Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a França vem intensificando seus esforços para promover uma maior independência europeia na área de defesa. Liderando essa iniciativa, o presidente Emmanuel Macron tem reforçado o apelo para que os países do continente reduzam sua dependência de equipamentos militares fabricados pelos EUA e passem a priorizar soluções produzidas dentro da Europa.
A estratégia francesa tem dois focos centrais: o Rafale, oferecido como alternativa ao americano F-35, e o sistema de defesa aérea SAMP/T, desenvolvido em parceria com a Itália, que busca rivalizar com o consagrado Patriot norte-americano.
Macron tem sido um crítico contundente da hegemonia dos EUA no setor de defesa, especialmente após surgirem suspeitas de que os F-35 vendidos a países aliados possam conter um mecanismo de segurança que permitiria aos Estados Unidos limitar remotamente o funcionamento da aeronave. Segundo o presidente francês, esse tipo de tecnologia comprometeria a soberania operacional dos países compradores.
“O Rafale oferece total controle ao país operador, sem interferência externa. Isso é vital para a autonomia estratégica da Europa”, afirmou Macron em uma entrevista concedida em março de 2025, reiterando que os europeus devem considerar o Rafale como opção direta ao F-35.
SAMP/T NG: a resposta ao Patriot
Seguindo essa mesma lógica, a França também está promovendo ativamente o SAMP/T NG, sistema de defesa aérea franco-italiano desenvolvido pela Eurosam, uma joint venture entre a MBDA e a Thales. Apresentado durante o Paris Air Show de 2025, o sistema ganhou destaque pelas suas capacidades avançadas de detecção e interceptação de ameaças aéreas.
De acordo com Eric Tabacchi, consultor militar da Eurosam, o novo radar do SAMP/T gira uma vez por segundo, oferecendo cobertura total de 360 graus e alcance de detecção superior a 350 km. O sistema também é capaz de interceptar mísseis balísticos manobrando a mais de 600 km de distância, além de aeronaves e mísseis de cruzeiro a até 150 km. Com até 48 mísseis Aster 30 prontos para lançamento, o SAMP/T NG combina alta mobilidade, eficiência logística e eficácia operacional.
Um dos pontos fortes do sistema é sua simplicidade operacional: uma bateria pode ser operada por apenas 15 militares, contra cerca de 90 soldados necessários para uma bateria Patriot, segundo dados divulgados pela própria Eurosam.
Apesar das vantagens técnicas e operacionais do SAMP/T, o sistema ainda enfrenta o desafio de se firmar num mercado amplamente dominado pelos Estados Unidos. Desde sua criação, em 2011, o sistema foi adquirido apenas pela França e pela Itália, seus países desenvolvedores, com um total de 18 pedidos registrados. Recentemente, duas baterias foram doadas à Ucrânia, e uma terceira está prevista para ser entregue em outubro de 2025.
Em contraste, o Patriot norte-americano já foi adotado por 19 países, com mais de 240 baterias encomendadas. Na Europa, Alemanha, Holanda, Grécia, Espanha, Suécia, Polônia, Romênia e Suíça utilizam o sistema. Na guerra da Ucrânia, os Patriots ganharam visibilidade após interceptarem mísseis balísticos e até mesmo mísseis hipersônicos lançados pela Rússia. No entanto, há relatos recentes de mísseis russos mais modernos conseguindo driblar seus radares, o que reacende o debate sobre a atualização de tecnologias.
Uma campanha pela Europa
Durante uma visita à Alemanha em maio de 2025, Macron reforçou o apelo para que os países europeus “comprem produtos europeus” e considerem alternativas locais sempre que existirem capacidades equivalentes. “Se um país for comprar o Patriot, deve ao menos receber a oferta do SAMP/T. Se vai comprar o F-35, também deve avaliar o Rafale. Essa é a maneira de fortalecer nossa base industrial e aumentar a produção”, declarou.
