sábado, 9 de junho de 2018

Uma corrida naval entre a China e Índia?

Nosso mais novo colaborador, Augusto Cesar Peixoto Vianna, estréia sua primeira matéria solo conosco, o que dá uma visão mais ampla do artigo, "O Mar da China Meridional pode vir a ser palco de um conflito naval? Parte I", aqui traçando uma análise sobre como o aquecimento nas tensões regionais no eixo asiático tem sido marcante nos programas navais de duas nações de grande peso no cenário geopolítico regional, sendo objeto dessa análise a corrida em busca do aumento no poder naval que promete em um curto espaço de tempo, tornar essas duas marinhas em expoentes de poder regional e talvez em alguns pontos global, somado ao fato que este crescimento no poderio e capacidades pode resultar em escaramuças e aumento na conflitabilidade da região, com uma verdadeira corrida armamentista em andamento e que tem passado despercebida à muitos, especialmente no campo aéreo e naval entre as duas gigantes que emergem no cenário econômico e geopolítico.

Neste artigo, vamos fazer um comparativo entre o que estas nações estão objetivando em seus programas navais, estando focado nas forças de superfície e o que resultará no campo estratégico.

As ambições chinesas


A China nos últimos tempos, tem investido maciçamente em seu poderio militar, em especial em seu poder aéreo e naval, onde conforme foi apresentado no artigo tratando das questões inerentes ao Mar da China Meridional, ficou clara a posição chinesa de se estabelecer como potencia regional e que busca em pouco tempo consolidar sua posição como novo eixo de poder econômico e militar global.


O pesado investimento na industria naval de defesa, tem sido marcante nos últimos anos, com uma cadência produtiva de dar inveja em nações como os EUA e seus aliados europeus, lançando um grande número de navios ao mar e implementando em curto espaço de tempo o desenvolvimento e construção de uma esquadra que promete em poucos anos rivalizar com marinhas de expressiva tradição e poder.



Com a esperada entrega do primeiro Porta aviões "Tipo 001A" e dos Cruzadores Type 055, a Marinha do Exército de Libertação Popular espera obter superioridade perante a Índia e Rússia, e com isso poder impor-se no extremo oriente ante a avassaladora superioridade da US Navy naquele teatro de operações navais.

Os Cruzadores Type 055, deslocam 12.000 toneladas, e estão armados com dois lançadores verticais tipo VLS para 64 mísseis cada, os tubos de lançamento vertical deste sistema possui 16 metros de comprimento e pode ser equipado com uma vasta gama de armas, podendo contar com mísseis AAW, ASuW ou ASW, o número total de mísseis instalado pode variar de acordo com o tipo de mísseis empregados. Dentre as opções, podem lançar mísseis Cruise YJ-18 antinavio, com alcance de 290 milhas náuticas, mísseis antiaéreos HQ-9 com alcance de 90Km, mísseis antiaéreos Hongqi-10 com alcance de 20 Km, o míssil antinavio YJ-83 com alcance de 170 Km e o míssil Cruise CJ-1000 que ainda está em testes. Além destes, as Type 055 conta com dois lançadores de torpedos WHH004, capazes de lançar os novos torpedos anti-submarino e antinavio. Para defesa de ponto o navio conta com dois sistemas CIWS Type 730 de 7 tubos rotativos de 30mm, ou o novíssimo CIWS H/PJ-14 que também equipa o "Liaoning", os navios ainda contam com canhão principal superfície/antiaéreo de 155mm e podem operar um helicóptero antisubmarino Z-8.

O seu poder de fogo é três vezes superior aos DDGs da "Classe Arleigh Burke" e cerca de duas vezes superiores aos cruzadores norte americanos da "Classe Ticonderoga".

A China planeja construir 8 unidades do cruzador Type 055 para sua Marinha, onde estes cruzadores devem ser responsáveis por escoltar os navios aeródromos "Liaoning" e seu novo porta aviões ainda em fase final de construção, conhecido apenas como "Tipo 001A", o que dará à China uma esquadra com os navios mais bem armados do mundo e a condição de operar com duas "Task Forces", cada uma nucleada em um porta aviões contando com a escolta de quatro Type 055 cada, o que as fará dura de roer e passível operar em quaisquer lugar do mundo.

Com a conclusão deste programa naval a Marinha da China poderá ser a mais poderosa armada,quando comparada com a Rússia e a Índia, por conta do poder de fogo e capacidades inconteste dos cruzadores Type 055. Mas devemos lembrar que há uma verdadeira corrida nesse campo em andamento, e a Índia, assim como a Rússia, estão atentos aos passos chineses e ao que tudo indica,não vão ficar assistindo na platéia o crescente poder marítimo chinês sem buscar contrapor o aumento de capacidades que vem alcançando os chineses nesta última década em especial.

