o PIB global caiu 0,6% e o brasileiro, 0,2%. Em síntese, significa dizer que, quando o mundo avança, o Brasil também avança. Quando se retrai, o País também se retrai.

Essa é uma das razões que podem ter levado o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo de alta da taxa básica de juros (Selic). Na reunião do mês passado do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa subiu de 10,25% para 10,75% ao ano. A decisão surpreendeu a maior parte dos analistas, que esperavam uma elevação da Selic para 11% ao ano.

A diferença aparentemente irrisória de 0,25 ponto porcentual provocou inúmeras especulações no mercado financeiro. Segundo uma delas, o BC teria decidido pisar mais levemente no acelerador depois de autoridades brasileiras terem participado de encontros internacionais da área econômica. Nessas reuniões, o quadro pintado sobre a atividade global teria sido bem pior do que se imaginava.

Especulações à parte, o fato é que, desde 2008, o desempenho da economia brasileira está mesmo muito interligado ao do mundo, segundo levantamento realizado pelo economista Fausto Vieira, da Rio Bravo Investimentos. Nos anos imediatamente anteriores a 2008, o mundo quase sempre crescia acima do Brasil.

Pouco antes do estouro da crise global, o desempenho começa a ficar mais similar. Quando a atividade no mundo praticamente para, após a quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro daquele ano, as linhas praticamente grudam. Ou seja, o PIB brasileiro despenca junto com o internacional.


Incerteza

A grande dúvida dos economistas, inclusive do próprio Vieira, é se essa correlação tão forte vai manter-se nos próximos anos. Por ora, não há trabalhos suficientemente profundos que permitam afirmar com segurança se a resposta é sim ou não.

O que existe são hipóteses. Vieira trabalha com algumas. A primeira delas está relacionada à presença cada vez maior de multinacionais estrangeiras aqui e de multinacionais brasileiras lá fora. A segunda diz respeito à formação de expectativas. Com a informação no mundo viajando na velocidade da luz, pessoas e empresas se ajustam mais rapidamente às mudanças do cenário econômico.

O economista Fernando Rocha, da gestora de recursos JGP, avalia que a correlação continuará relevante. Ele argumenta que a economia brasileira passou a ser mais "normal" após os ajustes sofridos nos últimos anos. Com isso, abriu-se espaço para que a taxa de juros acompanhasse a tendência global.

Rocha lembra que, pela primeira vez em décadas, o Brasil conseguiu reduzir os juros em meio a uma grave crise. Em janeiro de 2009, o BC iniciou um processo de queda da Selic que levou a taxa para o menor nível da história. "Até então, sempre que havia crise, o Brasil elevava o juro." Se o juro caminha como no resto do mundo, afirma, é natural que o crescimento do PIB também siga na mesma direção.

Outros especialistas preferem manter-se cautelosos. Um deles é o economista-chefe do Banco Santander e ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman. "Não há o que contestar em relação ao que ocorreu recentemente: estamos falando de um dado concreto", diz. "Mas o período recente é excepcional por causa da crise. Houve uma sincronização dos movimentos no mundo."

O economista-chefe do HSBC, André Loes, também acha cedo para cravar que se trata de uma nova realidade. "Estruturalmente, o Brasil tende a ter uma correlação relativamente baixa com o resto do mundo porque é fechado tanto do ponto de vista de comércio quanto do ponto de vista de entrada de capitais." A relação entre exportação e PIB, aqui, é de 11% aproximadamente. No México, beira os 40%.

Fonte: Estadão
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