De fato, o setor de defesa tem sido um mercado altamente lucrativo para os EUA. Segundo o relatório 2025 do SIPRI, os Estados Unidos seguem como o maior exportador de armas do mundo, com ampla vantagem sobre os demais concorrentes. A campanha francesa, portanto, busca não apenas aumentar as vendas de seus sistemas, mas também fomentar um ecossistema de defesa mais autônomo e resiliente dentro da União Europeia.
A iniciativa da França de promover o Rafale e o SAMP/T como alternativas diretas ao F-35 e ao Patriot insere-se num contexto mais amplo de busca por soberania tecnológica e autonomia estratégica da Europa. Com produtos cada vez mais sofisticados e argumentos sólidos sobre segurança e independência, Paris tenta mudar o equilíbrio de forças no competitivo mercado de defesa europeu — e, ao mesmo tempo, provocar um debate profundo sobre o futuro da segurança do continente.
SAMP/T: Uma solução para defesa aérea do Brasil?
Em meio a um cenário global marcado por tensões crescentes e avanços tecnológicos constantes, o Brasil enfrenta o desafio de modernizar suas capacidades de defesa aérea, especialmente na proteção de seu vasto território e infraestruturas estratégicas. Uma alternativa que vem ganhando destaque é o sistema SAMP/T NG.
O SAMP/T NG é um sistema de defesa aérea de médio e longo alcance, que oferece cobertura completa de 360 graus graças a um radar multifuncional avançado. Equipado com os mísseis Aster 30, o sistema é capaz de interceptar desde aeronaves e mísseis de cruzeiro até mísseis balísticos manobrando a mais de 600 quilômetros de distância, capacidades que o tornam ideal para proteger o espaço aéreo brasileiro, com suas características continentais e variadas.
Além de seu desempenho técnico, o sistema se destaca pela eficiência operacional: uma bateria do SAMP/T pode ser operada por um efetivo reduzido de apenas 15 militares, em contraste com o maior número de operadores exigido por outros sistemas. Essa vantagem pode representar uma economia importante para as Forças Armadas brasileiras, facilitando o emprego e a manutenção do sistema.
Outro ponto importante é a presença da MBDA no Brasil, onde mantém uma subsidiária que atua no suporte logístico e na facilitação de parcerias com a Base Industrial de Defesa (BID). Essa estrutura local abre possibilidades reais de transferência de tecnologia, produção nacional e integração do sistema com as plataformas e estruturas já existentes no país.
A escolha do SAMP/T também poderia impulsionar uma cooperação técnica ampliada com países europeus, fomentando o desenvolvimento conjunto, o intercâmbio de conhecimento e a capacitação de profissionais brasileiros, algo fundamental para o desenvolvimento sustentável da defesa antiaérea nacional, setor que ainda enfrenta desafios significativos.
A potencial adoção do sistema chega em um momento em que o Brasil necessita consolidar seu papel estratégico na América do Sul e atualizar sua estrutura de defesa com equipamentos que garantam autonomia e eficiência operacional. O SAMP/T NG, já testado em diversas condições operacionais, oferece uma solução que alia tecnologia de ponta e adaptação às necessidades nacionais.
Esse cenário ganha ainda mais força quando lembramos o histórico de cooperação entre Brasil e França em projetos de defesa de alta tecnologia. O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), que envolveu a construção de submarinos convencionais e a transferência de conhecimento para o futuro submarino nuclear brasileiro, e o Programa H-X/BR, que permitiu a nacionalização e montagem dos helicópteros H225M em parceria com a Airbus Helicopters, são exemplos concretos de parcerias bem-sucedidas que trouxeram benefícios tecnológicos e industriais ao Brasil.
A possível escolha do SAMP/T representaria, portanto, não só um avanço na capacidade operacional brasileira, mas também um passo estratégico para ampliar a soberania tecnológica e industrial do Brasil, reforçando uma parceria sólida e de confiança com a França, um caminho que fortalece o Brasil para os desafios do século XXI.
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