quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Trump abre espaço para a China na Ásia-Pacifico

Durante sete anos, os EUA negociaram com 11 parceiros comerciais ao longo do Oceano Pacífico para formar a maior área de livre comércio do mundo, a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês). Donald Trump não precisou nem de sete horas no seu primeiro dia oficial de trabalho no novo cargo para acabar com ela.
Que isso iria acontecer já dava para perceber no discurso de posse. O novo presidente americano anunciou que vai orientar sua política econômica e comercial por dois princípios básicos: "Os Estados Unidos em primeiro lugar" e "Compre produtos americanos, empregue trabalhadores americanos!" É por esses motivos que Trump retira os EUA do TPP.
É claro que, no mundo todo, há inúmeras críticas perfeitamente justificáveis a acordos desse tipo. Muitos europeus temem, por exemplo, que serão obrigados a reduzir seus padrões de qualidade.
Só que Trump não está interessado em padrões de qualidade. Para ele, os gigantescos acordos comerciais multilaterais servem de principal motivo para justificar por que a economia dos EUA supostamente se encontra numa crise profunda, por que fábricas fecham em muitos pontos do país e por que a produção foi transferida para países mais baratos. A resposta do novo presidente americano a tudo iso é tão simplista quanto errônea: Fora! Fora do TPP, fora do TTIP (Parceria com a União Europeia), fora do Nafta. E quanto antes, melhor. Os EUA se retiram, isolam-se, querem erguer muros e barreiras comerciais.
Pode até ser que, no curto prazo, sair do TPP beneficie os EUA. Pois, se as mercadorias produzidas no Sudeste Asiático forem taxadas com altas tarifas de importação, muitos americanos de fato vão se ater ao princípio "Compre produtos americanos, empregue trabalhadores americanos!" Mas o tiro vai sair pela culatra: no caso de muitos produtos, é impossível produzir nos Estados Unidos de forma tão barata como no exterior. Celulares, eletrônicos, carros: com o selo made in USA, todos vão encarecer. Principalmente os cidadãos de camadas de baixa renda vão sentir o impacto. Além disso, muitas outras nações vão introduzir tarifas punitivas sobre os produtos americanos, em reação às barreiras comerciais de Trump. Isso, por sua vez, é um veneno para as exportações americanas.
As implicações além do aspecto econômico são ainda mais devastadoras. Na prática, Trump deu a largada para uma ampla redistribuição de poder no mundo – e em detrimento próprio. Pois o TPP também era parte fundamental da tática de Barack Obama conhecida como "pivô para a Ásia", uma estratégia que visava limitar política, militar e economicamente a influência da China na região.
Foi esse o motivo que levou o antecessor de Trump a se aproximar, durante anos, dos países do Leste e Sudeste Asiático. Japão, Cingapura, Vietnã e Malásia – todos esperavam um boom econômico com o acordo. Agora, essa estratégia dos EUA encontrou um fim abrupto, e, ao contrário, a reviravolta radical de Trump em direção ao "EUA em primeiro lugar" deixa a impressão, para os países em torno do Oceano Pacífico, que os EUA são um parceiro hesitante e pouco confiável. Por isso, aliados de longa data reagem com irritação, procuram novas alianças, e Washington ameaça simplesmente entregar a sua influência no Extremo Oriente.
Justamente a Austrália, um antigo aliado dos americanos, tenta agora salvar o TPP – substituindo os EUA pela China. Em termos econômicos, esse "TPP alternativo" também seria a maior área de livre comércio do mundo, só que sem os EUA. E os chineses já se encontram à espera para preencher o vácuo de poder deixado por Trump. Pelo cálculo correto dos chineses, influência econômica sempre pode ser convertida em influência política.
Assim, não é de se admirar que justamente o presidente Xi Jinping, conhecido por seu curso econômico protecionista, tenha se posicionado como um defensor do livre comércio em seu discurso, muito aclamado, no Fórum Econômico de Davos. A mensagem aos países asiáticos do TPP era clara: "Nós sempre estaremos lá, os EUA só quando lhes interessar." Trump mostra agora, e de forma muito clara, que não tem interesse. Isso pode custar caro aos EUA, tanto no aspecto econômico como no político.
O que é o TPP?

