domingo, 17 de dezembro de 2017

"Arma Blindada" - Uma nova vida aos M60 no Exército Brasileiro?

O Exército Brasileiro tem o enorme desafio de prover a defesa das fronteiras do Brasil, as quais são extensas e fazem divisa com quase todos país do continente. Tal desafio demanda meios necessários a proteção das mesmas, e embora não haja uma real ameaça a integridade territorial brasileiras em nosso horizonte, é preciso dispor dos meios adequados para contrapor qualquer ameaça que venha a surgir no horizonte.

Diante deste cenário, a região sul do país, onde prevalece o teatro de operações ideal para o emprego da “Arma Blindada”, dada as características geográficas da região, abriga as principais guarnições de blindados do Exército Brasileiro, o qual atualmente conta com um mix de carros de combate, sendo 239 Leopard 1A5 e 128 da versão 1A1 de fabricação alemã e 32 M-60 TTS remanescentes em operação dos 91 originalmente adquiridos juntos aos EUA.

Tendo em vista o orçamento que esta muito distante da real necessidade da força terrestre brasileira, a qual possui grandes necessidades tecnológicas para  cumprir com sua missão constitucional diante do moderno teatro de operações, é preciso que o mesmo busque soluções criativas para suas necessidades, afim de maximizar suas capacidades e mantê-las com os recursos dos quais dispõe.

Diante do que expusemos acima, tomamos a liberdade de pesquisar inovações e soluções a “Arma Blindada” do Exército Brasileiro, buscando através deste artigo abrir o debate e a discussão acerca das soluções as quais podemos adotar para prover os meios necessários a força terrestre em manter a posição soberana de nossa nação. Assim, estudamos várias opções e soluções viáveis, e dentro dessa visão, vislumbramos uma boa resposta as nossas necessidades, considerando principalmente o cenário regional no qual estamos inseridos e o nível de ameaças que são factíveis de ser consideradas em uma hipotética agressão, ou a necessidade de um incursão de nossa força em territórios vizinhos caso seja necessário no futuro.

Esta que será a primeira matéria de uma série, que terá por objetivo trazer o debate sobre a questão, terá como primeira parte a apresentação de uma solução simples e de baixo custo, representada pela modernização de nossos 91 carros de combate M-60 TTS, dos quais 59 encontram-se estocados aguardando uma definição de seu destino.

O M-60 Patton, entrou em operação na década 60, tendo sido o principal tanque de batalha dos EUA ao longo de pouco mais de três décadas. Tendo representado o auge da tecnologia em sua era, armado com um canhão M68 de 105mm e protegida por uma blindagem superior aos seus rivais à época, tendo sido projetado para contrapor o soviético T-55. O M-60 teve mais de 15.000 unidades produzidas em suas diversas variantes, tendo operado com as forças armadas em mais de 24 países. Hoje, apesar de superado pelos mais modernos e eficientes MBTs, deu baixa em diversos países, mas metade desses blindados ainda continua em operação em diversos países pelo mundo, muito dos quais passaram por extensos programas de atualização e modernização, com os quais ganharam um nova vida no cenário de combate moderno.

As principais batalhas onde o M-60 foi empregado, tiveram lugar junto as forças de defesa israelenses, com a qual entrou em combate a primeira vez em 1973, tendo participado em todos os conflitos nos quais Israel participou desde então, proporcionando à Israel obter valiosas lições de combate, com as quais obteve grande vantagem no campo de batalha, conhecendo bem as vulnerabilidades e vantagens do M-60, experiência a qual guardou a sete chaves dos demais operadores do carro de combate regionais, tendo em vista que vizinhos como Egito e Arábia Saudita também possuíam grande frota desses blindados em seus exércitos.

Lembrando que ainda hoje as maiores frotas de M-60 estão em operação no Egito e Arábia Saudita , onde mesmo após décadas operam na mesma configuração dos anos 70!!! Dividindo espaço com os modernos M-1A1 Abrams.

Diante do atual cenário de conflitos assimétricos, o teatro de operação tem apresentando grande mudanças no clássico emprego da “arma blindada”, onde os modernos e caros carros de combate não tem representando um fator preponderante no campo de batalha, abrindo espaço para o emprego de meios mais convencionais e de baixo custo que oferecem uma melhor razão custo/benefício diante da mesma capacidade de resposta obtida por ambos no teatro de operações. Assim, assistimos ao longo dos últimos anos, cada vez mais presente nos conflitos em ebulição no Oriente Médio, o emprego de veículos vetustos, os quais tem apresentando ótimo rendimento e levado muitos de seus operadores a promover estudos e programas de modernização e atualização dos mesmos para o “estado da arte” no quesito eletrônico e armamento disponibilizado as suas frotas.

