sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A polêmica munição Cluster - Entendo um pouco mais

Há poucos dias um renomado programa televisivo brasileiro, apresentou uma matéria critica ao emprego no conflito que se dá no Iêmen de bombas do tipo "Cluster" de fabricação brasileira. Mas o que são e como funciona este tipo de armamento?

Os artefatos explosivos do tipo "Cluster", podem ser lançados através de plataformas terrestres ou aeronaves, sendo no primeiro tipo utilizados foguetes, e no segundo podem ser lançados através de bombas ou mísseis. A diferença entre a "Cluster" e os demais artefatos, reside na capacidade da mesma de empregar submunições de variados tipos, os quais são liberados sobre o alvo, ampliando o poder de saturação sobre a área alvo, sendo capaz de causar enormes danos á viaturas, infraestruturas e ocasionar pesadas baixas nas tropas inimigas.

A "Cluster" possui uma vasta gama de opções de submunições para emprego, sendo definidas de acordo com o emprego tático da mesma, sendo o mais comum as munições anti-pessoal, seguidas das munições anti-carro. Após ser lançada contra o alvo, o artefato "Cluster" se abre, liberando suas submunições que são "semeados" sobre o inimigo e suas tropas, os fragmentos resultantes da detonação das submunições no solo são lançados a alta velocidade em todas as direções, provocando danos a estruturas e veículos, além de ferimentos graves, muitos dos quais mortais no grande raio do ponto de lançamento, cobrindo uma grande área. Seu efeito sobre o inimigo é devastador: além de deixar vários mortos e feridos, o efeito psicológico do ataque empregando armamento tipo cluster é avassalador, causando pânico generalizado entre as fileiras inimigas.

A vantagem/desvantagem do emprego deste armamento esta no fato de que uma pequena parcela dos explosivos "semeados" pela Cluster não explodem inicialmente no primeiro momento, o que trás vantagem no emprego tático, minando a área alvo, se tornando um obstáculo ao emprego da força inimiga no local, sendo extremamente vantajoso no caso de ataque á instalações militares, em especial pistas de pouso e rodovias vitais ao deslocamento de tropas e material de apoio. Porém, esta mesma vantagem se torna um imensurável revés do ponto de vista humanitário, causando grande numero de baixas entre a população civil que habita e/ou transita na área atingida por este artefato, sendo considerados "danos colaterais", onde as munições não detonadas podem ser consideradas uma espécie de mina terrestre. A médio prazo, podem causar ferimentos e mortes entre as populações civis.

Há uma grande discussão com relação ao emprego deste tipo de armamento, sendo o mesmo alvo de pesadas críticas, já tendo sido elaborado um acordo entre vários países para abolir a fabricação e emprego deste tipo de armamento. Sendo este um dos focos da matéria tendenciosa e sem qualquer embasamento técnico-tático realizado pelo "Fantástico" da Rede Globo, o qual aponta as munições do tipo "Cluster" exportadas pela indústria brasileira de defesa á Arábia Saudita, como sendo responsáveis por várias baixas civis no Iêmen, o que é uma postura incorreta de se adotar, uma vez que, não somos o único produtor deste tipo de armamento, muito menos o único fornecedor dos contendores naquele conflito, com nossas exportações em armas no geral aquela nação árabe sendo inferior à 1% das aquisições militares daquela nação, lembrando que o mesmo investi vários bilhões em todos os tipos de armamento, e diversificados fornecedores.

Um ponto que cabe a esse jornalista ressaltar, é que o sistema Astros fabricado pela brasileira Avibrás, conta com o mais seguro dispositivo de autodestruição das munições cluster lançadas pelo seu sistema de foguetes, cumprindo o disposto nas legislações internacionais e contribuindo de maneira objetiva para redução do "dano colateral" ocasionado pelo emprego deste tipo de arma.

O Brasil é apenas um dos produtores deste tipo de munições, ocupando uma tímida posição nas exportações mundiais deste tipo de arma, contando com a mesma no inventário de nossas forças armadas. Com relação a Convenção internacional, o Brasil se recusou a ser um dos signatários, porém, permanece como observador, tendo em vista principalmente o interesse nacional e a importância estratégica que representa este tipo de armamento à nossa nação, principalmente levando em consideração a nossa composição territorial, a qual apresenta em caso de necessidade estratégica opção de emprego seguro deste tipo de armamento contra hipotéticos agressores.

Além do Brasil, existem cerca de 83 nações que se recusaram á abrir mão das munições do tipo "Cluster", dentre estas figuram potencias como Estados Unidos, Rússia, Israel e China. Temos que ter a seguinte compreensão, nós brasileiros não temos responsabilidade quanto ao emprego e a doutrina que serão utilizadas pelos operadores dos produtos por nós exportados, nossa responsabilidade esta ligada a doutrina de emprego do nosso arsenal. Pois não vai mudar o cenário mundial deixarmos de produzir e exportar determinado tipo de armamento, pelo contrário, vamos deixar de participar de um rentável nicho do mercado e perder investimento no desenvolvimento tecnológico nacional de defesa.

Se formos considerar a falácia da mídia brasileira, então que se proíba a produção de munição para fuzis, pois ao redor do globo são a maior responsável por vitimar civis, sendo uma verdadeira arma de "destruição em massa", vitimando milhões ao ano. O problema não estão nas armas que produzimos, mas nas pessoas que as estão utilizando, e não nos cabe pagar a conta da doutrina alheia, principalmente se levarmos em consideração o vasto mercado a disposição dos mesmos para adquirir todo tipo de armas, seja legalmente ou via mercado negro. É aquele velho dito: "Armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas", e vou além, se não for com bombas e armas modernas, serão com paus e pedras, como registra a história da evolução humana.

Nosso parceiro, Robinson Farinazzo, realizou uma abordagem direta e bem fundamentada sobre a questão relacionado as bombas "Cluster", vale muito a pena dar uma conferida e absorver um pouco mais sobre este tema que tem sido tratado de maneira absurdamente leviana e tendenciosa pelo mídia brasileira, a qual é incapaz de produzir material imparcial e que agregue real valor e conteúdo a nossa sociedade. Clique no título: "As bombas Cluster brasileiras e o fracasso saudita no Iêmen."


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.


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