segunda-feira, 21 de julho de 2025

Afundamento do “Vital de Oliveira”: a maior tragédia naval da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial

Na noite de 19 de julho de 1944, em meio aos intensos combates da Segunda Guerra Mundial, a Marinha do Brasil sofreu sua maior perda em um ataque direto de forças inimigas. O Navio-Auxiliar “Vital de Oliveira”, torpedeado pelo submarino alemão U-861, afundou em apenas três minutos ao sul do Cabo de São Tomé, na costa do estado do Rio de Janeiro, vitimando 100 dos cerca de 270 tripulantes a bordo. A tragédia se tornou um marco da participação brasileira no conflito, sendo o único navio militar nacional afundado em combate durante a guerra.

O torpedo atingiu a popa da embarcação por volta das 23h55, rompendo o casco e apagando as caldeiras, o que levou ao afundamento quase imediato. Sem energia e completamente às escuras, não houve tempo hábil para lançar os botes salva-vidas. O comandante do navio, Capitão de Fragata João Batista de Medeiros Guimarães Roxo, ainda conseguiu reunir parte da tripulação nos postos de combate com apoio do Primeiro-Tenente Osmar Dominguez Alonso, mas o navio desapareceu sob as águas pouco depois. Sobreviventes relataram momentos de desespero no mar, muitos agarrados a destroços.

As operações de resgate, realizadas no dia seguinte por embarcações da Marinha como o caça-submarino “Javari”, o contratorpedeiro “Mariz e Barros” e o barco pesqueiro “Guanabara”, salvaram dezenas de vidas, mas o impacto da tragédia foi profundo. O Brasil já havia perdido diversos navios mercantes para submarinos do Eixo, o que motivou a entrada do país na guerra em 1942. Ao todo, o Brasil perdeu 31 navios mercantes e três navios de guerra, o cruzador “Bahia”, a corveta “Camaquã” e o “Vital de Oliveira”, além de 982 civis e 486 militares da Marinha mortos no mar.

Construído em 1910 com o nome de “Itaúba”, o navio foi incorporado à Marinha em 1931 e rebatizado como “Vital de Oliveira” em homenagem ao Capitão de Fragata Manuel Antônio Vital de Oliveira, herói da Guerra do Paraguai e patrono da Hidrografia da Marinha do Brasil. Com 82,29 metros de comprimento e casco de aço, servia como navio de apoio logístico, transportando suprimentos e pessoal entre o Norte do país e o Rio de Janeiro. Sua perda expôs não apenas a vulnerabilidade do litoral brasileiro, mas também a necessidade de fortalecer a proteção das rotas marítimas e a capacitação dos militares.

O afundamento do “Vital de Oliveira” não encerrou sua história. Em 16 de janeiro de 2024, quase 80 anos depois, o casco da embarcação foi localizado a cerca de 65 quilômetros da costa de Macaé (RJ), graças à atuação de mergulhadores civis e à tecnologia de ponta do moderno Navio de Pesquisa Hidroceanográfico “Vital de Oliveira”, incorporado à Marinha em 2015 e batizado com o mesmo nome. Utilizando sistemas de varredura de alta precisão e modelagem 3D do fundo oceânico, a embarcação mapeou a área do naufrágio em detalhes, revelando a posição e a integridade estrutural do navio afundado.

O trabalho integra o projeto Atlas dos Naufrágios de Interesse Histórico da Costa do Brasil, que já catalogou mais de 2.100 naufrágios, e reforça a importância da arqueologia subaquática para a preservação da memória nacional. Como destacou o Capitão-Tenente Caio Cezar Pereira Demilio, arqueólogo da Marinha, “no fundo do mar, há muito mais que ferragens e madeira. Há traços da nossa formação como povo”.

Em homenagem aos tripulantes do “Vital de Oliveira” e à participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, a Marinha do Brasil está produzindo o documentário “Vital: Memórias que não naufragaram”, que contará em detalhes essa história marcada por coragem, sacrifício e resiliência. O lançamento está previsto ainda para este ano.

O “Vital de Oliveira” descansa hoje no leito do Atlântico, mas sua memória permanece viva, como símbolo de bravura daqueles que enfrentaram os horrores da guerra em defesa do Brasil.


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com Marinha do Brasil

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