Tanto o Egito, Arábia Saudita como a Turquia, sofreram significativas perdas em combate no cenário assimétrico do Iêmen, Síria e norte do Iraque, sendo os principais responsáveis por essas perdas as modernas e práticas armas antitanque, como RPGs, ATGM e outros. 

A Turquia curiosamente operou com seus M-60 no conflito sírio, tendo empregado na ocasião alguns dos exemplares modernizado M-60T, resultado do programa de upgrade executado com auxílio do expertise israelense. Diante do dinâmico teatro de operações, os “vetustos” M-60 turcos, lograram mais sucesso nas operações que os relativamente modernos Leopard 2A4, os quais sofreram pesadas baixas no conflito. 

Essa versão atualizada dos M-60 turcos, é o ponto de partida para nossa análise neste artigo. O M-60T recebeu um intenso processo de atualização, onde recebeu atenção especial em sua blindagem, a qual tinha ainda proposta adoção de um sistema de proteção ativa e novos controles de tiro, pontos que não foram totalmente implementados ao projeto devido  problemas nas relações diplomáticas entre Ancara e Jerusalém, os quais resultaram numa modernização mais simples em relação ao pacote oferecido pela IMI ao governo de Ancara, o qual é uma interessante opção ao Exército Brasileiro. 

Abordando agora as soluções que podem ser empregadas em uma hipotética modernização/repotencialização dos M-60 TTS brasileiros, Vamos apresentar algumas soluções que estão disponíveis no mercado de defesa e que poderiam vir a atender as nossas necessidades e trazer os 91 CC M-60 novamente ao moderno teatro de operações e permitir ao Brasil operar esse blindado de maneira satisfatória e por um período prolongado á baixo custo.

Dentre as necessidades que identificamos para manter os nossos M-60 capazes de suprir as necessidades de nossa força terrestre, estão o aprimoramento do poder de fogo, mobilidade e capacidade de sobrevivência, além da introdução de sistemas de suporte a tripulação.

O primeiro ponto que iremos abordar trata das melhorias em seus sistemas de tiro e sobrevivência, os quais são conhecidos como o “calcanhar de Aquiles” deste blindado, o qual apresenta relativa necessidade de incremento da proteção da torre, a qual poderia ter como opção a substituição integral da torre original, conforme foi realizado no programa executado pelos israelenses em sua frota de M-60 no fim da década de 90. O programa dotou os M-60 de uma nova torreta blindada, a qual manteve o canhão de 105mm, que passou a contar com sistema de acionamento elétrico, substituindo o sistema hidráulico original, o qual usava fluido hidráulico altamente inflamável, o qual muitas vezes era responsável por provocar incêndios quando atingidos, além de freqüentemente dar panes que impossibilitavam o emprego do canhão ou movimentação da torreta. Os controles de disparo destes M-60 foram atualizados o que melhorou significativamente a letalidade e a capacidade de sobrevivência do tanque. Segundo informações fornecidas, tal programa de modernização permitiu que os artilheiros veteranos da IDF obtivessem excelentes resultados em disparos a longa distancia, muitas vezes derrotando as tripulações mais jovens que operavam MBTs modernos.

O "Magach”, como foi denominada a versão desenvolvida em Israel, recebeu um motor com 950 hp, o qual operou por um período com a IDF, sendo gradativamente substituído pelas novas variantes do Merkava, deixando a base para o desenvolvimento da versão M-60T da Turquia criado pela IMI,a qual denomina como programa Sabra III.

Os M-60T tiveram o canhão de 105mm substituído pelo MG251 120/44mm da IMI , que projetou especialmente para substituir os canhões de 105mm, opção a qual não seria adotada pelos M-60 brasileiros caso opta-se por este projeto israelense, tendo em consideração a grande quantidade de munição 105mm á qual dispomos no Brasil e ampla gama de munições que podem ser empregadas por este canhão em relação ao 120mm, considerando também que a adoção do 120mm reduziria a capacidade de munição em nossos M-60 e o aumento no peso final do blindado.

