sábado, 27 de agosto de 2011

Rebeldes líbios tomam posto estratégico na fronteira com a Tunísia



Rebeldes líbios expulsaram soldados leais ao ditador Muammar Gaddafi do posto da fronteira com a Tunísia na noite desta sexta-feira, segundo testemunhas.

Os rebeldes teriam hasteado a bandeira verde, vermelha e preta do movimento na fronteira de Ras Jedir.

O posto é estratégico para liberar as rotas de abastecimento que levam à capital Trípoli.

GADDAFI

Ainda nesta sexta-feira, um ministro do CNT (Conselho Nacional de Transição), o órgão político dos rebeldes líbios, disse que forças oposicionistas tinham cercado uma área em Trípoli onde Muammar Gaddafi e seus aliados mais próximos estavam escondidos, e que a presença do ditador estava sendo monitorada antes de uma tentativa de captura.

"A área onde ele está agora está sob cerco", disse o ministro da Justiça, Mohammed al Alagi. "Os rebeldes estão monitorando a área e estão cuidando disso."

Alagi, um advogado que disse ter ido para Trípoli para estabelecer uma nova "autoridade legal", recusou-se a especificar onde Gaddafi estaria.

Anteriormente, outros dirigentes rebeldes disseram acreditar que Gaddafi poderia estar refugiado na região de Abu Salim, no sul da capital --uma área onde foram registrados conflitos nos últimos dias.

ATAQUES

O cerco à região onde Gaddafi supostamente estaria escondido chega horas após aviões britânicos terem bombardeado um bunker na cidade de Sirte, reduto do regime e cidade natal do ditador, anunciou nesta sexta-feira o ministério da Defesa líbio.

"À meia-noite, uma formação de Tornados GR4s, que partiu da base da RAF (Royal Air Force) de Marham, em Norfolk, leste da Inglaterra, disparou uma salva de mísseis guiados de precisão Storm Shadow contra um bunker de um grande quartel-general na cidade natal de Gaddafi, Sirte", afirma um comunicado.

A TV estatal líbia, Al Jamariya, anunciou nesta quinta-feira em sua página no Facebook que a Otan estava bombardeando Sirte, onde, segundo os rebeldes, Gaddafi poderia estar escondido.

Os rebeldes planejavam nesta sexta-feira um novo avanço contra as forças pró-Gaddafi na cidade.

Também nesta sexta-feira, o presidente CNT, Mustafa Abdul Jalil, disse que Gaddafi deve ser processado primeiro em seu país pelos crimes cometidos durante seus 42 anos de governo e que "só depois" poderá ser entregue ao Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia.

Jalil fez essas declarações em entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal italiano "La Stampa", na qual reconheceu a dificuldade do assunto.

"Acho que nossos tribunais devem processá-lo por todos os crimes cometidos nesses 42 anos. E só depois, Gaddafi poderá ser entregue ao Tribunal de Haia", ressaltou o presidente do órgão rebelde, ao justificar que "o mandato de captura internacional se refere aos crimes cometidos a partir do dia 17 de fevereiro passado".

Jalil descartou a pretensão de um papel político na nova Líbia e assegurou que lhe basta "ter contribuído para levar meu povo e meu país rumo à liberdade, o que não é pouco".

Corpos se acumulam nos hospitais de Trípoli

A batalha pelo controle de Trípoli deixou os hospitais da capital líbia em situação caótica. Enquanto profissionais da saúde deixam a cidade, corpos em decomposição se acumulam nos centros médicos.

O repórter da BBC Wyre Davies diz ter visto cerca de 200 corpos amontoados apenas no hospital de Abu Salim, dentro e fora do edifício.

A maioria dos mortos são jovens que aparentemente estavam na frente de guerra. Há também corpos de mulheres e crianças.

Um morador do distrito de Abu Salim, um dos mais atingidos pelos tiroteios, disse que os corpos estão no hospital há cinco dias.

"Estes corpos estão aqui há cinco dias. Ninguém cuidou de levá-los para o necrotério, identificá-los, enterrá-los," disse Osama Pilil, um morador local.

