quarta-feira, 17 de novembro de 2010

EUA querem ampliar relações na gestão Dilma


O governo Barack Obama está pronto para receber a presidente eleita Dilma Rousseff, informou o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, que, nos últimos anos, teve vários encontros com a então ministra do governo Lula, já em Brasília e antes, quando atuava como subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental. "Já falamos da possibilidade de um encontro, mas ainda não se falou de datas possíveis, estamos aguardando", comentou Shannon. "Há muito interesse dos dois lados de que haja um encontro o mais rapidamente possível."

"Temos boa relação com a presidente eleita. O presidente Obama já falou com ela e há muito interesse em aprofundar nossa relação com o Brasil", disse Shannon. "Temos confiança de que com a presidente eleita vamos ter essa oportunidade." Se marcado o encontro, Dilma receberá, de Obama, a mesma deferência conferida por George W. Bush a Lula, a de receber um chefe de Estado eleito antes mesmo da posse - sinal não muito frequente de consideração e distinção em Washington.

Shannon desconversa quando consultado sobre a votação do Brasil contrária a sanções ao Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas - ato que provocou o esfriamento das relações entre as altas cúpulas dos dois governos, enquanto prosseguiam os contatos nos escalões inferiores. Ele reafirma que "apesar das diferenças", têm prosseguido contatos de alto nível, inclusive entre as Forças Armadas, como exemplifica a visita, no feriado de 15 de novembro, do chefe do Estado-Maior da Força Aérea dos Estados Unidos, general Norton Schwartz.

Shannon disse aguardar o novo governo "com muita esperança e muito otimismo" e tem intenção de dar maior relevo aos diversos grupos de trabalho firmados pelos dois países, em áreas como tecnologia, agricultura, combate à discriminação racial e educação, entre outras. "É importante notar que as relações entre Brasil e Estados Unidos hoje têm base em interesses e valores compartilhados", argumentou. "Esse é o fator fundamental na relação, independentemente dos governos e das eleições", insistiu, em português fluente mesclado com algumas palavras de portunhol.

O embaixador, nos últimos meses, foi uma das principais peças na articulação entre os dois governos, não só para evitar estragos maiores devido às divergências em torno do Irã, mas também em temas de interesse comum, como a ampliação do poder de voto do Brasil e outros emergentes no Fundo Monetário Internacional, que contou com apoio do secretário do Tesouro, Timothy Gheitner, segundo atestam fontes do Ministério da Fazenda. "Nossa capacidade de entender o Brasil como um ator no palco global ajudou a melhorar nossa colaboração com o país."

Os dois países negociam um acordo-quadro de Comércio e Investimentos (Tifa, na sigla em inglês) que deve estabelecer regras de proteção a investidores nos dois mercados e mecanismos de consulta para reduzir barreiras ao comércio. Shannon vê "alta possibilidade" de que o acordo seja concluído no início da gestão de Dilma Rousseff, mas, cauteloso, comentou que prefere "deixar a questão para os negociadores". Para o embaixador, a continuidade dos contatos e acordos, nos últimos meses, em setores como promoção de investimento e na área agrícola, "mostrou claramente que os dois países têm capacidade de seguir trabalhando independentemente das eleições, seja no Brasil, seja nos EUA."

A menção às eleições americanas não é casual. O cenário político interno nos EUA mudou sensivelmente neste ano, com a derrota de Obama nas últimas eleições parlamentares, que deram maioria ao Partido Republicano, de oposição, e colocaram em postos-chaves políticos conservadores, pouco dispostos à política de cooperação internacional defendida pelo presidente americano.

Shannon garante não ver dificuldades para o seguimento dos projetos comuns dos dois países, nem para estreitar os contatos no governo Dilma. Essa perspectiva, afirma, não é abalada nem pelos discursos do governo brasileiro contra a política econômica americana, na recente reunião do G-20, o grupo das maiores economias mundiais, na Coreia do Sul.

"Estamos trabalhando bem com o Brasil nas instituições financeiras, na área do G-20", garantiu. "Estamos em um momento complicado e desafiador na economia nacional e isso, às vezes, provoca uma retórica que tem mais uma audiência doméstica que internacional", minimizou. "O importante é que a retórica não impede nossa capacidade de colaborar." Ele repete os argumentos levados por Obama ao G-20, de que "todos os países têm de assumir a própria responsabilidade para o bem-estar da economia mundial."

"Estamos fazendo todo o possível para manter os EUA abertos ao mundo e atuar como motor de crescimento econômico", argumentou. "Brasil e EUA já mostraram no FMI, no Banco Mundial e no G-20 capacidade de colaborar e isso é fonte de grande otimismo."

Fonte: Valor Econômico
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