A Índia e a corrida armamentista naval


A Índia, assim como a China, tem apresentado um grande crescimento econômico, tendo uma grande população e detentora do status de potência nuclear, vizinha do Paquistão, país com quem possui escaramuças ao longo de décadas, e também vizinha da gigante China, nação que tem tomado o protagonismo da economia mundial e tem expandido seu poder de influência e capacidades militares regionais e já chega ao norte da África.

Diante deste cenário confuso, tensões de fronteira entre os três países, e a busca por maior protagonismo regional, a Índia tem mantido um bilionário investimento nos seus programas de defesa, investindo pesado na modernização de sua força aérea e marinha, participando de uma verdadeira corrida armamentista naval. Porém, seus planos apesar de mais ambiciosos que os russos, perdem para o programa da China, embora os indianos também planejem possuir duas esquadras capitaneadas por navios aeródromos, com seus dois NAe, o "INS Vikramaditya" e o "INS Vikrant", não há comparação possível ante o projeto chinês de Poder Aeronaval.

 Destroyer Project 15A "INS Kolkata"
A escolta do "INS Vikramaditya" e do "INS Vikrant" será feita pelos novos Destroyers/Cruzadores leves “Project 15A” de 6.800 toneladas de deslocamento, somando o total de três belonaves, o "INS Kolkata",o "INS Kochi" e o "INS Chennai", estas belonaves são bem armadas, tendo entrando em serviço no final de 2015.

Esses navios de escolta do "Project 15A", contam com um sistema de lançamento vertical de 64 células, armados com míssil antiaéreo israelense Barack 8 que possui alcance de 70 Km. Um sistema de lançamento vertical com 16 células VLS de mísseis Brahmos supersônicos destinados ao emprego antinavio, apresentando um alcance de 290 Km. Um canhão Oto melara de tiro super rápido de 76 mm antisuperfície/antiaéreo, com alcance de 16 Km usando munição HE-PFF, 20 Km usando munição SAPOMER e 40 Km usando munição Vulcano. Sua defesa de ponto é composta por quatro sistemas CIWS AK-630 com seis canos rotativos de 30 mm. Os "Project 15A" contam também com quatro lançadores de torpedos de 533 mm, quatro lançadores de foguetes anti-submarinos RBU-6000 com alcance de 4.3 Km, sendo capazes de operar com dois helicópteros anti-submarinos Sea King HAL.

Destacam-se nos navios dessa classe, o radar AESA e o sistema de gerenciamento de batalha, que aumenta significativamente a capacidade de defesa aérea no mar, e a suíte sonar baseada no sonar de casco de nova geração HUMSA-NG, além do sonar rebocado “towed array” Nagin.

Destroyer Project 15B "INS Visakhapatnam"
Além destes, a Marinha Indiana iniciou a construção do "Project 15B" que é uma versão ainda mais refinada do "project 15A" para escolta do "INS Vikrant", tendo sido aumentado o deslocamento para 7.400 toneladas, com casco aumentado para 163 metros de comprimento e sendo impulsionado por quatro turbinas a gás, tornando o navio capaz de atingir velocidades superiores a 30 nós. No quesito armamento a única diferença será o canhão Oto Melara de 127 mm antisuperfície/antiaéreo com alcance de 30 Km, os demais armamentos e capacidades continuam as mesmas. Espera-se que esta nova classe de cruzadores tenham o número inicial de quatro belonaves, o "INS Visakhapatnam", o "INS Porbandar", o "INS Mormugao" e o "INS Paradip".

Com a conclusão de seu programa naval e atingindo as capacidades de suas objetivadas duas "Task Forces", A Marinha Indiana será uma das mais poderosas marinhas do mundo, com capacidades ímpares e superadas tão somente pelos EUA, China e bem próxima ou até mesmo superior á russa, estando no eixo de influência marítima asiática entre a Rússia e a China.

Russos não assistem de camarote

Diante da corrida naval entre China e Índia, a Rússia vem observando os avanços de seus "aliados" e corre por fora, já que não possui interesses conflitantes com nenhuma das duas nações, mas quer manter seu status e a capacidade operacional em todos os mares.

