terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Engesa uma história de sucesso brasileiro

O Brasil teve uma das mais expressivas indústrias defesa da América Latina nos anos 80, sendo um dos grandes exportadores de equipamentos de defesa no mercado mundial, tendo grande presença no Oriente Médio, e dentre as empresas responsáveis por este feito, estava a Engesa, que foi um dos mais importantes fabricantes de viaturas militares no Brasil. 

A Engesa não só fabricou veículos militares, mas desenvolveu soluções inovadoras, com a suspensão tipo bumerangue, apresentando ao mercado viaturas de grande qualidade e baixo custo de aquisição, chegando a fornecer seus produtos para mais de 20 países, onde em grande parte seus produtos comprovaram sua eficácia em combate real em diversas partes do planeta.

A Engesa foi fundada em 1958 por um grupo de engenheiros  liderado por José Luiz Whitaker Ribeiro, a empresa, que nos primeiros anos se dedicou à fabricação de equipamentos para a prospecção, produção e refino de petróleo, acabou por colocar o Brasil na quinta posição entre os maiores exportadores mundiais de material militar.

Dentre os marcos da Engesa podemos apontar dois veículos militares que ganharam o mercado internacional e se mantém em operação ainda hoje, não só aqui no Brasil, mas em diversos países, tendo sido figuras presentes em conflitos deflagrados no Norte da África e Síria. O EE-9 Cascavel e o EE-11 Urutu obtiveram grande sucesso na exportação, contando com uma carteira de vendas para as forças armadas de dezenas de nações, como o Iraque, Líbia, Arábia Saudita e todos os vizinhos do Brasil na América Latina.

Os produtos mais conhecidos são os blindados EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu que ainda encontram-se em operação e passam por um programa de modernização e extensão da vida útil deles aqui no Brasil, a Engesa ainda produzi diversos tipos de caminhões táticos de uso militar e desenvolveu projetos como o blindado leve EE-T4 Ogum que visava atender á um pedido do finado ditador iraquiano Saddam Hussein e o projeto do carro de combate EE-T1 Osório, que concorreu em paridade com os M1 Abrams norte americanos em uma concorrência para atender a Arábia Saudita

A Engesa contava ainda com um conglomerado industrial que atendia não apenas ao mercado de defesa,, mas diversos outros segmentos, onde também fabricavam tratores agrícolas e florestais premiados mundialmente e objeto de exportação para dezenas de países através da Engex, sua subsidiária FNV fabricava rodas para carros, caminhões de coleta de lixo, trilhos e vagões, a Engelétrica, outras de suas subsidiárias, fornecia motores para ônibus elétrico, e também participava com 40% das ações da Orbita sistemas Aerospaciais, onde produziam mísseis, foguetes e giroscópios para diversos usos, a Engesa também participava na produção de radares de diversos tipos através da Engetrônica, e possuiam a única fábrica de munição pesada do Brasil, além de representar a Casa da Moeda Brasileira em diversos países, principalmente árabes.

Nos idos dos anos 80, entre 1981-1985 exatamente, o exército da Arábia Saudita estudava a aquisição de um novo carro de combate. As primeiras avaliações indicaram que o melhor modelo existente no mercado era o KMW Leopard 2. Os sauditas, no entanto, foram surpreendidos pela recusa do governo da Alemanha em fornecer o MBT para nações que não eram membros da OTAN. A Engesa viu uma grande oportunidade diante deste cenário, onde já havia adquirido grande expertise no desenvolvimento e produção de veículos blindados, e tendo como inspiração o sucesso encontrado com seus veículos EE-9 Cascavel e  EE-11 Urutu no mercado internacional, decidiu apresentar o projeto do seu MBT EE-T1 Osório, um projeto que foi idealizado com foco em clientes externos. 