O TPP (Trans-Pacific Partnership) é um acordo comercial assinado por 12 países que cria a maior área de livre-comércio do mundo, com uma população de 800 milhões de pessoas e cobrindo 40% da economia e um terço do comércio mundial. Os 12 países são Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Vietnã e os Estados Unidos, todos do chamado Círculo do Pacífico.
A grande ausência é a China, e isso não é acaso. O TPP foi projetado para ser um meio para os Estados Unidos elevarem sua influência na região Ásia-Pacífico, não só econômica, mas também política, afinal, o acordo aproxima vizinhos da China dos americanos e reduz a dependência deles do comércio com os chineses.
Se o TPP não se concretizar por culpa dos Estados Unidos, o efeito pode ser o oposto: aos olhos dos demais países, os Estados Unidos parecerão um parceiro não confiável, o que diminui a influência e liderança americana na região Ásia-Pacífico e abre espaço justamente para a China se apresentar como esse parceiro confiável.
O acordo era uma das prioridades internacionais do ex-presidente Barack Obama e um marco da sua política de aproximação com a Ásia. O novo presidente dos EUA, Donald Trump, sempre criticou o TPP e disse, em novembro passado, que ele deveria ser substituído por acordos bilaterais, mas não especificou com quais países. Nesta segunda-feira (23/01), ele anunciou que os Estados Unidos estão fora do acordo.
As negociações para o acordo duraram sete anos e foram concluídas em 5 de outubro de 2015. Em 4 de fevereiro de 2016, o texto, de 30 capítulos e quase 6 mil páginas, foi assinado por todos os participantes. Para entrar em vigor, necessitava ser ratificado por ao menos seis países que representem 85% da produção econômica do grupo, um percentual que só poderia ser alcançado com o Japão e os EUA. A ratificação deveria ocorrer até fevereiro de 2018.
Basicamente, o TPP pretendia promover o crescimento econômico por meio da redução de tarifas alfandegárias e não alfandegárias. O acordo elimina 18 mil tarifas, por exemplo sobre todos os produtos manufaturados dos Estados Unidos e quase todos os agropecuários. Grande parte dessa eliminação seria imediata, ou seja, logo após a entrada em vigor.
Além da parte comercial, o TPP também cobre setores como a proteção ambiental - os signatários devem se comprometer, por exemplo, a combater o tráfico de animais silvestres, o desmatamento e a pesca ilegais e estão proibidos de subsidiar a sobrepesca, entre vários outros pontos.
Boa governança, direitos humanos (por exemplo a proibição do trabalho infantil e do trabalho forçado), propriedade intelectual e condições de trabalho também são aspectos abordados no TTP. O acordo foi considerado um feito na área de livre comércio justamente por abordar tantos pontos, já que há óbvias diferenças de tratamento entre os países.
As reações ao TPP foram mistas. Os apoiadores argumentaram que ele promovia a integração e o crescimento econômico, além de ampliar a influência e liderança americana na Ásia.
Os oponentes criticaram sobretudo o fato de as negociações terem ocorrido a portas fechadas e tacharam o TPP de um acordo secreto que beneficiava grandes empresas às custas dos trabalhadores.
Os críticos também afirmaram que o TPP intensificava a concorrência entre as forças de trabalho dos países signatários, o que pode levar uma indústria a se instalar onde os salários forem mais baixos. Para os países ricos, como os Estados Unidos e o Japão, isso significaria perda de empregos e, no longo prazo, redução salarial em determinados setores da economia.

Fonte: Deutsche Welle
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