Davies afirma que o mau cheiro no hospital é terrível. As pessoas tentam limpar o local e trazê-lo de volta à normalidade - uma tarefa quase impossível, segundo o correspondente, devido ao grande número de corpos.

Já o repórter da BBC Rupert Wingfield-Hayes visitou o hospital do distrito de Mitiga, testemunhando uma cena parecida. Ele contou 17 corpos, todos de militantes rebeldes.

Segundo os médicos, os rebeldes haviam sido feito prisioneiros pelas forças de Gaddafi em uma escola. Os corpos apresentam marcas de tortura e de muitos disparos. Há relatos de pelo menos uma execução sumária.

Kirsty Campbell, da ONG International Medical Corps, disse à BBC que um navio com medicamentos e médicos está seguindo para Trípoli.

"Conseguimos um barco em Misrata com remédios há dois dias. Acabamos de atracar e temos alguns médicos que vieram de Malta", disse.

MASSACRE

O chefe do escritório da BBC no Oriente Médio, Paul Danahar, relata ter visto na quinta-feira corpos de dois soldados leais a Gaddafi também com sinais de execução.

Os correspondentes verificaram sinais de massacre nos dois lados envolvidos no conflito.
A ONU disse que irá investigar relatos de execução sumária e tortura por meio de uma comissão de inquérito. Um porta-voz da ONU pediu o fim da violência.

"Exortamos todos em posições de autoridade na Líbia, incluindo comandantes militares, a tomar medidas para evitar que nenhum crime, ou ato de vingança, seja cometido", disse Rupert Colville, porta-voz de direitos humanos da ONU.

A Anistia Internacional também denunciou execuções sumárias de prisioneiros nos dois lados do conflito.

Um porta-voz da Cruz Vermelha disse à BBC que os dois lados mantêm centenas de prisioneiros. Robin Waudo pediu às partes envolvidas que respeitem os direitos dos prisioneiros de guerra, dispostos em convenções internacionais.

SIRTE

Três dias após a ocupação do quartel-general de Gaddafi, cujo paradeiro ainda é desconhecido, ainda há bolsões de resistência em Trípoli.

Segundo um comandante rebelde, cerca de 95% da capital líbia está sob controle das forças opositoras.

Após a tomada de Trípoli, a cidade natal de Gaddafi, Sirte, passou a ser o maior foco de resistência do antigo regime líbio.

Nesta sexta-feira, a Otan (aliança militar do Ocidente) uniu-se aos rebeldes na operação para a tomada de Sirte, que fica no sul do país.

Nas últimas horas, forças rebeldes cercaram a cidade. Militantes rebeldes estão negociando uma rendição com os anciãos de Sirte, a fim de evitar um ataque maciço.

Apesar da resistência mais dura que a esperada, o repórter da BBC Paul Wood, que acompanha a operação, diz que o clima entre os rebeldes é de euforia.

A Otan afirma que seus aviões atingiram 29 veículos leais ao regime que estavam carregados com bombas nos arredores de Sirte. Um complexo de defesa antimísseis também foi bombardeado próximo à Trípoli.

BUNKER

Jatos britânicos, integrantes da missão conjunta, bombardearam um bunker do líder líbio no local.

O Ministério da Defesa do Reino Unido confirmou o ataque ao bunker, embora não haja indicações de que Gaddafi e familiares estivessem no local.

"Não é questão de encontrar Gaddafi, mas de assegurar que seu regime não tenha capacidade de continuar atacando seu próprio povo", disse à BBC o secretário da Defesa britânico, Liam Fox.

Segundo Fox, o ataque teve caráter preventivo, para evitar que líderes do regime eventualmente deixem Trípoli para se estabelecer no local

Quase US$ 3 bilhões somem de fundo líbio, diz líder rebelde

Cerca de US$ 2,9 bilhões (R$ 4,6 bilhões) em depósitos desapareceram do fundo soberano da Líbia, disse nesta sexta-feira o líder do Conselho Nacional de Transição líbio (CNT), Mahmoud Badi.

Segundo Badi, as investigações apontam "uso indevido, desvio e má gestão do fundo", gerido pela Autoridade Líbia de Investimentos.