O projeto do EE-T1 da Engesa descartou algumas exigências do Exército Brasileiro, o qual teria peso máximo de 36 toneladas e largura de 3,20 metros, algo que ia de encontro ao mercado internacional, onde os principais carros de combate então produzidos por seus concorrentes no mercado internacional  ofereciam largura e peso bem maiores. Os resultados obtidos através dos testes com o EE-T1 Osório deixou os sauditas impressionados com o desempenho do blindado brasileiro. Estava em jogo um contrato que superava 1 bilhão de dólares e em contrapartida o Exército Brasileiro receberia um EE-T1 Osório a cada dez vendidos para a Arábia Saudita. Os EUA fizeram valer o seu peso político para favorecer a venda de seu MBT, e passaram a pressionar o governo saudita, alegando que o Brasil negociava com países inimigos do governo saudita e que o Brasil não estava alinhado á alguns acordos internacionais. Com toda a pressão imposta pela diplomacia dos EUA a Arábia Saudita desistiu da compra do MBT brasileiro. 

O fracasso na venda do EE-T1 Osório a Arábia Saudita foi um duro golpe na empresa que havia apostado todas suas fichas na venda, além da falta de apoio do governo brasileiro, a gigante brasileira faliria no início dos anos 90, deixando uma divida de mais de 1,5 bilhões de reais em valores atualizados, junto ao Banco do Brasil e ao BNDES. Depois de perder o contrato com a Arábia Saudita, o governo brasileiro ainda comprou 87 MBTs Leopard 1A1 excedentes da Bélgica e 91 M60-A3 TTS dos Estados Unidos ao invés de encomendar o EE-T1 Osório.

A Engesa deixou de vender nada mais nada menos que 702 MBTs EE-T1 Osório para o Exército saudita. Um contrato que renderia a cifra de 7,2 bilhões de dólares e que acabou conquistado pelo grupo General Dynamics, com a venda do M-1 A1 Abrams, que foi superado pelo MBT brasileiro nos testes realizados pelos sauditas, tendo ficado em segundo lugar nas provas de desempenho promovidas pela Arábia Saudita, disputadas durante uma semana nas areias do deserto, submetido a temperaturas próximas dos 50 graus Celsius, em que o Osório da Engesa superou o Challenger inglês, o AMX-40 francês e o M-1A1 Abrams americano em todos os testes. Na época, começou a circular no Senado e na Câmara um documento conclamando os senadores e deputados a se envolverem no processo para impedir o fechamento da Engesa, as demissões de trabalhadores e a perda de mercados cativos caso a encomenda do EE-T1 Osório não fosse concretizada com a Arábia Saudita.

A falência da empresa, se deu em outubro de 1993, começando após o calote de 200 milhões de dólares sofrido do Iraque que amargava a derrota após a invasão do Kuwait e o fracasso de vendas do MBT Osório, no qual a Engesa investiu todas as suas reservas. A principal instalação industrial da empresa em São José dos Campos foi vendida em 2001 para a Embraer.

Os prejuízos contabilizados após a perda do contrato com o Iraque foram irrecuperáveis. Uma empresa detentora de tecnologia de ponta e mão-de-obra de altíssimo nível, capaz de fazer um trabalho excepcional, como o EE-T1 Osório, acabaria liquidada. A indústria ainda chegou a receber ajuda financeira do governo, por conta de contratos que tinha com o Exército Brasileiro. Mas, nessa altura, o volume das dívidas era algo gigantesco e só um contrato como o pretendido com a Arábia Saudita a salvaria da falência.

É muito triste saber que possuíamos uma das mais bem qualificadas produtoras de viaturas de combate a nível internacional, e que a perdemos por omissão de nosso governo. Esperamos que um dia venhamos a aprender e ão repetir os erros do passado, porém, ao assistir os recentes capítulos de nossa história política e a passividade que se observa na grande maioria de nosso povo, deixa dúbio o futuro de nossa nação e o que resistiu de nossa indústria de defesa.

Em breve falaremos de outras de nossas indústrias e alguns dos produtos de defesa brasileiros que deixaram sua marca em nossa história.

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