quarta-feira, 25 de maio de 2011

A expansão da OTAN na Ásia e suas implicações (Rússia, China e Índia)


A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), constituída em 1949 com o objetivo de garantir segurança e defesa, foi edificada através de um pacto entre doze nações que visava principalmente à assistência mútua entre todos os membros, com intuito de fazer frente ao risco representado pela União Soviética, bem como a possibilidade de controle nas zonas do leste da Europa.

Como o mundo encontra-se em permanente mudança, o propósito inicial para a criação da OTAN já não se apresenta como uma ameaça aos países-membros. Dessa forma, a organização iniciou um processo de mudança de suas políticas e condicionalmente passa a ser uma instituição que visa uma parceria global em prol da segurança internacional e dos países pertencentes a esta.

O Secretário Geral da OTAN, Anders Rasmussen, afirmou em Fevereiro de 2010 que o novo ponto chave da aliança é assumir um papel de segurança global e através disto conseguir novas parcerias e acordos estratégicos para além da sua zona natural de influência, como China e Índia, e também reforçar acordos de cooperação anteriormente elaborados para discussão do seu papel juntamente com a Rússia. O mesmo secretário ressaltou ainda a necessidade que a OTAN tem em defender os próprios membros e que, devido a todas as mudanças (desenvolvidas após 11 de Setembro de 2001) e novas ameaças inseridas no contexto internacional, a organização sente-se obrigada a ampliar sua zona de atuação preventiva, pois os novos riscos fragilizam a segurança internacional.

Com a intervenção no Afeganistão, que culminou com a queda do regime talibã e que trabalha no apoio ao estabelecimento de um governo nacional democrático, a organização tem-se utilizado de diversos argumentos envolvendo o caso para justificar a sua expansão. Deste modo, é possível estabelecer uma conexão com o que seria a justificativa da organização com tendências das “Novas Geopolíticas”, que voltadas para o ser humano e segurança, torna então plausível o argumento de que, muitas vezes, conflitos locais tendem a se tornar globais, visto que no mundo contemporâneo a distância entre os Estados e fronteiras já não são tão relevantes quanto antes.

Aliança com as grandes potências emergentes da Ásia:

Conforme analisado anteriormente, a OTAN tem-se esforçado no diálogo de cooperação entre nações a fim de construir uma instituição de confiança e força para os países-membros. Após algumas décadas desde o fim da União Soviética e a bipartição que deram origem a diversos Estados, a Rússia, no entanto continuou a se afirmar como grande potência do leste.

Atualmente a OTAN enxerga a Rússia como uma grande parceira em sua empreitada e, devido a isto, promove diversas políticas em comum desde que esta deixou de ser uma ameaça para a organização. Em 1997, a cooperação entre ambos os atores foi formalizada através da assinatura dos acordos bilaterais entre OTAN e Rússia, dando origem ao Conselho Conjunto Permanente OTAN-Rússia.

Devido a meios de cooperação e diálogo com a Rússia, o novo foco da OTAN tem se direcionado rumo às grandes potências da Ásia, não se limitando apenas à gigantesca Rússia, mas também a outros grandes “tigres” como China e Índia. O mar tem sido o principal meio estratégico utilizado para a sua política de expansão, pois o controle do alto-mar e do comércio possibilita uma linha de ataque adicional que envolve gigantes da Europa e Ásia.

Uma aliança com as potências emergentes da Ásia possibilitou a criação de uma força naval global que possui como comando os EUA e com diversos objetivos a cumprir no âmbito da economia. Em questões de domínios navais a China está muito mais comprometida do que a Rússia, que é um gigante continental. Esta rede naval que está a ser criada começa a emergir com o “indireto” intuito de ameaçar o fornecimento energético chinês e, devido a esta situação, dúvidas surgem em muitos olhares: seria a OTAN o instrumento de uma política de coerção para impedir a expansão das grandes potências asiáticas ou o oposto? Seria a República Popular da China um risco para os Estados Unidos da América ou estes um risco para a República Popular da China? São diversas questões que possuem diversas maneiras de serem interpretadas e defendidas a depender do ponto de vista de ambos.

O caso da China e Índia:

A política da China tem-se voltado cada vez mais para o estreitamento de laços com seus vizinhos (Rússia e Índia), porém não se trata de uma tarefa fácil para o governo chinês. No âmbito económico, a China tem possibilitado trocas comerciais e petrolíferas bem como a viabilização de energia para o interior do país, caso haja bloqueio naval por parte dos Estados Unidos.

Devido a fortes ligações contra a China, Taiwan uniu-se aos Estados Unidos com o intuito de fornecer um “escudo” logístico para o envolvimento militar. Para os Estados Unidos, Taiwan é geo-estrategicamente uma ilha importante, pois sua localização está inserida no eixo de rotas marítimas que abastecem a China com o transporte de petróleo e outros recursos. Caso um bloqueio fosse concretizado, a China passaria por diversos problemas, pois o fornecimento de energia está intimamente ligado à segurança nacional, ao desenvolvimento e à potência militar dos chineses. Ou seja, caso os fornecimentos de petróleo para a China fossem cortados, esta estaria completamente vulnerável aos Estados Unidos, bloqueada e sufocada. Estrategicamente, um cordão marítimo que isolasse a China serviria como tal objetivo para a influência norte-americana na Ásia e controle da expansão chinesa.

