sábado, 19 de julho de 2025

EDITORIAL — "O Preço da Negligência: Como o Governo Está Desmontando a Defesa Nacional"

Como brasileiro, não posso esconder minha profunda indignação diante das sucessivas barbeiragens promovidas pelo governo federal, decisões que revelam não apenas despreparo, mas uma perigosa negligência com os pilares fundamentais da nossa soberania. A alegação de “ajuste fiscal” vem sendo usada como um disfarce cínico para encobrir a incapacidade de gerir com responsabilidade e visão estratégica os recursos do país. Cortam-se verbas essenciais da Defesa Nacional, enquanto seguem intocados os privilégios, as mordomias e os desperdícios escandalosos nos três Poderes. É revoltante assistir à máquina pública esbanjar em luxos e assistencialismos descontrolados, enquanto as Forças Armadas, já combalidas pela obsolescência de seus meios e a falta de investimentos estruturantes, veem seus projetos estratégicos definharem à míngua. Estamos diante de um governo que não ajusta: desmantela. E quem paga essa conta somos todos nós, com o risco real de perdermos, pouco a pouco, nossa capacidade de defender o Brasil.

Os cortes no orçamento da Defesa escancaram a miopia estratégica da atual gestão federal. Em nome de um “ajuste fiscal” que já se mostrou ineficaz, seletivo e ideológico, o governo opta por asfixiar uma das áreas mais sensíveis e cruciais para a existência de um país soberano: sua capacidade de se proteger, dissuadir ameaças e desenvolver tecnologia própria.

O corte que sangra a soberania nacional

O Brasil atravessa mais um ciclo de retrocesso travestido de responsabilidade fiscal. Os chamados “ajustes fiscais”, tão exaltados pelo governo federal, têm servido mais como cortina de fumaça do que como política pública séria. A expressão é vendida como símbolo de equilíbrio e boa governança, mas, na prática, encobre a profunda incapacidade do Estado em gerir seus recursos de forma estratégica. E onde o impacto é mais severo? Justamente em um dos pilares de qualquer Nação soberana: a Defesa.

Ao contrário do que sugere o nome, não há ajuste algum. Ajustar implicaria reavaliar gastos, cortar privilégios, eliminar desperdícios e remanejar recursos de áreas supérfluas para setores essenciais. Mas nada disso ocorre. O que se vê é a supressão contínua e alarmante dos orçamentos de Defesa, sufocando as Forças Armadas e comprometendo a capacidade do Brasil de proteger seu território, garantir sua soberania e manter sua projeção estratégica no cenário internacional.

Defesa: de prioridade nacional a alvo contábil

A Defesa Nacional não é apenas gasto militar. É investimento em soberania, em segurança, em tecnologia, em presença geopolítica e desenvolvimento econômico. É ela quem protege nossas fronteiras, riquezas naturais, espaço aéreo, plataforma continental, rotas marítimas e, cada vez mais, nosso ambiente cibernético.

Por trás da capacidade operacional das Forças Armadas, existe uma engrenagem fundamental: a Base Industrial de Defesa (BID). Formada por centenas de empresas, muitas delas referências em alta tecnologia, a BID gera empregos qualificados, inovação, exportações e promove a autonomia tecnológica inovação e capacitação nacional. Mas essa base está sendo desmantelada. A falta de previsibilidade orçamentária, os cancelamentos de projetos e a instabilidade nos contratos públicos têm levado empresas à falência, interrompido cadeias produtivas e afugentado investimentos estrangeiros.

A defasagem dos meios: uma bomba-relógio esquecida

Grande parte dos meios operacionais das Forças Armadas já está em situação crítica. Aeronaves com mais de 40 anos de uso, navios obsoletos, blindados ultrapassados e deficiências logísticas estruturais compõem um cenário alarmante. O Brasil ainda opera sistemas que deveriam estar em museus, e os sucessivos cortes apenas agravam essa fragilidade.

A falta de investimento compromete não só o reaparelhamento, mas também a manutenção mínima dos sistemas em operação. Sem peças, sem combustível, sem logística, não há prontidão. E sem prontidão, não há Defesa. O país se torna vulnerável, dependente e irrelevante.