Com a última modernização dos cruzadores Classe Slava, que consta, além do famoso "Moskva", o "Varyag" e o "Admiral Ustinov", todos operacionais na Marinha Russa, sendo ainda belonaves poderosas e muito bem equipadas, principalmente depois de receber oito lançadores óctuplos de mísseis SA-N-6 (versão naval do S-300) com capacidade de 64 mísseis, ainda contam com dois lançadores duplos de mísseis antiaéreos SA-N-4 Gecko, com capacidade para 40 mísseis e a defesa de ponto contando com seis CIWS Kashtan-M de 30mm duplos. Estes navios são uma ótima opção para prover defesa aérea de uma "Task Force" russa, ainda mais sendo ela capitaneada pelo NAe "Admiral Kuznetsov", sendo o único navio aeródromo russo até então. O "Kuznetsov" possui capacidades únicas se comparado com navios aeródromos de outras marinhas, pois além de seu grupo aéreo, ele é capaz de enfrentar navios a longa distância com seus 16 mísseis antinavio SS-N-12, com alcance de 550 km, além disso possuí uma respeitável capacidade anti-submarino, contando com dois lançadores de foguetes anti-submarino RBU-6000, dois lançadores quíntuplos de torpedos de 533 mm. O "Kuznetsov" esta equipado com sonar MG-332 Tigan-2T/Bull Nose de casco LF e o Platina/Horse Tail MF VDS que é um sonar de profundidade variável lançado da popa, levando ainda um helicóptero anti-submarino Kamov Ka-27. O alcance de suas armas é impressionante, no caso os mísseis antinavio SS-N-12, chega á 550 Km, o sistema de foguetes anti-submarino RBU-600 Smerch I,4 é de 4.3 Km, os mísseis S-300 são de 90 Km, o SA-N-4 Gecko tem alcande de 15 Km e o canhão duplo AK-130mm de uso antiaéreo/antisuperfície possui o alcance de 23 km.

A Marinha russa possui também outra classe de cruzadores mais poderosa que a Classe Slava, tratam-se dos cruzadores pesados de propulsão nuclear projeto 1144, Classe Orlan/Kirov, composta pelo "Pyotr Veliky" (Pedro, O Grande), nau capitania da esquadra russa no Mar do Norte, baseada em Severomorsk, e o seu irmão "Admiral Nakhimov", o qual esta finalizando uma extensa modernização, a qual seu "irmão" também irá receber. Ambos deslocam 24.000 Toneladas, armados com 20 mísseis antinavio SS-N-19/3K45 (Shipwreck/Granit) com alcance de 550 Km, 10 mísseis antinavio SS-N-16 (Stalion/RPK-6/7) com alcance de 120 Km, um sistema de lançamento vertical para 12 SA-N-6 (S-300PMU1) com alcance de 200 Km, um sistema duplo de mísseis antiaéreos SA-N-4 com alcance de 9 Km, um sistema de lançamento vertical óctuplo de mísseis antiaéreos SA-N-9 (3K95 Kinzhal),transportando 192 mísseis destes. Na defesa de ponto, esses navios contam com seis sistemas CIWS Kashtan M duplos de calibre: 30 mm com alcance de 4 Km, dois canhões duplos AK-130 calibre 130 mm com alcance de 23 Km. Para lidar com ameaça submarina, contam com um sistema de mísseis anti-submarino Raduga SS-N-15 (Starfish) semelhantes aos ASROC americanos com alcance de 50 Km, dois sistemas quíntuplos de lançamento de torpedos de 533mm com 40 unidades a bordo, dois sistemas de foguetes anti-submarinos e anti-torpedo RBU-1000 de 300 milímetros semelhantes aos Hedgehog americanos. Capaz ainda de operar com três helicópteros anti-submarinos Kamov Ka-27PL.

Tratam-se de duas belonaves extremamente armadas e de longo curso passiveis de capitanear uma "Task Force" russa em qualquer oceano do mundo.

Estas poderosas belonaves das Classes "Slava" e "Orlan/Kirov" em conjunto com o NAe "Admiral Kuznetsov", ainda formam uma "Task Force" respeitável em qualquer parte do mundo.

A Marinha russa também dispõe de uma unidade do cruzador antiaéreo lança mísseis da "Classe Kara" (ou Project 1134B Berkut), que compreendia inicialmente sete belonaves, porém, apenas o "Kerch" encontra-se em serviço ativo sendo a nau capitania da frota do Mar Negro, deslocando 9.700 toneladas e esta armado com dois lançadores quádruplos de mísseis anti-submarinos SS-N-14 Silex com alcance de 45 Km, dois lançadores duplos de mísseis antiaéreos SA-N-4 Gecko com alcance de 9 Km, um lançador vertical para 24 mísseis antiaéreos SA-N-6 Grumble (S-300F) com alcance de 90 Km. Para defesa de ponto o navio esta armado com dois AK-630 CIWS de 30 mm com alcance de 4 Km e dois canhões duplos AK-726 de 76 mm com alcance de 10 Km. Para ameaça submarina o navio possui dois tubos lançadores de torpedos PTA-53-1134B de 533 mm, dois lançadores de foguetes anti-submarino RBU-1000 com alcance de 1 Km, além de poder operar com um helicóptero anti-submarino Kamov Ka-27.