Em relação aos seus vizinhos, a China mudou a postura adotada no passado, na qual reivindicava territórios e procurava manter o sentimento de afirmação do poderio chinês na Ásia. Porém, mesmo utilizando uma política mais subtil e menos coerciva, esta ainda possui diversos pontos divergentes com a Índia, provocados principalmente pelos Estados Unidos. Os pontos que mais se destacam para que a OTAN esteja interessada em se expandir para o centro e o sul da Ásia são que China e Índia possuem um denominador comum: além de serem potências emergentes, possuem conflitos internos étnico-religiosos mal solucionados e, por não permitirem ingerência externa nestes assuntos, tais conflitos podem tomar proporções indesejáveis.

A Índia, por ser um país descolonizado recentemente possui alguns problemas militares. O Paquistão é o principal aliado norte-americano em sua intervenção no Afeganistão bem como na sua luta contra o terrorismo. Porém a relação amistosa que China tem com Paquistão e Bangladesh termina por coagir a Índia naquilo que seria uma política de “cerco” do país e expansão da China no sul asiático. Da mesma maneira, a China também se sente acuada pela Índia, pois esta possui uma diplomacia muito forte com os Estados Unidos e países da Europa, principalmente no que se trata de parcerias estratégicas e nucleares, caracterizando-se também como um cerco.

Aspectos comuns entre China e Índia são fáceis de serem identificados, pois ambas não permitem a inserção de norte-americanos em terrenos de situação delicada como a Caxemira. Por isto a ocupação nesta região da Ásia está cada vez mais dificultada. Contudo, a Índia não é conhecida como uma potência expansiva, tampouco possui características para tal. Esta se comporta estrategicamente como um Estado que foi coagido no passado e que se sente na obrigação de se armar e se proteger, com intuito de garantir a segurança interna numa região de alta instabilidade, onde também ocorre uma disputa territorial e concorrência atómica com o vizinho Paquistão. Porém, com toda esta situação o país desenvolve poderio militar e tecnologia de ponta, como o sofisticado sistema atómico e, por possuir um dos exércitos mais bem treinados e sofisticados de toda a Ásia, torna-se um país extremamente viável na cooperação para a nova política de expansão da OTAN.

Objetivo final da OTAN: Cercar a Rússia, a China e os seus aliados?

Durante sua declaração no Congresso Americano em 7 de fevereiro de 2007 o Secretário de Estado da Defesa, Robert Gates, apresentou um orçamento militar para o Pentágono e no mesmo afirmava-se que China e Rússia são potenciais adversários dos Estados Unidos por terem políticas incertas e duvidosas a respeito dos sofisticados programas de modernização militar.

Os russos têm-se tornado cada vez mais agressivos e defensivos devido às estratégias aplicadas pelos EUA, que fragilizam muito suas relações com a OTAN. O Ministro Russo dos Negócios Estrangeiros, juntamente com o governo, declaram que país vai começar a mudar as suas políticas à medida que estão se sentindo cercados. Desde tempos, a Rússia, a China e seus aliados vêm sendo pressionados por influências norte-americanas, bem como a própria da OTAN: a China enfrenta problemas com suas fronteiras orientais extremamente militarizadas na Ásia, enquanto o Irão ficou virtualmente cercado e fronteiras ocidentais (Europa) da Rússia tem sido infiltradas pela OTAN.

No momento, bases militares, fronteiras militarizadas, instalação de mísseis cercam a China, Irão e a Rússia, bem como a política de bloqueio naval que torna possível uma cadeia vigiada em volta da China, capaz de bloquear as principais frotas marítimas e impossibilitando assim o tráfego nas rotas marítimas estratégicas do petróleo.

Considerações finais:

Como evidenciado ao longo do texto, o fim da Guerra Fria e as mudanças no comportamento do sistema internacional trouxeram não apenas novos riscos, como também novas abordagens às políticas de segurança da OTAN. Suas atuais políticas se focam de maneira constante em aspectos como cooperação e diálogo, a fim de estabelecer parcerias que viabilizem a melhoria da organização e expansão de sua área de atuação.

A expansão da OTAN consegue ser justificada por diversos fatores encontrados ao longo do presente trabalho e por isto conclui-se que existe uma grande necessidade de foco em problemas relacionados à segurança. Porém, não é evidente até que ponto a preocupação com novas ameaças e políticas de expansão faz-se realmente necessária ou que isto apenas justifique uma expansão de domínio norte-americano, que possui a OTAN como instrumento de proliferação de suas políticas.

A expansão para a Ásia pode ser interpretada como benéfica para a segurança, visto que em um terreno de tanta instabilidade, nada melhor do que a cooperação ampla entre os Estados para garantir a paz, permitindo desta maneira que problemas regionais não se alastrem. Contudo, isto também implica em um meio de fazer política coerciva em relação a Estados que fogem das normas do modelo-padrão ocidental ditado pelos Estados Unidos e Europa. A OTAN desde a sua criação serviu como instrumento de política e imposição dos ideais ocidentais e principalmente relacionados aos Estados Unidos da América, assim garantido a sua supremacia perante os Estados menos favorecidos militarmente e economicamente. Atualmente, em um momento no qual o poder marítimo é decisivo para ascensão de possíveis novas potências, todo o pensamento geo-estratégico é voltado para o bloqueio desta ascensão pois, caso contrário, fica evidente a fragilidade norte-americana.


Fonte: Jornal Defesa & Relações Internacionais
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