A Rússia se prepara para uma ofensiva de grande escala na Ucrânia, que promete ser decisiva na tentativa de consolidar o controle sobre territórios ainda não ocupados e sobretudo, isolar a Ucrânia do Mar Negro. Com Odessa como alvo estratégico, o Kremlin busca uma vitória que reverbere politicamente, diante das crescentes pressões internas e do desgaste que a guerra tem imposto às suas forças.
Por trás desse movimento militar está um complexo jogo de fatores que combinam limitações logísticas, desgaste das tropas, capacidade tecnológica e a influência do apoio externo, em especial, de aliados como o Irã e a Coreia do Norte, cuja relação com Moscou mostra nuances que refletem diretamente no curso da guerra.
Objetivos da ofensiva: além do campo de batalha, a disputa geopolítica
O plano russo é claro e ambicioso. Consolidar uma "zona tampão" mais profunda, ampliando o controle nas regiões de Sumy, Kharkiv e Dnipropetrovsk, e tomar Odessa para cortar o acesso marítimo ucraniano são metas que buscam garantir vantagem territorial e estratégica antes da chegada do outono europeu.
Essa ofensiva visa não apenas ganhos militares, mas também pressionar politicamente a Ucrânia e seus apoiadores, criando condições para uma negociação favorável a Moscou. Controlar o Mar Negro significa restringir economicamente a Ucrânia, afetando sua capacidade de exportação e importação, um golpe direto à resistência do país.
Desafios em campo: logística, forças e supremacia aérea
Por mais planejada que seja, a ofensiva enfrenta obstáculos severos:
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A infraestrutura das regiões-alvo é precária, e as chuvas do outono prometem transformar estradas em atoleiros, dificultando o deslocamento de blindados e equipamentos essenciais para o avanço rápido.
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O desgaste das tropas é uma realidade. A substituição de soldados experientes por guardas de fronteira e até por contingentes norte-coreanos revela a dificuldade russa em manter um efetivo qualificado e numeroso para operações complexas.
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No ar, a Rússia não garante o domínio absoluto do espaço aéreo. A incapacidade de isolar completamente a retaguarda ucraniana através de operações aéreas limita a ofensiva terrestre e aumenta a vulnerabilidade dos seus avanços.
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A Ucrânia tem investido pesado em guerra eletrônica e no uso de drones, elevando sua capacidade de reconhecimento e dificultando as operações russas. Essa resistência tecnológica e tática impõe um custo elevado ao esforço invasor.
Apoio externo: o peso do Irã e da Coreia do Norte
No tabuleiro internacional, Moscou conta com o apoio de aliados que reforçam sua capacidade, mas que também enfrentam suas próprias limitações.
A Coreia do Norte tem contribuído com munição, armamentos e possivelmente com soldados, ajudando a suprir as lacunas do exército russo, mas seu impacto permanece mais simbólico do que estrutural.
Já o Irã, parceiro histórico, mantém fornecimento de drones e munições, mas a relação tem se mostrado mais complexa. Após as sucessivas falhas dos sistemas russos S-300 na defesa iraniana contra ataques israelenses, Teerã buscou na China uma alternativa tecnológica mais confiável. Essa aproximação sinaliza um desgaste na confiança do Irã na indústria de defesa russa e potencialmente, uma limitação futura do suporte iraniano a Moscou.
Este fato transcende o campo de batalha ucraniano e indica uma mudança no eixo das parcerias militares globais, com a China ganhando protagonismo no Oriente Médio e diminuindo a influência russa.
Implicações para a ofensiva e para o futuro da guerra
Com esses elementos em jogo, a ofensiva russa é uma jogada de risco e urgência. Moscou precisa demonstrar força e obter vitórias rápidas, mas suas limitações internas e a dinâmica de apoio externo impõem restrições importantes.
A resistência ucraniana, sustentada por tecnologias e treinamento ocidentais, segue firme, e a guerra eletrônica, a mobilidade e o conhecimento do terreno favorecem a defesa. Ao mesmo tempo, o desgaste da indústria de defesa russa, evidenciado no Oriente Médio, repercute diretamente na capacidade de Moscou para manter operações ofensivas eficazes e de longo prazo.
A aproximação do Irã com a China, o apoio limitado da Coreia do Norte e a dificuldade em manter a superioridade aérea indicam que a Rússia enfrenta um momento delicado, em que ganhos territoriais e políticos são essenciais, mas difíceis.
A ofensiva russa na Ucrânia é o próximo capítulo de um conflito que extrapola as fronteiras da Europa. É uma tentativa desesperada de garantir espaço e poder num cenário cada vez mais adverso, marcado pela resistência ucraniana e pelo desgaste das capacidades militares russas.
O sucesso dessa ofensiva dependerá não só da capacidade militar em campo, mas também da habilidade do Kremlin em manter suas alianças e contornar limitações técnicas e logísticas. O papel do Irã, agora mais alinhado à China, e o apoio da Coreia do Norte indicam que a Rússia caminha numa trilha cada vez mais solitária, pressionada por um cenário internacional que exige respostas rápidas e eficazes, sob pena de perder influência e controle em uma região estratégica para seu futuro.
Por Angelo Nicolaci
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