Outras soluções e pacotes visando dar um novo fôlego aos M-60 foram desenvolvidos por outros conglomerados de defesa, os quais identificaram o vasto campo de possibilidades a ser explorada pelos operadores dos M-60 remanescentes, dentre estes o Brasil. A Raytheon, Leonardo e a General Dynamics Land Systems, também oferecem pacotes de modernização similares ao oferecido pela israelense IMI. Essas atualizações buscam suprimir as vulnerabilidades dos M-60, especialmente em sua blindagem e sistemas hidráulicos e de pontaria, os quais tirando a substituição dos canhões 105mm, a qual encaro como desnecessária para nosso teatro regional de operações.

A Raytheon oferece um pacote de extensão de vida para o M-60 bem interessante. Entre as principais modificações ​​estão a adoção de um novo canhão de 120mm e uma estação de armas controlada remotamente montada à esquerda da torre. A proteção da torre ganhou um gradeado contra RPGs e ATGMs, recebendo ainda saias laterais, na seção traseira e compartimento do motor fora adicionado incrementos em sua armadura, a qual também teve atenção especial na seção frontal do casco. 

O programa SLEP como foi denominado, introduz modificações que incluem ainda sistemas de descarga de fumaça, novos conjuntos optronics que inclui um sistemas de visão 360 com visão panorâmica diurna/noturna para o condutor. A motorização do M-60 abandona o velho conjunto com 750hp para receber um motor Diesel AVDS-1790 com 1.200hp. Este pacote ainda conta com atuadores elétricos para a torre e o canhão, substituindo os problemáticos sistemas hidráulicos originais, um novo sistema de controle de tiro (FCS), permite que o M-60 A3-SLEP dispare em movimento. 

Uma das importantes alterações propostas, é o uso do acelerador de pistão elétrico Curtiss-Wright. Este sistema totalmente eletro-mecânico substitui os sistemas de estabilização hidráulicos e híbridos mais antigos e menos precisos da torre do M-60. O novo sistema de direção e estabilização de torre oferece um controle mais preciso e significativamente mais confiável, garantindo uma melhor resposta e redução no ruído ao substituir as linhas hidráulicas por atuadores elétricos controlados digitalmente. Isso permite que a torre gire mais rápido e dispare com precisão enquanto o blindado estiver em movimento, garantindo redução de peso e segurança com a ausência dos fluidos hidráulicos inflamáveis ​​na torre.

Outra gigante da industria de defesa, a General Dynamics Land Systems (GDLS), também desenvolveu um pacote de modernização para os M-60, tendo apresentado no início do ano 2000 seu conceito com um M-60 atualizado e equipado com uma torre do M-1 Abrams, sendo denominado M60/2000. Essa variante participou da disputa pelo contrato de modernização dos M-60 na Turquia, porém, como citado no inicio desta matéria, o pacote israelense da IMI foi o vencedor do contrato. Após sua participação na concorrência turca, a GDLS ainda tentou fornecer tal pacote ao governo egípcio, que analisou a proposta, mas não avançou.

O M60/2000 apresentou grandes melhorias, sendo um pacote de modernização bastante extensivo, elevando de maneira considerável as capacidades dos vetustos M-60 a um novo padrão que não deixava em nada a dever aos modernos blindados no campo de batalha. Mas a GDLS durante a concorrência na Turquia, prosseguiu no desenvolvimento da sua proposta, o qual resultou no programa 120S.

O programa M60/120S deu vida ao mais radical pacote de modernização do M-60, tendo tido inicio em dezembro de 2000 e sendo apresentado em agosto de 2001. Tamanho foi o processo de modificações inseridas no veículo original, que a GDLS passou a adotar apenas a designação 120S, tendo em vista que ao fim do programa havia surgido um novo carro de combate, muito semelhante ao M1A1 Abrams, porém com dimensões reduzidas.


A proposta da GDLS inclui a substituição da torre original do M60 pela torre do M1A1 Abrams, a qual apresenta uma blindagem muito superior á encontrada na torre original, além de possuir um paiol separado para munição de 120mm. O canhão M256 de 120mm pode operar com munições de diversas origens, assim possibilitando enorme flexibilidade logística e uma vasta gama de opções de munições, sendo complementado por uma metralhadora coaxial M240 de 7,62mm. O 120S ainda dispõe de uma metralhadora M2 de 12,7mm para o comandante e outra M240 de 7,62mm.

Entre os recursos disponibilizados nos novos 120S, figuram a adoção dos lançadores de fumígenos dispostos nas laterais da torre, sendo capazes de disparar para os lados e para frente do veículo. Ainda tratando-se de recursos de proteção, o 120S recebeu um dispositivo que cria cortina de fumaça através da injeção de diesel no escape do motor, criando uma densa nuvem de fumaça.