Por que sempre cortar da Defesa?

A pergunta que precisa ser feita é: "Por que o sacrifício sempre recai sobre a Defesa?"

Por que não rever os bilionários orçamentos do Judiciário, com seus auxílios escandalosos, férias de 60 dias e penduricalhos acumulados? Por que não cortar os privilégios do Legislativo, onde verbas de gabinete, reembolsos generosos e supersalários sobrevivem a qualquer crise?

Por que o Executivo não começa o “ajuste” dentro de casa, reduzindo os gastos luxuosos com viagens internacionais da Presidência da República e da Primeira Dama, com séquitos injustificáveis, diárias em hotéis cinco estrelas e jatinhos da FAB usados como transporte VIP?

Por que o governo não faz um pente-fino sério nos programas assistencialistas, como o Bolsa Família, que vêm sendo minados por fraudes escancaradas? A Controladoria-Geral da União (CGU) já apontou que milhões são repassados a pessoas que não se enquadram nos critérios legais. É um desperdício vergonhoso de recursos públicos, que continua intocado, talvez por conveniência política, ou interesses alheios aos nacionais.

Por que o discurso do ajuste poupa os apadrinhados, os privilegiados e os ineficientes, mas atinge com brutalidade aqueles que defendem o país com sacrifício diário e risco de vida?

A conta que ninguém quer pagar, até ser tarde demais

As consequências dessa política míope e ideologizada são profundas e irreversíveis no médio e longo prazo. Perdemos soberania, perdemos dissuasão, perdemos independência tecnológica. Ficamos cada vez mais dependentes de soluções importadas, de doações militares, de acordos diplomáticos que nem sempre priorizam os interesses nacionais.

A BID definha, o país perde contratos internacionais, talentos técnicos são dispensados e tecnologias de ponta deixam de ser desenvolvidas. E, com isso, perdemos também a chance de transformar o setor de Defesa em motor de desenvolvimento, como fizeram países que hoje são líderes em exportação de armamentos, como Türkiye, Israel, Coreia do Sul e Índia.

Uma escolha política, não técnica

O que acontece no Brasil não é resultado de necessidade técnica, é fruto de uma decisão política. A escolha de sacrificar a soberania em nome de conveniências populistas. A decisão de preservar aparatos estatais inchados e improdutivos enquanto se desmonta a espinha dorsal da segurança nacional. A opção de priorizar o presente eleitoral em detrimento do futuro da Nação.

E o mais grave: é uma escolha sem volta. Porque soberania não se reconstrói da noite para o dia. Uma Defesa fragilizada leva décadas para ser restaurada. Quando a ameaça surgir, e ela surgirá, será tarde demais para improvisações.

O Brasil precisa acordar e rápido

É hora de abandonar a retórica hipócrita do “ajuste fiscal” e encarar a realidade. O que se faz com o orçamento da Defesa não é contenção, é desmonte. E isso tem nome: irresponsabilidade estratégica. 

Nenhum país sério trata sua Defesa como peso morto. Nenhum país soberano terceiriza sua segurança. E nenhuma Nação ambiciosa despreza sua Base Industrial de Defesa.

A verdade é simples e dura: governar cortando da Defesa é governar com irresponsabilidade histórica. Soberania não se improvisa, não se compra em cima da hora, e não se reconstrói com discursosCada centavo retirado hoje é uma vulnerabilidade criada para amanhã.

Enquanto o mundo investe pesadamente em suas capacidades militares, o Brasil segue desmontando as suas. Com isso, perdemos presença estratégica, perdemos dissuasão, perdemos dignidade como Estado soberano.

O que está em jogo não é apenas a Defesa. É a posição do Brasil no mundo. É o futuro de uma Nação que, ao invés de proteger sua independência, prefere proteger privilégios.

Isso não é ajuste.
É um ato de rendição.
É o governo jogando a toalha.
E é o povo brasileiro que pagará essa conta em segurança, em desenvolvimento e em dignidade.

Ou o Brasil desperta para isso agora, ou aceitará, em breve, o custo amargo da vulnerabilidade, em silêncio e sob ameaça.


Por Angelo Nicolaci


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