Apesar de possuir um considerável poder de fogo e terem sofrido extensos programas de modernização, são navios de projetos antigos, datando da década de 70/80, e a Marinha Russa ressente-se da falta de outro navio aeródromo para projetar seu poder naval, além de novos cruzadores mais moderno, ficando assim em desvantagem diante dos projetos em andamento nas marinhas indianas e chinesa, embora conte com uma basta gama de navios menores e de expressivo poderio, como as corvetas Buyan-M.

Para mitigar esta inferioridade a Rússia está construindo uma nova classe de escoltas, trata-se da Classe "Admiral Gorshkov", ou Project 22350, porém são fragatas de 4.500 Toneladas de deslocamento, porém com longo raio de ação.

As fragatas do Projeto 22350 possuem estrutura modular e superestrutura blindada, cuja construção faz uso extensivo de materiais compostos para redução de peso e visibilidade frente aos radares inimigos, o casco apresenta linhas hidrodinâmicas afiladas, com objetivo de fornecer alta navegabilidade , durante as provas de mar, o "Admiral Gorshkov" superou a velocidade estimada, alcançando 29 nós.

A propulsão do navio é CODAG (turbina a gás combinada com motor diesel), as turbinas são acionadas em caso de necessidade de deslocamentos rápidos, enquanto os motores a diesel fornecem propulsão econômica com autonomia de até 4.000 milhas.

O armamento principal das fragatas Projeto 22350 é composto por Casulos Universais de Disparo Vertical (UKSK), capazes de lançar 16 mísseis antinavio supersônicos Onyx e o anti-submarino Kalibr-NK,  ou ainda os famosos mísseis Cruise Kalibr que demonstraram imensa precisão contra alvos na Síria. Estes mísseis têm a capacidade de atacar navios de superfície, submarinos e alvos em terra, com alcance de até 4.500 km, sendo guiados pelo sistema de navegação via satélite russo GLOSNASS.

As fragatas desse tipo, são os primeiros grandes navios de guerra de superfície para operações oceânicas, projetados e construídos totalmente na Rússia pós-soviética. Porém estas novas Fragatas não se comparam nem em tonelagem, tampouco em poder de fogo com os meios Chineses e Indianos.

Além das novas Fragatas, estão em processo de desenvolvimento os Cruzadores nucleares da classe Líder, que podem ter seu deslocamento variando entre 10.000 e 15.000 Toneladas, sendo previsto o início de sua construção para não antes de 2023/2025. O armamento previsto será composto pelo Sistema de Casulos Universais de Disparo Vertical (UKSK), capazes de ser carregados com 16 mísseis antinavio supersônicos Onyx, anti-submarino Kalibr-NK, mísseis Cruise Kalibr, como nas fragatas Project 22350. Além destes mísseis, o Sistema de Casulos Universais de Disparo Vertical (UKSK) ainda pode lançar o novíssimo sistema de defesa antiaérea russo, S-400 Triunf, que é capaz de engajar até 36 alvos, levando 72 mísseis, sendo até seis vezes mais rápido do que os seus antecessores, incluindo o americano Patriot, devido à performance dos mísseis, especula-se que pode ser integrado ao navio o projeto em desenvolvimento do sistema S-500. 

Apesar de possuir bons projetos em andamento, ainda levará bastante tempo para que estes novos meios formem a espinha dorsal das forças navais multifunção da Marinha russa, o que pode por em check sua posição como maior e mais poderosa marinha da região.

Sem sombra de dúvidas, o clima na região tem propiciado uma escalada nos orçamentos de defesa, principalmente com as tensões registradas na península da Coréia e Mar da China Meridional, somados os esforços desses três países para alcançar e manter um status de potência regional, e ou global, como o que aparenta ser as ambições da China, vemos uma Índia emergente no cenário geopolítico e uma Rússia que busca se manter em paridade com a China,já que ambos ainda não possuem meios de superar ainda a potência norte americana, apesar da mesma esta em claro declínio.

Por: Augusto Cesar Peixoto Vianna - Colaborador do GBN News, formado em História pela UFF e pós-graduado em História Militar pela UNIRIO.


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