Um novo sistema de controle de tiro digital foi adotado pelo 120S permite que ele trave alvos e dispare mesmo em movimento, capaz de operar sob condições adversas tanto de dia como a noite, com alto índice de acerto no primeiro disparo. Dentre os optrônicos que foram integrados, agora o M60 passa a contar com um sistema de visão estabilizada, equipado com FLIR e  sistema de detecção laser e térmico.

A suspensão do 120S recebeu atenção especial, passando a ser equipado com sistema de barra de torção também oriunda do M1 Abrams, afim de suportar o peso adicional da nova torre e blindagem, tendo ainda a opção de um sistema hidropneumático que possibilita melhor desempenho fora de estrada e economia de espaço. A esteira e parte superior da suspensão receberam a proteção de uma saia blindada, a qual ainda criou novos espaços na parte superior traseira do casco, possibilitando a adição de novos sistemas ou armazenamento de provisões (munições, peças de reposição, combustível).

Com relação a motorização, o 120s abandona o velho propulsor original do M60 para adotar o AVDS-1790-9AR com 1200hp, o mesmo motor usado nos Merkava Mk3, o qual conta com a transmissão automática Allison x-1100-5 similar as integradas aos M1 Abrams.

O pacote oferecido pela General Dynamics Land Systems com certeza é uma opção que eleva consideravelmente as capacidades de ataque e sobrevivência dos M60, tornando uma solução letal para o moderno teatro de operações. Mas olhando pela perspectiva de dotar o Exército Brasileiro, tal pacote não se enquadra exatamente em nossas necessidades, sendo demasiadamente oneroso, apesar de oferecer uma capacidade muito acima da objetivada para nossos M60, o que levando em consideração nosso teatro de operações regionais e suas possíveis ameaças nos daria enorme vantagem estratégica.

Outra interessante proposta para os M60 é o pacote oferecido pela italiana Leonardo, que há pouco tempo apresentou ao mercado uma solução modular, a qual integra uma nova arma principal de 120/45mm de recuo reduzido, sendo a mesma solução adotada pelo veículo blindado sobre rodas Centauro II. 

Segundo informações obtidas, a proposta italiana conta com diversos sistemas e subsistemas, que incluem o Sistema de Controle de Tiro (FCS), visão noturna e o canhão de 120mm, projetados e fabricados pelo grupo. Ponto interessante pela autonomia que confere ao cliente em saber que não terá de obter licenças e permissões á outras nações para aquisição e manutenção dos sistemas envolvidos no pacote.

Um dos pontos mais atraentes da proposta da Leonardo é o canhão de 120mm com baixo recuo, o qual oferece maior precisão e peso reduzido, o que contribui para redução da fadiga estrutural do casco e acessórios dos M60.

Os sistemas embarcados como o de controle de tiro, integra optronics que possibilitam o emprego tanto de dia como a noite, dispondo de um alto nível de proteção balística da torre e áreas sensíveis, somando aos demais itens da modernização, o M60 tem um grande aumento na probabilidade de detectar e neutralizar ameaças potenciais durante operações sob quaisquer condições.

Uma solução muito importante introduzida pela Leonardo, é o controle de tiro, que através de uma suíte digital permite total controle pelo comandante e melhor visão situacional, com sistemas de visão em 360° panorâmica que permitem acompanhar tudo que acontece ao redor do blindado sem a exposição da tripulação ao inimigo.

A solução da Leonardo inclui a atualização do conjunto propulsor, aumentando o a potencia do motor em 20%, conseguindo atingir uma relação peso/potência adequada ao blindado que passa a contar com maior peso em relação a versão original, o que se consegue apenas com a atualização do conjunto original sem a substituição do motor. 

A Proteção do M60 também recebeu atenção especial, tendo sido aumentada com uso placas de proteção STANAG 4569 Nível 6 adicionadas a sessão frontal e passando a adotar saias laterais e blindagem  em sessões laminadas em pontos sensíveis da torre e sessão traseira, protegendo contra ataque de RPGs. Ainda foi adicionado um sistema automático de detecção e supressão de fogo (AFSS) que melhora a capacidade de sobrevivência e protege o compartimento do motor e habitáculo.

Há hoje há uma vasta gama de opções que atendem aos requisitos brasileiros e prover uma solução que apresenta uma relação custo/benefício superior a compra de uma nova viatura de segunda mão, uma vez que ainda possuímos M60 estocados em condições relativamente boas. Tal solução deve ser estudada e analisada mais profundamente, uma vez que enfrentamos a escassez de recursos e um orçamento muito longe do ideal para uma nação com a envergadura do Brasil



Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.


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