quarta-feira, 15 de março de 2017

A-12 "São Paulo" - O fim de um sonho brasileiro?

A aposentadoria do único porta-aviões do Hemisfério Sul, será o fim de um sonho brasileiro?

O A-12 "São Paulo" foi comprado em 2000 junto a França por um valor simbólico de 24 milhões de reais, estando o navio sendo retirado de operação com a marinha francesa após 37 anos de bons serviços prestados e operado em diversos conflitos ao redor do mundo.
O NAe "São Paulo" ao longo de sua jornada com a Marinha do Brasil, não teve uma vida "gloriosa" como em seu passado sob o pavilhão francês, a idade avançada do navio somada ao desgaste causado pelos 37 anos de intensas operações, resultaram em um investimento de cerca de 287 milhões para manter o mesmo em operação e executar os reparos necessários no mesmo. O A-12 "São Paulo", ainda enfrentou uma maré negra, sofrendo sucessivos problemas técnicos e mesmo um incêndio a bordo que infelizmente vitimou quatro tripulantes e deixou alguns feridos. Um problema em seu eixo resultou em um longo período de manutenção, onde esteve por cerca de 5 anos parado em busca de uma solução. O NAe se tornou alvo de muitas críticas, mas apesar de todos os desafios e problemas pelos quais o NAe sofreu, em resumo ele pode cumprir sua missão, embora não tenha alcançado o nível que se espera de disponibilidade deste tipo de embarcação, porém, proveu a Marinha do Brasil a capacidade de manter a doutrina e operação de suas aeronaves de asa fixa, a qual opera com caças AF-1B (A-4KU) Skyhawk. Até a chegada do "São Paulo", a Marinha do Brasil não pode operar a aeronave dentro de todo seu potencial, devido as limitações que se tinha com o seu antecessor o A-11 "Minas Gerais".

Durante os seus 17 anos em operação com a Marinha do Brasil, o A-12 "São Paulo" realizou 566 lançamentos e recuperações de aeronaves. Uma marca muito expressiva e que podemos classificar como satisfatória para manter o adestramento de nossos pilotos navais e das tripulações embarcadas.
A Marinha do Brasil vem operando Navios Aeródromos (NAe) desde 6 de dezembro de 1960, quando chegou ao Brasil o A-11 "Minas Gerais". Comprado em 1956, o Minas já era problemático, tendo recebido um pouso apenas nove anos depois. Curiosamente, o A-11 "Minas Gerais" pouco operou com aeronaves de asa fixa, devido á uma disputa entre a MB e a FAb que acabou com a determinação que só a FAB poderia operar aeronaves de asa fixa, mas a MB manteve o NAeL "Minas Gerais" em operação ao longo de décadas, apesar das constantes panes e situações embaraçosas que o mesmo passou, se manteve singrando os mares sob o pavilhão brasileiro, garantindo a tradição de nossa marinha na operação deste tipo de navio, algo que só algumas nações possuem. Apenas seis países, incluindo o Brasil, operam com porta-aviões capazes de lançar e receber aeronaves de asa fixa, além de helicópteros. Os EUA são o maior operador deste tipo, com uma grande esquadra que possui dezenas de super porta-aviões nucleares.
O Porta-Aviões ou NAe, tem como função projetar poder e levar a capacidade de interdição aérea e ataque a vários pontos do planeta, atuando sempre em conjunto com outros navios de diversas classes afim de garantir sua integridade frente a ameaça representada por submarinos, navios ou aeronaves inimigas. Com isso muitos se perguntam: O Brasil precisa dessa capacidade?
O Brasil nunca demonstrou o interesse em projetar força, tendo como sua característica básica a sua auto-defesa. Contudo, desde a aquisição lá na década de 60 do A-11, a Marinha do Brasil tinha como objetivo obter a capacidade de operar um meio tão complexo como um NAe, buscando o máximo de capacitação e presteza em tecnologias militares, atingindo um status que a eleva á um restrito e seleto grupo de marinhas que possuem essa capacidade.
O NAe "São Paulo" ainda passou por uma extensa avaliação, a qual buscava definir um programa no qual fosse possível e viável manter sua operacionalidade por mais um período, até que houvesse os recursos necessários para obtenção de um novo NAe, mas os custo de tal modernização demandaria investimentos de mais de 1 bilhão, e ainda assim não haveria plena certeza sobre a capacidade de atingir o nível esperado com a modernização. Essa avaliação levou a uma conclusão, desativar o A-12 "São Paulo", o que deixa a Marinha do Brasil pela primeira vez em 57 anos sem possuir um NAe em seu inventário, e apesar do anúncio de sua desativação, não há no horizonte qualquer sinal de que haverá em breve um substituto para ocupar essa lacuna, principalmente devido a inviabilidade de construir um novo NAe diante dos escassos recursos destinados a pasta de defesa. 

A Marinha do Brasil no entanto apresentou como resposta ao descomissionamento do A-12 "São Paulo", a proposta de estabelecer como sua terceira prioridade a obtenção de um novo navio do tipo, estando em sua lista de prioridades a obtenção dos novos submarinos "Scorpené" que estão em fase de construção, o submarino nuclear e uma nova classe de corvetas, denominada Classe "Tamandaré", para só então investir em um novo NAe.

Embora agora estejamos sem um porta-aviões, o programa de modernização dos caças AF-1B (A-4KU) Skyhawk segue seu curso, e deverão continuar operando normalmente, porém baseados em terra na Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA) no Rio de Janeiro.
Em junho será iniciado o processo de descomissionamento que deverá levar três anos até sua conclusão, os seus 1.920 tripulantes serão redistribuídos e os sistemas de bordo que ainda possuem condições de uso serão removidos. Após a conclusão do processo o A-12 "São Paulo" deverá encerrar sua vida em alguma praia em Alang.


Nos resta apenas dar tempo ao tempo e ver qual o desfecho do sonho brasileiro de possuir a capacidade e operar um Navio Aeródromo.


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2 comentários:

  1. Muito triste. Mas lembro me que na compra ele já era um navio bem "batido" mas embora não teve participação em combates ou tempos de gloria na Marinha Brasileira, serviu como escola, como centro de treinamento para nossos pilotos.
    Muito boa a reportagem, diga-se de passagem.

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  2. Realmente, foi uma boa escola e deu para se aprender bastante com ele, apesar das muitas críticas, não acho que tenha sido um desperdício sua aquisição, pois veio a somar e muito em nossa doutrina aeronaval e na capacitação de nossos oficiais e equipes técnicas, e muito do que foi aprendido em sua operação irá ajudar na concepção do próximo NAe a ser construído sob encomenda

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