O fundo, estabelecido em 2006 por Saif al Islam, filho do coronel Muammar Gaddafi, concentra investimentos na ordem de US$ 70 bilhões (R$ 112 bilhões).

A Autoridade Líbia de Investimentos tem várias aplicações no exterior, como ativos do banco italiano UniCredit, além de participação no clube de futebol italiano Juventus.

O fundo líbio também tem participação no grupo Pearson, controlado do jornal britânico Financial Times.

Badi disse que o CNT vai "utilizar todos os meios disponíveis e contatar todas as instituições com ligações com o fundo".

Mais cedo, Ahmed Jehani, chefe da Equipe de Estabilização da Líbia, que faz parte do CNT, disse que a reconstrução da infraestrutura do país deve levar pelo menos dez anos.

Segundo ele, a infraestrutura do país estava em condições deploráveis já antes do início do conflito, devido à "negligência".

DE BENGHAZI A TRÍPOLI

O Conselho de Transição, baseado originalmente em Benghazi, anunciou que metade de seus integrantes já estão em Trípoli, onde ainda há bolsões de resistência do regime.

Segundo membros do CNT, as autoridades rebeldes se estabeleceram nos arredores da capital. O chefe do Conselho disse, no entanto, que figuras-chave do movimento rebelde ainda permanecem em Benghazi por questões de segurança.

Os rebeldes também prosseguem seu esforço para liberar mais investimentos líbios congelados em contas bancárias no exterior, bem como na busca de reconhecimento oficial.

Na quinta-feira, a ONU fechou um acordo para liberar US$ 1,5 bilhão em ativos congelados do governo líbio para atender necessidades humanitárias urgentes.

O dinheiro havia sido congelado por sanções da própria ONU contra o regime de Gaddafi.

A Itália anunciou que irá liberar mais de US$ 500 milhões em ativos congelados do regime líbio para ajudar o Conselho.

Fontes do governo da Suíça e dos Estados Unidos disseram que fundos líbios serão liberados em breve. A Turquia também anunciou ajuda ao governo rebelde.

Nesta sexta-feira, a Alemanha anunciou a liberação de um empréstimo ao Conselho no valor de 100 milhões de euros.

Outro líder do CNT, Mahmoud Jibril, disse que os rebeldes poderão enfrentar uma crise de legitimidade se os bens líbios que estão congelados não forem liberados logo.

GOVERNO

O CNT diz que precisa do dinheiro para pagar salários atrasados de servidores líbios e para manter funcionando os serviços e instalações de petróleo, considerados vitais na recuperação do país.

O líder do Conselho, Mahmoud Jibril, fez nesta semana um giro por países europeus. Na quarta-feira, ele se encontrou com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que convocou uma reunião de "países amigos" da Líbia, para discutir a reconstrução do país.

Além dos países que participaram da campanha militar contra Gaddafi, Sarkozy foram convidou para o encontro Brasil, Rússia, Índia e China, países que formam o grupo conhecido como Bric.

BRASIL

Na quinta-feira, outro líder do CNT, Mustafa Abdel Jalil, disse que os países que apoiam o Conselho terão facilidades no processo de reconstrução da Líbia.

O Brasil ainda não reconheceu o Conselho de Transição líbio. Na quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que a queda do líder líbio é insuficiente para normalizar a situação no país.

Empresas brasileiras como a Odebrecht, Andrade Gutierrez e Petrobrás têm grandes investimentos na Líbia.

Em entrevista à BBC Brasil, o embaixador brasileiro no Egito, Cesario Melantonio Neto, disse ter recebido dos rebeldes garantias de que os contratos serão respeitados, após reunião com o CNT em Benghazi.

Nesta sexta-feira, o embaixador da Líbia no Brasil, Salem Al Zubaidi, anunciou apoio ao movimento rebelde. Até o começo da semana, Zubaidi se dizia fiel ao regime de Gaddafi.

Mais cedo, a União Africana, com forte liderança da África do Sul, pediu um governo de transição inclusivo na Líbia, mas evitou reconhecer o Conselho de Transição como a autoridade legítima do país.

A decisão foi tomada em uma reunião do bloco na Etiópia.

Fonte: Agências de Notícias

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